DA TEORIA À PRÁTICA
O TEXTO LITERÁRIO NO ENSINO DE E/LE.
Aline Pinheiro di Carlantonio da Rosa
Vanessa Macedo dos Reis Barroso
Ana Cristina dos Santos
Para o ensino e aprendizado de espanhol como língua estrangeira, os textos literários são materiais muito ricos, pois não se limitam a aspectos estruturais da língua. Tais textos também difundem a cultura de um povo. Além disso, favorecem o desenvolvimento de uma visão crítica nos alunos devido a elementos característicos da literatura, como a subjetividade e a ambigüidade, que estimulam discussões e permitem diversas interpretações para o texto. São fundamentais, portanto, por proporcionarem uma gama de alternativas de trabalho ao professor e despertarem o interesse dos alunos em cultura hispânica e hispano-americana, enquanto desenvolvem naturalmente a compreensão leitora, a produção oral e escrita.
É importante ressaltar que um texto não se resume à soma das palavras que o compõem. Deve-se valorizar a tipologia de cada texto e suas especificidades, as experiências pessoais dos alunos e seus conhecimentos de mundo associados a sua bagagem lingüística - como léxico, regras gramaticais, particularidades discursivas - para que as idéias do texto sejam compreendidas por cada aprendiz. A leitura, portanto, constitui-se de um processo interativo ente o autor, o mundo e o aluno. Apontamos, por isso, a leitura interativa como o modelo mais apropriado, visto que considera a leitura um processo de intercâmbio entre o leitor e o texto, através da reunião de informações ascendentes e descendentes. Este processo torna a atividade de ler uma tarefa de mão dupla, pois depende tanto dos traços lingüísticos do texto como dos sucessos vividos pelo aluno.
Utilizar o texto literário em aulas de espanhol é um estímulo lingüístico e cultural para os alunos e, ainda, apresenta uma finalidade comunicativa. A forma e o conteúdo do texto literário são elementos básicos para seu estudo. A primeira trata da estrutura da obra, dos recursos expressivos, da sintaxe e do léxico e o segundo se centra nas temáticas aludidas e nos elementos culturais ali presentes. Estes dados favorecem a aproximação cultural, ao mesmo tempo em que desenvolvem a interlíngua. Desta maneira o aluno adquire autonomia, amplia a léxico exercita a habilidade sintética e adquiri o domínio da língua em diferentes situações. Em suma, a abordagem de textos literários em aulas de E/LE é fundamental para transformação do aluno em um leitor mais crítico e sensível diante da leitura, de suas especificidades e detalhes discursivos.
Percebemos, como professoras, que muitos manuais didáticos trabalham o texto literário de forma limitada: os exercícios pouco favorecem a criatividade lingüística do aluno, ignoram as peculiaridades deste tipo de texto, como a ambigüidade e a subjetividade. Notávamos que os alunos não se mostravam motivados com essa abordagem. Desta forma, o texto literário parecia não contribuir consideravelmente para a aprendizagem da língua espanhola. Este quadro se faz presente em alguns cursos de idioma e escolas de ensino médio.
Após refletirmos sobre os fatos acima expostos, decidimos investigar diferentes maneiras de trabalhar o texto literário em aulas de E/LE e a opinião de professores de ensino médio sobre a importância do texto literário para a aprendizagem de espanhol. Para tanto elaboramos um questionário, que foi entregue a 15 professores de ensino médio, com o objetivo de tentar descobrir como esses profissionais trabalham o texto literário em aulas de E/LE e qual é a sua função na prática diária de tais docentes, para que possamos conhecer melhor seu papel no cotidiano escolar.
Enquanto os professores preenchiam os questionários, conversamos com alguns alunos para saber sua opinião sobre os textos que estudavam nas aulas de espanhol e como eram utilizados. Tais procedimentos foram fundamentais para verificar se há uma discordância entre a teoria e a prática do uso de textos literários em aulas de E/LE. Isso teve grande importância para a investigação, pois podemos comparar as respostas dos professores com os dados fornecidos pelos alunos, o que proporcionou veracidade nos resultados de nossa pesquisa.
