Ensino
do
Português
do Brasil
numa
perspectiva
sociocultural
material
didático
em
foco
Norimar
Júdice
(UFF)
Na
atualidade,
as
relações
entre
os
povos
mostram-se
bastante
conturbadas e
instáveis:
a
mídia
nos
oferece
imagens
de
conflitos
violentos
entre
políticas
e
culturas
e
também
veicula
notícias
de
tentativas
de
união
entre
nações
em
defesa
de
interesses
comuns.
Esta
efervescência
no
plano
internacional
tem se refletido de muitas
formas
no quotidiano de
todos
os
quadrantes
do
mundo,
implicando
inclusive
alterações no
que
se refere ao
interesse
pelo
aprendizado
de
línguas
estrangeiras.
Neste
quadro,
a
língua
portuguesa vem ganhando
espaço
como
língua
internacional
em
regiões
nas
quais
anteriormente
sua
circulação
era
mais
restrita. Exemplificando especificamente
com
a
variedade
brasileira,
ressaltamos
que,
a
partir
da
década
passada,
com
o
advento
do
Mercosul,
ela
vem atraindo
um
número
crescente
de
aprendizes
hispanofalantes
que
desejam
interagir
em
português
no
novo
panorama
econômico,
político
e cultural
que
se delineia na América do
Sul.
Considerando
que
o
conhecimento
de uma
outra
língua
pode
ampliar
as
perspectivas
de os
aprendizes
se inscreverem no
mundo
e de se relacionarem
com
outros
povos,
entendemos
que
merece
especial
atenção,
no
processo
de
ensino/aprendizagem
de
idiomas,
a
abordagem
utilizada
para
promover
o
contato
do
estudante
não
só
com
os
modos
de
dizer
na língua-alvo
mas
também
com
os
modos
de
ser
e de
fazer
na(s)
cultura(s)
com
que
está imbricada.
O
professor
de
Português
do Brasil
para
Estrangeiros
(PBE)
que
trabalha
numa
perspectiva
sociocultural se depara
com
muitas
dificuldades
para
ensinar
a
língua
do Brasil e
criar
paralelamente
oportunidades
para
o
aprendiz
ir
construindo criticamente
suas
representações
da
cultura
brasileira
- uma delas é aquela
relativa
ao
material
didático
(MD) a
ser
utilizado, seja
ele
elaborado
pelo
próprio
professor
ou
adotado
entre
aqueles
disponíveis
no
mercado
editorial.
Como
a
situação
mais
freqüente
é a de o
professor
adotar
um
dos
poucos
materiais
didáticos
de PBE
em
circulação,
vamos
nos
ater
a
ela.
Quando
o
professor
adota
um
MD de PBE,
além
de
estar
endossando (totalmente
ou
em
grande
parte)
o
conjunto
de
textos
verbais
e não-verbais
que
nele configuram
um
determinado
perfil
da
língua
e da cultura-alvo, está
ainda
conferindo ao
material
em
questão
um
estatuto
de representante autorizado da
língua
e da
cultura
do Brasil
junto
a
seus
alunos.
Esse
material
adotado tem
muita
influência
na
construção
das
representações
da
língua
e da cultura-meta
pelo
aprendiz,
sobretudo
em
situação
de
ensino/aprendizagem
de não-imersão.
Nesta
apresentação,
vamos
observar
em
MDs de
Português
do Brasil
para
estrangeiros
(PBE) -
espaços
abertos
a
falantes
de outras
línguas
que,
em
diferentes
quadrantes
do
mundo
e
com
distintos
olhares,
buscam
interagir
por
meio
da língua-alvo - o
conjunto
de
textos
impressos
oferecidos a
aprendizes
e
professores
como
flagrantes
do
contexto
lingüístico
e cultural
brasileiro.
