A
questão
da
brasilidade
em
Drummond e Mário
Matildes Demetrio dos
Santos (UFF)
Sou hereditariamente
europeu,
ou
antes:
francês.
Amo
a França. (Carlos D. de Andrade)
Em
Belo
Horizonte,
desde 1921, Carlos Drummond de Andrade pertencia a
um
grupo de
intelectuais
que se reunia no
Café e
Confeitaria
Estrela,
para
discutir
sobre
arte,
literatura e
política. Eram
moços
em
início de
carreira
que ansiavam
por
trazer a modernidade
para a
acanhada
sociedade
mineira, à
margem das
inovações
estéticas preconizadas
pelos modernistas dos
grandes
centros
urbanos.
Assim,
em 1924,
quando a
agitada
caravana
paulista, formada
por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do
Amaral e Blaise Cendrars,
dentre
outros, chegou à
capital,
depois da
célebre
visita às
cidades
barrocas,
muitos daqueles
jovens foram ao
bar do
Grande
Hotel
para travarem
conhecimento
com os
responsáveis pelas
inovações
que movimentavam a
cena
artística daquela
época. Nesse
encontro nasceu a
amizade
entre Mário e Drummond,
que se aprofundou
em uma substanciosa
correspondência,
que se estende de 28 de
outubro de 1924 a 23 de
fevereiro de 1945,
apenas
dois
dias
antes da
morte do
escritor
paulista.
Em
Confissões de
Minas, no
ensaio intitulado “Suas
cartas”, Drummond redimensiona essa
amizade ao
afirmar a
importância
capital
que Mário exerceu
sobre
sua
vida
pessoal e
artística.
Ele diz
que as
missivas de Mário “eram
torpedos de
pontaria
infalível”
que tinham a
força de
destruir
preconceitos culturais e
estéticos, eliminando
distorções e
interpretações errôneas. Nas
cartas, o
poeta de
Minas se deixava
ver: relatava
suas
atividades
como
jornalista, confessava-se inadequado à
vida
social,
pouco motivado a
tomar
decisões
pessoais e
até ofendido
por
ter nascido
em
um
país “infecto”,
como o Brasil.
Em
um
trecho da
carta de 22 de
novembro de 1924,
ele
fala da
importância
que
tinha Anatole France, o “gênio
francês”,
em
sua
vida
acadêmica.
Fora
ele
quem o ensinou “a
duvidar, a
sorrir e a
não
ser
exigente
com a
vida”. Persistia
em Drummond a
herança de uma
geração melancólica,
em
estreita
ligação
com o
desencanto
que imperava no
mundo
após a 1.ª
Guerra Mundial. Essa
carta,
sem nenhuma
ironia e
humor, traz o
tom de muitas outras
cartas,
que marcariam a
postura do gauche
em
confronto
com o
mundo à
sua
volta,
um
jovem
cético,
cansado
precocemente da
vida e envergonhado de
ter nascido no Brasil:
Não sou
ainda
suficientemente
brasileiro.
Mas, às
vezes,
me pergunto se
vale a
pena sê-lo.
Pessoalmente,
acho
lastimável
essa
história de
nascer
entre
paisagens
incultas e
sob
céus
pouco
civilizados. Tenho uma
estima
bem
medíocre
pelo
panorama
brasileiro. Sou
um
mau
cidadão,
confesso. É
que nasci
em
Minas,
quando devera
nascer (não
veja
cabotinismo
nesta
confissão,
peço-lhe!)
em Paris. O
meio
em
que
vivo
me é
estranho: sou
um exilado.
(ANDRADE, 2002: 56)
Nessa
confissão, Mário percebia de
imediato
que a
influência anatoliana
era
um
mal
que contaminava os
moços de
sua
geração, tirando-lhes a
vontade de
agir, tornando-os
infelizes, contaminados
pelo
que chamava de “moléstia
de Nabuco”, uma
doença
grave
que impedia o
trabalho de abrasileiramento do
país,
pois os
jovens viviam
com os
olhos voltados
para a Europa. Aos
olhos de Mário, o
moço de
Minas,
com
apenas vinte
anos, julgava-se
velho, nutria-se de
literatura,
era
requintado
intelectualmente, admirava os
mestres franceses do
final do
século XIX e,
sob essa
influência, adotava uma
postura filosófica
que o afastava da
vida e do
convívio
com os
outros
homens.
Por
seu
lado, comprometido
com o
projeto de modernização do
país, Mário acreditava na
construção de
um
futuro
promissor
para a
história
nacional e considerava
um
dever
denunciar o
caráter
falso e
prejudicial da
cultura importada na
literatura
brasileira.
