Formação
acadêmica,
coerções
institucionais e
prática
docente
de
leitura
em
espanhol
como
língua
estrangeira
– E/LE
Cristina de Souza Vergnano Junger
(UERJ)
Introdução
O
presente
trabalho discute
como a
prática
docente relacionada ao
ensino de
leitura, no
curso de
espanhol
língua
estrangeira (E/LE) de uma
graduação
em
Letras (Português-Espanhol), sofre
influências,
tanto da
formação
acadêmica do
professor,
quanto dos
aspectos acadêmico-administrativos da
instituição na
qual leciona e das
crenças
sobre
conceitos de
língua e
seu
ensino. As
reflexões baseiam-se num
estudo de
caso,
que recolheu,
após a
análise de
um
questionário
junto a
professores
universitários de
espanhol,
considerações e
exemplos de
atividades de
sala de
aula de
um dos
docentes informantes,
através de
entrevista.
Crenças
sobre
ensino-aprendizagem e
leitura
alguns
pressupostos
teóricos
O
professor e
suas
crenças
sobre o
processo de ensino-aprendizagem de
línguas
Quando
nos propomos
uma
reflexão
sobre
questões de
ensino-aprendizagem, podemos
ter
diferentes
focos a
considerar: os
programas e
propostas
curriculares de
maneira
geral, os
materiais
didáticos, as
metodologias,os
conteúdos, a
atuação e
perfil dos
alunos, o
papel do
professor.
Cada
aspecto implica
posicionamentos
teóricos e/ou
ideológicos
subjacentes e
a
observação de
condutas
práticas.
Não
só existem as
considerações
tecidas à
luz de
pesquisas e
trabalhos
acadêmicos,
mas
também aquelas
nascidas das
crenças dos
próprios
sujeitos
envolvidos no
processo
educativo –
alunos,
professores e
comunidade
social à
qual
pertence o
sistema
observado (Richards
& Lockhart, 1998).
No
caso dos
professores, considerando a
escola
como uma
instituição
que, tradicionalmente, tem
como
função
ensinar as
normas vigentes na
sociedade
em
que se insere, observamos
que se
lhe atribui uma
imagem daquele
que detém o
saber e o
poder
para
determinar o
que é
certo.
Sua
palavra está legitimada
pela
sociedade e
pela
função
que esta atribui à
escola e,
conseqüentemente, ao
professor (Grigoletto, 1995).
Tal
crença é compartilhada
pelos
alunos,
que esperam
por
respostas
inquestionáveis,
pela
solução de
todos os
problemas e
pela
presença de
um
sujeito
que domina os
saberes e pode transmiti-los (Coracini, 1995). De
igual
maneira pensam
muitos
docentes,
que limitam as
opções interpretativas de
seus
alunos, retirando-lhes o
status de
sujeitos
capazes de
atribuir
sentidos (Eckert-Hoff, 2002).
Mas essa
crença dos
professores
sobre
si
mesmos
também os
leva,
como
conseqüência, a exigir-se o
domínio
pleno e
permanente de
todos os
conteúdos e
habilidades
que devem
ensinar,
sob
pena de
falhar
em
sua
atribuição (Eckert-Hoff, 2002).
Planejamentos
rígidos
que
não admitem a
contribuição
livre e
criativa dos
alunos
fora da
programação previamente estabelecida podem
ser explicados
por
tal
crença.
Outro
problema,
que tem sido
levantado
com
freqüência
em
discussões
sobre
prática
docente e
materiais
didáticos
em
reuniões e
eventos
científicos, é
a
transferência,
pelos
professores,
do
papel de
protagonista
do
processo
educativo
para os
livros
didáticos,
passando
estes a
ser os
detentores
desse
poder
antes
atribuídos aos
próprios
docentes.
Neste
caso,
em
última
instância,
podemos
dizer
que a
autoridade é transferida
indiretamente
ao
autor dos
textos e o
trabalho
com a
linguagem se
torna uma
decodificação de
intenções
supostas
pelo
docente a
partir de
sua
leitura e
interpretação
pessoais,
ou
determinadas
nos
guias
didáticos
oferecidos
pelo
autor do
material
em
questão (Coracini, 1995b).