Enfocaremos os
dois
manuais
de PBE
que,
abarcando o
nível
básico
e destinando-se genericamente a
adultos,
foram editados no Brasil
nos
últimos
cinco
anos
e estão
em
uso
há
pelo
menos
dois
(doravante
denominados MD1 e MD2). Faremos
sobre
eles
algumas
reflexões
que
contemplam as
representações
da
língua
e do
contexto
brasileiro
neles inscritas
por
meio
de
textos
verbais
e não-verbais.
Que
aspectos
de
nossa
realidade,
dos
jeitos
brasileiros
de
estar
e
interagir
no
mundo
- fundados
em
diferentes
discursos
e
amostras
de
nossa
língua
– o
conjunto
de
textos
dos MDs
em
questão
revela aos
aprendizes
estrangeiros?
Texto
e
contexto
Antes
de
encaminhar
respostas
para
a
questão
formulada
anteriormente,
faremos algumas
considerações
sobre
o
processo
de
elaboração
de MDs de PBE, enfocando a
questão
da
seleção
de
textos.
No Brasil, os
autores
que,
na
tarefa
de
elaboração
de
um
MD de
Português
para
estrangeiros,
tentam
selecionar
textos
que
circulam
em
nosso
contexto
plasmando os
diferentes
discursos
que
se realizam
em
situações
institucionais, históricas,
sociais
e ideológicas, deparam-se
com
uma
série
de
barreiras.
Aquelas de
natureza
econômica
- determinadas
por
um
mercado
ainda
limitado,
embora
em
expansão
-
são
significativas,
geralmente
implicando
cortes,
recortes, reduções de
dimensão
e de
nitidez
dos
textos,
que
quase
sempre
acarretam
decepção
do
autor
do MD
diante
do
conjunto
final
-
infinitamente
distanciado de
sua
proposta
inicial.
Uma
outra
dificuldade
é aquela
relativa
aos
tipos
de
textos
a serem
selecionados
como
representações
da
língua
e da cultura-alvo,
com
o
objetivo
de
permitir
ao
aprendiz
de PBE o
domínio
de
um
número
crescente
de
gêneros
textuais
.
A
presença
de
gêneros
textuais
variados
nos
documentos
autênticos
que
integram uma
unidade
de
trabalho
de MD de
língua
estrangeira
(LE)
cria
para
os
aprendizes
diferentes
ângulos
de
aproximação
e
leitura
da
realidade
em
que
se inscreve a língua-alvo.
.Destaca
Zarate ( 1995, p. 111)
que
a
operação
aparentemente
simples
de
seleção
do
documento
é
por
si
mesma
portadora de
sentido,
ou
seja,
um
MD, ao
apresentar
para
alunos
de
diferentes
perfis
um
conjunto
de
textos
como
espaços
instauradores de
oportunidades
de
interlocução
na língua-alvo, está oferecendo a
estes
aprendizes
determinados
feixes
de
sentidos,
que,
no
processo
de
leitura,
de
acordo
com
a
proposta
de
atividade
apresentada e
com
suas
perspectivas
e
habilidades
de
compreensão,
esses
estudantes
podem
fazer
brotar.
Se
esses
feixes
de
sentidos
forem buscados
pelos
alunos
em
textos
denominados
autênticos,
tanto
melhor.
Registre-se
que
quando
falamos
em
textos
autênticos
e defendemos
sua
entrada
nos
MDs
não
estamos julgando ingenuamente
que
textos
dessa
natureza
possam
manter
suas
fisionomias
e
funções
iniciais
ao serem extraídos de
seus
contextos
e de
suas
situações
de
leitura
originais
nem
tampouco
que
constituam
garantia
de
atividades
de
compreensão/produção
produtivas. Acreditamos,
todavia,
que
configurando
uma
porção
de
discurso
genuíno
(Widdowson,1991, p. 113), podem
constituir
um
ponto
de
partida
seguro
para
uma
proposta
de
tarefa
de
leitura
aprofundada e de
produção
bem
sucedida
em
língua
estrangeira.