Fiel a
esse
princípio,
toma
para
si a
missão de
empreender uma
campanha
contra a
influência dessa
tradição européia ancorada na
descrença e no
pessimismo. Pensando dessa
maneira, diz a Drummond
que faltava à
juventude
brasileira o
otimismo
pessoal e
social
que edifica e,
para
exemplificar
seu
ponto de
vista, confessa
que, no
seu
cotidiano,
ele cultivava o
gosto
pela
vida
com todas as
suas
conseqüências e
responsabilidades. Afirmava
que
era
possível
atingir a
plenitude
que engrandece o
ser
humano
quando se
passa a
viver a
vida
com
religião ligado a
tudo o
que existe e o
segredo estava
em
gostar da
vida.
Para
comprovar
sua
tese, revelava
que
para o
seu
próprio
bem
estar,
ele buscava a reconciliação
entre o
gozo do
corpo e do
espírito: “Eu
tanto aprecio uma boa
caminhada a
pé no
alto da
Lapa
como uma tocada de Bach”.
Com
indignação,
insistia
que
Anatole representava a
inteligência
estagnada, a
indiferença
diante
do
futuro,
uma
maneira
de
ser
que
obstruía a
construção
de uma
sociedade
que
buscava a modernidade.
Portanto,
Drummond,
um
jovem
em
início
de
carreira,
deveria reconciliar-se
com
a
realidade
brasileira
e
não
insistir
na
repetição
da
tradição
livresca
e
passadista,
mas
criar
perspectivas
próprias,
fixar
objetivo
e
rota
para
sua
arte,
como
ser
brasileiro,
diferente
por
natureza
do
europeu.
Com
convicção
e
franqueza,
definia
sua
posição:
Mas
meu
caro
Drummond,
pois
você
não
vê
que
é
todo
o
mal
que
aquela
peste
amaldiçoada fez a
você!
Anatole
ainda
ensinou
outra
coisa
de
que
você
se esqueceu: ensinou a
gente
a
ter
vergonha
das
atitudes
francas,
práticas,
vitais.
Anatole é uma
decadência,
é o
fim
de uma
civilização
que
morreu
por
lei
fatal
e
histórica.
Não
podia
ir
pra
diante.
Tem
tudo
que
é
decadência
nele.
Perfeição
formal.
Pessimismo
diletante.
Bondade
fingida
porque
é
desprezo,
desdém
ou
indiferença.
[...] Fez
literatura
e
nada
mais.
E agiu dessa
maneira
com
que
você
mesmo
se confessa atingido: escangalhou os
pobres
moços
fazendo deles uns
gastos,
uns
frouxos,
sem
atitudes,
sem
coragem,
duvidando se
vale
a
pena
qualquer
coisa,
duvidando da
felicidade,
duvidando do
amor,
duvidando da
fé,
duvidando da
esperança,
sem
esperança
nenhuma,
amargos,
inadaptados,
horrorosos.
Isto
é
que
esse
filho-da-puta fez. [...]
Você
diz
que
ele
ensinou
você
a
não
ser
exigente
com
a
vida...
Como
isso!
Se
você
se confessa
um
inadaptado e tem
um
errado
desprezo
pelo
Brasil e os
brasileiros.
(Carta
sem
data,
p. 67-68)
A
crítica
lançada
num
estilo
límpido
e
espontâneo
reprovava aquela
forma
de
vida
diletante
de
ser.
Drummond
não
sabia
harmonizar
o
trabalho
intelectual
com
o
prazer
do
corpo,
tudo
porque
não
sabia
gostar
da
vida.
Mário, naqueles
primeiros
anos
do
Modernismo,
reafirmava a
alegria
de
viver
e
tinha
a
sensibilidade
aberta
para
o
mundo
à
sua
volta.
Em
vários
momentos
da
correspondência,
ele
aconselhava o
amigo
a
não
olhar
a
vida
com
temor,
pedia
que
saboreasse as
paisagens
de
Minas
e procurasse
conversar
com
toda
a
gente,
principalmente,
com
as
pessoas
humildes
e sofridas, buscando as “fontes
emocionais”
da
cultura
brasileira.
No
propósito
de
unir
vida
e
arte,
ele
relata
um
fato
que
viveu no
Rio
de
Janeiro,
num
sábado
de
carnaval,
que
o motivou a
escrever
“Carnaval
Carioca”,
publicado na
obra
Clan do Jaboti. Explica
que
o
poema
nasceu
quando
ele,
já
reconciliado dos
ritos
e da
festa
carnavalesca,
foi surpreendido
pela
lembrança
da
negra
que
dançava
como
se estivesse possuída
por
um
deus
triunfante.
