Francisco da Cunha e Silva Filho(UFRJ, UCB)

João Antônio (1937-1996) ocupa lugar quase solitário entre os contistas brasileiros contemporâneos que e conseguiram libertar ( Donald Schüller) o texto seqüestrado, aquele através do qual falaria a linguagem das classes desfavorecidas. Dessa maneira, à semelhança de um Graciliano Ramos (Vidas secas) ou de um Guimarães Rosa (Grande sertão:veredas), o discurso ficcional joãoantoniano cede a voz ao discurso do socialmente excluído (malandro, bandido, prostituta, pivete, etc.) em abdicar de suas prerrogativas estéticas e de seu alto nível literário. O esforço do contista foi compatibilizar a linguagem por vezes áspera, brutalizada e desreprimida da malandragem com uma forma origina, verossímil e ao mesmo tempo propositalmente iconoclasta do seu discurso ficcional. A análise, considerando um corpus formado de cinco contos, detém-se em quatro aspectos da linguagem: comparação, gíria, frase sentenciosa e um paratexto, a epígrafe. Mostra, ademais, que o contista subverte as práticas ideológico-expressivas do discurso ficcional de estofo burguês.