Uma Contribuição para o Estudo da Estilística em Euclides da Cunha
Milton Marques Júnior (UFPB)
No caminho aberto pelas comemorações do centenário de Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, no ano passado, vislumbramos a necessidade de uma reflexão crítica sobre a construção estilística desta obra tão singular. Pensado inicialmente como uma reportagem sobre a guerra no sertão de Canudos no final do século XIX (1896-1897), o livro adquiriu vida própria, ultrapassando os limites do testemunho histórico, para tornar-se uma obra-prima da literatura brasileira. Com efeito, o ensaio geomorfológico, antropológico e histórico, que é o livro, por conta de sua estilística particularíssima, ajuda a fragilizar as fronteiras com o literário.
Se Augusto Meyer fala de antítese e Alfredo Bosi refere-se a antinomia e intensificação, em seus respectivos ensaios, como figuras centrais no discurso Os sertões, constatamos, após uma observação mais atenta, que é impossível desprezar a função das gradações, das personificações, da ironia e da dupla aliteração/assonância, que reputamos essenciais para exprimir a força do testemunho de Euclides da Cunha. Como estas figuras nunca se apresentam em estado puro, obervamos também que o seu entrecruzamento torna difícil saber qual delas aciona as demais, no reforço das imagens. O resultado é um estilo elegante, retórico, grandiloqüente, por vezes poético, que serve à dramatização dos fatos. Com certeza, o leitor que se aventurar a enfrentar a aparente aridez das páginas desta obra, principalmente a primeira parte - A Terra -, por nós considerada a mais literária, apesar de ser a menos lida, terá a grata surpresa de descobrir a beleza do estilo euclidiano, proporcionando-lhe um prazer inigualável.
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