VIABILIDADE DO
ESPERANTO
DO
PONTO DE
VISTA DA
LINGÜÍSTICA
Alfredo Maceira Rodríguez
(UCB)
INTRODUÇÃO
O
Esperanto é
uma
língua
que foi
planejada no
final do
século XIX
com o
objetivo de
servir
como
segunda
língua
entre os
usuários das
diversas
línguas
existentes no
mundo. Naquela
época
já se sentia a
necessidade de
uma
língua
que
resolvesse,
ou ao
menos
atenuasse, as
dificuldades
causadas pelas
barreiras
lingüísticas.
Durante a
vigência do
Império
Romano e
mesmo
muitos
séculos
depois de
seu
desaparecimento,
o
latim
desempenhou de alguma
forma o
papel de
língua
internacional,
principalmente
nas chancelarias e
tabelionatos
do
Ocidente.
Ainda
hoje é a
língua
oficial da
Igreja
Católica,
porém
devido à
efervescência
política e à
importância
crescente do
comércio
exterior,
assim
como à
elevação da
burguesia e do
proletariado
às
lideranças
políticas e
econômicas,
não se
aconselha a
adoção do
latim
por
ser uma
língua
complexa,
portanto de
difícil e
demorada aprendizagem.
Assim, o
problema da
língua
internacional
preocupava as
elites,
suscitando
diversos
projetos de
solução,
porém
nenhum deles
totalmente
satisfatório.
Descartado o
latim, ficava
a
opção
que parecia
mais
lógica: a
adoção de uma das
grandes
línguas
nacionais.
Ocorre
que a
adoção de uma
língua
pertencente a
um
país
ou a uma
comunidade
lingüística, confere a
seus
nativos uma
superioridade cultural
sobre as
demais
comunidades,
além de todas
elas serem
difíceis de
aprender,
mesmo
imperfeitamente,
pelos
falantes das
demais
línguas,
visto as
irregularidades
e
idiotismos de
que todas
estão permeadas.
Ficava
então a
opção de
criar uma
língua
ad hoc,
que
não tivesse “proprietários”
para
não
ferir
sensibilidades
e
que fosse
mais
fácil de
aprender do
que as
línguas das
comunidades
existentes. As
tentativas de
criar as denominadas “línguas
universais”
foram diversas, a
maior
parte das
quais
nem chegaram a
ser divulgadas,
não passando
de
projetos
com
visões
diferentes do
que
poderia
ser uma
língua
universal.
Tudo o
que se refere
a
línguas
universais é
objeto de
estudo da
Interlingüística.
Numa
época e num
meio
por
demais
agitados
por mudanças e
novidades,
apareceu,
em 1897, o
Esperanto,
que
logo se
divulgou e foi a
única
língua
internacional
que
permaneceu, suscitando
polêmicas
apaixonadas,
que
até
hoje
não deixaram
de
existir. Na
atualidade,
apesar dos
enormes
avanços
científicos e
tecnológicos,
o
problema da
diversidade
lingüística perdura, e
continua freando o relacionamento
humano. O
inglês é a
língua
predominante no
comércio
internacional
e na
internet,
mas
não é a
única. A
percentagem
dos não-nativos
que conseguem
dominar esta
língua é
muito
pequena.
Outras
línguas,
inclusive o
Esperanto, vêm
aumentando
sua
participação
principalmente
na
internet.
Na
segunda
metade do
século XX,
refazendo-se das duas
terríveis
guerras
mundiais, a
tão decantada
paz
ainda
não
reina no
universo,
pois as
guerras
continuam
em diversas
regiões e
repercutem
imediatamente
em
todo o
mundo, no
entanto, a
globalização é
um
fato
consumado.
Nenhuma
região do
mundo,
por
importante
que seja, pode
prescindir de
contatos, ao
menos
comerciais,
com o
resto do
mundo, o
que significa
que a
comunicação
rápida é
indispensável.
E
comunicação
humana
pressupõe
língua
humana.
Uma
tendência dos
tempos
modernos é a
agrupação de
países
em
blocos
cada
vez
mais
amplos,
com
finalidades
comerciais
ou de
defesa.
