A
FORMAÇÃO DO
LEITOR
EM
QUESTÃO
A
BUSCA DA
LEITURA NA
DANÇA
José Ricardo da Silva
Ramos (UFF)
Sem
ser
um
meio
para
complemento
ou
uma
compensação,
a
literatura
nos
permite
moldar
ativamente
o
mundo
e a
nós
mesmos,
ao
propiciar o
contato
com
alguma
coisa
que
não
podemos
conhecer
ou
vivenciar de
forma
consciente.
Gabriele Ichuvab
Introdução
Este
trabalho buscará
discutir as possibilidades da
expressão
corporal na
formação do
leitor na
escola. Sendo
assim, tratará da
importância do
corpo mediando a
aquisição da
leitura
por
meio da
dança.
Entretanto,
por
que essa
proposta é interessante
para as
diferentes
instâncias
educacionais
que procuram
despertar o
gosto
pela
leitura?
A
partir da participação
em
um
curso de
formação do
leitor,
e da
leitura de
diferentes
textos sugeridos
pelo
curso,
ainda
pelo
estudo e
registro das
idéias nele suscitadas, buscou-se
compreender as
relações
que os
autores estabeleceram
para a
criação do
gosto
pela
leitura e do
papel
fundamental daquele
que deve
mediar o
livro
ou o
objeto a
ser lido. Os
textos falavam
acerca de
como deve
ser
prazerosa a
leitura, de
como deve
ser
importante
despertar o
gosto de
ler, comentavam as boas
lembranças da
leitura, o
que a
leitura neles suscitava,
que a
leitura
não deve
ser
imposta e
que existem
diferentes
meios de
orientar a
leitura,
como
por
intermédio do
computador, da
pintura, da
poesia e das
artes.
Mas, se os
textos lembravam
caminhos
lúdicos
para
criar o
gosto de
ler, demonstrando
pertinência e
autonomia
com
relação a
formas de
apropriação e
utilização de
recursos
para a
leitura, a
escola,
por
sua
vez, desconhece as possibilidades
para
despertar o
hábito da
leitura.
Muitos
colegas do
curso relataram
que a
leitura na
escola se
fecha na
leitura dos
livros
didáticos,
em
resumos de
histórias,
em
provas e
que os
alunos, na
sua
maioria,
não gostam de
ler, têm
aversão
pelos
textos
literários,
pela
literatura
que é ensinada na
escola. Conheceram-se
alguns
métodos
que os
colegas construíram
para
romper
com o
desprazer, a
imposição e a
obrigatoriedade de
ler
determinada
pela
escola. Nesse
sentido, tornou-se
possível
perceber
que a
escola
forma não-leitores,
que os
alunos
não conseguem
desfrutar do
prazer de
ler
um
livro e
que os
alunos têm
medo,
timidez e
vergonha de
ler
para o
outro,
para a
classe
ou
para o
professor e
ser avaliado
como
mau
leitor.
Como pode a
intervenção
pedagógica
resolver
esses
problemas?
Como
não
temer
diante dos
textos
literários? Drummond (1987), no
texto “O
leitor e o lido”, diz: “Às
vezes
penso
que o
leitor é
alguém
que
deseja
estar no
meu
lugar,
um
concorrente
em
potencial,
um amigo-inimigo” (p. 195). Será
que temos tido a
oportunidade de
fazer
outros
tipos de
leituras na
escola? Será
que temos compreendido a
função de
outros
tipos de
leituras na
formação do sujeito-leitor? Será
que
nós,
professores, temos tido a
oportunidade de
ler a
postura, o
corpo,
ou seja, as
escrituras
corporais dos
nossos
alunos? É
possível
tornar os
nossos
alunos
sujeitos
que se expressam
por
meio dos
seus
corpos e, ao
mesmo
tempo,
leitores daquilo
que expressaram?
Como
encontrar
caminhos
pedagógicos
em
que os
alunos gostem de
ler, passem a
ler, voltem-se
para o
livro e a
literatura
sem
temer
diante deles? Será
que a
dança,
como uma
proposta de
leitura, pode
ser
útil à
formação do
aluno
leitor?
Assumindo uma
perspectiva
que é a
linguagem
como
ação, visa-se, neste
trabalho,
levantar algumas
reflexões
sobre o
que significa
compreender a
leitura
como
expressão
corporal – uma
linha de
pesquisa
que
busca
interlocutores
para
construir
caminhos
pedagógicos comprometidos
com a
teoria e a
prática na
formação de
leitores. No
contexto dessa
perspectiva, analisar-se-ão
diferentes
modos de
entender a
leitura na
escola
como
instrumento,
necessidade,
gosto,
exercício
ou
mera
atividade curricular.
Lendo
além
das
letras
Tomando
como
possibilidade de
intervenção
pedagógica
a
metodologia
criativa
que
parte
da
proposição
de
atividades
assemelhadas às das várias
artes,
como
experiência
de
criação,
coerente
com
aquilo
que
os
alunos
desejam
para
aprender
para
a
sua
vida,
estudou-se a
distinção
que
Bordini & Aguiar (1988) estabelecem
entre
constatar
uma
carência
e
reproduzir
histórias
a
partir
de
narrativas
ouvidas. Desse
modo,
a
literatura
pode
ser
vivida,
experimentada e contada
para
o
outro,
compartilhada, tornando-se
leitura
corporal,
por
meio
do
caráter
cênico
expresso
pela
dança,
que
pode
devolver
e
despertar
no
aluno
o
gosto
pela
leitura.
Parte-se do pressuposto de
que
a
leitura
como
uma
forma
de
expressão
corporal
seja uma
prática
pedagógica,
em
que
o
aluno
possa
interagir,
criar
, divertir-se,
informar,
comunicar
e
partilhar
saberes
tanto
para
quem
lê,
quanto
para
quem
propiciou a
leitura,
ao representá-la
corporalmente,
crescer,
ser
desafiado,
aprender
e
construir
conhecimentos.
A
área
pedagógica da
leitura vem recebendo,
durante
séculos
importantes
contribuições
tanto no
que se refere à
procura de
caminhos
concretos
para o
ensino da
leitura
quanto no
que diz
respeito a uma
direção epistemológica
para o
assunto. Sartre (1989),
por
meio da
denúncia de uma
leitura
morta,
segundo a
qual o
livro é
um
objeto
sem nenhuma
ação,
nos apresenta a
leitura “engajada”,
em
que a
palavra é
ação e
procura mudanças. A
palavra, decide
desvendar o
mundo e
especialmente o
homem
para os
outros
homens, a
fim de
que
estes assumam
em
face do
objeto (livro) a
sua
inteira
responsabilidade. Desse
modo, a
função de
um
professor “engajado” é
construir o
como a
leitura pode
atingir a
sua
máxima
ressonância.
Com o
impulso na
área metodológica, a
mudança paradigmática
parte da
tentativa de
desconstruir a equivocada
experiência da
leitura conservadora: a
leitura
como uma
destreza. “Porque a
leitura, ao
contrário da
carpintaria
ou do
bordado,
não é
meramente uma
habilidade; é uma
ativa
elaboração de
significados
dentro de
um
sistema de
comunicação.” (DARNTON, 1986, p.
279).
Desde Rousseau e
sua
compreensão de
leitura
como
sensibilidade romântica, entrando pelas
correntes da
filosofia, da
psicologia, da
sociologia e da
linguagem, é
possível
conhecer os
estudos do
passado,
que
ora conservam,
ora enfrentam
questão
ligadas ao
prazer e o
gosto
pela
leitura.
