DESVENDANDO O CAPITÃO NEMO E EU
DE ÁLVARO GUERRA
Maria Paula Lamas
À semelhança do seu modelo de As Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne, o capitão do submarino Nautilus, que foi capaz de mergulhar no abismo dos oceanos, o protagonista de O Capitão Nemo e Eu, de Álvaro Guerra, pesquisou metaforicamente as profundezas do seu íntimo.
Trata-se de um livro enigmático, em que o narrador, depois de ter participado numa guerra e ter sido ferido, regressa à sua terra, onde é hospitalizado e trava, não já um combate físico, mas principalmente psíquico, provocado pelas permanentes memórias angustiantes, que obsessivamente o atormentam.
Tal como num sonho, em que o ser humano experimenta sensações que transcendem a realidade, em O Capitão Nemo e Eu surgem situações imprecisas e fragmentadas, localizadas num espaço e num tempo obscuros, que aparentemente não apresentam qualquer elo com a história fulcral.
Com frequência, o narrador recorre nubladamente à linguagem onírica, jogando com o léxico e com a sintaxe, através da simbologia, da ambigüidade, da ausência ou alteração da pontuação usual, da combinação de palavras e expressões enfaticamente distorcidas na frase, num permanente desrespeito pela norma. Estas liberdades relativamente às convenções linguísticas e literárias transmitem mistério e servem para veladamente o narrador contestar a sociedade em que está inserido, cabendo ao leitor a descodificação da mensagem veiculada labirinticamente no texto.
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