HETEROGLOSSIA BAKHTINIANA
ESTRATÉGIAS
DISCURSIVAS
NO
TEXTO
PARA
CRIANÇAS
Sonia Regina Nascimento Horn (UERJ)
Introdução
e
Justificativa
O
objetivo deste
trabalho é
investigar, a
partir do
conceito bakhtiniano de heteroglossia,
que
recursos e
estratégias discursivas realizam a multivocalidade
em uma
obra da
Literatura
Infantil
contemporânea e de
natureza
fantasista. O
corpus
em
questão é o
livro “The Secret of Platform 13” (1994)
da escritora austríaca, radicada na Inglaterra, Eva Ibbotson.
Pretendo
analisar as
vozes de
dois
personagens da
trama,
um do
mundo
mágico e
outro do
mundo
real: o
primeiro
personagem é Odge Gribble, uma menina-bruxa,
integrante da
equipe
encarregada de
resgatar
um
príncipe raptado,
com
dotes
mágicos. O
segundo é o
suposto
príncipe raptado,
um
menino chamado Raymond Trottle,,
que vive
hoje
com uma
família
muito
rica de Londres,
cercado de
mimos e
vontades e
que na
realidade,
não tem
conhecimento de
seus
supostos‘poderes
mágicos’.
Devido ao
escopo do
trabalho, uma
comunicação
oral,
ele enfocará
somente a
perspectiva da
voz do narrador,
ou seja, o
discurso relatado
Revisão da
Literatura
Vista
sob uma
perspectiva
semiótica e
social, a
linguagem encontra-se na
base do
pensamento filosófico de Bakhtin, na
qual a
expressão do
indivíduo é
um
produto de várias
vozes interligadas, “fala-se a
respeito daquilo
que os
outros dizem” (Bakhtin,
2002: 139).
Heteroglossia na
visão de Bakhtin
Em “Dialogic Imagination” (1983:293), Bakhtin
descreve a heteroglossia
ou o
próprio
conceito de
voz
como a
interação de múltiplas
perspectivas
individuais e
sociais, representando uma estratificação e
aleatoriedade da
linguagem; mostrando-nos o
quanto
não somos
autores das
palavras
que proferimos. O filósofo russo diz
que
até
mesmo a
forma
pela
qual
nos expressamos vem imbuída de
contextos,
estilos e
intenções distintas, marcada
pelo
meio e
tempo
em
que vivemos,
nossa
profissão,
nível
social,
idade e
tudo
mais
que
nos
cerca.
Entretanto,
apesar de essa
natureza
dialógica
ser
conceito
central da
obra bakhtiniana,
segundo Brait (1994:12) permanece
ainda
em
aberto
devido às
diferentes
tentativas de se
compreender o
seu
funcionamento.
Assim sendo, o
estudo
que proponho
para a
compreender a heteroglossia
lança
mão do
trabalho
teórico de Leech e
Short (1981)
sobre
discursos
direto e relatado.
Esses
autores listam
pelo
menos
dois
modos
através dos
quais a
voz do narrador se
manifesta especificamente no
texto, assumindo
posições
narrativas:
a
primeira é
quando o narrador (a)
fala
sobre o
personagem,
geralmente
com
controle
total da
situação, e a
outra possibilidade é o
controle
parcial da
situação,
isto é, uma
espécie de
momento de
transição,
em
que se caracteriza
pela
aparição de
um
segundo
locutor no
enunciado atribuído a
um
primeiro “locutor”.
(Leech e
Short,1981:
324)
Análise
Em “O
Segredo da
Plataforma 13”, existem
vários
indicadores heteroglóssicos,
já
que,
através das
vozes dos
personagens, emanam caracterizações distintas.
Pode-se
dizer
que
este
texto representa
um
coro de
vozes
em competição, incluindo a
voz do
autor, do narrador, dos
personagens.
Um
exemplo
concreto da
voz
narrativa no
nosso
corpus,
são os
casos
em
que o narrador dá
voz ao
personagem e
complementa
com
um
verbo discendi,
como (‘said, asked, ordered, etc), sendo
através deste
processo
que o
personagem
passa a
ser
construído.
Assim, o
enunciado: “You try, Ben”, ordered Odge,
pressupõe uma
hierarquia., há uma
sugestão de
que, nesse
momento a
personagem Odge Gribble ordena
que
algo seja
feito. Uma reiteração de
verbos discendi desse
mesmo
campo
semântico pode
indicar a
predisposição desse
personagem a
vocalizar
ordens e
não
pedidos.