Esses
campos
teóricos
nos situam no
espaço da
reflexão, da
política, da
ideologia e do
problema de
apresentar
caminhos
concretos
para a
prática da
leitura.
Chartier (1998),
entre as
limitações e a
liberdade na
leitura,
chama a
atenção
para o
caráter
histórico da
experiência
humana de
ler, ostentando a
aventura
social da
leitura,
que se traduz nas
experiências humanas marcadas
nos
modos de
lembrar e
recordar dos
sujeitos
que procuravam
diferentes
formas de
leituras.
Suas
investigações indicam
que a
consideração do
livro
como
objeto
vivo, do
ambiente,
como
conteúdo
educacional e da
memória
como
elemento de
leitura do
mundo, incorporou
diferentes
modelos
explicativos de
leitura na
dinâmica
social de
cada
época, aumentando os
processos relacionados à
informação e à
comunicação
humana, mudando o
panorama
estático,
conservador
para
um
panorama
modular e
flexível. As
idéias dos
diferentes
modos de
leitura vêm repercutindo,
durante
séculos,
em desdobramentos
pedagógicos
significativos
para
que os
indivíduos se apropriem do
ato de
ler.
Entre os
vários
modos de
leitura, Chartier (1998) pontua a
revolução
que os
textos
eletrônicos vêm fazendo
com as
suas
idéias contemporâneas, ofertando
mais
comunicação e
informação, cujas
contribuições promoveram
impactos no delineamento de
questões
sobre o
ato de
ler e
novas
propostas
para a
apropriação do
gosto de
ler.
No
conjunto dessas
contribuições teóricas e de
busca
por
caminhos
pedagógicos
concretos
para
que a
escola se aproprie do
gosto de
ler é
que se coloca o
presente
estudo. Ao
levantar
questões
sobre os
modos de
ler, de
diferentes
tipos de
alunos e
escolas,
onde a
leitura de
fato
não acontece, importa
frisar
também o
problema do “como”
fazer. Na
busca da
direção epistemológica e do
como
intervir, busca-se neste
trabalho inquietante,
observar algumas
manifestações
corporais de
ligação
com a
leitura, estudando
esses
comportamentos, entrevistando
professores “engajados” na
busca de
novas
alternativas
para o
gosto da
leitura, procurando
compreender a
escola,
como
também buscando
caminhos e
respostas. Ao
longo desse
processo, no
encontro
com
interlocutores, levantam-se as
seguintes
questões: o
que é
ler?
Qual a
sua
natureza?
Como se
lê o
mundo?
Como a
escola entende a
leitura? Existem
outros
modos de
ler e
narrar o
que se leu? No emaranhado dessas
questões é
que se estudam
diversos
modos,
conceitos e
teorias
para a
compreensão da
leitura.
Ler é uma
destreza? É
exercício? É
prazer,
hábito, uma
necessidade
virtual
para o
mundo de
hoje
ou
um
instrumento
para a
apropriação de
outros
mundos? Pretende-se
apresentar algumas
implicações dessas
questões suscitadas neste
trabalho ao
apresentar a
leitura
por
meio da
expressão
corporal.
Para
responder a essas
questões e
tentar
resolver
esses
problemas, faz-se
necessário
inicialmente
retomar os
Parâmetros Curriculares
Nacionais,
que orientam
atualmente a
lei de
Diretrizes e
Bases da
Educação
Nacional (Lei
9394/96). Na
orientação da
lei, o
ensino da
literatura e da
educação
física
já estão
amplamente
conhecidos
como
área das
linguagens,
inseparáveis no
desenvolvimento de
habilidades e
competências do alunato. Julga-se
necessário retomá-las a
fim de
tornar
transparentes os
princípios, os pressupostos e a
metodologia
em
que se
fundamenta o
presente
trabalho
para
responder às
questões formuladas.
Assim, buscam-se as
interferências dessas
linguagens no
processo de
aquisição da
leitura na
escola, distinguindo-se,
para
tornar o
trabalho
mais
explícito, duas
faces dessas
linguagens nesse
processo: a
apresentação da
linguagem não-verbal e o
desenvolvimento da
literatura na
utilização do
corpo
para a
interação dessas
linguagens.
No
campo dos
sistemas e
linguagem,
podemos
delimitar a
linguagem
verbal e
não
verbal e
seus
cruzamentos
verbo-visuais, audio-visuais, audio-verbo-visuais etc. A
estrutura
simbólica da
comunicação
visual e/ou
gestual
como da
verbal
constitui
sistemas
arbitrários de
sentido e
comunicação. A
organização do
espaço
social, as
ações dos
agentes
coletivos,
normas, os
costumes
rituais e
comportamentos
institucionais influem e
são
influenciados na e
pela
linguagem,
que se
mostra
produto
e produtora da
cultura e
comunicação
social
(PCN’s, 1999, p. 126).
A
partir da
retomada de uma
concepção da
área da
linguagem configurando
relações pedagógicas
entre a
Educação
Física e a
Língua Portuguesa
pelos
seus
aspectos interdisciplinares, ancora-se a
proposta desta
monografia à
tentativa de
responder às
perguntas
acima formuladas, apresentando,
sobretudo, a
prática
pedagógica de
alguns
professores
que se orientam e controlam o
ensino e a aprendizagem
literária nas
suas
ações.
Com essa
consideração, os PCN’s orientam os
professores da
área das
linguagens
para
que exerçam
suas
ações nesta
direção:
Podemos
assim
falar
em
linguagens
que se
confrontam, nas
práticas
sociais e na
história, e
fazem
com
que a
circulação de
sentidos
produza
formas
sensoriais e
cognitivas diferenciadas. (id.
Ibid., 1999, p.126).
Todos os
professores
que atuam na
área das
linguagens na
escola devem
considerar a
interferência de
aspectos dos
estudos da
linguagem no
ensino e na aprendizagem de
textos,
discursos
verbais e não-verbais
aqui
destacados
para a
apropriação da
leitura.
No
que se refere ao
processo de
apropriação
literária, a
linguagem
corporal na
aquisição desta transforma o
conceito de
leitor fragmentado,
que se apropria do
texto
por
associação,
para
um
leitor
ator,
autor e
co-autor
que atua
com e
sobre a
leitura, buscando
compreender
um
texto
ou uma
obra
literária, levantando
hipóteses
sobre
ela, submetendo à
prova essas
hipóteses
pela
expressão
corporal. O
processo
que rege essa
orientação é a
escrita do
texto
em
forma de
dança – uma
coreografia
que conduzirá o
aluno
progressivamente a uma
prática de sucessivas
correspondências
entre o não-verbal e o
escrito nas
seqüências de
movimentos
que suscitam os
sentidos do
texto,
sentidos
esses
que sugerem
novas possibilidades de
leituras.
O
aluno
lê agindo e interagindo
com
um
texto, experimentando
corporalmente, ousando descrevê-lo, fazendo
uso de
técnicas
corporais e testando
hipóteses
entre o gestual e o
escrito
por
meio de
seus
discursos
motores organizando e comparando as
estruturas
narrativas a
fim de
tornar
sua
narração semanticamente interpretada.
As
dificuldades enfrentadas
pelos
alunos nesse
processo
são consideradas
como uma
prática refletida e,
para
isso
acontecer, as
expressões
corporais
são dinamizadas
com
exercícios,
técnicas
corporais
que associam
texto ao
discurso
motor. Nesse
processo de
apropriação
literária, as
expressões
corporais
são consideradas constitutivas, sinalizadoras no
processo de
apropriação e
construção de
um
texto,
que o
aluno vivencia, revelando
sua
escrita
por
intermédio da
sua
atuação, identificando-se
com a
leitura.
