A EXPRESSÃO ADVERBIAL DO LUGAR
Mariângela Rios de Oliveira (UFF)
Orientados por pressupostos teóricos do funcionalismo lingüístico (Bybee e Hopper, 2001; Givón, 2001), investigamos a ordenação de itens adverbiais locativos na sincronia atual do português. Tomamos como corpora textos religiosos escritos nos anos 90 para, a partir destes materiais, pesquisarmos a polissemia envolvida na referenciação dos locativos (espaço físico concreto > espaço físico virtual > espaço abstrato temporal > espaço abstrato textual) e apontarmos possíveis trajetórias de mudança categorial de tais constituintes (advérbio > conectivo oracional > operador discursivo). Adotamos, portanto, uma abordagem dos locativos como categoria prototípica, conforme Taylor (1995); nessa perspectiva, entendemos os locativos enquanto uma classe não-discreta, cujos membros podem se situar em posição mais central ou marginal em relação ao eixo categorial. As distinções ou sobreposições de função e de expressão dos locativos que nos interessam ilustram-se como os seguintes trechos: a) Deus estabelece sua morada no coração de Maria, porque aí sempre pode habitar.; b) No segundo episódio, Pedro o segue de longe, tem perdido o contato e, com ele, a força. Aí está a proposta.; c) Numa ordem hierárquica, primeiro, crer em Cristo, depois romper com o pecado, e, aí sim, pedir insistentemente ao Senhor. Dos três fragmentos citados, o primeiro seria o mais representativo membro da categoria adverbial dos locativos, enquanto o segundo e terceiro, já em franco processo de abstratização da referência espacial física e de migração da classe dos advérbios, poderiam ser considerados membros marginais dessa classe, a articularem função mais gramatical, de natureza relacional.
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