ESTRATÉGIAS DE METALINGUAGEM NO DIÁRIO MINHA VIDA DE MENINA, DE HELENA MORLEY
Vanda de Oliveira Bittencourt (PUC Minas)
“Livro mais encantador que já se escreveu no Brasil”, segundo opinião de Rubem Braga, transcrita em orelha da décima sétima edição da obra, o diário Minha vida de menina, de Helena Morley, pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant, faz desfilar diante do leitor, numa prosa entre comovida e risonha, entre o lirismo e o chiste, a vida pacata da cidade mineira de Diamantina, que, no período retratado (final do século XIX), atravessava, como terra de mineração, uma fase de decadência econômica muito grave, que tinha reflexos diretos sobre a própria família da menina escritora. No presente trabalho, busco investigar um dos inúmeros aspectos que contribuem para conferir ao texto da mineirinha um charme próprio de sua pena rebelde, qual seja, o de sua ação metalingüística. Presente nos próprios diálogos entre a autora e o seu caderno de anotações, “confidente e amigo único”, que permeiam as inúmeras células narrativas do diário, essa atividade, entendida aqui em seu sentido mais lato, carreia efeitos variados e se manifesta em diferentes dimensões do texto, que vão desde a discursiva até a lingüística propriamente dita. Não raras vezes, ela aparece revestida de humor, como aconteceu com a expressão usada pela mãe de Helena “desconforme por essa forma”, que, questionada, de um modo jocoso, por um parente que a ouviu, mas não a entendeu, acabou caindo no gosto da família e sendo usada por todos para qualificar alguma coisa mal feita. Essa e outras características da escrita de Helena Morley justificam plenamente o vaticínio feito por seu prefaciador, Alexandre Eulálio, de que “a enorme significação desse texto a que o domínio íntimo e sem recalque da língua dá uma substância - uma forma - especial, ainda há de fornecer matéria para um dos mais interessantes estudos de afetividade estilística do português do Brasil”.
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