Angústia: um estudo semântico-estilístico
Joana D’arc de Oliveira Canônico (UERJ)
O que confere singularidade a uma obra é o talento de quem a escreve, imprimindo ao material manipulado, sua experiência com o idioma e o conhecimento das variadas possibilidades que ele oferece. A habilidade não só na seleção dos vocábulos, como também na rigorosa organização dos termos e na relação destes com o conjunto, contribuem para o efeito de sentido de um texto. Um olhar para Angústia, de Graciliano Ramos, deixa-nos sempre a renovada certeza, de que a criação não é obra do acaso e sim, do meticuloso gênio de seu criador. A estruturação interna da história, a escolha criteriosa dos vocábulos, organizados sintática e semanticamente em períodos formam a base para a construção do sentido que se vai delineando na mente do leitor, à medida que também o texto se configura um todo coerente e coeso. Angústia é exemplo primoroso de trabalho com a linguagem e um desafio à investigação dos mecanismos que conferem sentido ao texto. Palavras e expressões que dão vida aos personagens e organizam os cenários, matizam-se pelo contágio e emergem em significados, conduzindo-nos aos seus universos, arrastando-nos pela profusão de sentimentos que provocam, atraindo-nos para o mundo particular criado pelo narrador, convidando-nos a desvendar os seus mistérios.A visão ácida do narrador em relação às pessoas e ao mundo contamina o ponto de vista do leitor, que se compadece das agruras a que aquele é submetido e com ele compartilha a dor de existir. Há palavras comuns transformadas em material artístico aos olhos do leitor, dando margem à investigação das palavras, usadas como recursos expressivos geradores de sentido e literariedade.
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