Linguarte - Oficina Brasileira de Educação
Zulmira Novaes Nees
Esse é um texto sem teorias, que procura apenas, externalizar um problema e refletir soluções. Soluções nunca sejam únicas, mas que promovam procuras e pesquisas.
Um texto sem pretensões políticas ou partidárias. Traz apenas considerações fundadas no cotidiano da cidade de Munique, e nas informações oriundas de outras capitais do país de Kant, de Goethe, de Brecht, ao país de Darcy, de Betinho e de Paulo Freire.
Um texto que vem anunciar a linguarte - BRASILIANISCHE BILDUNGSWERKSATT E. V. e denunciar uma realidade crescente. Aos que têm a educação como partido, e aos que pensam em língua como política moral. Da linguagem humana. Da arte humana. Da cultura intersocial. De união.
Esclarecer o que é a linguarte, não é fácil. Porque a linguarte pretende ser ampletiva, no que se refere, ao começo de uma idéia, que se estenderá aonde possa, e se aperfeiçoará em seus caminhos. Dependendo dos braços que a levem. Complementando-se ao espaço que a receba.
Fruto de uma experiência própria, negociada às realidades adjacentes, acredito que aprender uma língua como a alemã, já com experiências solidificadas na gramática da Língua Portuguesa falada no Brasil, principalmente, para adultos, traz problemas muito maiores do que se não possibilitarmos uma educação bilíngüe, dificultando seu aprendizado sob diversos prismas.
Mas, é inegável, que, ao adulto brasileiro, que pouco, ou quase nada, conhece sobre a estrutura e a gramática de sua língua materna, torna-se muito mais penoso esclarecer o quê é um caso acusativo, ou as particularidades do caso dativo da Língua Alemã, se ele não percebe o que é um objeto direto, ou indireto em sua própria língua. Se, ele, na realidade, ainda não pôde aprender a ler, escrever em português, como pode decodificar e codificar e car mensagens em alemão?
Os imigrantes alemães sempre disseminaram no Brasil, organizadamente, e, cada vez mais, sua cultura e idioma. Assim como as oportunidades de cursos em alemão como língua estrangeira, começam a se solidificar neste país, é, desconcertante afirmar, que os imigrantes brasileiros, em sua maioria, não conseguem falar a sua língua materna, nem reensiná-la a seus filhos, e muitos menos aprender a língua alemã, de uma forma, ao menos, sensatamente comunicativa, na Alemanha.
E este problema é crescente, como se pode constatar, nas concentrações de brasileiros, em cidades como Frankfurt e Munique, por exemplo.
Então, o quê restará a essa criança descendente, quanto à sua outra língua e cultura, se, não conseguirmos instituir um sistema de aulas complementares de Língua Portuguesa falada no Brasil, sério, preocupado com a realidade lingüística e social de crianças que também são brasileiras? Será que nos manteremos importando a geração coca-cola, exportando a geração nós fumo, e apitando do norte a sul no Brasil para se repensar em educação?
Foi repensando a educação nacional e refletindo a educação internacional, que surgiu a linguarte. Uma oficina aberta a consertos diversos. Qualquer área, qualquer ferramenta, pode fazer parte da linguarte. É o que se acredita. É o que a torna ampla.
A linguarte foi fundada em função do Projeto-Escola LINGUARTE, que é um projeto-escola emergencial, elaborado para atender às crianças brasileiras ou filhas de brasileiros que se encontram no exterior, em países, cuja cultura seja ocidental.
Essas crianças brasileiras ou descendentes, que residem ou transitam no exterior, envolvem-se com outros idiomas e culturas, ao mesmo tempo em que se encontram alienadas da cultura e do idioma falado em sua outra pátria, o BRASIL.
A linguarte é composta, em quase toda a sua totalidade organizacional, por profissionais alemães e brasileiros da área de educação ou afim. Conta também com o apoio total da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé, RJ, docentes da UFF, Niterói, RJ e docentes de várias áreas humanas da Ludwig Maximilians Universität, em Munique, na Alemanha.
Conta com o apoio do Consulado-Geral do Brasil em Munique e o Unternehmensgruppe TÜV Süddeutschland, e procura, apoio junto a outros órgãos e associações, assim como espera o apoio de outros acadêmicos e universidades brasileiras.
Trata-se de uma associação sem fins lucrativos, autônoma, juridicamente legal, perante as leis da Alemanha e preza os conceitos educacionais propostos pela União Européia para o ensino e difusão de Línguas Estrangeiras.
Tem como objetivo a promoção e difusão da Língua Portuguesa falada no Brasil e da cultura brasileira, assim como a promoção da integração de brasileiros e brasileiras na Alemanha, inicialmente.
Prevendo atender a Lei de Imigração para o Estrangeiro, a partir de 2004, a linguarte oferecerá cursos de Alemão como Língua Estrangeira para brasileiros.
E, em função do crescente número de brasileiros, que não puderam concluir um dos segmentos educacionais oferecidos no Brasil, antes de residirem no exterior, pleiteia junto ao MEC, um sistema de supletivo educacional, que os possibilite a conclusão do Ensino Fundamental e Médio no Exterior, como telecursos.