Como
apresentar o
livro
para os
alunos? – é a
questão
central deste
estudo neste
trabalho de
curso, dando
seqüência ao
tema “a
formação do
leitor
em
questão”,
proposta de
trabalho construída, considerando-se o
projeto
pedagógico e as
questões
postas
pelo
curso ministrado
pela professora Elizabeth
Chaves.
EXPERIMENTANDO O
CORPO
COMO
LINGUAGEM
A
HISTÓRIA DOS
CORPOS
HUMANOS
Procurando
compreender a
linguagem
corporal na
formação do
leitor, pode-se
começar na
esfera pré-histórica do
sistema da
linguagem,
pois o
começar de
tudo remete aos
atos de
leitura dos
nossos
antepassados. Iser (1999),
por
exemplo, atribui a
estética da
recepção à
capacidade de
ler
que os
seres
humanos dispõem. A
capacidade de
traçar
lacunas ocultas
entre
discursos a
previsões futuras,
parte da
mobilidade
que permite o
ser
humano
ler uma
realidade de
acordo
com o
seu
contexto
social e
histórico. Nesse
sentido, a
teoria da
laguna no
ato de
ler,
desde o
momento da
formação
humana,
já estaria sinalizada nas
escrituras
corporais da
espécie
humana.
Assim, a
formação da
leitura
parte de uma
trajetória
sócio
ontológica.
Desde a
pré-história, o
homem reuniu
pistas,
conhecimentos indiciários
que o transformaram num
leitor do
mundo. O
homem
pré-histórico construiu
sua
formação
humana no
seu
modo de
ler a
natureza
para transformá-la e domesticá-la.
Por uma
série de
experiências
corporais, o
homem
como
leitor afrontou
mistérios, descobriu e criou
coisas e se constituiu
leitor
que agiu, interagiu no
mundo e desvelou a
linguagem
humana.
Segundo Paulo Freire (1986),
aprender a
ler é,
antes de
mais
nada,
aprender a
ler o
mundo;
compreender uma
realidade,
interagir num
espaço
social, a
partir da
relação
linguagem e
ação. O
processo de
leitura se realiza no
movimento
dinâmico de
ler o
mundo e flui no
corpo
humano
carregado de significação existencial: uma “prática
refletida” – a
tradução de
leitura do
ser
humano. Do
ponto de
vista da
Educação
Física, pode-se
dizer
que
ler o
corpo é
estudar a
humanidade:
sua
construção
histórica, cultural e
social no
seu
discurso
motor.
Como
instância da
linguagem
corporal, a
dança é
objeto do
corpo de
conhecimento da
Educação
Física,
disciplina
que a analisa, interpreta e explica,
como
resultante da
cultura.
Assim,
ler
por
meio da
dança é uma
prática de
leitura. É
pelo
uso do
corpo
em
movimento
que o
homem se produz, se humaniza e se realiza na
produção de uma
cultura
técnica
que determina o
tipo de
leitura
que produzimos.
No
livro A
importância do
ato de
ler, Paulo Freire reconhece o
seu
mundo da
infância
pela
leitura.
Ele revivia o
seu
quintal, lembrando
objetos,
conhecimentos,
sentidos e
sabores. O
modo
como
ele
lia o
seu
mundo, precedia a
leitura da
palavra:
ler é
viver, conhecendo-se, construindo o
seu
mundo
em
permanente
interação. Dessa
forma, o
sentido das
disciplinas da
linguagem precisam
considerar
um
leitor do
mundo
que se interroga, interpreta,
pensa e
captura recortes do
mundo nas
suas
experiências
corporais. Ao
propor a
dança
para a
apropriação da
leitura, busca-se
dar
visibilidade à
condição de
ler necessariamente implicada no
corpo dos
sujeitos
que dançam uma
escrita coreográfica
que a
literatura atravessa.
Experimentando a
dança
como
linguagem
A
dança
como
objeto da
linguagem
estuda o
corpo
virtual,
resultante das
obras de
artes dos
homens. A
dança é uma
prática usada, de
natureza cultural,
para
dar
movimento ao viver-fazer
artístico do
homem. O
ato de
ler o
homem se reflete
também no
território da
dança, o
que
nos possibilita
definir metaforicamente o
corpo
como uma
escrita
virtual de uma
obra
literária.
Assim,
entender a
leitura do
ponto de
vista
corporal é interpretá-la
como
um
mundo
virtual, a
partir da
produção
técnica de
um
sistema de
ações
que caracterizam as
danças coreográficas. O
caráter da
dança
nos possibilita entendê-la
como
um
sistema de
ações
que
leva à
criação de
objetos
técnicos e
que
encontra no
corpo
seu
espaço
para se
expressar.
A
linguagem
corporal é considerada
importante e
fundamental na
apropriação da
leitura.
Basta
considerar
que a
dança é, na
sua
maioria,
baseada
em
situações
que dependem prioritariamente de
encenações
corporais
sobre
conteúdos
literários.
Em uma
proposta interessante de
pesquisa
sobre
leitura, Foucault (1987), a
partir da
obra: “Las Meninas”, de Velásquez,
procura
investigar a
integração da
informação sígnica na
leitura
visual do
quadro, no
qual
autor,
personagens e
cenário
são integrados
como
prova da
própria
obra de
arte. Ao
pesquisar
aspectos estruturais,
visuais
em
um
quadro de
pintura, Foucault admite a
dificuldade de
ler e dos
cuidados
que devemos
ter
com a
leitura
devido à
enorme polissemia sígnica
enviada
pelo
texto do
autor. Rousseau (apud
Darnton, 1986)
também menciona a
leitura de Jean-Jacques
por
trás dos
textos,
para o
reconhecimento das
faces e da
descrição
corporal dos
autores, o
que rompe as
barreiras
que separam o
escritor do
leitor e sugere
em
seu
livro Émile
ir
além daquilo
que pode
ser
apenas
posto na
escrita (p. 301). Essa
tendência rosseauniana
nos
estudos
passados
sobre a
leitura examinou
autobiografias,
depoimentos,
expressões
corporais,
em
que
leitor e
escritor se comunicam,
cada
um deles assumindo a
forma
ideal imaginada
nos
textos (p. 318).
Se a
comunicação
entre o
leitor e o
escritor é
seguramente
real e provavelmente
possível (Darnton, 1986), a
leitura
não se reduz à
mera
introspecção
ou a
um
texto
vazio,
mas ao
compartilhar
com
outros.
Assim, a
leitura
guarda no
seu
bojo
literário
características e especificidades
corporais numa
relação
dinâmica
entre a
comunicação, a
linguagem e as
artes,
que
não tem sido pedagogicamente explorada
nos
programas de
leitura
ou na
educação
formal. O
que se pode
ler na
experiência de
dizer
pelo
próprio
corpo?
Qual o
papel da
linguagem
corporal na
construção do
conhecimento
literário no
interior da
escola?
Na
concepção
de
leitura
rousseauniana identifica-se a
comunicação
discursiva,
ecológica
e experimental
com
uma
atenção
explícita
na
construção
e na
divulgação
da
leitura
relacionada à
imagem
e à
dinâmica
sócio
cultural do
leitor.
