Reflexões
A partir de uma experiêNcia docente
na primeira universidade indígena brasileira
Bruna Franchetto (UFRJ e CNPq)
Há dois anos funciona o curso “3o Grau Indígena” no campus de Barra do Bugres da Universidade Estadual de Mato Grosso/UNEMAT. Durante cinco anos a primeira turma de 200 alunos, provenientes de 37 etnias e representando 30 línguas, deve se formar para obter uma licenciatura em uma das três áreas de estudo e pesquisa (Línguas/Artes/Literatura, Ciências da Natureza, Ciências Sociais). A maioria dos chamados “acadêmicos” são professores de aldeia, mas há também lideranças tanto locais como de projeção política supra-local. Trata-se da primeira iniciativa no Brasil dessa natureza, lançada para atender uma demanda cada vez mais premente por parte dos professores indígenas formados pelos cursos de magistério e pelas exigências definidas na legislação que normativiza o ensino fundamental. A proposta inicial foi objeto de uma longa e não sempre pacífica discussão, sobretudo uma vez que se colocou com clareza a questão: o que podem ser e o que deveriam ser um ensino e uma formação de nível universitário dentro do espírito da famosa ‘educação bilíngüe (ou multilíngüe), intercultural, específica e diferenciada’? Sabemos da distância que separa as práticas locais da retórica do discurso em torno da ‘educação escolar indígena’. Empreendeu-se uma experiência cuja novidade, sobressaltos, desafios e conquistas nos acompanham, docentes e discentes, há dois anos. Meu propósito é de apresentar os principais acertos (e desacertos) dessa experiência, a qual é, hoje, uma referência para os projetos de “universidade indígena” que estão surgindo em outros pontos do Brasil. Falarei tão somente do trabalho realizado pela equipe responsável pela área de Línguas (Artes e Literatura), destacando em particular o confronto entre concepções distintas do que seria “estudar a linguagem e as línguas” em uma universidade indígena, bem como os sucessos e impasses vivenciados pelos lingüistas cuja proposta foi, afinal, implementada.
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