Observe-se
ainda
que
a
leitura
das
representações
configuradas
nos
textos
autênticos
ganha
em
profundidade
quando
autores
e
editores
tomam,
em
relação
aos
documentos
escolhidos,
alguns
cuidados
básicos
-
como
citar
autores,
contextos
de
origem,
datas
-
que
permitirão a
recriação
do
contexto
de
produção
por
professores
e
aprendizes.
Outro
cuidado
necessário
é a
criteriosa
escolha
das
fontes,
que
confere confiabilidade aos
textos,
os
quais,
ao serem deslocados de
seu
espaço
de
leitura
original
para
aquele
do MD,
já
perderam,
em
parte,
sua
autenticidade
.
Com
a
entrada
nesse
espaço
desse
tipo
de
documento,
que
pode
ser
tomado,
segundo
Zarate (1995: p.101),
como
uma
espécie
de
concentrado
da
realidade,
o quotidiano
brasileiro
se
torna
objeto
legítimo
do
ensino
do
português
para
falantes
de outras
línguas.
Ou
seja,
passa
a
ser
trazida à
sala
de
aula
de PBE e a
ser
oferecida a
aprendizes
e
professores,
que
muitas
vezes
travam
contato
com
a língua-alvo
em
situação
de não-imersão, uma
espécie
de
realidade
capsularizada do
contexto
de
origem
dessa
língua.
Para
os
autores
de
livros
didáticos
de PBE voltados
para
o
ensino
da
modalidade
brasileira
– inscrita
em
uma
realidade
multifacetada – essa
operação
aparentemente
simples
de
busca
de
documentos
autênticos
verbais
e não-verbais dela representativos constitui
um
permanente
desafio,
pois
observar,
recortar,
articular
e capsularizar os
múltiplos
aspectos
do quotidiano
dispersos
por
uma
infinidade
de
textos
em
circulação
em
nosso
contexto
para
oferecê-lo a
professores
e
aprendizes
exige uma boa
dose
de
sensibilidade
e
habilidade.
Ressalte-se
ainda
que
não
há
um
enfoque
e
um
recorte “certos”
da
realidade
a
ser
capsularizada
em
material
textual
e
sim
a
perspectiva
do
autor
do MD
sobre
o
contexto
brasileiro,
com
suas
inúmeras e contrastantes
faces.
O
que
recortar
sem
cair
na
repetição
e
nos
estereótipos
fáceis é
algo
que
cada
autor
deve
decidir
por
si
: o
país
superlativo
e/ou
o
país
depauperado? ; o
país
do
abraço
amigo
e/ou
da
agressão
banalizada?; da
água
no
feijão
e/ou
da
fome
não
zerada? ; da
palavra
dos
sempre
incluídos e/ou
da
fala
dos
permanentemente
esquecidos?; da
era
digital
e/ou
da
era
da
pedra
lascada?
No
que
diz
respeito
à
seleção
e
inclusão
de
textos
autênticos
não-verbais (fotografias,
cartuns
sem
palavras
etc), julgamos
que
raros
autores
de
livros
didáticos
destinados ao
ensino
de PBE, se deram
conta
de
que
para
o
aprendiz
ver/ler
imagens
do Brasil e
ir
tecendo
textos
verbais
na língua-alvo constitui
atividade
tão
importante
quanto
ler
textos
verbais
e
ir
construindo
imagens
e
representações
do Brasil (Júdice e Xavier, 1997).
Se centrarmos
nossa
atenção
no
material
fotográfico,
importante
recurso
para
manuais
de
ensino
de
língua
e
cultura,
veremos
que
sua
escolha
e
articulação
nos
livros
didáticos
de PLE editados no Brasil tem recebido
muito
pouca
atenção.
Encontramos
freqüentemente
material
fotográfico
pouco
representativo, fragmentado, descontextualizado,
sem
indicação
de
autor
e
fonte,
com
dimensão
e
impressão
que
dificultam a
leitura
e,
em
geral,
mal
explorado
como
insumo
textual
para
o
ensino
de
língua
e
cultura.
