A unidirecionalidade
em dois fenômenos do português

Josane M. de Oliveira (UFRJ)
Simone S. de Oliveira
(UFRJ)

Na literatura lingüística, os estudos sobre gramaticalização ocupam um lugar central, embora sejam alvo de muitas críticas. Hopper e Traugott (1994) chamam atenção para o fato de que as formas lingüísticas não mudam abruptamente, mas de maneira gradual, passando por fases de transição, configurando os chamados clines, trajetórias naturais pelas quais as formas se desenvolvem numa espécie de continuum. Assinalam ainda que uma forma muda de um ponto à esquerda do cline para outro mais à direita, ou seja, que há uma forte tendência à unidirecionalidade, segundo a qual os usos mais abstratos e mais gramaticalizados provêm daqueles menos abstratos e menos gramaticalizados.

Neste trabalho, consideramos a aplicação da hipótese da unidirecionalidade a dois fenômenos: a passagem do verbo pleno “ir” a verbo auxiliar de futuro e a passagem do SN “a gente” composto por um determinante [a] e um nome [gente] a um SN único [a gente] com valor pronominal. Questionamos se a hipótese da unidirecionalidade atua de forma semelhante nesses dois fenômenos, já que se trata de formas-fonte que remetem a classes de palavras difrerentes: verbo e nome.

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