Ela
requebrava e cantava
com
tamanha
paixão
que
beirava o
divino.
Mário observou
que,
ao
seu
redor,
havia
muita
animação,
mas
as
pessoas
dançavam
maquinalmente,
olhando
para
os
lados,
atentos
às
excitações
externas.
Ela,
ao
contrário,
“não
olhava
pra
lado
nenhum.
Vivia a
dança”.
Conclui:
aquele
fervor
religioso,
seja
para
salvar-se
ou
perder-se,
era
a
lição
que
o
artista
deveria
imitar
desde
o
princípio.
A
crença
na
vida
requeria,
portanto,
uma
doutrina
estética
que
respondesse
com
vibração
aos
temores
e
desejos
dos
homens.
“Carnaval”
oferecia uma
resposta
moderna:
descrevia uma
festa
nacional,
cantava a
alegria,
o
transitório
da
vida,
a
sensualidade,
o
prazer
de
viver,
numa
linguagem
viva,
própria
das
cidades
modernas,
com
seus
barbarismos
e
neologismos.
Evoca a
música
com
suas
múltiplas
associações,
do
acorde
erótico
dos
corpos
em
movimento
ao
acorde
das
diferenças
coletivas, captava
flashes
de
pessoas
anônimas, impondo-se
sobre
o
preconceito
das
imposições
sociais,
exprimindo
um
jeito
carioca
de
ser.
No
poema,
de 1923, dedicado a Manuel
Bandeira,
pode-se
ler:
Carnaval...
A
baiana
se foi na
religião
de
Carnaval
Como
quem
cumpre uma
promessa.
Todos
cumprem
suas
promessas
de
gozar.
Explodem
roncos
roucos
trilos
tchique-tchiques
E o
falsete
enguia
esguia
rabejando
pelo
aquário
multicor.
Cordões
de
machos
mulherizados,
Ingleses
evadidos da pruderie,
Argentinos
mascarando a
admiração
com
desdéns
superiores
Degringolando
em
lenga-lenga de
milonga,
Polacas de
indiscutível
índole
nagô,
Yankees
fantasiados de
norte-americanos...
Coiòsada
emproada
se aturdindo turtuveando
Entre
os
carnavalescos
de
verdade
Que
pererecam pararacas
em
derengues meneiros
cantigas,
Chinfrim
de
gozar!
(ANDRADE, 1979: 112)
Refutando
sempre
a
influência
de Anatole France, Mário aconselhava Drummond a
fugir
das
inspirações
fáceis e a
não
ceder
às
modas
literárias, fugindo da
retórica
clássica
e do
didatismo
dos
parnasianos
e simbolistas.
Ele,
por
sua
inteligência
privilegiada, deveria
somar
esforços
na
luta
pelo
abrasileiramento do
país.
A
idéia
do modernista
paulista
era
formar
aqui
uma
comunidade
de
jovens
atuantes,
lendo a
história
do Brasil, renovando e procurando,
pela
invenção
e
criatividade,
integrar
o
país
no
movimento
universal
das
idéias.
No
mesmo
ano
de 1924, Mário intensificava
seu
estudo
sobre
os
valores
cultuados
pelo
povo
brasileiro
e pesquisava o
substrato
nacional
expresso
na
literatura
oral
e
folclórica.
Dedicava-se às
pesquisas
sobre
a
língua
falada
no
cotidiano,
catalogando
palavras
que
tinham
peso
significativo,
anotando
adágios
e
provérbios
que
ilustravam a
sabedoria
popular.
Na
opinião
de Mário de Andrade, as
discussões
sobre
o
Modernismo
abriram
um
espaço
na
cultura
brasileira
que
precisava
ser
preenchido. No
princípio,
a
arte
nacional
fora
um
reflexo
da
arte
européia
mas
houve
sempre
um
desejo
de
transgredir
o
modelo
oficial.
A
partir
de 1922,
esse
desejo
se intensifica e os
artistas
nacionais
buscavam
construir
uma
arte
cosmopolita,
expressão
de uma
maneira
própria
de
ser.
Era
urgente
persistir
nesse
caminho,
uma
vez
que
a
literatura
brasileira
ainda
estava impregnada de
regionalismos
ou
provincialismos, uma
visão
estreita
que
se perdia no
preciosismo
ou
na
banalidade,
ora
enaltecendo
ora
denegrindo a
terra
e o
homem
do
interior.