Muitos desses
blocos incluem
países de
línguas
diferentes, o
que ocasiona,
mesmo
para os
delegados
ou
representantes
que participam
das
indispensáveis
reuniões,
problemas de
tradução
oral,
ou ao
menos
escrita,
pois
poucos
são os
que conseguem
expressar-se
em outras
línguas.
O
organismo
internacional
constituído
por
mais
países é a ONU
(Organização
das
Nações
Unidas).
Mesmo elegendo
apenas algumas
línguas
para
suas
sessões de
trabalho, a
despesa
com
tradução
em todas as
línguas
ali
representadas é
enorme. O
mesmo ocorre
com outras
entidades
internacionais.
A UE (União
Européia) vai
ampliar
para 25 o
número de
seus
países
membros,
quase
todos
com
língua
própria.
Até
agora,
com 15
membros, os
problemas de
tradução
já se fazem
sentir no
terreno
político-administrativo e
financeiro,
porém
agravar-se-ão a
partir de 2004,
quando se
incorporem
mais 10
membros.
Para
atenuar o
problema da
comunicação
entre as
diversas
línguas,
várias
propostas e
sugestões vêm
sendo oferecidas,
entre
elas a de uma
língua-ponte
para a
qual seriam
traduzidos os
documentos
produzidos
em
qualquer
língua
ali
representada e dali retraduzidos
para as
demais
línguas da
União Européia. Esta
língua-ponte seria o
Esperanto,
devido a
sua
simplicidade e
facilidade de
aprendizagem.
Do
ponto de
vista
lingüístico,
não há
qualquer
impedimento
para o
uso dessa
língua,
pois
além de
sua
estrutura
simples e
lógica,
já tem
mais de
um
século de
existência e
seu
uso
oral
ou
escrito nas
mais diversas
situações
lingüísticas
não
deixa
lugar a
dúvida
quanto à
sua
viabilidade,
máxime
quando está sendo usada
intensamente na
internet. Vejamos, a
seguir,
em
linhas
muito
gerais a
sua
estrutura.
ESTRUTURA DO
ESPERANTO
Como as
demais
línguas humanas modernas, o
Esperanto é uma
língua
oral e
escrita, cujas
unidades significativas se compõem de
fonemas,
morfemas e lexemas
que podem
ser representados na
escrita
por
meio de grafemas,
como nas
demais
línguas humanas
não ágrafas. A
diferença
entre uma
língua planejada,
como é o
Esperanto, e as
chamadas
línguas
naturais é
que estas se formaram e se desenvolveram ao
sabor de
influências e
fatores
diversos
em
suas
comunidades de
falantes
nativos, o
que fez
com
que adquirissem inúmeras
irregularidades
que podem
nem
ser percebidas
pelos
nativos,
mas
que se tornam
escolhos difíceis de serem superados
pelos
falantes de outras
comunidades
lingüísticas.
O
Esperanto
não é,
como
alguns erroneamente têm sustentado, uma
língua
artificial,
pois possui os
mesmos
elementos das
demais,
porém organizados e
classificados
com
lógica
para serem aprendidos
com
segurança e
facilidade. O
número de
radicais é
bem
menor do
que nas
demais
línguas
porque o
Esperanto dispõe de
desinências,
afixos e
outros
elementos mórficos,
que permitem diversas
variantes de
significado ao
ser acrescentados a
radicais.
Fonética
Vogais:
somente
cinco
vogais
orais: a,
e, i, o, u.
Toda
vogal
corresponde a uma
sílaba. (A
penúltima
sílaba é
sempre a
tônica, o
que
dispensa o
uso de
acentos).
Semivogais:
j [i], ŭ [u].
Exemplos: viroj
[´viroi] (homens),
kaŭzoj [´kauzoi] (causas),
garantioj [garan´tioi] (garantias).
Consoantes:
Todas as
consoantes
possuem uma
só
pronúncia.
Classes
de
palavras
O
substantivo é
marcado
com a
desinência
–o: papero, lumo, amiko (papel,
luz,
amigo).
