A literatura brasileira em língua Tupi
Eduardo de Almeida Navarro (USP)
A literatura brasileira não é exclusivamente literatura em língua portuguesa, mas também em língua latina (a épica de Anchieta) e em língua Tupi (o teatro e a lírica anchietanos). Primeiro poeta brasileiro, Anchieta guindou o Tupi à posição de língua literária, abrindo canais de expressão artística na língua dos povos indígenas do Brasil, fato incomum na América Espanhola, onde a produção de textos em línguas indígenas restringir-se-ia, geralmente, à tríade gramática, catecismo e dicionário. Anchieta foi mais longe que outros missionários de sua época, legando ao Brasil textos de grande valor literário, como é o caso do “Auto de São Lourenço”, representado pela primeira vez em Niterói, em 1585.
A poesia de Anchieta filia-se às escolas quinhentistas, principalmente à lírica dos cancioneiros ibéricos. Na sua forma, ela emprega o que era mais comum na Península Ibérica e de gosto mais popular.
Se uma literatura em língua Tupi restringe-se ao século XVI, a influência que o Tupi exerceu sobre a literatura brasileira em língua portuguesa foi enorme. O Tupi esteve presente nas penas de Gregório de Matos, de Santa Rita Durão, de Basílio da Gama, no período colonial, em José de Alencar e Gonçalves Dias, no período romântico, em Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Raul Bopp, Cassiano Ricardo, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, só para mencionar os autores mais conhecidos do Modernismo.
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