Já nas primeiras
páginas do
livro, os
personagens Raymond e Odge
são revelados
em
seus
traços
marcantes. O
menino Raymond é descrito
através dos
sons
que emite,
ora
através de
verbos,
ora
através de
discurso relatado
com
substantivos
como ‘screams’: “She had been making up her
face when Raymond’s screams began”. (Meus
grifos) (p.62),
ou
através de
discurso
direto,
através de
um
verbo discendi
como
em “I don’t like apple sauce”, whined
Raymond. (p.67).
Em
contraponto,
enquanto Raymond é
caracterizado
pelo
uso de “whine”,
que significa
choramingar, Odge,
por
exemplo é caracterizada
em
discurso relatado
como sendo o
oposto do
antagonista Raymond. Vejamos o
seguinte
exemplo:
“Odge was a hag. She was a
very young one, and a disappointment to her parents. (…) but Odge did
not whinge or whine. She was a strong-willed little girl.” (op cit:
27-29) (Meus
grifos), Odge,
que
também é
jovem, é
pintada
com
cores
mais positivas,
visto
que
em
contraponto a Raymond
ela
não
titubeia
nem choraminga.
Para
esclarecer
tal
processo, é
necessário
investigar
quais foram as
estratégias e
recursos utilizados
por Ibbotson ao
longo da
história e
este é
meu
propósito na
presente
pesquisa.
Discurso Relatado
como
marca heteroglóssica
Nesta
parte da
análise vamos
sugerir
níveis de heteroglossia no
texto. Ibbotson intercala os
dois
modos narrativos ‘do
contar e do
mostrar’ (Reuter, 1997:60) ao
longo da
trama – construindo na
imaginação do
leitor uma
espécie de
teatro de
marionetes,
onde o narrador (a) alterna
momentos de relato da
história e
em
seguida, dá a
voz aos
personagens
para
mostrar e
confirmar
para o
leitor
aquilo
que
já foi narrado. Ibbotson
usa
recursos
simples,
como
por
exemplo a
escolha de
certos
adjetivos,
advérbios e
registros de
emoção,
como o
uso de muitas
interjeições,
além de articuladores
textuais
como ‘but’, ‘and then’, ‘from that day on’.
Assim, a autora constrói
cada
personagem de
maneira
única e
peculiar e faz
com
que o
contar flua
naturalmente.
Percebemos
níveis de heteroglossia, dividos
em
três
instâncias:
nos
exemplos de
discurso relatado
com
verbos discendi
para,
através da
ocorrência
mais
freqüente deste
ou daquele
tipo, vermos
como a narradora caracteriza os
personagens
pelo
modo
como desempenham
seus
atos de
fala.
Um
segundo
nível se verifica
em
exemplos de
discurso relatado
sem os
verbos discendi.
Um
terceiro
nível é o
momento
em
que as
falas do narrador (a) e
personagem se entrelaçam marcando
claramente o
discurso do
outro no
discurso do
um.
O narrador heterodiegético
e
onisciente obviamente sabe
tudo
sobre os
personagens, dominando os
modos de
dizer dos
personagens e
seu
próprio,
já
que
ele
tudo pode. Neste
momento, o narrador detém o
controle
total do
ato de
contar. O narrador neste
caso
usa o
discurso
indireto
livre
ou o
discurso
indireto;
principalmente
através deste
último
recurso
sua
voz fica
mais
visível,
já
que todas as
falas
são mediadas
por
este narrador(a). No
primeiro
caso, trata-se de
marcar o
embate de
vozes, e
assim a
voz do
personagem se entrecruza
com a
fala do narrador; temos
então
um
forte
índice heteroglóssico e
dialógico,
como se a
voz do
personagem ecoasse de
dentro da
fala do narrador.
Em
outro
momento, o narrador dá a
voz aos
personagens,
por
meio de
verbos discendi.
Este
momento é o
que chamamos de
controle
parcial do narrador.
Assim, nesta
fase do
trabalho estarei examinando estas
três
situações.
Para
isto, selecionei algumas
passagens
onde
tais
situações ocorrem
com
ambos
personagens.
Controle
total do narrador
As
passagens a
seguir representam
exemplos de
discursos relatados
nos
quais o narrador (a)
não descreve os
pensamentos de
nenhum
personagem e exerce
domínio
total
sobre o
ato de
contar:
Discurso Relatado/Odge: “Odge hung her head. She
had not meant to betray the reason for their journey any more than she had meant
to ill-wish the Knickerbocker Glory, but she was a girl with strong feelings.