Naturalmente,
ele
respeitava o
regionalismo
de Valdomiro
Silveira,
de Simões Lopes
Neto,
de Hugo de
Carvalho
Ramos
que
contribuíam
para
a
compreensão
de
ambientes
rurais
ignorados
para
a
ficção
brasileira
mas
pecavam
pela
fidelidade
de
descrição,
herança
de uma
práxis
herdada do
Naturalismo.
Da
mesma
forma,
parecia-lhe
absurda
a
oposição
entre
nacionalismo
e
universalismo.
Existe, dizia
ele,
“mau
nacionalismo”
ou
“regionalismo
exótico”,
ambos
ineficientes
como
expressão
nacional.
O
primeiro
tem
por
base
uma
ideologia
que
exalta a
grandeza
da
pátria,
sem
espírito
crítico.
O
segundo
é
forma
estática
e isolada,
que
não
atinge o
particular
da
situação
brasileira
e,
socialmente,
nada
traz de
novo,
porque
esteriliza as
deficiências
vigentes. Os
seus
argumentos
se apoiavam na
idéia
de
que
o
processo
de modernização do
país
deveria
encarar
criticamente a
realidade
nacional,
em
um
trabalho
que
exigia
seriedade
e
disciplina,
sem
a
passividade
do
regionalismo,
restrito à
descrição
do circunstancial e do
geográfico;
e
logo
em
seguida
evoluir
para
o
universalismo
que,
na
sua
opinião
é uma
forma
harmoniosa
de
ser
em
união
com
as
demais
etnias.
Aproveitando-se da
linguagem
musical
para
explicar
sua
teoria,
Mário tece uma
linha
de
pensamento
conciliador
que
vê
todas as
raças
como
“acordes
musicais”,
logo
o Brasil
só
precisava
realizar
o
seu
acorde
para
entrar
na “harmonia
da
civilização”.
Melhor
dizendo:
não
se tratava de
querer
nivelar,
tentar
ser
igual
ou
superior
mas
somar
em
nível
de
igualdade.
Com
uma
lógica
impecável,
ele
expunha
seu
pensamento:
De
que
maneira
nós
podemos
concorrer
pra
grandeza
da
humanidade?
É sendo franceses
ou
alemãs?
Não,
porque
isso
já
está na
civilização.
O
nosso
contingente
tem de
ser
brasileiro.
O
dia
em
que
formos
inteiramente
brasileiros
e
só
brasileiros
a
humanidade
estará
rica
de
mais
uma
raça,
rica
duma
nova
combinação
de
qualidades
humanas. As
raças
são
acordes
musicais.
Um
é
elegante,
discreto,
cético.
Outro
é
lírico,
sentimental,
místico e
desordenado.
Outro
é
áspero,
sensual,
cheio
de
lambanças.
Outro
é
tímido,
humorista
e
hipócrita.
Quando
realizarmos o
nosso
acorde,
então
seremos usados na
harmonia
da
civilização.
Me
compreende
bem?
[...]
Você
faça
um
esforcinho
pra
abrasileirar-se.
Depois
se acostuma,
não
repara
mais
nisso e é
brasileiro
sem
querer.
(Carta
sem
data,
2002: 70)
Nesta
concepção
de
construção
literária,
a
resposta
para
o “abrasileiramento do
brasileiro”
significava
estudar,
analisar
e
interpretar
a
cultura
brasileira,
questionando e considerando as
particularidades
da
história,
da
língua,
da
vida
nacional.
Não
se tratava de
combater
o
passado
em
nome
da atualização/modernização da
arte
brasileira
mas
de
introduzir
a
ótica
do
nacionalismo
crítico
no
processo
de renovação.
Confiante,
Mário teorizava
sem
correr
o
risco
de
parecer
otimista
demais
ou
pessimista
em
excesso,
pois
a
solução
para
eliminar
o
apertado
dilema
entre
nacionalismo
e
universalismo
era
a
crença
na sabença,
termo
empregado
por
ele.
Nessa
perspectiva,
a
tarefa
do
intelectual
brasileiro
era
a de integrar-se ao
mundo
civilizado, emitindo
seu
próprio
“som”,
em
meio
a
outros
sons,
como
se fosse
um
“instrumento
acorde”,
diferenciado e
harmonioso.
Pragmático,
Mário confessava a
sua
determinação
em
priorizar
a
pesquisa
em
detrimento
da
criação
artística.
Ele
tinha
a
noção
de
que
“se sacrificava”
em
prol
do
país.