A linguarte assume a importância dos CEBs - Centro de Estudos Brasileiros, sitiados em alguns países, mas não deixa de vislumbrar o mesmo empenho dos governantes brasileiros em difundir e promover a Língua Portuguesa falada no Brasil, para seu próprio povo.
Faz-se urgente, um olhar carinhoso às crianças brasileiras, referenciando-se o próprio valor de nossa língua e cultura. E, aos adultos brasileiros que derivam sem uma conclusão oficial e sistemática de seus estudos. É importantíssimo que os cursos de Supletivo, se expandam e circulem, democraticamente, para outros continentes.
Para isso, a linguarte e.V. pretende contar com o apoio do meio acadêmico, que acredita no valor da cidadania, na importância da ‘Educação para todos’, na troca e oferecimento de experiências didáticas, que, mutuamente, comporão um apêndice à democracia educacional em um mundo globalizado, promovendo junto a outros, a possibilidade de expansão de um Projeto-Escola Emergencial, que possibilite a união de muitos, em suas diversas particularidades.
A proposta da linguarte é suscitar o meio acadêmico brasileiro de norte a sul, a pensar em uma realidade diferente, produzir para uma realidade diferente, analisando o material didático e já teorizado em seu próprio país e sua língua, exteriorizando, e nacionalizando sua própria cultura e valor social, a outros domínios.
Democratizar educação com condutas sociais afins: Não existem só privilégios quanto à residência em outros países, assim como não existem só maravilhas ou só mazelas em morar no Brasil. Mas democratizar a educação é realmente pensar em todos, no Brasil ou no Exterior. Pensar que, principalmente, sem um diploma, sem um certificado, a maioria dos brasileiros vive, realmente, ao sabor do DEUS dará, em outras terras.
Se vários países projetam sua língua e cultura em diversos estados do Brasil, se o Brasil já possibilita há anos, ao estrangeiro, o aprendizado da Língua Portuguesa falada no Brasil, através dos CEBs brasileiros, por que não uma Oficina Brasileira de Educação, preservando nossos próprios valores, às crianças brasileiras, que se encontram em outros países e oferecendo possibilidades de educação a outros brasileiros?
A linguarte abre essa possibilidade sobre diversos ângulos para a produção e a pesquisa, seja ela para crianças brasileiras ou estrangeiros, seja ela voltado para a Lingüística, Literatura, História ou Arte.
Enfim, o mais importante é inaugurarmos um entrosamento além das fronteiras geográficas e acadêmicas, remetendo os nossos valores morais, também aos nossos, e, ampliando as possibilidades ao estrangeiro que se empenhe a aprender e praticar o nosso idioma.
Prezar as crianças brasileiras, o direito de aprenderem que não se fala no Brasil ementa, e, sim, cardápio. Não se fala ligadura e, sim, atadura. Que para o brasileiro, celular é celular, e não se escreve telemóvel, autocarro ou duche. As crianças brasileiras têm o direito de conhecer os poetas, os prosadores, o folclore, a geografia e a história brasileira, no mínimo.
O exemplo que o legado modernista nos deixou, faz-se presente no que se pode defender como a necessidade de romper com os modelos tradicionais de difusão da Língua Portuguesa falada no Brasil.
É necessário promover a exaltação das particularidades da ‘língua portuguesa brasileira’ no exterior, não só para os estrangeiros, mas para os que são também uma parte do que somos, e poderão, futuramente, compor uma parte do que seremos.
Não se pode deixar a criança brasileira aprender expressões atuais lusitanas como ficheiro, rato, protecção de ecrã, premer, e sítio, se no Brasil fala-se arquivo, mouse, pressionar / dar enter, site. Fartam-nos motivos para assegurarmos à criança brasileira ou descendente o direito constitucional de aprender sua outra língua-pátria, a LÍNGUA PORTUGUESA FALADA NO BRASIL, com estrangeirismos ou não.
A Língua Portuguesa falada no Brasil, é única, distanciada, não só geográfica, como cultural e semanticamente, da Língua Portuguesa falada em Portugal, e todos têm o direito de adquiri-la, assim como a conclusão do Ensino Fundamental e Médio, no mínimo.
Existem muitas cidadãs brasileiras, residentes na cidade de Munique, que não concluíram seus estudos. Que nunca vão poder melhorar sua condição de cidadã. Mesmo que o resultado seja lento: mesmo que só depois de um ano, duas ou três mulheres concluam um telecurso, pois muitas ainda têm vergonha de assumir o seu analfabetismo, deve-se oferecer, deve-se preparar, fazer uma promoção educacional para que, aos poucos, essas mulheres acreditem em si próprias. E voltem para a escola. E procurem dar segmento a uma possibilidade educacional para si mesmas.
Assim, somando a idéia de que a criança brasileira, residente no exterior, não pode deixar de incorporar a sua “outra” língua materna, não pode ser uma estrangeira de si mesma e crescer sem os valores históricos e geográficos brasileiros. Essa, futuramente cidadã do mundo, não pode desenvolver-se sem a consciência da cultura brasileira, o brasileiro também não deve ser esquecido no exterior.