Suas
propostas
teóricas e metodológicas orientam-se
fundamentalmente
para
a
pesquisa
sobre
a
leitura
coletiva,
em
voz
alta,
na
família,
em
reuniões
sociais,
enfim
em
contextos
naturalmente
diferenciados,
com
a
elaboração
do
imaginário
individual,
por
meio
da
relação
leitor/escritor.
Iser (1999)
nos
adverte
para
o
desenvolvimento
de “instrumentos
interpretativos”
do
ato
de
ler,
pelos
quais
diferentes
estruturas
de
constituição
de
sentido
são
examinadas e,
logo,
decodificadas –,
ou
seja, o
analista
deve
fornecer
uma
certa
interpretação
para
um
determinado
texto
(p. 11).
Ele
propõe a
estética
da
recepção,
referindo-se a
um
esforço
heurístico
que
podemos
conceber
na
leitura
de
um
texto,
percebendo
sinais,
conceituando
fatos
para
organizar
modos
de
interpretação,
caracterizados na
experiência
de
ler,
que
não
se restringe
apenas
a
um
funcionamento
estrutural indicado
pelo
texto.
Pelo
contrário,
na
abordagem
iseriana, almeja-se
um
sistema
de
referências
no
âmbito
do
qual
as
realizações
de
leituras
adquiram
sua
especificidade.
Não
se
trata
de
elaborar
métodos
particulares
de
interpretação,
mas
de
mapear
as
disposições
mais
básicas no
interior
as
quais
o
ato
interpretativo
se
torna
concebível
e
necessário.
Jogando e
aprendendo
com
as
linguagens
No
processo
de
inserir
os
aparatos
de
referência
teórica
e metodológica, faz-se
necessário
apresentar
o
material
empírico,
com
entrevistas
e
análise
de
aulas
em
situações
literárias, registradas
em
um
contexto
de
dança
na
escola,
no
qual
a
literatura
foi tematizada e apresentada
por
intermédio
do
corpo.
Procura-se
aqui
investigar
o
desenvolvimento
da
leitura
na
dança,
enfocando as
relações
de
ensino
e aprendizagem de
textos
literários
representadas na dança-educação. Colheram-se os
dados
da
literatura
em
entrevistas
e filmagens
em
três
escolas
,
com
três
professoras de
dança,
em
horários
previamente combinados. Sendo
assim,
as
práticas
corporais
a
partir
da
dança
foram pensadas e
postas
em
ação,
uma
vez
que
correspondiam aos
interesses
de
mostrar
a
apropriação
e a
apresentação
da
leitura
pelo
corpo.
A
discussão
sobre “como
ler” mostrou, de uma
forma
geral, uma
certa
concordância
com a
necessidade da
transformação da
leitura
escolar. As
professoras
com
que se
estabeleceu
diálogo tinham
muito
claro o
que é
um
novo
paradigma de
leitura e
mostraram o
seus
saberes
sobre “como
fazer”
leitura na
escola de uma
forma
diferente
Esse foi o
ponto de
partida,
ou seja, a
leitura
com os
seus
conhecimentos
corporais e os
seus
diferentes
modos de
apreender
um
livro e as possibilidades de
ampliação, transformação da
leitura. Tomou-se a
dança nas
leituras vividas,
como o
fio
condutor dos
encontros,
tecido
pelo
modo de se olharem as
diferentes
práticas de
leitura no
cotidiano
escolar.
As
discussões travadas ao
longo dos
encontros
sobre
suas
práticas e
suas possibilidades de
despertar o
gosto da
leitura
pela
dança se basearam
em
perguntas
abertas
sobre “um
diferente
modo de
ler”
que as professoras buscavam
responder, e daí surgiram
práticas interessantes
com
coreografias e
leituras.
Eis as
questões:
como
apresentar
um
outro
tipo de
leitura
para o
aluno?
Como
fazer
diferente?
Como
fazer
diferente e o
aluno se
apropriar do
gosto de
ler?
Como
garantir
que
cada
aluno tenha as
oportunidades de se
expressar
corporalmente?
Como
construir uma
ação
pedagógica
em
que o
corpo seja reconhecido no
ato de
ler?
Como
criar
espaço na
escola
para a
leitura
corporal? As
ações das professoras na
condução do
processo de
leitura
pela
dança mostrou
assim a
literatura orientada
para
traduzir os
possíveis
significados coreográficos na
produção de várias
leituras.
A
preocupação
com
a
inclusão
de
entrevistas
e filmagens
como
forma
de
registro
remontou a
literatura
pelos
gestos
capturados
como
leitura,
substituindo o
objeto
livro
no percurso da
coreografia.
A
sucessão
de
movimentos
elaborados, de
imagens
corporais
ganha
nova
materialidade
na
leitura
e o
sólido
conhecimento
do
texto
é dissolvido na
ação
corporal.
Essa
forma
de
leitura
considera uma especificidade de
lembrar
e
capturar
o
texto.
Certos
jogos
corporais
falam as
formas
de
transcrever
o
texto,
de
análise,
de
leitura
e de
interpretação
dos
atos
corporais
No
trabalho
de
dirigir
a
coreografia,
a professora e os
alunos
têm a
intenção
de
prescrever
as minuciosidade dos
movimentos
técnicos
a
partir
do
texto,
de
estudar
a
coreografia
e o
cenário.
No
trabalho
de
sentir
o
texto,
busca-se
captar
e
distinguir
o
enfoque
literário,
os
ditos
corporais
com
música
no
fundo.
Numa
nova
abordagem
da
fita
de
vídeo,
trabalha-se
com
as possibilidades de significação dos
alunos,
o
que
buscava
dar
relevo,
realce
e
destaque
à
obra
literária.
O
detalhe
do
movimento
vira
um
acontecimento;
o
que
é
invisível
no
texto
se
torna
tema,
narrado
apenas
no
corpo.
Em
uma
outra
forma
de
exercício
literário,
a professora Arabel
Issa
apresentou a
dança
sem
música.
Registra-se o
corpo
dos
alunos
conduzidos
pelos
recortes dos
textos
literários,
buscando
falar
corporalmente,
na
cena,
os
movimentos
e as
ações
dos
alunos
que
dançam, interagem
entre
eles,
sentam, levantam, correm, aproximam-se do
público,
apontam
para
o
cenário
e usam
segmentos
corporais
para
dizer
alguma
coisa.
Em
alguns
momentos
houve a
observação
do
cenário,
dos
elementos
do
palco
e dos
materiais
disponíveis
e percebe-se a possibilidade da
leitura
de uma
história.
Na
movimentação
dos
alunos,
alguns
sinais
corporais
indicaram
um
tema
em
andamento.
As
atenções
dirigem-se
para
os
corpos
dos
alunos
que
os
nossos
olhos
também
focalizam
como
forma
de
leitura,
modos
de
dançar,
de
falar
corporalmente
que
imprimem a
relevância
do
tema.
São
seus
modos
de significação
literária.
O
dizer
corporal
orienta e restringe a
leitura
e o
olhar
do
público.
O
cenário
limita a
leitura
do
público.
Depois,
inicio-se
outra
forma
de
leitura
com
uma
pergunta:
Como
surge
um
determinado
espaço
na
dança?
Fala-se do
espaço?
Como
é
que
se
fala
do
espaço
corporalmente?
Perto,
longe,
dentro,
fora...como
se aprende a
pensar
o
espaço
e representá-lo?
Nomear
o
espaço,
conhecê-lo, marcá-lo e registrá-lo
corporalmente
são
objetivos
na
leitura
de uma
obra
de
arte
na
dança.
Como
o
corpo
demarca, circunscreve, se situa no
palco,
ordena, organiza, refere-se a
algo.