A
luta
para
sedimentar
o
credo
modernista, a
língua
que
passa
a
escrever,
as
leituras
e
pesquisas
sobre
a
cultura
brasileira,
as
viagens
de
reconhecimento
pelo
cidades
brasileiras,
enfim,
o
transitório
seria o
que
não
podia
ser
sacrificado. O
que
seria sacrificado
então?
O
eterno,
a
realização
de uma
obra
duradoura.
Fiel
a
esse
objetivo,
contribuiu
para
uma
série
de
áreas
do
pensamento
nacional,
pesquisando e catalogando
cantigas
e
canções
antigas, escrevendo
artigos
e
ensaios,
correspondendo-se
com
intelectuais
e
artistas
pelo
Brasil; deixando,
como
confessa, a
criação
literária
de
lado
ou
fazendo dela
veículo
para
a
realização
plena
das
novas
idéias.
A
consciência
de
sua
missão,
depreende-se na
mesma
carta
de
dez
de
novembro
de 1924: “A
minha
vaidade
hoje
é
ser
transitório.
Estraçalho a
minha
obra,
penso
ingênuo,
só
pra
chamar
atenção
dos
mais
fortes
do
que
eu
pra
este
monstro
mole
e
indeciso
ainda
que
é o Brasil”.
Depois
da publicação de Paulicéia
desvairada,
Mário desenvolve os
conceitos
de “literatura
de
circunstância”
para
definir
a
obra
que
se inscreve criticamente no
presente
de
seu
país.
O
fato
de
escrever
“língua
imbecil”
e de “pensar
ingênuo”
era
uma
maneira
consciente
e
corajosa
de
chamar
a
atenção
para
o
português
falado
pela
maioria
do
povo
brasileiro.
Da
mesma
forma,
quando
viajava
seu
propósito
era
descobrir
os
traços
fundamentais
da
psicologia
dos
brasileiros
para
só
depois
exercer
a
crítica
sobre
as
realidades
detectadas. Num
movimento
dinâmico,
volta-se
para
o
remetente
e faz o
convite:
Carlos,
devote-se ao Brasil,
junto
comigo.
Apesar
de
todo
o
ceticismo,
apesar
de
todo
o
pessimismo
e
apesar
de
todo
o
século
19, seja
ingênuo,
seja
bobo,
mas
acredite
que
um
sacrifício
é
lindo.
O
natural
da
mocidade
é
crer
e
muitos
moços
não
crêem.
Que
horror!
Veja os
moços
modernos
na Alemanha, da Inglaterra, da França, dos
Estados
Unidos, de
toda
parte:
eles
crêem, Carlos, e
talvez
sem
que
o façam
conscientemente,
se sacrificam.
Nós
temos
que
dar
ao Brasil o
que
ele
não
tem e
que
por
isso
até
agora
não
viveu,
nós
temos
que
dar
uma
alma
ao Brasil e
para
isso
todo
sacrifício
é
grandioso,
é
sublime.
E
nos
dá
felicidade.
(Carta
de 10 de
novembro
de 1924, .51)
O
companheiro
mais
moço
não
se julgava
propenso
ao
sacrifício
porém
buscava nas
lições
do
amigo
uma
compreensão
mais
ampla
para
o
homem,
o
poeta
e
sua
lírica.
Grande
parte
da
correspondência
de Drummond é marcada
pela
reflexão
do
sujeito
desajeitado
diante
de
tantos
desejos,
tantos
sentimentos,
tantos
enigmas.
Face
a
um
destinatário
carismático
e
aberto
para
o
futuro,
no
entanto,
ele
se predispõe ao
diálogo,
partilhando
preocupações,
tematizando
idéias
que
usaria
para
estabelecer
a desejada
relação
entre
vida
e
obra.
Considerando o
apertado
dilema
entre
nacionalismo
e
universalismo
de Mário, o
intelectual
mineiro
se afirmava
herdeiro
de uma
tradição
ocidental
sem
fronteiras
culturais. No
seu
ponto
de
vista
o
artista
é
um
cidadão
do
mundo,
dono
de uma
liberdade
espiritual
aberta
a todas as possibilidades. De
antemão,
concordava
que
o
modelo
anatoliano
era
redutor e deveria
ser
rejeitado, no
entanto
nacionalizar
a
arte,
tingindo-a
com
as
cores
da
pátria,
era
também
um
erro.
O
artista
que
agisse desse
modo
estaria solapando a
verdade
e comprometendo a
validade
de
sua
obra.
