SONORIZAÇÃO: UM CAMINHO DE MÃO DUPLA

João Bortolanza (UEMS /UFMS)

Apenas um aspecto fonético do projeto de pesquisa coletivo “Luzes do Passado: estudos diacrônicos do português” é a chamada lei fonética que compreende sonorização das surdas e síncope das sonoras intervocálicas. Parte-se da CA 174 “Noutro dia, quando m’eu espedi” de Joan Coelho, para constatar que, no século XIII, a lei já se tinha realizado. O processo da regressão erudita ainda não começara, para revelar a etapa perdida. Passam então a coexistir as duplas formas. Em português, o caminho que vai da surda à sonora, e dessa à sua síncope, pode ser reconstituído. Ao lado de “pee coor lũa leemos oía”, encontram-se não só as formas atuais resultantes da evolução normal pé, cor, lua, lemos, ouvia, mas também formas eruditas “pedal, colorir, lunar, legível, audível”: as sonoras latinas reaparecem (pede, colore, luna, legimus, audibam). Assim, em pedir/petição, povo/popular, vogal/vocálico, velozes/velocípede, coexistem as surdas e as sonoras em radicais alomorfes. Um olhar diacrônico, a projetar luzes sobre o presente, desvenda um caminho de dupla mão, num ir e vir de formas.

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