Não se pode
afirmar
que haja
homogeneidade
com
relação às
visões de
professores
sobre
língua,
seu
ensino-aprendizagem,
trabalho
com
língua
estrangeiras (LE) e,
em
seu
âmbito,
com
leitura.
Em
geral, as
crenças
são moduladas
pela
trajetória de
cada
profissional,
tanto no
campo
teórico
quanto no
prático. Sendo
assim,
encontramos
professores
que vêem a
língua
como
um
sistema e,
por
isso,
enfatizam o
trabalho
com
estruturas
gramaticais e
vocabulário, tomando a
leitura
como uma
atividade de
decodificação, centrada no
material
criado
pelo
autor.
Por
outro
lado, temos
aqueles
que, ao
considerar a
língua
como
veículo de
comunicação,
valorizam
aspectos
nocionais-funcionais e
processos de
interação,
atribuindo à
leitura,
freqüentemente,
uma
função
pragmática de
acesso à
informação e,
no
caso
particular da
LE,
contato
com a
cultura do
outro
ou
papel instrumental (Richards
& Lockhart, 1998).
Entre os
diferentes
posicionamentos,
no
que se refere
à
prática leitora, temos
depoimentos de
docentes de LE
que consideram
a
tarefa de
seu
desenvolvimento
como
atribuição de
professores de
ensino
básico,
como
parte do
processo de alfabetização
e letramento
em
língua
materna (Junger,
2002). No
entanto,
tanto no
caso da
leitura
quanto no
ensino de LE
em
geral, pudemos
observar, seja
em nossas
pesquisas,
seja na
atuação
como
docente
em
mini-cursos,
ou
participação
em
eventos
acadêmicos e
reuniões,
que existe uma
indefinição e
heterogeneidade de
crenças e
posturas
teóricas
entre os
professores.
Ainda é
bastante
forte a
valorização do
conteúdo
formal e
normativo da
língua,
que divide
seu
espaço
com a
preocupação
comunicativa
pelo
desenvolvimento
da
produção
oral e
escrita dos
alunos.
Mas aparecem,
ocasionalmente,
a
atenção às
diferentes
competências,
a
reflexão
sobre o
fazer
lingüístico e
metalingüístico,
principalmente
quando se
trata de
formação de
professores de
LE, a
incorporação e
discussão de
novas
contribuições
teórico-metodológicas. Seja
como for,
essas
questões,
claramente
definidas
ou
não,
interferem nas
escolhas e,
conseqüentemente,
na
prática de
sala de
aula,
pois
são a
orientação
que segue
cada
professor, de
maneira
consciente
ou
inconsciente, ao
fazer
seu
planejamento,
dar
suas
aulas e
avaliar o
processo de
ensino-aprendizagem
que está
levando a
cabo (Junger,
2002).
A
leitura
como
processo
interativo
e
ensino
de LE
Ao
longo do
século XX
até a
atualidade,
vêm sendo propostos e estudados
modelos de
compreensão
leitora (Amorim, 1997.
Santos e
Neves, 1999.
Junger, 2002).
Normalmente
estão
associados às
discussões
sobre
aprendizagem de
leitura e
escrita
em
língua
materna,
mas
também ocupam
o
espaço
acadêmico dos
estudos
sobre
aprendizagem de LE. Partindo do
foco no
texto, num
processamento
ascendente das
informações
nele contidas e passando
por
um
modelo psicolingüístico de
processamento
descendente,
com
foco na
bagagem do
leitor,
chegamos ao
modelo
interativo,
que conjuga
ambas as
formas de
processamento
da
informação (Leffa,
1996.Junger, 2002).
Os
princípios
referidos ao
ensino de
leitura
em
L1
são
extensivos à
LE, ao
menos no
que tange ao
desenvolvimento
no
leitor da
capacidade de
utilizar as
práticas
aprendidas
para a
sua
própria
língua
em
qualquer
situação de
leitura
diante da
qual se
encontre.
Assim:
Ensinar a
ler é
criar uma
atitude de
expectativa
prévia
com
relação ao
conteúdo
referencial do
texto,
isto é,
mostrar [...]
que
quanto
mais [...]
previr o
conteúdo,
maior será
sua
compreensão; é
ensinar [...] a se
auto-avaliar
constantemente
durante o
processo
para
detectar
quando perdeu
o
fio; é
ensinar a
utilização de múltiplas
fontes de
conhecimento –
lingüísticas,
discursivas, enciclopédicas –
para
resolver
falhas
momentâneas no
processo; é
ensinar,
antes de
tudo,
que o
texto é
significativo, e
que as
seqüências
discretas nele contidas
só têm
valor na
medida
em
que
elas dão
suporte ao
significado
global.