É
lamentável
esse
descaso,
porque
a
fotografia
constitui uma
forma
significativa
de
captar
o quotidiano. E, é
claro,
também
representa
um
meio
privilegiado de
propiciar
leituras
múltiplas desse
dia-a-dia,
pois
sua
capacidade
ímpar
de
flagrar
instantâneos
de
cenas
quotidianas e de
personagens
e de
articular
feixes
de
sentidos
permite
que
cada
leitor
a interprete
com
sua
própria
sensibilidade
e
perspectiva.
O
problema
do
uso
inadequado da
fotografia
em
livros
didáticos
obviamente
não
se restringe aos
materiais
de PBE,
já
tendo sido abordado
por
Zarate (1995, p. 111),
em
estudo
sobre
a
escolha
de
documentos
para
integrar
manuais
de
línguas
estrangeiras:
Nos
manuais,
os
documentos
iconográficos apresentam
freqüentemente
uma referenciação
pouco
legível
e funcionam
mais
como
ilustrações
destinadas a
ritmar
agradavelmente a
página
que
como
verdadeiros
documentos.
O
formato
do
manual
impõe
freqüentemente
reduções
que
afetam a
legibilidade:
o
editor
prefere
multiplicar
as
fotos
do
que
oferecer
uma
só
reprodução
de
excelente
qualidade
que
permita
um
trabalho
minucioso
de
observação.
Os
documentos
iconográficos
são
raramente
datados,
sua
assinatura
é
difícil
de
ser
encontrada, sendo
freqüentemente
relegada ao
final
do
manual
com
a
menção
dos
direitos
do
autor.
O
fotógrafo
não
é percebido
como
um
autor
por
inteiro.
Feitas
essas
considerações
sobre
o
processo
de
seleção
de
textos
para
inclusão
em
MDs destinados ao
ensino
de
língua
estrangeira,
passamos a
abordar,
agora
especificamente no MD1 e no MD2,
questões
relativas à
autenticidade
dos
textos
neles inseridos, aos
gêneros
em
que
se inscrevem, às
fontes
de
que
foram retirados, aos
temas
que
trazem à
cena,
aos
cenários
brasileiros
que
constroem e à
variedade
de
língua
que
flagram.
MD1:
textos
e
contextos
Dentre
os
textos
que
integram o
livro
do
aluno
do MD1, registra-se
discreta
predominância
de
textos
não-autênticos. Os
textos
autênticos
estão
ausentes
da
parte
inicial
do
livro
e
só
vão
surgindo,
progressivamente,
à
medida
que
as
unidades
se desenvolvem.
Entre
os
textos
autênticos,
os não-verbais constituídos
por
cartuns
estão
ausentes
e os
documentos
fotográficos
são
raros.
Destacamos
que
não
estamos incluindo na
categoria
não-verbal os
desenhos
que
surgem no MD1
apenas
como
“decoração de
página”.
Em
relação
às
fontes,
os
textos
não-verbais do MD1
ou
não
as têm explicitadas (como
no
caso
das
fotos
que
julgamos
ser
dos
arquivos
da
editora)
ou
são
provenientes de
periódicos
nacionais,
guias
e
almanaques.
Os
temas
flagrados
pelos
textos
não-verbais do MD1 -
por
vezes
só
depreendidos
com
recurso
aos
textos
verbais
(títulos
e
enunciados)
a
eles
articulados –
são
esportes
em
geral,
estresse
e
trabalho,
carnaval,
cidades
brasileiras,
tipos
regionais
e
mundo
lusófono.
No
que
se refere aos
gêneros
dos
textos
verbais
oferecidos à
leitura
dos
aprendizes
no MD1, podemos
descrever,
utilizando as
categorias
textuais
de Kaufman e Rodríguez (1995), apresentadas pelas autoras
como
não
exaustivas
porém
operacionais
para
o
trabalho
com
texto
no
contexto
de
ensino,
o
panorama
que
se segue.