Nas
formulações
corporais
de
um
grupo
de
dança
contemporânea,
identifica-se o
espaço
marcado na
dança.
As
marcas
de
um
desenho
geométrico
socialmente
constituído foram vivenciados
nos
corpos
dos
alunos
forjando os
conceitos
de
limitação
espacial,
de
pausas
nos
traços
e
linhas
do
desenho,
dando ao
público
a possibilidade de
leitura
dos
desenhos
ortogonais da
obra
de Mondrian
pela
dança.
O
espaço,
como
tema
e
modo
de
ler
pela
recepção
visual
de uma
dança,
incorpora na
atuação
coreográfica o
espacial,
inscrevendo
outros
modos
de
leitura.
O
espaço
produzido
corporalmente
traz uma
referência
fundamental
às
atividades
artísticas.
São
outras
formas
culturais de
registro
que
também
deixam
marcas
de
leituras
para
o
público,
o
espaço
marcado
pela
dança,
conduzido
como
linguagem.
O
corpo
transformado e constituído
pelos
modos
de
fazer
leituras,
de
agir
e
pensar
por
meio
de
fontes
artísticas. Essa
forma
de
uso
da
linguagem
insiste e persiste na
busca
da
leitura.
Nesse
sentido,
analisaram-se
caminhos
diferenciados de
leituras,
dos
quais
podem
advir
constructos
teóricos
distintos,
com
intervenções
concretas
que
estão relacionadas
com
a
constituição
do
sujeito
leitor.
Da
identificação
e da
discussão
dessas
questões
foram surgindo
caminhos
pedagógicos
de
produção
e
organização
da
leitura
no
espaço
escolar;
sobre
a
constituição
da
literatura
corporal.
O
trabalho
parte
desse
quadro
pedagógico
interpretativo
como
um
todo,
tratando do
intercâmbio
entre
a
linguagem
corporal,
a
literatura
e os
estudos
da
linguagem,
buscando
compreender
e
conceituar
modos
de
elaboração
e
transmissão
literária
nas
práticas
corporais,
principalmente
no
contexto
escolar.
Entendendo a
linguagem
corporal
como
atividade
sígnica e constitutiva da
experiência
estética,
da
cultura,
patrimônio
histórico
e
artístico,
analisaram-se
situações
corporais
vivenciadas
pela
literatura,
enfocando a
dança
como
expressão
prática
interativa
entre
o
fictício
e o
imaginário
do
aluno.
Propõe-se, neste
trabalho,
uma
concepção
pedagógica
em
que
a
leitura
precisa
ser
apropriada
como
vivência,
como
experiência
necessária
importante,
lúdica,
com
envolvimento
prático.
É a
ação
da
leitura
que
mais
interessa
como
atribuição
de
significados
de
ordem
corporal,
tentando-se entendê-la
como
narrativa,
como
relato
para
um
grupo
e
que
seja praticada
como
algo
que
possa
ser
realizado e ao
mesmo
tempo
vivido
e
assim
supere o
caráter
utilitário
da
leitura
escolar.
A
leitura
utilitária
é
aqui
denunciada
como
uma
leitura
em
fragmentos,
em
que
os
textos
para
leitura
são
incompletos,
curtos:
mensagens,
trechos,
resumos
e
informações.
São
partes
inacabadas,
sem
sentido,
que
marcam o
ato
de
ler
em
pedaços
freqüentemente
interrompidos
pelo
aluno,
que
não
consegue
estabelecer
com
o
texto
a
fruição,
o
divertimento
e a
interlocução.
Este
tipo
de
leitura
se caracteriza
pela
falta
de
espaço
de
leitura
na
escola.
Falta
espaço
para
o
contato
com
textos,
obras
literárias e
práticas
corporais
que
incentivem a
leitura
como
vivência.
Eis
o
problema.
Apesar
de se
falar
muito
sobre
leitura
na
escola
e muitas
propostas
serem apresentadas, cabe
indagar
que
tipo
de
livros
são
lidos
pelos
alunos.
Existem
livrarias
em
todos
os
bairros
e
municípios
brasileiros?
Qual
o
modo
mais
freqüente
de o
aluno
obter
um
livro?
Existem
bibliotecas
em
todas as
escolas?
Além
do
paradoxo,
as
novas
tecnologias
com
sua
modernidade e a
quantidade
de
informações
e
estímulos
que
chegam aos
alunos
estão
cada
vez
mais
afastando
estes
da
experiência
corporal.
A
leitura
corporal
impressiona de
um
modo
diferente
quem
lê.
Ela
move as
idéias,
ações,
valores
e
sentimentos
que
nos
são
afetados
corporalmente,
quando
a praticamos.
Levar
essa
prática
para
o
contexto
escolar
é o
desafio
que
se
lança
aos
professores.
Essa
prática,
por
considerar
o
processo
de
apropriação
da
leitura
como
vivência,
engendra
atos,
técnicas
e
formas
como
uma
prática
refletida,
fundamental
para
a
leitura
compartilhada
com
o
escritor,
professor
e
alunos.
Compreender
a
leitura
a
partir
desse
olhar
superador tem
implícito
o
reconhecimento
da
importância
da
leitura
como
vivência
na
escola,
movimenta
o
que
pode-se
fazer
com
e
sobre
os
livros
e
textos,
trocando
saberes
e refletindo
corporalmente.
A professora Luiza
Lagoas
diz
que
sempre
partiu dos
livros
para
criar
situações
corporais
de
contos,
poesias
por
meio
da
dança,
partilhando
sentimentos
e
reflexões
junto
com
seus
alunos,
representando
para
o
leitor
a
arte
narrada
corporalmente.
Segundo
a referida professora: “O
que
traz
vida
para
a
leitura
é
entrar
numa
prática
que
a
leitura
pode
ser
partilhada
com
os
seus
interlocutores,
tanto
para
quem
lê
quanto
para
quem
pode
proporcionar
a
leitura,
coreografando a
literatura,
a
poesia,
os
textos
com
uma
dimensão
artística
de
clássicos
literários,
diferentes
gêneros
e
estilos.”
O
modo
de
realização
dessa
forma
de
leitura
é
capaz
de
inserir
uma
prática
refletida no
momento
em
que
acontece e se
situar
em
qualquer
espaço
da
escola
onde
se pode
concretizar
situações
em
que
o
grupo
assume o
caráter
de
narrar
corporalmente
uma
história
construída
coletivamente,
uma
música,
registrar
ações
de
personagens
ou
grupos
que
foram lidos
por
aqueles
que
coreografam, seja uma
autobiografia,
relatos, sejam
histórias
de
vida.
Isso
chama-se de
vivência
da
leitura,
a
leitura
em
ação,
real
e
corporal
permitindo
fazer
e
refazer
o
processo
de
ler,
sistematizando e suavizando-a
por
meio
da
dança.
Nesse
sentido,
ler
significa
representar,
interferir
no
processo
de
apropriação,
deixar
as
marcas
corporais
nos
traços
da
escrita.
Dançar
textos
e
histórias
interpretadas
pela
própria
experiência
corporal,
singular
e
coletiva,
engendra
novos
sentidos
para
a
superação
da
dureza
da
leitura
instrumental.
É
preciso
lembrar
que,
no
âmbito
da
rede
eletrônica,
os
jovens
têm
outros
modos
e
lugares
de
ler.