Para
ele
havia uma
distinção
entre
ser
nacionalista,
ter
princípios,
trabalhar
com
ética
e
honestidade,
fazer
estatutos
que
beneficiem a
coletividade,
e
ser
artista
com
a
tarefa
de
construir
uma
obra
em
consonância
com
o
mundo:
Como
dizer
a
um
escritor:
escreva
brasileiro
se
deseja
ser?
Há
mil
maneiras
de
ser.
Um
dia,
eu
serei, e acabou-se... Se
não
for, é
porque
sou
um
cretino
irremediável,
e de
nada
me
valerá
recorrer
aos
enternecimentos
patrióticos
[...] Escute. Há
ocasiões
em
que
eu
me
sinto enquadrado no
meio
natal.
Sou
um
com
a
minha
gente.
Nessas
ocasiões
sou
brasileiro
como
os
que
mais
o sejam [...] E
como
é
bom
ser
brasileiro!
Contudo,
não
é o
único
bem
da
vida.
Daí
amanhecer,
outros
dias,
norueguês
ou
tchecoslovaco
(mais
freqüentemente,
francês).
Isto
é o
que
eu
chamo de
liberdade
espiritual.
Este,
sim,
o
maior
bem
da
vida.
Ser.
Mas
ser
tudo.
Não
somente
brasileiro.
É
tão
pequeno
o Brasil. (Carta
de 30 de
dezembro
de 1924: 79)
Assim,
enquanto
Mário clamava
pela
tradição
brasileira
no
contexto
universal,
Drummond reafirmava a
tradição
européia no Brasil e, ao
mesmo
tempo,
lastimava o
qual
“pequeno”
,
inculto
e
pouco
civilizado
era
o
seu
país
de
origem.
Entretanto,
pouco
a
pouco,
os
argumentos
de Mário tiveram o
poder
revolucionário
de
ampliar
os
valores
cultuados
pelo
poeta
amigo,
despertando
sua
potencialidade
criativa,
pois
o “professor”
sabia
como
nenhum
outro
passar
lições
de
forma
envolvente,
com
exemplos
lúcidos,
citando
tópicos
de
sua
obra,
aprofundando
dados
estéticos,
alargando
perspectivas,
divergindo
quando
necessário,
no
esforço
de
legitimar
uma
nova
concepção
do
mundo
e da
literatura.
As
discussões
evoluem e, das
cartas,
ganham a
literatura.
Nesse
ponto,
o
leitor
reconhece
que
o
poeta
mineiro,
sob
a
influência
do
mestre
paulista,
enveredava a
passos
largos
pelo
Modernismo,
mostrando-se
solidário
às
manifestações
da
vida
e
fortemente
empenhado na
função
de
refletir
criticamente
sobre
a
realidade
do
seu
tempo.
O
exemplo
mais
imediato
dessa
mudança
aparece
em
dezembro
de 1925,
quando
o
jornal
A
Noite
publicou uma
série
de
textos
sob
o
título
“O
Mês
Modernista”,
com
a
finalidade
de
divulgar
as
novas
concepções
artísticas. Mário foi
convidado
a
participar
e inclui o
amigo
de
Minas
entre
os colaboradores. Drummond
estréia
na
edição
de 29 de
dezembro
de 1925,
com
“Taí!”,
um
texto
muito
bem-humorado,
que
desconcerta os
leitores
mais
tradicionais
pelo
radicalismo
das
posições
de
seu
autor.
O
título
é
empréstimo
de uma marcha-canção de Joubert de
Carvalho,
sucesso
na
voz
de Carmem Miranda. Ferindo as
normas
gramaticais,
o
artigo
inicia
com
um
pronome
oblíquo:
Me
parece
que
o
Modernismo
brasileiro
precisa
abandonar
de
todo
o
respeito
de
papão
da
tradição,
e insiste nessa
prática
comum
na
linguagem
oral.
Para
escândalo
dos
saudosistas,
assume uma
postura
contra
o
passadismo,
combatendo as “fórmulas
caducas”, reagindo
contra
“tudo
quanto
é
antigo,
carunchoso,
pau”.
Para
o
jovem
curado da “doença
de Nabuco”, o
Modernismo
brasileiro
tinha
como
valor
inestimável
o
princípio
de
evolução,
uma
vez
que
graças
a
Deus
o Brasil
não
tem
tradição.
É
terra
que
nasceu
ontem
e treme
ainda
no
alvoroço
das
descobertas.
E conclui fazendo a
apologia
da
vida
e do
presente,
reiterando
sua
aversão
a
tudo
o
que
é
caduco.