A linguarte baseia-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais, por estabelecerem diretrizes de ensino e orientações gerais sobre o básico a ser ministrado em cada disciplina. Adota os PCNs elaborados pelo Ministério da Educação (MEC) para as áreas de Língua Portuguesa, História e Geografia brasileira.
Os Temas Transversais propostos pelos PCNs são, desde muitos anos, aplicados em quase todos os países ocidentais. Sendo interdisciplinares, são, desde as séries iniciais, também integrados à educação ocidental de diversas maneiras: Ética, Pluralidade Cultural, Meio-Ambiente, Saúde, Orientação Sexual e Trabalho e Consumo são temas universais, no que se refere à educação de seres humanos.
O tema HISTÓRIA e CULTURA AFRO-BRASILEIRA é, para a linguarte, vinculado à História do próprio Brasil e do povo brasileiro, e não valorizado como uma OBRIGAÇÃO EDUCACIONAL de conteúdos. Porém, em função da realidade das crianças residentes, precede-se a urgência da história brasileira, em nosso contexto nacional.
A metodologia adotada pela linguarte espelha-se no sistema de educação vigente no Brasil e procurou respaldo total junto à LDB - Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Básica Nacional.
Fundamentado junto à LDB, o Projeto-Escola LINGUARTE estabelece-se legalmente com mais de 20 Títulos, quase todos os artigos e várias alíneas dos capítulos e seções da LDB, adaptando-se somente à realidade do exterior.
Além da LDB, a linguarte respalda-se:
· no Estatuto da Criança e do Adolescente
· na Declaração do Rio de Janeiro
· na Declaração Universal do Direito do Homem
E, na Alemanha, no Acordo Cultural (Alemanha - Brasil) e no Acordo Quatro (Brasil - União Européia).
Citar outros tratados, acordos e estatutos seria redundante.
Visando a uma educação que atenda às necessidades do educando residente no exterior e promovendo junto ao educando a garantia de seu direito constitucional quanto à continuidade e terminalidade de seus “conhecimentos escolares”, a linguarte opta pela organização do processo educativo em Ciclos, desejando, lentamente, que o sistema seriado, se concretize.
A adoção dessa medida pedagógico-administrativa funcional possibilitará uma avaliação que seja parte do processo de aprendizagem, elaborando decisões para o aprimoramento de um trabalho educativo, sedimentado nas características e necessidades do educando.
No primeiro ano, a linguarte procurará entrosar os educandos da melhor maneira possível, baseando-se em um melhor aproveitamento de suas diferenças psicopedagógicas, adaptando-os para seus ciclos “legítimos”, caminhando, assim, progressivamente, até o seu aperfeiçoamento, no que diz respeito à idade escolar e ao ciclo de ensino próprio.
O quê a linguarte idealiza é promover junto ao educando uma união de conhecimentos determinantes a seu desenvolvimento humano, mesclando sujeito e objeto, fundamentalmente, através da linguagem. Pretende-se proporcionar a seus educandos condições de progredir, nas aulas complementares de Língua Portuguesa falada no Brasil, visando o sistema seriado de ensino.
Com a ajuda orçamentária proveniente dos cursos de LPfB para estrangeiros, a linguarte procura viabilizar uma mensalidade justa à família da criança brasileira. Sem os cursos elaborados para os estrangeiros seria impossível a realização desse projeto.
Os cursos são elaborados com conceitos teóricos modernos e mantêm parcerias com profissionais da LMU para uma constante avaliação de nossos serviços, assim como apoio pedagógico de profissionais brasileiros.
Promove-se, também, a elaboração de materiais pedagógicos por discentes e docentes brasileiros, que, voluntariamente, junto ao logo linguarte, queiram oferecer seus trabalhos e contribuir para a divulgação de nossa língua e cultura, mantendo-se, é claro, seus direitos autorais. Para, junto ao livro didático adotado, exportar, através dos que acreditam em uma idéia de difusão de suas habilidades em uma Oficina Brasileira de Educação no exterior, outras produções.
O número de brasileiros que residem no exterior é verticalmente crescente. As crianças descendentes não podem ficar sem a Língua Portuguesa falada no Brasil, e aos brasileiros deve ser dada a chance de se concluir o Sistema de Ensino Básico.
Acreditamos que‘para tomar consciência é necessário que haja o que deve ser conscientizado’ como Vigotski, acreditamos em educação, signo de todos, como Paulo Freire. No meio acadêmico, a teoria incorpora a prática e a prática é a alma da teoria.
O que se pretende é uma tentativa de se poder exportar a ‘Língua Portuguesa do Brasil’ ou língua brasileira, de uma maneira democrática, com a ajuda dos que ajudam e apóiam as metas da organização.
Aos que gostam da língua e cultura brasileira, a linguarte se faz uma Oficina Brasileira de Educação, iniciada em Munique, na Alemanha.