O
adjetivo indica-se
com a
desinência
–a: blanka,
bela,
alta
(branco,
a;
belo, a;
alto, a).
O
advérbio
indica-se
pelo –e: alte,
bele, klare (altamente,
belamente,
claramente).
Verbos
Os
verbos
são
sempre
regulares e
dispõem
apenas de
desinências
modo-temporais; -i (infinitivo),
-as (presente),
-is (passado),
-os (futuro),
-us (condicional,
futuro do
pretérito),
-u (volitivo,
imperativo). O
número e a
pessoa
são indicados
pelo
pronome
pessoal.
Ami (amar),
kanti (cantar),
vendi (vender),
dormi (dormir)
Mi kantas,
vi kantas, ni kantas (eu
canto,
tu cantas
ou
você
canta,
nóscantamos).
Li amis,
mi amis,
ni amis (ele
amou,
ele amava,
ele amara;
eu amei,
eu amava,
eu amara;
nós amamos,
nós amávamos,
nós amáramos).
Ŝi parolos,
vi parolos, ili parolos (ela
falará,
tu falarás
ou
você falará;
eles
ou
elas falarão)
Mi pensus, li pensus, ni pensus
(eu pensaria,
ele pensaria,
nós pensaríamos).
Venu vi, venu
ŝi, venu.ili
(vem
tu
ou venha
você; venha
ela; venham
eles,
elas, as
coisas).
Morfologia
Número.
O
plural dos
nomes (substantivos
e
adjetivos) é
indicado
pela
desinência
–j [i]: libro – libroj; (livro
–
livros); la
bela domo – la
belaj domoj (a
bela
casa – as
belas
casas).(O
artigo la
(o, a, os, as) é
invariável).
Gênero.
No
gênero,
só se indica o
feminino
quando é
necessário. É marcado
com o
sufixo –in-.
Exemplos: viro
(homem),
virino (mulher);
bovo (boi),
bovino
(vaca).
Não se indica
gênero
nos
demais
casos: tablo (mesa),
domo malgranda (casa
pequena), la
arbo
alta (a
árvore
alta).
Sintaxe
A
sintaxe
não tem complicações
porque a
ordem vocabular é
muito
livre.
Por
exemplo, uma
sentença
como: Li vizitas amikon (Ele
visita
um
amigo),
não altera o
significado
em
qualquer
ordem: Amikon
visitas li; Vizitas li amikon, Vizitas amikon li,
Li amikon vizitas. A
marcação do
objeto
direto elimina a
possível
ambigüidade da
ordem vocabular.
O
Esperanto dispõe de
elementos mórficos
com
significados
específicos
que podem
ser adicionados a
um
radical,
mesmo
que
não se conheça
seu
uso
anterior na
língua.
Por
exemplo, patro (pai),
patra (paterno,
paterna,
paternal), patre (paternalmente).
Os
afixos permitem
expressar nuanças
ou
variedades de
significado: alveni (chegar)
forma-se
com o
infinitivo veni (vir) e a
preposição al (para,
em
direção a); malsano (doença) forma-se
com o
prefixo mal- (oposição,
contrário a) e o
substantivo sano (saúde),
dometo (casa
pequena) forma-se
com o
radical domo (casa)
e o
sufixo –et-, seguido da
desinência de
substantivo -o.
Formação
de
palavras
Composição.
A
composição é
um
processo
formador de
palavras de
que o
Esperanto faz
grande
uso, o
que
lhe dá
muita
flexibilidade e
transparência.
Exemplos:
fero (ferro)
e vojo (caminho)
formam fervojo (caminho
de
ferro);
okulo (olho)
e vitroj (vidros)
forma okulvitroj (óculos),
e
assim
por
diante. As
línguas
naturais podem
usar
esses
recursos,
mas
sem a
regularidade do
Esperanto.
Além disso,
nessas
línguas,
esses
processos
lexicais estão
geralmente
fechados,
enquanto no
Esperanto
permanecem
em
aberto,
não importa
que
não se
conheçam na
tradição da
língua.
Qualquer
usuário pode
fazer
uso deles,
respeitando
apenas
suas 16
regras
gramaticais.