Isso implica
em
ensinar
não
apenas
um
conjunto de
estratégias,
mas
criar uma
atitude
que faz da
leitura a
procura de
coerência
(...) (Kleiman, 1996:151-2)
Pode-se
deduzir
que, se
um
aprendiz é
competente na
leitura
em
sua L1, será
capaz de
transferir
seu
desempenho à LE estudada, escolhendo e aplicando as
estratégias necessárias a
cada
caso,
conscientemente.
Em
termos de
sala de
aula, a
proposta de
desenvolvimento da
leitura
interativa implica a participação
ativa do
aprendiz,
que irá
construir os
sentidos
com
base nas
informações
presentes no
texto e nas
associações
que faça
com
seus
diferentes
conhecimentos
prévios –
lingüístico,
enciclopédico,
textual, discursivo. O
professor, considerado
como
um
leitor
proficiente, tem o
papel de
orientar a
transferência das
estratégias de
leitura
em L1
para LE,
bem
como o de
explicitar os
processos de
compreensão, a
fim de
permitir
seu
uso
autônomo
por
parte dos
alunos (Leffa, 1996b). Os
objetivos visados no
ensino de
leitura
em LE,
com
base nesse
panorama, podem
ser
definidos
como: (1)
passar de uma
proposta de
leitura
como
pretexto
para o
ensino de
listagem de
vocabulário e
estruturas
gramaticais
para uma
proposta de
leitura
que ocupe
igual
destaque
frente às
demais
habilidades desenvolvidas
em
aula (escrever,
falar e
ouvir); (2)
desenvolver o
domínio de variados
tipos de
texto,
para o atendimento às diversas
finalidades da
vida
cotidiana, sejam de
ordem
intelectual,
pessoal,
social
ou
profissional; (3)
oferecer os
meios
para a
construção de
sentidos
por
parte dos
leitores
aprendizes (Denyer, 1999).
Uma
forma
de
abordar
pedagogicamente a
leitura,
tanto
em
L1
quanto
em
LE, é estabelecendo
três
etapas
para
as
atividades
de
sala
de
aula
relacionadas à
compreensão
de
textos
escritos:
pré-leitura,
leitura
e pós-leitura (Solé, 1994; Amorim, 1997). Na
primeira,
pré-leitura, o
trabalho
enfatiza as
estratégias
de ativação de
conhecimentos
prévios
e de
inferência.
No
caso
do
aprendiz
de LE, constitui
um
momento
relevante
para
as
tarefas
seguintes
de
construção
de
sentidos,
pois
é
quando
são
estabelecidos
laços
entre
sua
bagagem
cultural e a da
cultura
estrangeira.
Também
são
atualizados e ampliados os
conhecimentos
relacionados ao
texto,
no
que
se refere ao
seu
assunto
e
estrutura.
Durante a
leitura
propriamente
dita, o
aprendiz
lançará
mão das
diversas
estratégias, a
fim de
interagir
com o
texto e
construir
seu
sentido.
Como os
processos de
compreensão
global e
ativação de
esquemas
requerem
como
ponto de
partida
um
insumo vindo
do
próprio
texto, as
limitações
lingüísticas
do
leitor de LE
provavelmente surgirão
com
mais
clareza nesta
etapa.
Paralelamente
à
preocupação
com o
desenvolvimento
de
estratégias
metacognitivas,
portanto,
pode-se
desenvolver o
trabalho
com
elementos
estruturais da
língua. O
processo nessa
fase engloba: (1)
procedimentos de exemplificação
por
parte do
professor; (2)
atividades
compartilhadas, nas
quais
todos atuam e
trocam
idéias e
informações,
e,
finalmente,
(3)
leituras
independentes
19 (Solé, 1994).