(p.83)
No
exemplo
acima, percebe-se
que o narrador (a) controla o
ato de
contar
totalmente na
medida
em
que é a
sua
voz
que caracteriza Odge
como uma
menina
com “strong feelings”.
Talvez esta
não fosse a
opinião de Odge
sobre
si
mesma,
porém
isto
não é
possível
saber,
já
que
quem
comanda a
situação é o narrador (a).
Discurso Relatado/Raymond: “That was how things
always ended on days when Raymond didn’t feel well enough to go to school –
with Raymond and Mrs. Trottle, dressed to kill, going to have lunch in
London’s grandest department store. (p.66)
O
exemplo
acima tem o
controle
total do narrador (a),
que
ainda faz
uso de
um
advérbio de
freqüência “always” dando a
entender
que o
fato de Raymond
fingir
estar
doente
para
não
comparecer à
escola vem sendo
acompanhado
pelo narrador (a) há
tempos, e
este
ainda acrescenta a
expressão ‘dressed to kill’,
que dá
um
ar de
ironia ao
contexto: imaginemos
que
depois de
toda a
cena de
gritaria
com o
objetivo de
faltar a
escola, Raymond e
sua
mãe estão super produzidos (dressed to kill),
para saírem
para
almoçar
em Londres.
Novamente,
tem-se
aqui
toda a
fala sendo
mediada
pela
visão do
narrador (a).
Discurso Relatado/Odge: From that day on,
Odge was a girl with a mission. She started school the following year and
worked so hard that she was soon
top of her class. She jogged, she threw boulders
around to strengthen her biceps, she studied maps of London, and tried to cough
up frogs. And a month before the gump was due to open, she wrote a letter to the
palace. (p.33)
É interessante
observar
que da
mesma
forma
que o narrador (a) constrói
seus
personagens
com caracterizações centradas nas
escolhas
lexicais,
não se pode
esquecer
que é a autora
quem tem o
domínio
sobre estas
escolhas.
Com o narrador (a)
onisciente e heterodiegético, ‘a girl with a mission’
não é o
que Odge diz de
si
mesma,
mas na
realidade,
suas
ações refletem esta
qualidade de perseverança. E o
leitor
só tem de
concordar
diante das
evidências
textuais.
A heteroglossia
por
verbos discendi
nas
falas de Raymond Trottle e Odge Gribble
Maingueneau (1997:87-88)
argumenta
que
em
um
nível microcontextual das
estruturas
lingüísticas, “não é
possível
negligenciar os
verbos destinados a
introduzir o
discurso relatado. De
fato,
em
função do
verbo escolhido (sugerir,
afirmar,
pretender...)
toda a
interpretação da
citação será
afetada.” Pode-se
acrescentar
ainda
que é
através da
freqüência de
determinado
verbo discendi, muitas
vezes
acompanhado
por
um
complemento adverbial,
que o narrador (a)
passa a
caracterizar
seus
personagens
pelo
modo
como desempenham
seus
atos da
fala.
Nos
exemplos a
seguir, tem-se uma
caracterização de Odge e Raymond,
nos
quais percebe-se
claramente
que
apesar de os
dois
personagens serem
voluntariosos, os
dois têm
vozes distintas, e é
justamente
através dos
verbos discendi
que o
leitor
passa
também a
construir os
personagens:
Discurso
Direto/Odge: “I will go”, she said aloud.
“I’ll make them let
me go.” (p.33)
No
exemplo
acima, a
maneira de
dizer de Odge é ‘aloud’, tem-se
então a
visão de
que
ou Odge está
nervosa,
ou é
autoritária
por
natureza.
Discurso Relatado/Odge: Odge looked at him
with loathing. (p.93)
Novamente neste
exemplo, Odge
não
olha
normalmente
para o
outro,
mas ‘with loathing’, o
que
muda a
interpretação
completamente da
maneira
como
ela está olhando
para Raymond.
Discurso
Direto/Odge: “He’s not a common servant
boy, he’s Ben,”raged Odge –
and took a step backward as the harpy lifted her dreadful
claw and sharpened it once, twice, three
times
against the step. (p. 193)
No
exemplo
acima, percebe-se
que Odge está
muito
aborrecida,
por
que o
verbo ‘rage’ incorpora
sua
fúria
em
defesa de Ben.