Existem
outros
morfemas
para
indicar
funções
ou nuanças
necessárias à
comunicação
lingüística
que,
por
falta de
espaço,
não podemos
analisar
aqui,
porém fica
claro
que o
Esperanto é
uma
língua
tão
natural
como
qualquer
outra,
embora, muitas
vezes, venham
a
público
opiniões
que traduzem o
desconhecimento
do
que seja
artificialidade.
OPINIÕES
PRÓ E
CONTRA O
ESPERANTO
Em
matéria
lingüística
muita
gente
gosta de
opinar,
mesmo
aqueles
que têm
pouco
conhecimento
das
Ciências da
Linguagem.
Baseiam-se no
gosto
pessoal
ou
em
informações
deturpadas.
Entre os
muitos
projetos de
línguas
universais
ou
interlínguas, o
Esperanto foi
o
único
que provou
sua
eficiência
logo
depois do
seu
lançamento, há
mais de
um
século. Nas
primeiras
décadas do
século XX, o
Esperanto teve
entusiastas
divulgadores
assim
como
críticos
que usaram os
mais
diversos
argumentos
para combatê-lo.
Inicialmente
foi
muito
divulgado na Rússia
porque
permitia aos
proletários
comunicar-se
com
seus
colegas dos
outros
países a
respeito da
luta de
classes
que pretendia
ter
amplitude
universal. O
volume de
correspondência
pessoal foi
muito
grande,
devido à
facilidade da
língua.
Este
volume de
correspondência,
que
inicialmente
mereceu o
apoio dos
dirigentes,
foi
mais
tarde
visto
por
alguns
como
um
perigo
porque
permitia o
acesso à
comunicação a
pessoas de
todas as
classes, o
que
por diversas
ocasiões,
não agradava
aos lideres,
que passaram a
combatê-lo
por
diversos
meios,
chegando à perseguição,
deportação e
até a
eliminação de
esperantistas,
dependendo da
cor
política
que se
lhe atribuía à
língua. Na
Rússia houve
marchas e
contramarchas a
respeito do
Esperanto, às
vezes sendo
considerado
como
língua
que favorecia
aos burgueses, tidos
como
reacionários.
Já na Alemanha
nazista, o
Esperanto
era tido
como
língua de
judeus
porque
seu
autor
era dessa
origem.
Mas
não
só
ditadores se
insurgiram
por
vezes
contra o
Esperanto.
Até
alguns
lingüistas,
mas
principalmente
pseudolingüistas, usaram
argumentos
lingüísticos
pouco
consistentes
para opor-se a esta
língua
internacional.
Entre os
diversos
argumentos
que se têm
esgrimido
contra o
Esperanto,
encontra-se o de
sua
artificialidade, o da
falta de uma
cultura
própria das
línguas
étnicas, o de
não
servir
para a
poesia, etc.
Alguns
detratores
por
vezes chegam à
agressividade
direta
ou usam do
sarcasmo e da
ironia.
Quanto ao
argumento de
artificialidade,
já ficou
evidente
que
não se
justifica. As
línguas
humanas compõem-se dos
mesmos
elementos:
fonemas
organizados
para
compor
signos
lingüísticos,
geralmente
arbitrários,
representados graficamente,
também de
forma
convencional,
uso de
imagens
como
metáforas,
metonímia e muitas outras,
que
também se
hajam
presentes no
Esperanto,
etc. Às
vezes alega-se
que as
línguas
chamadas
naturais
não foram
criadas
por uma
pessoa
ou
entidade
humana,
mas
elas se
derivaram de outras e evoluíram
sem a
interferência
intencional de
ninguém.
Isso é
verdade,
mas
nada impede
que se
organize
qualquer
outra
língua
com o
material
lingüístico
já
disponível e
que pode
ser organizado de
forma
mais
racional. No
caso do
Esperanto,
seu
autor utilizou
elementos das
várias
línguas
que conhecia e
selecionou-os visando à
maior
simplicidade e
coerência.
Embora
Zamenhof
não fosse
um
lingüista de
direito,
não cabe
dúvida
que o
era de
fato,
como fica
bem evidenciado
não
só
pela
criação da
língua
como
por
sua
contribuição
lingüística e
literária.