Apresentamos a seguir os resultados e a análise da pesquisa realizada.
Segundo a entrevista, 64% dos educadores utilizam o livro didático indicado pela escola. Porém, nem sempre eles concordam com a sua abordagem. Nesses casos, o professor se sente insatisfeito porque não se identifica com a metodologia do material, mas continua utilizando-o, visto que, muitas das vezes, não têm alternativa.
A maioria dos professores (73%) revelou que utiliza outro material além do livro didático em suas aulas. Os materiais apontados foram textos, canções, livros semelhantes e gramáticas de espanhol para estrangeiro.
Constatou-se também que 91% dos professores utilizam o texto literário em suas aulas. Isso demonstra que a grande maioria reconhece o valor de tais textos para o ensino de língua espanhola.
O resultado do quarto gráfico nos surpreendeu. Observamos que 29% dos professores extraem textos de obras literárias. Porém, ao conversarmos com alguns alunos e depois de analisarmos o material utilizado, poucas vezes encontramos fragmentos destas obras.
Percebemos que 48% dos entrevistados preferem trabalhar o texto literário fazendo perguntas de interpretação. Geralmente estes tipos de exercícios são simples cópias de trechos que não despertam o interesse dos estudantes. Um número significativo (39%) utiliza-o para tratar de temas gramaticais e/ou lexicais - para esta finalidade se poderia utilizar qualquer tipologia textual. Como sabíamos antes de realizar a entrevista, a maioria dos professores não aproveitam tudo o que tem a oferecer o texto literário para as aulas de Espanhol como Língua Estrangeira (E/LE).
O resultado do sexto gráfico comprova o que foi afirmado anteriormente: o docente, em geral, prefere usar o texto literário para introduzir temas gramaticais, além de fazer uma interpretação e um resumo do texto.
Há uma diferença entre a quinta e a sexta pergunta: na quinta, o professor informa como trabalha o texto; na sexta desejamos saber como são os exercícios sobre os textos literários. Se 20% disseram que os exercícios abordam comentários sobre o autor, a obra e os elementos formais do estilo literário, nem todos consideram estes aspectos ao dar aula de E/LE, pois deste total somente 35% trabalham estas particularidades, como se pode perceber no quinto gráfico - 13% utiliza nas aulas as especificidades do estilo literário.
Pode-se notar que grande parte dos professores analisados (65%) não direciona seu trabalho a seu gosto. Seguem o método proposto pelo manual didático empregado pela escola - que, algumas vezes, trata-se de apostilhas feitas pela coordenação pedagógica da instituição - ou a escola estipula a conduta que o professor deve seguir. Acreditamos que o docente, nesta situação, torna-se frustrado por trabalhar de maneira diferente da que lhe parece mais apropriada.
Segundo as respostas dos professores que correspondem a 69% dos interrogados, os alunos se mostram motivados com a abordagem empregada no texto literário. Na prática, os alunos se encontram desatentos nas aulas de espanhol nas escolas de ensino médio. Talvez os estudantes acreditam que não é importante discutir os aspectos particulares do texto literário, que para aprender uma língua estrangeira o melhor é estudar uma grande quantidade de temas lexicais e gramaticais.
Com relação ao método empregado em aula, 67% dos professores entrevistados afirmaram que têm liberdade para mudá-lo ou dar sugestões para melhorá-lo. Mas, 33% dos docentes têm sua prática limitada ao desejo da instituição em que trabalham, mesmo que não considerem ideal a metodologia aplicada.
Sobre a maneira de trabalhar o texto literário em aulas de espanhol como língua estrangeira, 82% dos docentes acreditam que a sua é a melhor maneira e somente 18% destes professores afirmaram o oposto. Há, portanto, duas formas de analisar estes dados: uma é que eles imaginam que sabem trabalhar o texto literário, mas não conhecem suas especificidades, visto que a maioria dos entrevistados não apresentou justificativas consideráveis para esta pergunta; outra é que não poderiam melhorar seu método porque tal fato não era permitido pela instituição.