Entre as
estratégias
utilizadas
para
resolver os
problemas de
compreensão,
que
por
ventura
surjam, estão: a
inferência de
vocabulário
desconhecido
(a
partir,
por
exemplo, do
contexto
ou
por comparação
com outras
línguas,
inclusive a L1); a
associação de
imagens e
elementos
não-lingüísticos
com o
texto
verbal; a
compreensão
geral do
assunto; a
compreensão
pontual
ou detalhada
de
aspectos do
texto; a
comprovação,
abandono
ou
re-elaboração de
hipóteses de
leitura.
Na
última
etapa
– a pós-leitura – a
proposta
compreende
discussões
sobre
o
que
foi lido. Avalia-se o
processo,
fazem-se comparações
com
outros
textos
conhecidos,
ampliam-se as
predições
e
inferências
realizadas na
fase
inicial.
Outras
habilidades
poderão
estar
implicadas no
trabalho,
como
a
fala
e a
escrita.
O
caráter
relevante
dessa
etapa
das
atividades
didático-pedagógicas de
leitura
é a conscientização do
leitor
para
o
fato
de
que
as
informações
negociadas
através
da
sua
interação
com
o
texto
passarão a
fazer
parte
de
sua
bagagem
e constituirão
elementos
para
futuras ativações de
conhecimento
prévio.
O
trabalho
de
compreensão
leitora
sob
a
ótica
interativa
considera,
por
tanto,
a
relevância
dos
conhecimentos
enciclopédicos
do
leitor
e
sua
capacidade
de
utilizar
estratégias
para
avançar
no
processo.
Vista
como
uma
atividade
comunicativa,
na
leitura
se estabelece uma
interação
entre
este
leitor
e o
autor,
mediada
pelo
texto,
na
qual
é
tão
importante
a
informação
que
se apresenta no
material
escrito
– seja
verbal
ou
não
–
quanto
a
atuação
do
receptor
da
mensagem.
Com
relação
ao
conhecimento
lingüístico,
embora
se reconheça
seu
papel
no
processo,
deve-se
ressaltar
que,
dentro
desta
perspectiva
teórica,
o procedimento
estratégico
pode
ser
capaz
de
sanar
limitações
de
ordem
lingüística
e
permitir
o
êxito
na
atividade
leitora,
segundo
os
objetivos
estabelecidos
por
cada
leitor.
Entre
a
prática
docente,
a
formação
e os
parâmetros
institucionais
um
estudo
de
caso
Em
nossa
pesquisa (Junger, 2002), entrevistamos
um
docente de
espanhol
em uma
instituição de
ensino
superior (IES) do
Rio de
Janeiro.
Nosso
objetivo
era
discutir as
relações
que poderiam
ser estabelecidas
entre
suas
crenças
sobre
leitura e ensino-aprendizagem de E/LE,
sua
formação, a
realidade institucional na
qual se inseria e a
atuação
em
sala de
aula. Partimos do pressuposto de
que a
preocupação
com o
desenvolvimento de
leitores
proficientes é
um
requisito
que deve
fazer
parte dos
cursos de Português-Espanhol, visando a
formação de
profissionais
mais
completos.
Nossa
pergunta de
investigação
era se e
como
isso estaria ocorrendo.
Por
isso, procuramos
primeiro
traçar perfis dos
docentes de E/LE
em IES da
área do
Grande
Rio,
para,
então,
escolher
alguns
sujeitos cujas
características se houvessem apresentado de
forma
mais
homogênea
para
um
estudo
mais aprofundado.
O informante
que
aqui destacamos foi o
que demonstrou uma
caracterização
mais
compatível
com o
perfil de
professor
que
trabalha
com a
leitura
sob uma
ótica
interativa, na
primeira
etapa de
coleta de
dados.
Em
termos de
formação
acadêmica, é
especialista
em
espanhol instrumental
para
leitura, demonstrou
conhecer os
conceitos
básicos
que caracterizam o
modelo
interativo,
bem
como identificá-lo
como
sua
orientação
teórica
nos
casos
em
que
trabalha
com
leitura.
Foi-lhe solicitado,
antes da
entrevista,
que escolhesse
entre
cinco
textos
autênticos de
diferentes
tipologias,
aquele (ou
aqueles)
com o
qual gostaria de
desenvolver uma
atividade de
leitura
com uma de
suas
turmas
e
que preparasse os
exercícios
conforme
já estava acostumado a
trabalhar,
segundo
seu
conceito de
leitura e de
seu
ensino. Tendo escolhido
três
histórias
em quadrinhos, explicou
que o fez
com
objetivo de:
Trabalhar o
lingüístico e
o
não
lingüístico,
já
que escolhi os
quadrinhos;
observar
aspectos
gramaticais de
maneira
prática e
estabelecer a
relação
entre a
linguagem e
forma dos quadrinhos e o
cotidiano. D13 – Junger,
2002: 256.