Entretanto,
além
das
irreverências
e dos
exageros
de
vanguarda,
o “gauche”
não
escondia o
seu
desconcerto no
mundo
nem
o
esforço
da
luta
obstinada
pela
expressão
poética,
dados
que
irão
marcar
substancialmente
a
sua
obra:
(Gastei
horas
pensando
um
verso/
que
a
pena
não
quer
escrever./
No
entanto
ele
está
cá
dentro/
inquieto,
vivo...
“Poesia”,
Alguma
poesia).
Ou
a
memória
que
se inscreve
em
fragmentos
que
a
escritura
poemática transcreve: (Carrego
comigo/
há
dezena
de
anos/
há
centenas
de
anos/
o
pequeno
embrulho.
“Carrego
comigo”,
A
rosa
do
povo).
Sensível,
o
artista
percorre
caminhos,
tropeçando no
cotidiano,
respondendo aos
apelos
da
vida
social,
profundamente
armado a
cada
manifestação
poética
de alguma
revelação
fundamental.
A
cada
carta,
Mário percebia a
mudança
de
mentalidade
do
amigo
que
se revela
em
toda
a
sua
dimensão
na
primeira
obra
publicada, Alguma
poesia,
que
contém a
produção
poética
entre
1923 a 1930. Nela, encontra-se o
famoso
“No
meio
do
caminho”,
considerado
por
muitos
críticos
como
uma
síntese
do
espírito
polêmico do
Modernismo
e
um
flagrante
da
psicologia
dramática
do
poeta
e
também
o
poema
“Fuga”
que
aborda de
forma
zombeteira
a
saída
estratégica
do
poeta
anatoliano,
vestido
de
fraque
preto,
deixando o
país
sob
vaias
estridentes:
O
poeta
vai enchendo a
mala,
Põe
camisas,
punhos,
loções,
Um
exemplar
da
Imitação
E
parte
para
outros
rumos.
[...]
Povo
feio,
moreno,
bruto,
Não
respeita
meu
fraque
preto.
Na Europa
reina
a
geometria
E
todo
mundo
anda
–
como
eu
– de
luto.
Não
se pode
duvidar
da
intenção
humorística, visando
ridicularizar
os
defensores
das
tradições
francesas no Brasil
moderno.
Neste
contexto,
delineia-se a
convicção
de
que
cabia ao
artista
escolher
um
rumo
dentro
do
país
contra
a
adesão
cega
aos
modismos
das
vanguardas
estrangeiras.
Outro
poema
dotado do
mesmo
senso
de
humor
é o “Lundu
do
poeta
difícil”,
de Mário de Andrade, da
obra
A
costela
do
grão
cão,
em
que
se rejeita a
velha
mentalidade
de
que
muitos
artistas
brasileiros,
divorciados de
sua
origem,
se reconhecem e se integram
perfeitamente
à
cultura
importada.
Os
pregadores
do
Modernismo
são
particularmente
virulentos,
inclinados à
alegria
barulhenta,
ao
riso
e à parodia.
Todavia,
a
vinculação
de Drummond aos
postulados
de vinte e
quatro
evidencia-se de
forma
ambivalente.
Seus
poemas
têm o
tom
do
riso
moderno,
discreto
e
reflexivo.
O
poeta
reage
contra
o
artifício,
o
psicológico
e o
gratuito,
torna-se participante e
solidário,
adquirindo a
ambigüidade
fundamental
do
homem.
Em
“Explicação”,
o
poeta
se apresenta, de
antemão,
como
o
brasileiro
sem
pretensão
de
criar
para
si
novas
paisagens
ou
pretender
fugir
para
terras
distantes;
todos
os
gestos
são
de
aceitação
e
todo
o
desejo
é de
viver
a
condição
de
ser
gente
entre
sua
gente.
Quer
o
homem
maduro
estabelecer
um
elo
de
identidade
com
o
bem
e o
mal
de
sua
terra
e
quer
ainda
se
julgar
livre
para
criticar
à
vontade,
numa
atitude
irônica,
de
não
levar
nada
a
sério,
na
certeza
de
que
uma
hora
tudo
se
arranja
da
melhor
maneira:
Quem
me fez
assim foi
minha
gente e
minha
terra
e
eu
gosto
bem de
ter nascido
com essa
tara.
Para
mim,
de todas das
burrices
a
maior
é
suspirar
pela
Europa.
[...]
Aqui ao
menos a
gente sabe
que
tudo é uma
canalha
só,
lê o
jornal, mete a
língua no
governo,
queixa-se da
vida (a
vida está
tão
cara)
e no
fim dá
certo.