Ao perguntar aos professores que participaram da pesquisa se o texto literário é um material de difícil utilização em sala de aula, mais da metade, ou seja, 58% destes docentes contestaram negativamente e 42% afirmaram que seu uso era algo complexo. Observando estes dados, podemos pensar que estes profissionais estão capacitados para trabalhar qualquer tipo de texto, mas na realidade esta facilidade de manuseio do texto literário não ocorre, já que quase a totalidade dos entrevistados se aproveitam destes textos para tratar de temas gramaticais ou lexicais em aula.
Com o objetivo de saber quais são as estratégias usadas pelos professores entrevistados para lograr a compreensão textual, alcançamos os seguintes resultados: 35% dos professores afirmaram trabalhar os significados de todas as palavras desconhecidas ou não compreendidas pelos alunos; 34% afirmaram que faziam perguntas aos alunos sobre o cenário, os personagens, os problemas, as ações, as conseqüências e outros pontos da narrativa; e 31% resumiam as idéias principais do texto.
Pode-se acrescentar a este dado que os docentes, que fazem parte dos 35% dos entrevistados, não sabem o que é compreensão leitora, pois ao afirmar que trabalham todos os vocabulários não conhecidos, acabam por reduzi-la à soma das palavras que compõe o texto. Além disso, é importante lembrar que a menor porcentagem atingida nesta pergunta corresponde a uma das estratégias fundamentais para a utilização do texto literário em aula de E/LE, visto que favorece a análise mais aprofundada do tema geral.
Com relação à utilização do texto em aula de E/LE, a sua leitura e às atividades geralmente propostas pelos professores entrevistados, 21% afirmou trabalhar a leitura em três etapas: a pré-leitura, a leitura descoberta e a pós-leitura. Entre os entrevistados, 20% utilizava o texto literário para introduzir temas gramaticais e a mesma porcentagem afirmou trabalhar as especificidades do texto, como: tema principal, as condições históricas e sociais presentes na narrativa, as características dos personagens, os modos da narração, o léxico etc. Somente 17% destes professores preferiam utilizar o texto literário como proposta de produção escrita; 15% propunham mudar o texto, criando conseqüências ou finais distintos dos conhecidos e introduzindo as experiências pessoais dos leitores etc; e finalmente 7% partia da leitura para analisar os diferentes gêneros e subgêneros dos textos apresentados aos alunos.
É importante destacar que alguns professores, entre estes entrevistados, marcaram os itens que se referiam aos temas gramaticais, deixando de apontar aqueles que englobam as particularidades do texto literário e que são realmente fundamentais para o desenvolvimento intelectual do aprendiz.
Vale ressaltar ainda, que todas as opções apresentadas aos professores representam a abordagem completa de uma língua estrangeira, pois não se limitam nem às regras gramaticais ou à literatura e tão pouco as trabalham separadamente.
Através dos questionários preenchidos por professores de escolas públicas e privadas de ensino médio, de entrevistas realizadas com alguns alunos e, principalmente, da análise dos dados estatísticos da pesquisa, pode-se dizer que a maioria destes docentes utiliza o texto literário como mero pretexto para o ensino de temas gramaticais e lexicais, já que limitam a compreensão do texto à soma de suas palavras, deixando de valorizar sua tipologia e suas especificidades literárias.
Deve-se destacar também que em nossa pesquisa pôde-se perceber que há uma resistência por parte dos professores enquanto ao uso do texto literário em sala de aula. Como possíveis justificativas para esta resistência identificamos três razões: a dificuldade em trabalhá-lo, o desconhecimento de suas funções e o distanciamento da literatura no processo de ensino e aprendizagem do espanhol como língua estrangeira.
Uma solução para tais problemas é a busca por textos mais adequados à realidade de cada grupo de alunos. O professor, portanto, deve considerar a idade, as vivências, o grau de escolaridade, ou seja, o perfil de seus aprendizes. Além disso, deve escolher os textos de acordo com os objetivos educacionais desejados.