Outra
alegação
que às
vezes se faz é
que
por
não
ser uma
língua
étnica
não possui uma
tradição
literária e
por
isso
só serviria
para
funcionar
como
um
código
porque
lhe
falta
vida,
pois houve
um
período na
lingüística
Histórico-Comparativa
em
que as
línguas eram
consideradas
organismos
vivos,
seguindo a
teoria
darwinista das
Ciências
Naturais.
Mais
tarde,
com o
advento do
Estruturalismo,
as
línguas
passaram a considerar-se
instrumentos
sociais. A
vida de
que dispõe uma
língua é a
que
lhe confere a
comunidade
que a
usa. Essa
comunidade é
quem a altera
e
quem a
enriquece
com o
material
oral
ou
escrito
que
lhe aporta. No
caso do
Esperanto,
por
ser uma
língua de
criação
recente,
não disporia
de
patrimônio
semelhante ao
de
suas
concorrentes.
Acontece,
porém,
que a
finalidade de
uma interlíngua
ou
língua
universal
não é a de
ser
concorrente
com as
demais e
sim de
servir de
ponte
para as
línguas do
mundo,
pelo
que
sua
função é a de
intermediária
de todas as
demais. É
claro
que
nada impede
que tenha
sua
própria
literatura,
pois
desde a
sua
origem
até
hoje,
além do
acervo
traduzido das
mais diversas
línguas,
já possui
vasta
literatura
original
nos
gêneros
mais
diversos,
que está à
disposição de todas as
culturas,
até
mesmo
porque
já existem
pessoas
cuja
língua
nativa é o
Esperanto.
Além disso, a
finalidade
principal é
servir de
intermediária
de outras
culturas,
ajudando a
preservar as
línguas
minoritárias e
suas
culturas. Os
esperantistas
de
todo o
mundo
já têm a
sua
disposição
cultura e
literatura de
línguas
praticamente desconhecidas
fora de
sua
pequena
comunidade.
Outra
alegação
freqüente é
sua
relativa estagnação.
Não
falta
quem diga
que o
Esperanto fracassou
ou
até
que é uma
língua
morta.
Claro
que nas primeiras
décadas do
século XX, expandiu-se rapidamente, chegando a
parecer
que
logo seria
realmente uma
segunda
língua no
mundo
todo
ou
em
grande
parte dele.
Não foi o
que aconteceu
por
avatares
políticos e
fatores
outros
que restringiram
seu
uso,
porém a
língua
nunca deixou de
ser cultivada,
em
alguns
países
com
mais
ou
menos
intensidade do
que
em
outros, dependendo de
fatores
geralmente extralingüísticos. Haja
vista as
instituições
esperantistas
internacionais
que se mantêm
atuantes e a
quantidade de
periódicos e publicações diversas
que se produzem, somando-se
recentemente as
atividades
virtuais
através da
internet.
Além disso, os
Congressos
universais de
Esperanto, organizados
pela UEA (Associação
Universal de
Esperanto) vêm-se realizando
anualmente
desde 1905,
em
países
diferentes,
com uma
média aproximada de 2000 participantes.
Também ocorrem
eventos
nacionais e
regionais de
diversos
níveis,
que testemunham a
vitalidade da
língua.
O
ESPERANTO:
PRESENTE E
FUTURO
Da
mesma
maneira
que houve
detratores,
tampouco têm
faltado
adeptos
entusiastas,
tanto
entre os
que militam
nas
Ciências da
Linguagem
como
entre os
que aderem à
língua
por
sua
simplicidade e
harmonia.
Passado o
período das
paixões
pró e
contra, parece
chegada a
hora de
reflexão
quanto à
sua
utilidade
ou
necessidade
nas
cada
vez
mais rápidas e
complexas
relações
internacionais.
