AS DUAS VERTENTES DA LÍNGUA PORTUGUESA
Nelly Carvalho (UFPE)
O estudo de palavras, nas quais o componente cultural manifesta-se com mais intensidade, pode ser o fio condutor para o conhecimento de uma cultura. Esse componente cultural é denominado, por Galisson, “carga cultural partilhada” e permite identificar o falante na condição de “indivíduo coletivo”, um conceito que distingue e esclarece mecanismos sociais, culturais e lingüísticos, para o estudo do comportamento humano.
Um forte elemento de identificação coletiva é a língua materna, que, associada à cultura, permite a intercompreensão. Isolada da cultura de origem, porém, e inserida em comunidades diferentes, a língua materna vai recebendo marcas dessa nova cultura e formando vertentes que se afastam sobretudo no aspecto lexical, aquele que nomeia a realidade. As palavras passam a receber uma carga conotativa cultural diferente da anterior. A cultura na qual a língua se insere desempenha um papel de grande importância, sendo uma “cultura transversal”, que pertence à comunidade como um todo e não deve ser confundida com a cultura erudita.
A língua é carregada de cultura em todos os níveis (fonológico, morfológico, sintático e lexical). Mas é o vocabulário que carrega consigo a maior carga cultural, a cultura comportamental comum. Não há, contudo, uma carga cultural uniforme.
Nas duas vertentes do português (Portugal e Brasil), isso é óbvio em algumas palavras marcadas pela cultura.. Há, contudo, palavras quase neutras.
Observaremos, no presente trabalho, a escolha dos itens lexicais no jornalismo português. Veremos também como se dão as escolhas e usos dos pronomes de tratamento, caso relevante no estudo das diferenças culturais.
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