Verifica-se
predominância
de
textos
jornalísticos-
matérias,
notas,
manchetes,
classificados,
entre
outros.
Seguem-se a
eles
textos
que
se incluem na
categoria
de
informação
-
histórica
e
enciclopédica.
Também
está representada a
categoria
texto
literário,
sob
a
forma
de umas raras
crônicas
inseridas no
final
do
volume
e
também
de
letras
de
músicas
de Caetano e Gil. A
categoria
instrucional
também
é observada -
em
receita
culinária,
mas
a
publicitária
está praticamente
ausente.
No
que
se refere à
categoria
epistolar
–
bilhetes
e
cartas
variadas,
sobretudo
comerciais
- está representada
por
documentos
que,
se
não
forem
autênticos,
constituem
construções
satisfatórias no
gênero.
É
relevante
ainda
a
presença
de
textos
de
documentos
da
área
de
negócios,
com
modo
de
organização
bem
marcado (ficha,
formulário,
recibo,
contrato,
currículo)
e de
textos
de
estrutura
simples,
relacionados às
ações
do
dia-a-dia
(lista,
recado,
cupom,
folheto).
No
tocante
à
categoria
humorística,
que
no MD1
abarca
textos
não-autênticos (de “humor
pasteurizado”),
registram-se, na
interseção
do
verbal
com
o não-verbal, uns
tímidos
quadrinhos, cujas
falas
têm
objetivos
gramaticais.
Considerando as
fontes
das
quais
é
originário
o
material
textual
do MD1, podemos
dizer
que
os
textos
verbais
jornalísticos
foram retirados de
periódicos
brasileiros
variados, predominando
aqueles
da
revista
Veja, de
grande
circulação
nacional,
seguidos
por
outros
provenientes do
jornal
Folha
de
São
Paulo.
Em
segundo
plano,
com
poucas
contribuições
(um
ou
dois
textos
cada)
ficam
outros
jornais
editados no
eixo
São
Paulo -
Rio
e de
circulação
nacional,
e
ainda
revistas
da
área
de
negócios
e
informática,
de vulgarização
científica,
de
esportes,
de
educação,
de
folclore
etc.Os
textos
de
informação
histórica
e
enciclopédica
foram retirados
principalmente
de
guias
e
almanaques.
Os
temas
abordados
pelos
textos
predominantes no MD1,
ou
seja,
textos
do
gênero
jornalístico
têm
como
grande
núcleo
o
trabalho
no
contexto
empresarial,
seguido
por
esportes
e
lazer,
vida
nos
grandes
centros,
educação
e
saúde.
Os
textos
inscritos nestes
dois
últimos
grupos
fazem
articulação
entre
os
temas
“educação”
e “saúde”
e o
mundo
dos
negócios.
Quanto
à
temática
trazida à
cena
pelos
textos
de
informação
histórica
e cultural,
além
de
mundo
lusófono,
temos
tópicos
de
História
do Brasil e
itens
culturais “clássicos”
quando
se
trata
de Brasil –
ou
seja,
música
popular
e
carnaval.
No
que
diz
respeito
aos
temas
dos
textos
inseridos na
categoria
literária,
as
crônicas
abordam o
futebol
e o
improviso
no
trabalho
autônomo
desenvolvido
no
contexto
brasileiro.
Concluindo,
em
relação
ao Brasil
que
é flagrado
nos
textos
impressos
autênticos
que
integram
atividades
de
compreensão/produção
no MD1, podemos
dizer
que
predomina
aquele
do
contexto
urbano
do
sudeste
brasileiro,
da
classe
média,
do
trabalho
regular
no
contexto
empresarial,
trazido
nos
discursos
de
periódicos
de
circulação
nacional
e da
região
sudeste,
e
construído
sobretudo
com
recurso
à
variedade
jornalística,
que,
em
sua
modalidade
escrita,
busca
simultaneamente a sintonia
com
o
uso
quotidiano e a
preservação
da
norma
dita
culta.