Haja
vista a
facilidade
com
que podemos
comunicar-nos
com
qualquer
rincão do
planeta
com os
recursos
propiciados
pela
Ciência e
pela
Tecnologia,
mas
que,
pelo
geral,
esbarram na
diversidade
lingüística. Alega-se
que o
inglês
já vem
exercendo a
função da
comunicação
internacional,
mas
não há
qualquer
acordo
internacional
que o
qualifique
ou o autorize
a
isso. O
número de
falantes
nativos do
inglês é de
cerca de 10%
da
população
mundial e
sua
aquisição
como
segunda
língua é
difícil e
custosa.
Apesar do
enorme
investimento
que se faz
em
muitos
países
para a aprendizagem do
inglês, os
resultados
não
são
animadores.
Poucos
são os
que chegam a
dominá-lo a
menos
que morem
durante
um
longo
período de
tempo
em
algum
país de
fala inglesa,
mesmo
assim
dificilmente se confundirão
com os
nativos.
Muitos
acidentes
aéreos
ocorreram
por
causa da
não
compreensão
pelos
pilotos de
outras de outras
línguas de
ordens
que recebem
em
inglês.
Estudos
recentes
demonstram
que
muitos dos
desastres da
aviação
civil
internacional
se deveram
simplesmente a
dificuldades
de
comunicação
entre
pilotos e
torres de
controle de
vôo.
Dentre as
causas dessas
dificuldades,
a
obsolescência
dos
sistemas de
rádio
ainda
em
uso, o
excesso de
tráfego
em
alguns
aeroportos e a
barreira das
línguas.
Este
último
fator
contribui
com 11% dos
acidentes
fatais
segundo
um
estudo da
Boeing... (PIRON, 2002: 281)
O
Esperanto vem
sendo
novamente
cogitado
como
possível
solução
para o
cada
vez
mais
complexo
problema de
comunicação
nos
foros
internacionais
e
até
para
substituir o
latim
como
língua da
Igreja
Católica:
Já existem
sinais de
que a
Igreja está
pronta a
aceitar o
esperanto.
Eu quero
mencionar
somente
alguns:
Emissões
em
esperanto da
Rádio do
Vaticano,
aprovação dos
textos
litúrgicos
nessa
língua,
saudações do
Santo
Padre
em
esperanto,
reconhecimento
da
União
Internacional
Católica
Esperantista
por
parte do
Pontifício
Conselho
para os
Leigos,
entre
outros.
As
vantagens do
esperanto e os
serviços
que essa
língua
poderia
prestar à
Igreja
são
agora
apresentados neste
livro de
Ulrich Matthias.
Eu espero
que
suas
traduções
em diversas
línguas
nacionais
ajudem a
que
mais e
mais
pessoas
reconheçam o
valor e a
utilidade de
esperanto
para
entendimento
de
todo o
mundo.
Até
aqui o
problema tentou-se
resolver
com a
adoção de algumas
línguas
como
línguas de
trabalho. A ONU começou
com
quatro
línguas:
francês,
inglês, russo e chinês, acrescentando-se
depois o
espanhol e,
finalmente, o
árabe. Os
custos relacionados
com
tradução
são altíssimos
com
somente essas
línguas. Outras
entidades
internacionais defrontam-se
com
problemas
semelhantes. O
Fórum
Social Mundial
em 2001,
em
Porto
Alegre adotou
quatro
línguas de
trabalho (português,
espanhol,
francês e
inglês),
mas no
ano
seguinte,
em Florença
já foram
oito
línguas e a
demanda
por outras continua.
Talvez a
entidade
que tenha
mais
problemas
devido à
diferença
lingüística seja a
União Européia. Constituída
por 15
países
com 11
línguas, consome uma
grande
parte de
seu
orçamento
em
traduções e
edições
para tantas
línguas,
mas
logo se somarão
outros
dez
países,
todos
com
língua
própria, o
que dificultará
ainda
mais a
comunicação
entre
todos os
países
membros.
Os
defensores do
esperanto
como
língua
universal e
como
principal
segunda
língua vêem
cada
vez
mais uma
chance de
que a
União venha a
usar essa
língua
como
língua de
trabalho.
Diante da
perspectiva de uma
União ampliada
para,
talvez, 30
países, torna-se
por
fim
cada
vez
mais
grave o
problema das
línguas
oficiais e
línguas de
trabalho.
