A POESIA DA NÃO POESIA DOS LAGER NAZISTAS
Maria Franca Zuccarello (UERJ)
O engenheiro químico Primo Levi, italiano, de raça judia, como muitos deportados sobreviventes, ao voltar de Auschwitz escreve um pequeno livro, Se questo è un uomo, no qual conseguiu dizer - de forma única - a perseguição ao homem judeu, o aprisionamento nos Lager nazistas, a redução do homem a zero, o holocausto; repetiu as atrocidades daqueles eventos, mesmo de forma indireta, em todos os seus escritos e entrevistas, até o momento de sua morte, ocorrida em abril de 1987.
Escolhemos sua obra poética para verificarmos como ele conduz suas poesias permeadas da realidade dos acontecimentos históricos, que marcaram, mais do que nunca, este século que há tão pouco se findou. Parece-nos que sua poesia tenha, desde o início (seus primeiros versos antecedem seu primeiro livro Se questo è un uomo, fazendo-lhe de epígrafe), o mesmo acume moral, a mesma força de memória, admoestação e piedade, que tornam tão substanciosa, tão justa, tão naturalmente memorável sua prosa, que se desenvolve a partir de um pressuposto poético e a este retorna, até sua poesia ser o motor da prosa e a prosa, por sua vez, ser o motor de sua reflexão poética. É na poesia, e não na prosa, que Levi transfere incondicionais ressentimento e tristeza que sente contra os alemães.
Primo Levi escreveu para que o mundo soubesse do ocorrido com os judeus, e principalmente para que aqueles horrores não se repetissem nunca mais. Mas os atos terroristas de 11 de setembro de 2001 nos demostram que a história se repete... com as implicações a que o mundo inteiro assistiu...
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