HUMOR E AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
O DADO ANEDÓTICO E SEU PERCURSO NA HISTÓRIA
DOS ESTUDOS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

Rosa Attié Figueira (UNICAMP)

Na história recente das ciências da linguagem registra-se um interesse crescente pelo tema do humor, exibido em uma variada gama de objetos lingüísticos, entre os quais a piada (Raskin 1984, Possenti 1998) e a adivinha (Peppicello e Green 1984, Todorov 1980, Tessonneau 1976, Marini 1999) - um material que, até certa altura, ocupara um lugar marginal nos estudos da linguagem. Por sua vez, num dos subdomínios da Psicolinguística - a Aquisição da Linguagem - o fenômeno do riso que acompanha o dito engraçado da criança comparece num tipo de dado, o dado anedótico, cujo papel dentro da metodologia da área foi reconhecido e até enfatizado, já que acaba por oferecer “índices interessantes e divertidos do potencial teórico do tópico em discussão” (Elliot 1982:79). Esta comunicação tem como um de seus objetivos examinar a representatividade desta classe de dados dentro da história dos trabalhos da área, desde a data que se considera como sendo a de seu nascimento até o momento atual; o que inclui e, com destaque, a tradição mais antiga de coleta de dados constituída pelo trabalho dos chamados diaristas, pois, como se sabe, muitos dos estudos de diários, tais como os de Sully (1896) e os de Jespersen (1922), são contribuições importantes à área. Além disso, procurar-se-á - explorando-se os dois sentidos registrados no dicionário para o termo anedótico (anedótico no sentido de secundário, episódico e anedótico no sentido de engraçado) - analisar um conjunto variado de tais ocorrências, recolhidas principalmente dos corpora de crianças aprendendo a falar o português brasileiro, entre 2 a 6 anos de idade. Nesta análise buscar-se-á identificar o ponto de onde emerge a graça; e, para além disso, a condição experimentada pelo sujeito cuja fala resulta em efeito chistoso. Neste ponto abre-se a possibilidade de enxergar distintas posições da criança em relação à linguagem. Uma mudança de posição da criança, de interpretada a intérprete de sua própria fala ou da fala do outro (Horgan 1988, Figueira 1997, De Lemos 1997, 2000) oferece-nos a ocasião de estudar uma parte daqueles fenômenos que têm sido definidos como relevando das atividades metalingüísticas - um tema central tanto para a área da Aquisição da Linguagem quanto para a Lingüística.

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