Abaixo, seguem
alguns
exemplos de
discurso relatado
com
verbos discendi na
construção de Raymond Trottle:
Discurso Relatado/Raymond: The dish was taken away
and Raymond decided to start with soup. “Only not with any
bits in it”, he shouted after the waitress.
“I don’t eat
bits.” (p.71)
No
caso de Raymond,
quando o narrador utiliza o
verbo discendi ‘shout’, tem-se
aqui a
interpretação de Raymond
como
um
menino
que
não sabe
falar,
mas
somente
gritar,
pois
em outras
instâncias,
ela
usa
também ‘yell’,
por
exemplo. A
construção deste
personagem vai tomando
forma
como
um
menino
voluntarioso,
porém
mal educado,
autoritário,
tudo
isso
por
causa da
carga
semântica dos
verbos discendi escolhidos e
em
alguns
casos,
com o
acréscimo de
complementos,
como é o
caso do
exemplo
abaixo,
onde Raymond responde à
mãe ‘crossly’, indicando
que a
maneira de
dizer foi alterada e
furiosa.
Discurso
Direto/Raymond: “It’s not a dream”, said
Raymond crossly. “They told
me. The old man in the park. And the lady with the
beetroot in her hat. I’m going to be a famous ruler and I don’t have to do
anything I don’t want to ever again. (p. 121)
Discurso
Direto/Raymond: “I don’t like applesauce”,
whined Raymond. ….. (p.67)
Neste ultimo
exemplo da heteroglossia
com o
uso de
verbos discendi, Raymond recusa o
purê de
maçã,
porém é o
verbo discendi
que tem a
função de
caracterização do
modo
como
ele proferiu aquela
fala. ‘Whine’ siginifica
choramigar, de
modo irritante e
por
isso cria-se uma
imagem de Raymond
como
um
menino
extremamente
mimado, e,
quando
lhe é
dada a
voz,
ele
só sabe
gritar,
choramingar,
entre outras
características
com
valores
semânticos
negativos.
Porém, é
preciso
lembrar
que é o narrador (a) neste
momento
parcial de
domínio
sobre o
enunciado
quem determina a
visão
que o
leitor terá
sobre
determinado
personagem e
dentre
estes
dois, Odge Gribble e Raymond Trottle,
apesar de serem
extremamente
voluntariosos, é o
segundo
quem será o
antagonista na
visão do
leitor
pela
forma
como é
construído.
A
fala de
outrem no
discurso do
autor
Neste
modelo heteroglóssico, as
falas dos
personagens e do
autor se entrelaçam de
maneira dissimulada, marcando
assim a multiplicidade de
vozes e
discursos na
narrativa. A
seguir, seguem
alguns
exemplos de Raymond e Odge
respectivamente.
Discurso Relatado/Raymond: “ Raymond was still
staring at the little creature. No one at school had anything like that. He’d be
able to
show it
off to everyone.
Paul had a tree frog and Derek had
a grass snake, but this would beat them all. (p.91-92)
No
exemplo
acima, o narrador (a)
começa a
contar a
reação de Raymond ao
ver
um ‘mistmaker’
pela
primeira
vez.
Entretanto, percebe-se
um entrecruzamento da
voz do narrador (a)
com a
voz de Raymond,
como se o narrador (a) apagasse uma
luz
ou a deixasse
opaca
para
dar
lugar a uma
luz
mais
forte
que é a de Raymond,
cujos
pensamentos afloram
claramente na
última
parte,
quando
ele diz
que
nenhum
animal de estimação iria se
comparar ao
seu mistmaker proveniente de uma
terra
mágica.
Discurso Relatado/Odge: Odge was very thoughtful as
she made her way back along the shore. (…) The Prince was only four months older
than she was. How did he feel, being Raymond Trottle and
living in the middle of London? What
would he think when he found out that he wasn’t who he thought he was?
And who would be chosen to bring him back? The
rescuers would be famous; they would go down in history. (p.32-33)
Da
mesma
forma, o narrador (a)
começa a
contar
como Odge está se sentindo ao
saber
que o
príncipe raptado está vivendo
em Londres. Aos
poucos, percebe-se
um apagamento da
voz do narrador (a)
para
dar
lugar aos
pensamentos de Odge
com
relação às
indagações
acerca da
vida do
príncipe.
Em
seguida, percebe-se o
lado
ambicioso de Odge,
sob a
perspectiva dela,
já
que é a
sua
voz
que ecoa na diegese do
texto.