Com
base
nos
três
textos
elaboraram-se
quatro
perguntas de
caráter
geral, válidas
para o
conjunto de
historinhas, duas específicas
para a
primeira,
outras duas
para a
segunda e,
finalmente,
três
para a
terceira
história
em quadrinhos
(HQ). As
questões
tinham
estrutura de
perguntas
abertas
ou
semi-abertas e foram resolvidas
em uma
aula de
quarenta e
cinco
minutos. O
período
escasso
para a
realização da
tarefa se
deveu,
segundo o
docente
colaborador, ao
fato de
que
já estavam na
última
aula
antes do
período de
provas,
não havendo
possibilidade de
extensão do
tempo. Essa
restrição de
tempo
impediu-o de
incluir
entre as
atividades,
conforme foi
esclarecido na
entrevista, uma
proposta de
prática
escrita, na
qual os
alunos
reescreveriam e desenvolveriam o
argumento das
HQ
sob a
forma de
um
texto
em
prosa.
Quanto à
descrição do
instrumento,
as
questões 2 e 4
de
caráter
geral podem
ser identificadas
como sendo
tipicamente de
produção
escrita. No
primeiro
caso,
embora a
opinião
pessoal
requisitada implique
um
certo
grau de
compreensão
dos
textos
com
relação ao
seu
sentido de
humor –
“cuál de los
chistes
es más
gracioso”
–, a
abertura da
pergunta
deixa
margem a uma
ênfase na
produção,
pois admite
qualquer
resposta. A
questão de
número 4 (geral),
por
sua
vez, propõe a
criação de uma
HQ/piada
sobre
tema
igual ao
trabalhado nas
leituras (questões
relacionadas aos
eventos
terroristas do
11 de
setembro e à
vida
cotidiana
argentina)
ou da
atualidade,
constituindo-se,
portanto, numa
proposta de
redação
criativa.
A
pergunta de
número 1 (geral)
trabalha
em
certa
medida
com
intertextualidade,
quando pede a
relação
entre os
textos,
mas
deixa a
proposta
vaga no
que se refere
a
que
relação se
espera
observar:
“qué relación se establece
entre
los tres
chistes”.
A 3 (geral)
envolve
identificação
de
assunto
também
intertextual,
pois solicita
um
título
para o
conjunto de HQ.
Em
última
análise, ambas
exigem o
mesmo
nível de
compreensão
geral
sobre
um
aspecto
idêntico
requisitado de
forma
distinta – o
tema
comum às
três HQ.
Nenhuma
questão
sobre
compreensão
pontual foi
elaborada
para os
textos.
As
perguntas
que têm
como
objetivo
verificar
aspectos de
gramática
textual
constituem o
maior
foco do
trabalho. Estão
assim
distribuídas: 1 (texto
A) –
coesão
referencial (artigo
neutro); 1 (texto
B) –
coesão
referencial (pronome
oblíquo); 2 (texto
B) –
organização
sintático-semântica (coesão),
restando o
problema de
que, na
medida
em
que se
solicita a
substituição
por
um
termo
equivalente, seria exigida
apenas a
memória do
elenco das
conjunções e
suas
classificações
para resolvê-la; 1 (texto
C) –
identificação
do
autor
com
base nas
opções de
pronome de
tratamento (aspecto
sociolingüístico – variação); 2 (texto
C) –
coesão
referencial (pronome
oblíquo).
Paradoxalmente
em
uma
proposta
que
se define
como
uma
atividade
que
busca
trabalhar
o
lingüístico
e o não-lingüístico (imagens
e
aspectos
tipográficos)
e
observar
aspectos
gramaticais
em
uso,
somam-se às
questões
de
gramática
textual
duas de
elementos
sistêmicos,
segundo
a
gramática
normativa, associadas à
produção
escrita.
