Joyce dos Santos e Souza (IC-UFRJ)
Maria Eugênia Lamoglia Duarte (UFRJ)

As normas divulgadas em nossas gramáticas sobre a colocação pronominal refletem, sem dúvida, o português europeu do século XIX, variedade em que a ênclise se firma como a posição não marcada dos clíticos, depois de três séculos de predomínio da próclise. O Brasil, que não passara pelas mudanças fonético-fonológicas que teriam afetado tal ordem no português europeu, passou a conviver com normas que contrariavam claramente seu caráter mais conservador em relação à colocação pronominal (Pagotto 1998).

O presente trabalho apresenta uma análise da ordem dos clíticos em anúncios publicados em jornais de sete Estados brasileiros: Pernambuco, Bahia, Minas, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina (Guedes & Berlinck 2000). Os resultados permitem concluir que, apesar da tentativa (e relativo sucesso) em reproduzir a norma lusitana, os anúncios revelam traços da colocação brasileira, entre os quais a ocorrência de próclise em contexto inicial e ao verbo auxiliar nas locuções, deixando evidente a direção de cliticização à direita, que caracteriza o português da época do descobrimento.