Ela
pensa
que se for escolhida,
certamente ficará
famosa e entrará
para
história.
Uma
outra
estratégia observada no
texto estudado foi a
assídua
freqüência dos
adjetivos ao
longo do
enredo.
Portanto, faz-se
necessário
dar uma
maior
atenção à
escolha dos
adjetivos
que a narradora
usa e
que se “confundem”
com outras
vozes
pelo
texto.
A
adjetivação
como
recurso heteroglóssico
Segundo
Martins, (1989:79)
palavras de
significado
afetivo,
como os
adjetivos,
são
recursos estilísticos de
forte
efeito, “podendo
exprimir
emoção,
sentimento,
um
estado
psíquico”. A
autora acrescenta
que
também “são carregadas
de
afetividade as
palavras
que exprimem
julgamento
pessoal’,
por
exemplo, ‘bonito
ou
feio’, etc. Monteiro (1991:63) sugere,
além da
afetividade, “as
imagens
sensoriais (olfativas, tácteis,
visuais, auditivas, térmicas, gustativas,
cinéticas, etc.)
como
também
parte desta
cadeia
complexa de
vocábulos
ou
expressões
que funcionam
como
adjetivos. É
portanto,
através do
adjetivo
que o
falante caracteriza
emocionalmente o
ser de
que
fala.”
Nas
seguintes
passagens há inúmeros
exemplos de
marcas afetivas,
sensoriais e/ou
avaliativas
presentes
nos
discursos relatados dos
personagens,
foco de
minha
análise.
It was the most bitter disappointment. She would
have taken it better if the people who had been chosen were mighty and splendid
warriors who would ride through the gump on horseback, but they were not. A
wheezing old wizard, a slightly batty fey, and a one-eyed
giant who lived in the mountains moving goats about and making cheese. (p.33) –
OG
Ibbotson constrói
seu
enredo e delineia
seus
personagens,
através de,
dentre
outros
recursos,
adjetivos,
que
apesar de
numerosos e repetidos
não promovem
redundância no
texto.
Por
exemplo,
Quando a narradora descreve a
decepção de Odge
por
não
ter sido escolhida
para
integrar o
grupo de
resgate do
Príncipe, acentua
ainda
mais a
frustração da
bruxa acrescentando o
adjetivo ‘bitter’.
Por
outro
lado, a
escolha de ‘mighty’ e ‘splendid’
deixa
entrever a
capacidade de
avaliar a
situação
por
parte da
personagem, e,
por
que
não
dizer
sua
ironia
também,
já
que
diante de
seu
grande
desapontamento, Odge ironiza a
escolha dos
outros
integrantes, imaginando-os necessariamente
poderosos e
esplendorosos; no
entanto,
segundo
sua
maneira de
ver,
eles
não eram
pessoas
nem qualificadas
para a
tarefa do
resgate. Os
outros
adjetivos, ‘wheezing old’, ‘batty’ e ‘one-eyed’,
nos remetem a
questões de
julgamento
também, à
medida
em o
personagem classifica os
integrantes do
grupo de
resgate
com
adjetivos
depreciativos, descrevendo o
mago Cornelius
como
um
velho de
respiração
ofegante, uma
fada maluquinha e
um
ogro de
um
olho
só. Esta
caracterização está
longe de
ser aquela esperada
acerca dos
protótipos de
um
mago,
fada e
ogro de tantas
histórias infantis.
Além da
escolha
expressiva dos
adjetivos, percebe-se
também
que no
trecho
acima, as
vozes se misturam e
apesar de
aparentemente a narradora
ter
todo o
controle,
já
que o
que
ela
nos
conta
são os
pensamentos de Odge, parece
ser esta
quem
chama o
mago de
velho
ofegante, a
bruxa de maluquinha e o
Ogro de caôlho.
Por consequinte, nesta
passagem
quem
fala é a narradora,
mas os
pensamentos de Odge estão interligados nesta
fala, daí pode-se
considerar
que nesta
passagem temos
um
embate de
vozes,
principalmente a do narrador (a) e a de Odge,
criando
um
autêntico
momento de heteroglossia no
texto.