É fundamental que o professor não se limite aos antigos modelos de leitura bottow up (seus exercícios limitam-se a cópias de frases) e top down (seus exercícios privilegiam relatos de experiências pessoais sem referir-se ao tema do texto) e tente manter a interação constante dos alunos, trabalhando o texto literário em suas três etapas: a pré-leitura - para ativar os conhecimentos prévios do aluno, elaborar hipóteses a partir do título e observar os dados que compõem o texto -; a leitura descoberta - momento de comprovar ou descartar as hipóteses anteriormente propostas -; e a pós-leitura - que propõe novas leituras e exercícios que trabalhem a oralidade ou a produção escrita, apresentando-lhes as diferenças entre os textos literários enquanto analisam suas informações, traços lingüísticos e características literárias. Aquele que aprende a explorar o texto literário, a mudá-lo e recreá-lo segundo sua imaginação será um aluno verdadeiramente crítico e apto a utilizar a língua estrangeira que estuda - em nosso caso, o espanhol.
BIBLIOGRAFÍA
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Cuestionario
Ø
Se permite marcar más de una opción en las siguientes preguntas: 4, 5, 6, 7, 12 y 13.1) ¿La institución en que trabajas indica algún manual didáctico para la enseñanza de lengua española?
( ) Sí ( ) No
2) ¿Utilizas otro material didáctico, además del manual?
( ) Sí ( ) No
¿Cuál es? _________________________________________
3) ¿Utilizas algún texto literario para auxiliar y enriquecer la enseñanza del español como lengua extranjera?
( ) Sí ( ) No
4) ¿De dónde entresacas los textos literarios que usas en el aula?
( ) Del manual didáctico con lo cual trabajas.
( ) De algunas obras literarias.
( ) De la internet (pero pueden seguir siendo de obras literarias).
( ) De algún libro paradidáctico.
5) ¿Cómo trabajas el texto literario en clases de español?
( ) Haciendo preguntas de interpretación del texto.
( ) Utilizándolo para introducir temas gramaticales o lexicales.
( ) Utilizando sus particularidades o especificidades estilísticas (literarias).
6) ¿Cuáles son los contenidos abordados en los ejercicios que trabajan el texto literario?
( ) Temas gramaticales.
( ) Discusión sobre el tema o esencia del texto.
( ) Comentarios sobre el autor, la obra y sus elementos formales.
7) Esta manera de trabajarlo es:
( ) Indicada en el material didáctico.
( ) Exigida por la escuela en que trabajas.
( ) Adoptada según su preferencia.
8) ¿Observas que los alumnos se muestran motivados con la manera como presenta el texto literario en clase?
( ) Sí ( ) No
Justifica: _________________________________________
9) ¿Tienes libertad para cambiar el método empleado en tus clases o dar sugerencias?
( ) Sí ( ) No
10) ¿Crees que ésta es la mejor manera de trabajar el texto literario en clases de español como lengua extranjera?
( ) Sí ( ) No
¿Por qué? ________________________________________
11) En tu opinión, ¿el texto literario es un material de difícil utilización en el aula?
( ) Sí ( ) No
¿Por qué? ________________________________________
12) ¿Qué estrategias usas para que tus alumnos comprendan la lectura del texto?
( ) Haces preguntas sobre el texto: escenario, personajes, problemas, acciones, consecuencias de los hechos narrados etc.
( ) Resumes las ideas principales del texto.
( )Trabajas los significados de todas las palabras no conocidas o no comprendidas por los alumnos.
13) De las afirmaciones expuestas sobre el texto literario, marca las ideas en que estás de acuerdo.
( ) Utilizar el texto literario para tratar de temas gramaticales.
( ) Partir de la lectura del texto literario para proponer una producción escrita (redacción)
( ) Proponer la lectura del texto literario en tres etapas: la prelectura, la lectura descubierta y la postlectura.
( )Trabajar a partir de la lectura el género o subgénero del texto presentado a los alumnos.
( )Trabajar las especificidades del texto, como: tema principal, las condiciones históricas y sociales presentes en la narrativa, las características de los personajes, los modos de narración, léxico etc.
( ) Proponer actividades a los alumnos, como: inventar consecuencias, cambiar el final o parte del texto, introducir las experiencias personales de los lectores etc.