MD2:
textos
e
contextos
Do
conjunto
de
textos
que
integra o
volume
destinado a iniciantes do MD2, a
maior
parte
é
composta
por
documentos
autênticos,
distribuídos equilibradamente
por
todas as
unidades.
Os
textos
autênticos
não-verbais, abarcam,
além
de uns
poucos
cartuns,
fotogramas de
filmes
brasileiros,
mapas
e
reproduções
de
quadros
de
artistas
plásticos
nacionais,
um
abundante
e
significativo
material
fotográfico.
A
atenção
que
caracteriza o
trabalho
do
fotógrafo
– a
busca
de
determinado
instante,
movimento,
luz,
gesto,
face
-
também
deve
estar
presente
no
trabalho
dos
autores
de
livros
didáticos
que
incluem
material
autêntico
dessa
natureza
e lidam
com
a
construção
de
representações
da cultura-alvo, selecionando e articulando
fotos
e observando
seu
interesse
sociológico. Essa
percepção
do
fotógrafo
como
autor,
como
criador,
caracteriza o
trabalho
de
seleção
de
material
fotográfico
no MD2. As
fotos
do Brasil e dos
brasileiros
nele reunidas constituem
documentação
autêntica
de
nosso
espaço,
tempo,
cultura,
e,
além
disso,
são
apresentadas aos
aprendizes
da
língua
e da
cultura
do Brasil
em
formato
que
objetiva
e permite a
observação
do
detalhe
e a
conseqüente
leitura
e
produção
verbal.
Para
aprendizes
e
professores
estrangeiros,
sobretudo
aqueles
que
estão
em
situação
de não-imersão, o
acesso
às
imagens
reais
e diversificadas do Brasil integradas ao MD2 pode
ser
de
relevância
na
configuração
de
representações
das muitas
realidades
do
país,
inclusive
daquela do Brasil dos excluídos,
que
não
costuma
ser
representado
em
materiais
dessa
natureza.
Reunindo
flagrantes
de
nossa
realidade,
registrados
por
fotógrafos
brasileiros,
e retirados,
em
sua
maior
parte,
de
livros
de
arte
e
também
de
acervos
de
agências
de
fotografias
e de
arquivos
fotográficos
(públicos
e
privados),
o MD2 consegue
oferecer
a
professores
e
aprendizes
de PBE
um
concentrado
de
realidade
que
traz a
perspectiva
de
quem
o recortou.
Os
temas
que
os
textos
não-verbais do MD2 trazem à
aula
de PBE,
via
imagem
fotográfica,
revelam o Brasil
com
diversidade
de
foco,
cor,
ângulos
e
movimento.
O Brasil do
recém-nascido
nos
braços
da
cabocla
amazônica,
do
menino
do
campo
e dos
meninos
da
cidade.
O Brasil de
homens
e
mulheres
jovens
e
velhos,
em
seu
quotidiano
interiorano
(a
parteira,
o
lavrador,
a
lavadeira,
o
vaqueiro)
e
também
urbano
(o
operário,
o
comerciante,
o
artista,etc).
O Brasil da
natureza
humana
forte
e
também
da
força
da
natureza,
presente
nas
cores
e
formas
de
sua
fauna
e
flora.
O Brasil industrializado e das
redes
de
comunicação.
O Brasil de
pés
descalços
e de
mãos
maltratadas
pelo
trabalho.
Todos
esses
brasis contidos no MD2 podem
ser
acessados
por
aprendizes
e
professores
de PBE de variados
universos
culturais.
No
contato
com
esses
textos
não-verbais
que
flagram
com
autenticidade
nossa
realidade,
os
aprendizes
podem
ter
oportunidades
efetivas de
uso
da língua-alvo, à
medida
que
puxem,
pouco
a
pouco,
o
fio
dos
sentidos
que
forem
capazes
de
fazer
fluir
das
imagens
fotográficas -
textos
imediatos,
instigantes
e
abertos
a múltiplas
abordagens.