Lê-se
nos
jogos
eletrônicos,
nas
aventuras
do RPG,
nos
blogs, na
Internet,
em
toda
uma
produção
atual
que
faz
uso
de
meios
tecnológicos
que
favorecem os
que
lêem e escrevem. Essa é uma
prática
de
leitura
experimentada
que
a
escola
precisa
reconhecer
e
também
com
ela
aprender.
A
proposta
dessa
monografia
se insere na
linguagem
como
ação
e se caracteriza no
discurso
motor.
Iser, Rosseau, Austin, Vygotyky e Fish
são
os
que
mais
ostentam as
dimensões
da
linguagem
constitutiva,
social,
enunciativa e performativa do
ser
e têm investigado esta
como
atividade
social,
coletiva,
motivada e contextualizada,
pelos
quais
o
discurso
não-verbal pode
intervir
como
educação
e
cultura.
Desse
modo,
esses
autores
ressaltam a “linguagem
como
ação”,
destacando o
uso
da
enunciação
geral
que
tem
como
principal
finalidade
a
comunicação
social
e
histórica
do
ser.
Eles
estão
atentos
à
produção
de
sentidos
em
fatos
e
eventos,
entendendo
que
as
idéias
significativas expostas
nos
panoramas
comunicativos
dentro
da
linguagem
humana
devem
ter
algum
modo
de
leitura
ou
representação
social
que
se alicerça na
performance
cultural de
quem
as
usa.
Iser (1999), ao
falar
da
teoria
da
recepção,
sugere a
leitura
perceptiva
do
leitor
com
relação
direta
com
suas
bagagens
culturais
ou
autobiográficas. O
autor
diz
que
a
formação
do “eu”
do
leitor
está no
encontro
de várias
vozes
e nas
suas
representações
sociais.
Ele
também
menciona
que
os
efeitos
da
recepção
na ficcionalidade devem
ter
algum
tipo
de
efeito
na
realidade
sócio-psicológica do
sujeito.
Essa
direção
fundamenta
a
relação
entre
a
ficção,
a
realidade
psicológica
do
sujeito,
a
linguagem
e a
literatura.
Nesse
sentido,
as
questões
relacionadas aos
modos
da
construção
literária,
da
leitura,
da
instância
ficcional buscam diversas possibilidades pedagógicas
para
a
produção
da
leitura,
espaços
e
tempos
singulares
para
a
construção
literária
e variados
contextos
para
a
linguagem
ficcional se
manifestar.
Tais
possibilidades surgem
tanto
no
texto,
quanto
das
disposições
peculiares
do
leitor:
o
texto
permite
diferentes
opções,
as
tendências
próprias do
leitor,
diferentes
insights. E
como
não
há
sentido
específico
no
texto,
essa
aparente
deficiência
é, na
verdade,
a
matriz
produtiva
que
torna
o
texto
significativo,
que
lhe
permite
fazer
sentido
em
diversos
contextos
históricos.
(Iser, 1999, p. 33)
Nesse
sentido,
é
possível
argumentar
que,
analisando os
movimentos
corporais
em
forma
de
dança,
dentro
de uma
perspectiva
literária,
pode-se
ler
corporalmente
o
funcionamento
de
um
texto
coreográfico e
também
estabelecer
elos
entre
a
literatura
e a
linguagem
corporal.
A
maneira
como
Vygotsky
fala
do
funcionamento
do
signo
e o
modo
educacional
de se
interpretar
a
interação
semiótica
na
história
social
do
sujeito
sugere
que
a
dimensão
sígnica
não
pode
estar
ausente
das
questões
de
ordem
literária
no
interior
da
escola.
A
realidade
inter e intrapsicológica do
sujeito
são
de
natureza
histórica
e
social,
fundamentalmente
mediadas e construídas
por
signos.
As
atividades
corporais
expressas
pela
dança
têm uma significação
social,
constituiem-se
em
atos
específicos
na
linguagem
educacional,
de
modo
que
a corporeidade do
sujeito,
sua
história
de
vida,
suas
leituras
de
mundo
tornam-se
possíveis
no
seu
discurso
motor.
Assim,
a
cultura
do
sujeito,
construída
significativamente
pelos
signos,
apresenta
um
caminho
específico
para
a
compreensão
de
ler
as
escrituras
corporais
do
ser
humano.
O
uso
de
signos
conduz os
seres
humanos
a uma
estrutura
específica
de
comportamento
que
se destaca do
desenvolvimento
biológico e
cria
novas
formas
de
processos
psicológicos
enraizados na
cultura.
(Vygotsky, 1991, p.45)
Compreendendo
que
os
signos
são
representações
mentais
que
substituem os
objetos
do
mundo
real,
pode-se
considerar
o
corpo
como
um
elemento
mediador
do
livro,
do
texto,
da
escrita,
da
palavra,
com
uma
ação
para
significar
algo,
como
atividade
constitutiva coreográfica de
um
evento
literário.
Concebe-se,
assim,
a
dança
como
um
modo
de
ler
situado, contextualizado,
em
que
se pode
analisar
versões
de
fatos
literários
com
efeito
estético
corpóreo e
expressivo,
compreendendo a
leitura
como
produção
cultural de
signos
e
sentidos.
É
então
em
relação
à
leitura
assim
entendida
em
interação
com
os
processos
de significação
corporal
dos
alunos
que
se
quer
experimenta-la. Os pressupostos
teóricos
dos
signos,
os
autores
da
linguagem
e da
estética
da
recepção
cooperam
para
o
nosso
estudo.
A
conclusão
a
que
chegamos,
pois,
é
que
todos
os
objetos
são
construídos e
não
descobertos
e
que
são
construídos
através
das
estratégias
interpretativas
que
colocamos
em
funcionamento.
Isto,
no
entanto,
não
implica a subjetividade,
pois
os
meios
através
dos
quais
os
objetos
são
construídos
são
sociais
e
convencionais.
Ou
seja, o ‘eu’
que
realiza o
trabalho
interpretativo,
que
dá
vida
a
poemas,
indicações
de
leituras
e
listas
é
um
eu
público
e
não
um
indivíduo
isolado.
Ninguém
acorda
de
manhã
e (à
moda
francesa) reinventa a
poesia
ou
elabora
um
novo
sistema
educacional
ou
decide
rejeitar
a
série
em
favor
de uma
outra
forma
de
organização
totalmente
original
(Fish, 1993, p. 162)
É
assim
que
a
leitura
atua na
cultura,
desenvolvendo
em
nós
formas
cada
vez
mais
complexas de
interpretação
de
fatos
e
eventos,
transformando
assim
a
leitura
em
construção
coletiva.
O
efeito
da
dança
é
semelhante
a
um
ato
de
leitura,
cria
a
transmissão
de
experiências,
implementa
um
grande
número
de
signos
visuais
complexos
e
convencionais
e abre inúmeros
tipos
de
leituras
para
o ‘eu’
realizar
o
trabalho
interpretativo.
Desse
modo,
assumir
pedagogicamente a
idéia
de mediação
semiótica
leva-nos a uma
posição
educacional
entre
leitura,
dança
e as
artes
em
de
que
o
fenômeno
da
leitura
é
humano,
social,
coletivo
e ao
mesmo
tempo
individual.
Da
dança
passa-se à
leitura.
Parte
do
esforço
de significação
que
o
leitor
faz ao
querer
interpretar
as
construções
artísticas na
apropriação
e
utilização
de
recursos
semióticos
que
este
dispõe na
sua
vida
cultural. As
suas
condições
sociais
são
determinantes
e
vão
se constituindo
em
categorias
que
organizam
diferentes
modos
de
ler.