Apesar
de as
tarefas
envolverem
um
grau
de
compreensão
do
significado
e
uso
dos
termos
assinalados,
uma
vez
que
não
se solicita
qualquer
tipo
de
explicação
sobre
a
produção
de
sentidos,
é requerida do
aluno
somente
a
memória
de
um
conjunto
de
vocábulos
de
usos
equivalentes e o
domínio
da
produção
escrita
em
nível
de re-escritura de
frases
para
alcançar
os
objetivos
previstos.
Embora o
professor tenha
destacado o
objetivo de
trabalhar
com
elementos
não
lingüísticos,
razão da
escolha das HQ,
não houve
nenhuma
questão
que
privilegiasse
ou, ao
menos,
enfocasse
tal
meta –
papel da
imagem na
construção do
significado
das historinhas.
Segundo
ele,
contudo, na
questão 4, procurou
valorizar a
compreensão do
texto
em quadrinhos,
pois,
sem o
entendimento
pleno da
relação
entre
imagem e
palavra na
construção da
mensagem,
não seria
possível
criar uma
outra HQ
diferente.
Predominaram na
tarefa, no
entanto, as
questões de
gramática
textual,
abordando
preferencialmente
a
coesão
referencial
ou os
exercícios de
reescritura. A
compreensão
foi relegada a
segundo
plano,
limitada à
compreensão
geral,
pouco
explorada e apresentada
por
comandos
pouco
orientadores.
Houve a
presença de
propostas de
prática
escrita
mescladas às de
compreensão.
Em
vista da
aparente
contradição
entre o
resultado do
questionário de sondagem
inicial,
que colocava o
docente num
perfil
interativo, e
a
análise da
atividade de
leitura
por
ele
proposta,
passamos à
entrevista
que enfocou,
principalmente,
esse
aspecto
díspar,
com
atenção à
prática
habitual
em
sala de
aula e
possíveis
coerções
que a
limitassem.
O
docente
informou
que o
trabalho
específico
com
leitura
não é
muito
freqüente
em
suas
turmas.
Segundo
seu
depoimento
durante a
entrevista, a
instituição
recebe “alunos
que
não
têm
conhecimento
algum
da
língua
espanhola”. As
questões de
tempo e da
falta de
pré-conhecimento da
língua
por
parte dos
estudantes
são as
maiores
limitações ao
desenvolvimento
de
um
trabalho de
compreensão
leitora.
E é uma
grande
corrida
contra o
tempo,
porque
eles têm
três
tempos
por
semana,
média de quarenta a
quarenta e
cinco
minutos
cada
um e o
curso,
nós temos
apenas
três
anos.
Então é uma
grande
corrida
contra o
tempo
para
passar o
conteúdo de
língua e
conseguir
desenvolver
um
trabalho
com
leitura. (Junger,
2002;
gravação
em CD-ROM)
Ensinar a
língua envolve, nessa
perspectiva,
desenvolver o
domínio das
estruturas
lingüísticas –
vocabulário,
classes
gramaticais,
suas
formas e
seus
usos – de
acordo
com
um
modelo tradicional,
determinado no
programa do
curso.
Além disso, a
equipe
docente
não constrói uma
proposta integrada de
trabalho,
que favoreça
um
olhar
novo
sobre os
conceitos de
língua e
sua aprendizagem.
Ainda
segundo o informante, no
período dedicado ao
desenvolvimento do
estudo de
sintaxe da
língua espanhola (6º e
último do
curso),
ele
próprio opta
por
propostas de
leitura,
com
ênfase na
gramática
textual. E há
também
um
espaço
para a
análise e a
realização,
como
exercício, de
provas de
concursos
públicos
para
professor de E/LE, dos
quais
muitos recém-formados participarão ao
terminar
sua
licenciatura. As
iniciativas no
sentido de
promover o
desenvolvimento e
aprimoramento da
leitura,
contudo,
são isoladas, dependendo de
cada
professor da
instituição, e sujeitas às
restrições de
tempo e às
dificuldades específicas dos
grupos de
alunos. Acrescentou
que,
sempre
que
possível, inclui
materiais
autênticos
para
atividades de
compreensão ao
lado do
livro
didático adotado,
que
não oferece
propostas de
leitura
sob o
enfoque
interativo,
mas contribui,
conforme o ressaltado
pelo
docente,
para
facilitar o
trabalho,
principalmente
em
termos de sistematização
gramatical.