No
que
diz
respeito
aos
textos
autênticos
verbais
do MD2, podemos
dizer
que
são
numerosos
aqueles
de
propagandas,
predominando
portanto
o
gênero
denominado
publicitário,
cuja
inclusão
é
relevante
porque,
como
nos
lembra Monnerat (2003), no
discurso
da
propaganda
encontramos o
imaginário
coletivo
do
público
a
que
se
destina,
ou
seja, a
linguagem
da
publicidade,
no
caso
brasileira,
deixa
entrever
a
maneira
como
a
nossa
sociedade
vê
o
mundo.
Em
segundo
lugar,
temos o
gênero
jornalístico,
em
segmentos
de
textos
muito
curtos,
constituídos
sobretudo
por
quadros
informativos retirados de
matérias
de
periódicos.
Na
categoria
gênero
de
informação,
encontramos
dados
biográficos de
personalidades
brasileiras e algumas
notas
sobre
aspectos
geográficos
e culturais do
país.
No MD2,
não
há
registro
de
texto
do
gênero
literário,
nem
do instrucional,
nem
tampouco
do
epistolar.
Apresentados
para
discussão
de
visões
de
mundo,
surgem no MD2
textos
de
provérbios
em
circulação
na
sociedade
brasileira,
porém
desarticulados do co-texto
em
que
se inscrevem.
Enquadrados no
gênero
humorístico e situados na
interseção
do
verbal
com
o não-verbal, encontramos
ainda,
no MD2,
cartuns
de
fácil
compreensão.
Os
textos
publicitários,
predominantes no MD2,
são
oriundos
de uma
grande
variedade
de
fontes,
como
listas
telefônicas,
fascículos,
folhetos,
revistas
de
circulação
nacional,
com
forte
presença
de Veja, e
ainda
de
Época,
Exame,
Manchete,
Super Interessante.
Também
há
aqueles
provenientes de
revistas
de
circulação
em
âmbito
mais
específico,
como
aquelas de
empresas
aéreas brasileiras e de
grupos
étnicos,
e
ainda
outros
procedentes
de
jornais
editados
em
São
Paulo.
As
fontes
dos
textos
autênticos
verbais
informativos
são
constituídas
sobretudo
por
almanaques
e
fascículos.
Observe-se
ainda
que,
de
domínio
público,
temos, no MD2,
vários
provérbios
que
capsularizam
modos
de
ser
e de
dizer
relacionados ao
contexto
brasileiro.
No MD2, os
temas
dos
textos
autênticos
verbais
recobrem
gama
de
interesses
que
extrapola o Brasil
urbano
e de
negócios,
maciçamente
representado no MD1. Os
assuntos
enfocados
vão
da
cultura
popular
à
cultura
entronizada, do
homem
comum
às
personalidades
brasileiras, do
contexto
da
cidade
ao
contexto
do
campo,
do
consumo
básico
do quotidiano às
oportunidades
desiguais
para
os
diferentes
segmentos
sociais.
Concluindo podemos
dizer
que,
em
relação
ao Brasil flagrado (em
grande
parte
pela
objetiva
de
fotógrafos
brasileiros)
no
conjunto
dos
textos
autênticos
do MD2, se fazem
presentes
o
contexto
urbano
e o
rural,
as
diferentes
raças
e
classes
sociais
que
formam o
tecido
de
nossa
sociedade,
o
trabalho
no
campo
e na
cidade,
trazidos
pela
linguagem
fotográfica,
pela
jornalística
e
sobretudo
pela
linguagem
publicitária,
na
qual
os
componentes
lingüístico
e cultural estão
fortemente
enlaçados.
Conclusão
Bibliografia
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Imagens
do Brasil: uma
experiência
com
leitura/produção
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