Nessa pressuposição de significação, Fish (1993) apresenta o
olhar
como
um
valor
significativo
no
ato
de
ler:
De
fato
estas
categorias
são
a
própria
forma
do
ato
de
ver,
no
sentido
de
que
há
como
se
imaginar
um
fundamento
perceptual
mais
básico
do
que
aquele
que
elas
oferecem.
Ou
seja,
não
há
como
se
imaginar
um
momento
em
que
os
meus
alunos
‘apenas
vejam’ uma
configuração
física
de
átomos
e
só
então
atribuam a esta
configuração
uma significação, de
acordo
com
a
situação
em
que
eles
se encontrem.
Estar
em
uma
situação
(esta
ou
em
qualquer
outra)
significa ‘ver’
com
os
olhos
dos
interesses,
objetivos,
valores,
normas
e
práticas
estabelecidas desta
situação,
e significa,
portanto,
conferir
significação ao
ver
e
não
depois
de
ver.
(p. 163).
Pode-se
ver,
nos
corpos
dos
sujeitos
que
dançam,
indícios
das
obras
de
artes,
inscrevendo-se
nos
seus
corpos
os
produtos
de
estruturas
de
pensamento
sociais
e culturais:
poesias,
textos,
desenhos,
rituais
e
pinturas
(Fish, 1993, p. 162). Pode-se
observar
o
público
apropriando-se
ativamente
daquilo
que
os
seus
corpos
transmitem.
Ele
vêem, apontam, discutem as
práticas
motrizes.
Além
do
sistema
da
leitura,
apresentando uma
configuração
física
de
textos
literários
e
desenhos,
o
sistema
da
escrita
funciona
como
forma
de
registro
coreográfico e
auxílio
para
a
representação
corporal.
As
leituras
do
público
são
interiorizadas à
medida
que
vão
presenciando os
atos
motores
dos
alunos,
interagindo
com
eles,
para
ler
seus
corpos.
Pode-se
ler
pela
escritura
corporal
do
outro
o
que
ainda
não
se conhece, pode-se
vir
a
saber
o
que
ainda
não
se sabe
pelo
corpo
do
outro.
Público,
dança
e
saberes
se interpenetram
então
na
elaboração
coletiva
da
leitura
pela
transmissão
artística
inserida
em
um
livro,
na
pintura,
nas
palavras
e
objetos.
Mas
se os ‘eus’
são
constituídos
por
formas
de
ver
e de
pensar
que
são
inerentes
às
organizações
sociais,
e se
estes
‘eus’
constituídos,
por
sua
vez,
constituem
textos
de
acordo
com
estas mesmas
formas,
então
não
pode
haver
relação
de
adversidade
entre
textos
e ‘eus’
porque
ambos
são
produtos
correlatos das mesmas possibilidades cognitivas. (Fish, 1993, p. 165).
A
possibilidade de
conhecimento
de
algo
pela
leitura,
em
uma
determinada
situação
depende da
ajuda
dos
signos.
O
uso
de
signos
permite ao
leitor
ampliar
seu
‘eu’,
mediar
suas
leituras.
Atuando
externamente
ao
homem,
os
signos
realizam a
constituição
do ‘eu’
a
partir
da mediação
semiótica
(a mediação
pelos
signos)
que
acontece no
nível
intrapsicológico do
sujeito,
isto
é, no
nível
cognitivo, revelando
assim
a
sua
leitura
humana.
Nesse
sentido,
a
leitura
exige
como
recurso
constitutivo do ‘eu’
os
signos
como
instrumento
que
fundam uma
nova
maneira
de se
compreender
o
funcionamento
das
formas
mais
complexas de
leitura
do
ser
humano,
que
medeia, regula, transforma-se e constitui uma
atividade
meramente
humana.
A
relevância
fundamental
das
práticas
corporais
da
leitura
parte
da
constituição
das
funções
psicológicas
superiores
do ‘eu’,
que
se organizam e regulam as
condutas
simbólicas dos
que
dançam,
cujo
efeito
se
manifesta
no
jogo
sedutor
que
as
práticas
corporais
constituem
entre
os
interlocutores.
Segundo
Luria (1987)
um
aspecto
importante
da
cognição
é o
sentido
que
o
leitor
elabora e vive: “O
sentido
é o
elemento
fundamental
da
utilização
viva,
ligada
a uma
situação
concreta
efetiva
por
parte
do
sujeito.”
(p. 46)
Os
sentidos
do
dizer
corporal
se transformam
em
leitura
significativa,
aprofundam a
busca
ativa
do
ler,
mudam os
modos
de
elaborar
a
leitura,
operam
com
signos
para
estabelecer
relações
e
interlocuções.
A
intenção
se transforma
em
texto
e a
atenção
em
leitura,
emergindo na cognoscitividade o
poder
de
constituição
do
seu
‘eu’.
Serão
os
signos
motores
que
apontarão
para
o
leitor
os
objetos
culturalmente
significativos
e
que
dirigirão
sua
leitura
com
gestos
literários.
Será
por
meio
da
interação
com
os
outros,
com
o
livro
ou
com
outro
objeto
significativo,
que
o
sujeito
poderá
desenvolver
seu
‘eu’.
“As
relações
sociais
ou
relações
entre
as
pessoas
estão na
origem
de todas as
funções
psíquicas
superiores.”
(Vygotsky, 1991 p.163) As
práticas
corporais
humanizam a
leitura,
tornando-a
mais
visceral e sedutora,
lúdica
por
excelência,
e possibilitam o
planejamento
literário
/ coreográfico, agindo no
plano
concreto
interpsicológico e se tornando intrapsíquicas
quando
forjam o
posicionamento
do
leitor.
Por
essas
considerações,
pode-se
dizer
que
os
temas
literários
tratados
na
escola
podem
expressar
um
sentido/significado
em
que
dança
e
literatura
se interpenetram
disciplinarmente.
As
atividades
literárias podem
dar
oportunidades
para
que
o
aluno
reconheça a possibilidade de
usar
o
seu
corpo
como
forma
de
expressão
e
comunicação,
o
que
sugere o
estabelecimento
de
situações
pedagógicas de
construção
de
textos
corporalmente.
Essas
situações
em
que
a
expressão
corporal
se apresenta
como
um
dizer
textual,
como
desejo
de
ser
lido, e
seus
destinatários,
os
leitores
buscam
descobrir
as
propostas,
os
temas
de
leitura
que
foram
para
eles,
apresentados.
Nas
atividades
de
leitura
de
diferentes
obras
literárias de Clarice Lispector, Drummond e Nelson Rodrigues
pela
companhia
de
dança
“Vacilou, Dançou”; a professora Carlota Portella, propõe uma
produção
coletiva
em
que
as
obras
sejam construídas
corporalmente
entre
os
alunos
e o
professor.
Segundo
a professora,
para
a
construção
de
textos
nos
moldes
corporais,
os
atores
sociais
devem se
guiar
por
atividades
de avaliação e
interpretação.
São
atividades
em
que
os
alunos
e o
professor
discutem as
características
de
gênero
do
texto
que
serão
trabalhados, se o
dizer
corporal
tem
consonância
com
o
texto,
se há
coerência
no
desenvolvimento
das
idéias
expressas no
corpo,
se o
nível
do
conteúdo
literário
corresponde às
bagagens
culturais do
leitor
escolhido, se os
recursos
corporais
são
utilizados de
forma
que
possam se
apropriar
do
texto,
se a
obra
literária
pretendida é adequada à
classe,
aos
objetivos
interdisciplinares, às
situações
de
interlocução
professor/aluno.
