Hoffmann na França
os caminhos da construção
de um mito romântico
Maria Cristina Batalha (UERJ)
Embora o gênero fantástico tenha nascido na França com as obras Le diable amoureux (1772) e o Manuscrit trouvé à Saragosse (1805), estas permanecem estreitamente vinculadas aos modelos narrativos do século XVIII e não conseguem impor-se na cena literária francesa, dominada pelo princípio orientador da verossimilhança. Na Alemanha, no mesmo período, a explosão de fantasia presente na obra de vários autores traz um fermento novo ao romantismo e possibilita a evolução do gênero até alcançar a riqueza de recursos ficcionais trabalhados por Hoffmann em seus contos fantásticos. É então a partir das traduções francesas da obra do contista alemão, ou seja, a partir de 1829 - que vão inspirar alguns autores românticos, sobretudo Théophile Gautier - que o caminho da literatura fantástica é restabelecido na França. No breve intervalo entre os anos 30 e 40, o fantástico se apresenta, da mesma forma que havia surgido, como uma resposta à crise política e ao marasmo no qual a ficção francesa estava mergulhado, ganhando projeção e foro de literatura hegemônica. Mas, como mais um frágil mito romântico, ele perde seu fôlego e acaba como paródia de si mesmo na própria obra ficcional de Gautier, que, pelo viés da ironia, promove uma crítica que se estende à literatura de seu tempo, anunciando o período decadentista.
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