O informante destacou
que o
grupo
escolhido
para
participar da
atividade
já possuía
noções de
língua
instrumental, uma
vez
que a
maioria da
turma,
anteriormente,
num
evento
promovido
por
sua
instituição,
teve a
oportunidade
participar de
um mini-curso
sobre
leitura
realizado
pelo
docente. Nessa
ocasião, foram
desenvolvidas
atividades
que favoreciam
o
contato
com diversas
estratégias de
leitura. O
evento,
aberto a
diferentes LE,
não se
orientava especificamente ao
espanhol,
mas
como
muitos de
seus
alunos
estiveram
presentes,
para
ele,
tal
fato permite
concluir
que a
leitura
segundo o
enfoque
interativo
não
era
algo
estranho aos
estudantes,
mesmo
não fazendo
parte de
seu
cotidiano
em
sala de
aula. Ao
lado dessa
constatação,
no
entanto, está
o
fato,
reconhecido
pelo
professor, de
que existe uma
falta de
orientação
sistemática
para o
desenvolvimento
da
leitura a
graduação
em
espanhol de
sua
instituição.
As
dificuldades
apresentadas
por
tais
alunos na
sua
língua
materna, no
que se refere
às
competências e
às
estratégias
cognitivas envolvidas no
processo de
leitura,
reduzem
suas
oportunidades
de
tomar
consciência de
tais
pré-requisitos
para o
trabalho
com
textos,
ou de
transferi-los e aplicá-los à LE.
Finalmente, o
docente acrescenta
que é no
espaço da
aula de
literatura, no
contato
com
textos
autênticos
literários,
que consegue
aplicar
fundamentos da
leitura
interativa –noções de
inferência
lexical,
emprego de
conhecimentos
enciclopédicos, negociação de
significados,
uso do
dicionário etc. Na
tentativa de
ampliar o
domínio dos
aprendizes no
campo da
compreensão leitora, propõe a
leitura de
textos
literários e
sua
posterior
apresentação aos
colegas de
turma
em
aulas preestabelecidas.
Embora avalie a
iniciativa de
maneira
positiva, observando uma
maior
autonomia dos
alunos na
sua
relação
com os
textos, admite na
entrevista
que
não oferece
qualquer
roteiro
ou
orientação metodológica (dados
teóricos
sobre as
estratégias
que permitam aos
estudantes a conscientização dos
processos metacognitivos utilizados
durante a
leitura),
para auxiliá-los na
tarefa.
Isso, somado aos
demais
problemas
destacados
pelo
docente,
talvez explique as
dificuldades apresentadas
pelos
estudantes na
resolução da
tarefa
proposta
para a
pesquisa.
Aspectos
para
a
reflexão
breves
considerações
finais
A
despeito de
nosso informante se
tratar de
um
docente
que reconhece, tem
formação
em
leitura
interativa, admitindo usá-la
sempre
que
possível, e possui
um
discurso
compatível
com as
bases teóricas da
abordagem,
seu
trabalho
pouco refletiu
esse
enfoque
teórico,
pois
não contemplou
estratégias e apresentou
apenas
aspectos de
compreensão
geral dos
textos escolhidos,
sem
explorar
suas
características de
gênero, admitindo
questões de
orientação
gramatical tradicional. A
justificativa
recorrente
durante a
entrevista
feita ao informante foi a
dificuldade dos
alunos
com
relação a
um
tipo de
atividade
que
não
lhes é
freqüente.
Não há
um
trabalho
sistemático e
conjunto na
equipe de
professores do
curso
que permita
criar a
base teórico-prática de
leitura
interativa
nos
aprendizes.
Por
isso, é
difícil praticá-la, desenvolvê-la e
obter
resultados
satisfatórios
em
exercícios isolados seguindo
tal
enfoque.
Na
opinião do
professor informante,
qualquer
mudança no
sentido de
explorar o
potencial
leitor dos
alunos teria
que
fazer
parte de
um
processo
coletivo na
instituição. No
âmbito do
curso, os
diversos
professores apresentam
visões
díspares
sobre o
que é
ensinar uma LE e
sobre o
espaço
que deve
ser
ocupado
pela
leitura. Considerando as
dificuldades citadas, relativas ao
público
alvo e às
exigências institucionais, o
trabalho
pedagógico
só
poderia
ser
desenvolvido
com uma
relativa
congruência se houvesse uma
coerência
seqüencial, de
maneira a
seguir uma
mesma
linha
desde o
princípio do
curso, e tivesse continuidade ao
longo de
todos os
seus
períodos.