Por
outro
lado, no
exemplo a
seguir, percebe-se o
controle
total da narradora:
But Odge did not whinge or whine. She was a
strong-willed little girl with a chin like a prizefighter’s and long
black hair which she drew like a curtain when she didn’t want to speak to
anyone, and she was very independent. (p.29) - OG
No
exemplo
acima, o narrador (a)
não está descrevendo os
pensamentos de
ninguém;
ela escolheu
chamar Odge de ‘strong-willed’ e de ‘independent’,
além de
descrever
seu ‘long black hair’. Neste
caso, pode-se
confiar
que a
escolha destes
termos foi da narradora e de
mais
ninguém.
Quanto à
escolha dos
adjetivos, podemos
caracterizar os
dois
primeiros, ‘strong-willed’e ‘independent’,
como avaliativos,
sob a
ótica
exclusiva do narrador (a), e o
terceiro
bloco formado
por
dois
adjetivos, ‘long’ e ‘black, dão o
toque de
criação do
personagem
em
termos de
aparência,
informação esta
que é
fruto da
criação.
Conclusões
e
considerações
finais
Através dessa
análise, pode-se
concluir
que
em The Secret of Platform 13 existem
muitos
índices heteroglóssicos e os
vários
níveis de heteroglossia aproximam
ou afastam o
discurso do
outro. Apreende-se desta
análise
que o
momento
em
que existe
maior entrecruzamento de
vozes é na
fala do
outro no
discurso do autora.
Os
exemplos
selecionados
em (2.1.3) esclarecem o
que Bakhtin (2002: 111) define
como “uma das
variantes da
construção
híbrida
sob a
forma de uma
fala dissimulada de
outrem.” Temos
aqui
momentos
onde as
forças centrípetas e
centrífugas
entram
em
ação e as
vozes dos
personagens interagem umas
com as outras, incluindo a
voz do narrador (a), a da autora e a do
leitor. A
interação das múltiplas
perspectivas
individuais
através da
justaposição destas
vozes acrescentam uma
outra
dimensão ao
texto,
principalmente
quando o
teórico russo diz
que “não existem
fronteiras
para
um
contexto
dialógico” (op cit).
Percebemos
que a heteroglossia está
presente
em O
Segredo da
Plataforma 13
através de
recursos lingüístico-narratológicos
como a
escolha dos
verbos discendi e
também as
escolhas
lexicais,
como
por
exemplo os
adjetivos e
advérbios
que contribuem
em
grande
parte
para a
construção dos
personagens.
Através dos
exemplos
selecionados, observamos a
forte
presença da multivocalidade no
texto de Ibbotson e
também tivemos a
oportunidade de
constatar
que de
acordo
com a
interação dos
personagens,
autor e
leitor, o dialogismo ocorre
em
maior
ou
menor
grau.
Referências
bibliográficas
BAKHTIN,
M. M. Dialogic Imagination. Austin: University of Texas Press, 1983.
BAKHTIN,M. M.
Questões de
Literatura e
Estética, A
Teoria do
Romance.
São Paulo: Annablume, 2002.
BRAIT, B. Bakhtin, Dialogismo e
Construção de
Sentido.
Campinas: Unicamp, 1997
IBBOTSON, E. The Secret of Platform 13. New
York: Dutton Children’s Books, 1994.
LEECH, G.N e
SHORT, M. H. Style in Fiction, A Linguistic
Introduction to English Fictional Prose. Essex: Longman, 1981.
MAINGUENEAU, D.
Novas
Tendências
em
Análise do
Discurso.
Campinas:
Pontes, 1997.
MARTINS, N. S.
Introdução à
Estilística.
São Paulo: Edusp, 1989.
MONTEIRO, J. L. A
Estilística.
São Paulo: Ática, 1991.
REUTER, Y. A
Análise da
Narrativa.
Rio de
Janeiro: Difel, 1997.
Em
português:
“ O
Segredo
da
Plataforma
13”
Na
realidade,
Raymond Trottle
não
é o
menino
príncipe,
mas
a
equipe
de
resgate
acredita
que
ele
seja o
menino
raptado.
Ben é o
verdadeiro
príncipe,
porém
no
momento
ele
ainda
trabalha
como
empregado
da
família
Trottle.
Forças
centrípetas e
centrífugas
para
Bakhtin significam
respectivamente
forças
centralizadoras e descentralizadoras
em
qualquer
língua
ou
cultura.
O
teórico
russo diz
que
enquanto
a
poesia,
por
exemplo,
é
um
gênero
centralizador, o
romance
é o
oposto,
um
gênero
com
tendência
descentralizadora
cuja
característica
primordial
é a plasticidade
genérica.
Adaptado de Dialogic Imagination ( 1983: 425)