A professora Arabel
Issa
concorda
também
que
essas
atividades
devam
ser
discutidas
coletivamente
entre
professores,
alunos
e
texto
e
que
a
revisão
da
obra
literária
e da
coreografia
são
procedimentos
pertinentes
para
a
reflexão
e a
apreensão
da
prática
da
leitura.
Para
Carlota Portella, o
contato
com
a
coreografia
na
produção
do
texto
parte
de uma
análise
criteriosa
do
texto
coletivamente
(alunos
e
professor),
dos
problemas
e
dificuldades
enfrentados
pelo
grupo
na
construção
da
coreografia.
Isso
permitirá
possíveis
caminhos
pedagógicos
de estruturação da
dança,
o
uso
de
outros
recursos
de
articulação
dança/texto,
de
orientação
na
comunicação
e
exercícios
para
a
construção
corporal
coreográfica:
exercícios
para
apreensão
da
leitura,
experimentar
e
produzir
o
texto
com
o
corpo.
O
exercício
de
experimentar
diferentes
tipos
de
espaços
apresentado na
mostra
de
dança
do CCBB (descrição
do
espaço
e do
ambiente
com
o
corpo),
segundo
a professora Arabel
Issa
é
um
bom
exemplo
de
atividade
de
construção
de
um
texto,
é
um
exercício
de
leitura
para
aprender
a
estruturar
num
texto
relações
espaciais
e
temporais
(conceitos
como
antes,
depois,
aqui,
agora,
longe
e
perto),
usando o
corpo
como
instrumento
de
leitura.
Assim,
a professora assevera: “Ao
lado
dos
exercícios
corporais,
que
são
de
extrema
importância
na
produção
do
texto,
devemos
levar
o
aluno
às
formas
mais
elaboradas do
texto,
ao
domínio
das
normas
cultas, das
características
de
um
texto
escrito,
fazer
menção
ao
gênero
do
texto”.
Iser (1993) faz
menção
aos
exercícios
estruturantes do
texto,
faz
menção
à co-autoria
que
o
leitor
deve
ter
como
responsabilidade
social
quando
busca
os
recursos
de
coesão,
de
identificação
e preenchimento de
lacunas
de
informatividade do
texto,
da estruturação e de
variedades
de
registros.
Tais
lacunas
vão
sendo preenchidas
por
meio
de
aproximações
sucessivas do
sujeito
que
pensa
com
o
texto,
se envolve
com
o
texto,
pode representá-lo e mediá-lo nas
suas
ações
corpóreas.
Na
escola,
essa
concepção
de
leitura
pode
orientar
o
horizonte
dos
educadores
comprometidos
com
a
formação
plena
do
aluno,
dos
que
buscam uma
prática
consubstanciada
em
teorias
nas
áreas
dos
estudos
da
linguagem,
da
literatura
e das
práticas
corporais
significativas. Desse
modo,
para
organizar
sua
ação
pedagógica,
partindo da
construção
coreografica/literária,
é
preciso
que
os
professores
estabeleçam
bem
as
relações
entre
dança
e
literatura,
compreendam as
práticas
corporais
como
caminhos
possíveis
de
representação
literária,
sejam
capazes
de
identificar
a
variedade
artística
impressas num
texto
e,
assim,
prever
a polissemia de
significados
que
os
alunos
enfrentarão de
acordo
com
as
suas
bagagens
culturais,
mas
também
com
a
intervenção
que
orienta
para
a
ação
de
preencher
lacunas
nos
indivíduos,
que
comporta
alguns
momentos
interativos,
conforme
menciona Iser:
Em
princípio,
as
lacunas
organizam os
segmentos
num
campo
de
mútua
projeção
interativa,
que
conduz a uma
estrutura
do
tipo
‘figura
e
fundo’.
Cada
segmento
lido pode
ser
visto
como
figura
contra
o
fundo
do
segmento
lido
antes,
e o
fundo,
por
sua
vez,
necessariamente molda a
figura.
Essa
interação
latente
atualizada
durante
o
processo
de
leitura,
leva
a uma
instabilidade
que
se
encerra
com
a
produção
de uma gestalt
”
(1993, p. 30).
Por
outro
lado,
é
necessário
que
os
educadores
conheçam o
processo
sígnico da aprendizagem de
um
texto
literário.
Esse
conhecimento
deve
estar
associado
à
compreensão
das
relações
entre
a
literatura
e a
dança,
permitindo ao
professor
orientar
as
coreografias
literárias, o
que
pode
ser
dito
corporalmente,
identificando
qual
o
processo
de
leitura
que
o
aluno
se
encontra,
interpretando
hipóteses
com
que
os
alunos
estão operando, levá-los a
confrontar
as
hipóteses
com
a
experiência
corporal,
com
as
convenções
literárias, os
gêneros,
etc.
Desse
modo,
a
seqüência
de
idéias
que
se
forma
na
mente
do
leitor
com
base
na estruturação prefigurada do
texto,
isto
é, nas
suas
operações
estruturantes previamente determinadas, é a
maneira
pela
qual
o
texto
é traduzido na
imaginação
do
leitor
(Iser, 1993. P. 31).
Além
disso ,
para
definir
a
ação
pedagógica
na
direção
e
orientação
da
apropriação
da
leitura
literária
pelos
alunos,
o
professor
precisa
compreender
e
assumir
a
linguagem
como
ação,
de
leitura
como
atividade
coletiva,
precisa
ter
clareza
da
expressão
corporal,
do
que
é
arte,
o
que
é uma
coreografia.
Precisa
compreender
os
princípios
que
falam das
relações
escritor/leitor,
texto/leitor
e
precisa
conhecer
as
peculiaridades
de
diferentes
gêneros
literários,
os
níveis
de
tratamento
pedagógico
de
diferentes
textos.
Conclusão
Urge a
necessidade
de uma
mudança
significativa
na
concepção
dura
de
leitura
e é o
que
vem ocorrendo
desde
o
século
XVII, e é interessante
que
essa
mudança
também
deva
chegar
às
escolas,
sobretudo
às
escolas
públicas do
ensino
de
jovens.
Todavia,
as
respostas
que
este
trabalho
tentou
dar
às
questões,
no
início
do
estudo,
parecem
deixar
clara
a
função
social
que
tem a
escola
na
orientação
do
processo
de
apropriação
da
leitura,
conduzindo os
alunos
da
exploração
corporal
dos
textos
à
leitura,
com
a
dança
levando-os a
conhecer
melhor
a
literatura
para
a
interlocução
e a
expressão
cultural.
É
importante
ressaltar
que
a
concepção
de
leitura
que
aqui
se defende se faz
presente
em
algumas
manifestações
artísticas
em
nível
nacional,
especialmente
naquelas integradas no
quadro
de
novos
caminhos
para
a
arte
contemporânea
neste
momento,
ensinando a
arte,
a
literatura,
a
dança
como
as professoras mencionadas
que
deram uma
direção
e algumas
orientações
pedagógicas
que
podem
ser
exercidas se fundamentadas
em
uma
teoria
segura
e
um
processo
sólido
para
a
formação
do
leitor.
Possivelmente, a socialização deste
trabalho
fornecerá os
elementos
de
base
para
a
construção
de uma
perspectiva
pedagógica
de
formação
do
leitor
pela
dança
que
supere a
dureza
das
práticas
de
leitura
fragmentadas e
que
venha
responder
aos
desafios
para
o
desenvolvimento
do
gosto
pela
leitura
nos
nossos
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