O
esperanto é
uma
língua
que pode
ser aprendida
com
relativa
rapidez.
A
experiência
mostra,
além disso,
que
crianças
que aprendem o
esperanto
são
mais
adiantadas
que as outras
crianças da
mesma
idade no
desenvolvimento
geral e,
sobretudo, no
aprendizado de
línguas
estrangeiras.
Será
que a
Comissão
consideraria adequado
desenvolver
projetos
experimentais
sobre o
esperanto (por
exemplo, o
projeto
Funda-Pax realizado
em
colaboração
com a UNESCO)
nos
Estados-Membros da
União,
para ao
final
fazer uma avaliação
profunda e
detalhada? (MATTHIAS, 2003: 70).
Propostas.
Tanto a ONU
quanto
outros
organismos
internacionais
têm recebido fundamentadas
propostas
para o
uso de uma
língua
neutra
que facilite a
comunicação
sem
que
nenhum
membro seja
privilegiado.
Embora a
idéia
sempre
encontre
simpatizantes,
fatores
políticos
impediram
até
agora
sua
adoção,
apesar de a
UNESCO
ter recomendado o
seu
estudo aos
países
membros. O
Parlamento
Europeu
realizou
em
junho de 2003
um
simpósio
para
tratar do
estabelecimento
de uma
política
para o multilingüísmo na
União Européia. Foram
estabelecidos
alguns
princípios
gerais
sobre o
problema,
porém
não se decidiu
pela
eleição de
qualquer
língua. Ao
que parece,
haverá
outros
debates
antes da
incorporação dos
novos
países
membros. Uma
proposta
apresentada foi a de
que os
textos de
todas as
línguas da
EU sejam
traduzidos ao
Esperanto e
depois
retraduzidos
para as
demais
línguas,
sempre
por tradutores
nativos. Os
tradutores
só teriam
que
aprender
Esperanto e
saber a
sua
própria
língua.
Não teriam
necessidade de
conhecer as
demais
línguas.
Está-se intensificado o
uso do
Esperanto na
internet e na
mídia
em
geral.
Importantes
publicações
internacionais
como The
Guardian e Newsweek publicaram
recentemente
matérias
favoráveis ao
Esperanto.
CONCLUSÃO
Como vimos, o
Esperanto é
uma
língua
humana,
criada
para
facilitar a
comunicação
entre
usuários de
línguas
diversas. Na
sua
constituição
não se
diferencia das
demais
línguas,
pelo
que pode
ser aprendida
pelos
nativos de
qualquer
outra
língua. É uma
língua
planejada
para
sua
fácil
aprendizagem, o
que vem sendo
demonstrado
nos
mais
diversos
países ao
longo de
sua
existência. Os
argumentos
apresentados
contra o
uso do
Esperanto
como
língua
auxiliar
internacional
têm sido
quase
sempre
políticos,
sem
qualquer
pesquisa
lingüística
séria.
Alguns têm
opinado
que seria a
língua
ideal
para a
comunicação
internacional,
mas
que
era uma
utopia,
visto
que
contrariava
interesses
porque se
temia
que
substituísse
ou diminuísse
o
prestígio das
línguas
existentes, aureoladas
por
sua
história,
tradições e
literatura,
porém
não há o
propósito de
concorrer
com as
línguas
nacionais e
sim de
servir
como
ponte nas
comunicações
internacionais
em
nada
contrariando a
importância
das
demais
línguas.
Cada
dia torna-se
mais
premente a
necessidade de
comunicar-se,
pois a “aldeia
global”
não
mais suporta a
diversidade
lingüística e a
solução
mais
viável é a
adoção de uma
língua
comum
simples e
lógica,
mas
que
não seja
apenas
um
código
para
algum
uso
científico e
sim uma
língua
que permita
expor os
complexos
pensamentos e
sentimentos do
ser
humano. Essa
língua
não
precisa
ser
criada
porque
já está
disponível
em todas as
suas
modalidades,
experimentada e
aprovada
para
seu
uso
imediato,
pois é praticada
diariamente
desde há
mais de
um
século
em
todo o
mundo. Essa
língua é o
Esperanto.
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