Segundo
ele, se
um
docente começasse a
desenvolver a
compreensão leitora de
seus
alunos
sob a
ótica
interativa, usando
princípios de
gramática
textual, e, no
semestre
seguinte, a
turma passasse a
um
professor
que
lhe cobrasse
informações de
gramática normativa e abandonasse o
trabalho
interativo
com o
texto, o
esforço
inicial estaria perdido. Haveria
frustração
por
parte dos
estudantes,
que
não teriam a
base
para
responder às
demandas de
seu
novo
professor, e
críticas deste ao
processo de
formação
anterior dos
aprendizes.
Como se pode
inferir deste
caso, a
formação de
um
profissional de
educação tem
relevância no
momento de
construir a
base
teórica,
que orientará
seu
trabalho. No
entanto,
não é uma
condição
suficiente
para
garantir a
coerência
entre
teoria e
prática
ou
para
dar
homogeneidade à
atividade
docente.
Coerções de
ordem institucional,
condições de
trabalho e o
perfil dos
alunos
com os
quais se vai
trabalhar
são
fatores
importantes a
considerar e
que podem
matizar a
atuação do
professor.
Este pode,
inclusive,
manifestar a
consciência da
própria
incongruência
que vive,
mas
não
conseguir
vislumbrar
mecanismos
para resolvê-la.
Não estamos propondo
um
caminho
único
para a
abordagem e
desenvolvimento da
leitura
em
aulas de E/LE.
Com nossas
reflexões pretendemos
fomentar a
ampliação da
discussão e a avaliação dos
rumos
que vem tomando a
formação dos
profissionais de
espanhol,
que,
em
última
análise, deverão
ser
orientadores, no
caso
específico
que
aqui enfocamos da
leitura, de
novos
leitores
autônomos e
proficientes. A
atuação
docente influencia
diretamente a
discente no
processo
interativo de ensino-aprendizagem.
Conseqüentemente, a
base teórico-metodológica do
professor,
suas
experiências e
crenças se somam às
condições institucionais e de
sala de
aula nas
que está inserido
para
conformar o
processo observável de ensino-aprendizagem de E/LE.
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Anexo
Exercício elaborado
pelo
docente
Cuestiones
generales
1) ¿Qué relación se establece
entre los tres
chistes?
Justifica
tu respuesta.
2) ¿Cuál de los
chistes
te pareció más
gracioso?
Justifica.
3)
Si tuvieras
que darles un
título
general a los
chistes, ¿cuál
sería? Justifica.
4) ¡Ahora eres el
escritor!
Elabora
tu propio
chiste
sobre el mismo
asunto de los demás u otro
tema de la
actualidad. ¡A trabajar!
Cuestiones específicas
Texto A
1) En el
fragmento:
“(...)
Por lo del
ántrax, ahora no olvides el remitente.” El vocablo subrayado se refiere a:
2)
Si tuvieras
que decirlo de
otra manera, sin cambio de
significado, ¿cómo
lo harías?
Texto B
1) En: “(...)
que funciona
sin
que nadie lo
maneje”. ¿El vocablo subrayado tiene el mismo
valor del
vocablo LO de la cuestión
anterior?
Justifica
tu respuesta.
2) ¿Qué idea introduce la palabra TODAVÍA en:
“(...) ¡Todavía hay esperanza!”?
Si quisieras
sustituirla
por otra
palabra, con el mismo
significado, ¿cuál
sería?
Texto C
1) Tras leer el
chiste: “¡
Vamos, Matías! ¡Tenés
que
ir a la escuela!”, ¿te
has
dado cuenta de
dónde es su
autor?
Justifica.
2) “¡No... le tengo miedo al ántrax!” ¿qué función
tiene el pronombre LE?
3) “¿Y qué tiene el ántrax con
todo eso?”
Sustituye el vocablo subrayado de manera
que no haya
cambio de
sentido en lo
que ha sido
dicho.
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Miércoles 17 de octubre de 2001
Yo, Matías –
Por
SENDRA
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