O
adepto
dos
postulados
modernistas valoriza a
comunicação
imediata,
em
íntimo
contato
com
a
fala
coloquial.
Versos
longos,
explicativos,
conversa,
tipo
confissão
e
desabafo,
característica
de
um
tipo
de
público
acostumado a
discussões
junto
aos
amigos:
uns protestam,
outros
criticam, os
mais
indiferentes,
dançam
com
os
ombros;
no
final
se reconciliam. É uma
poética
que
se
expressa
como
depoimento/documento
de uma
postura
ideológica.
As
posturas
de
descontentamento,
protesto,
ironia
no
entanto
sem
perda
da
esperança
marcam as
obras
dos
intelectuais
modernistas.
Em
A
rosa
do
povo,
o
poeta
capta o
sentimento
triste
do
mundo
assolado
pela
guerra,
no
entanto
não
perde a
esperança
na
redenção
e na
utopia
de uma
mudança
para
a
humanidade.
Solidário
e
fraterno,
o
novo
homem
caminha
com
maturidade,
descobrindo e experimentando,
através
de
sua
arte,
a
vida
em
meio
ao
caos:
Façam
completo
silêncio,
paralisem os
negócios,/
garanto
que
uma
flor
nasceu. [...] É
feia.
Mas
é uma
flor.
Furou o
asfalto,
o
tédio,
o
nojo
e o
ódio.
(“A
Flor
e a
Náusea”)
A
partir
desse
momento
histórico,
os
dois
intelectuais
se unem na
defesa
de
um
projeto
artístico
renovador
em
que
a
arte
não
é
rota
de
fuga
porém
um
modo
de integrar-se à
vida
e à
existência
palpáveis.
Trata-se da
defesa
de
um
novo
estado
de
espírito
apoiado na
crença
inabalável
de
que
a
arte
tem uma
função
libertária
e integradora,
caso
tenha
como
base
o
saber
do
artista
moderno
ligado à
noção
de
alegria.
Nesse
contexto,
a
alegria
aparece
como
uma
aprovação
incondicional
a
toda
e
qualquer
forma
de
existência.
O
homem
alegre,
ao
contrário
do
homem
anatoliano,
descobriu-se
livre
da
servidão
milenária
imposta
a
si
próprio
e preocupa-se
em
viver
a
vida,
adaptando-se a
ela
com
seriedade
e
equilíbrio.
O
prazer
escrevia Mário, na
carta
de 10 de
novembro
de 1924, estava
em
dar
importância
ao
que
se faz, numa
articulação
harmoniosa
dos
opostos,
visando a
totalidade,
religado a
tudo
o
que
existe.
Assim
ele
traça
o
perfil
de
sua
personalidade
como
um
tipo
ousado
que
não
tinha
receios
de
experimentar
o
que
a
vida
pode
oferecer:
“Eu
sempre
gostei
muito
de
viver,
de
maneira
que
nenhuma
manifestação
da
vida
me
é
indiferente”.
Na
esteira
desse
pensamento
estaria a
postura
de
vida
do
artista
moderno:
um
ser
dionisíaco
que
integra
em
si
vida
e
poesia,
espírito
e
matéria,
prazer
e
dor,
vida
e
morte,
felicidade
e
dor.
Nas
palavras
de Mário, as
contradições
e
tensões
que
povoam a
existência
humana
não
é
empecilho
à
felicidade
e cabia ao
ser
humano
a
tarefa
de
eliminar
preceitos
que
norteavam e “escangalhavam”
certos
moços
brasileiros.
Ele
explica:
Pra
felicidade
inconsciente
por
assim
dizer
física
do
homem
comum
qualquer
temor
qualquer
dor
é
empecilho.
Pra
mim
não
porque
minha
sensibilidade
exagerada,
pela
qual
eu
conheço
por
demais,
a
dor
principia, a
dor
se verifica, a
dor
me
faz
sofrer,
a
dor
acaba, a
dor
permanece na
sua
ação
benéfica
histórica
moral,
a
dor
é
um
dado
de
conhecimento,
a
dor
é uma
compreensão
normalizante da
vida,
a
própria
dor
é uma
felicidade.
E sabe
qual
é o
resultado
de
tudo
isso?
É
que
a
gente
se
torna
feliz
dentro
da
vida
meu
caro,
é
um
conceito
não
egoístico
porém
maravilhoso
condescendente
que
faz da
gente
uma
criança.
(Carta
de 27 de
maio
de 1925: 129)
O
raciocínio
de Mário de Andrade procurava
ajustar
contas
com
o
real
e
esse
modo
de
encarar
a
vida
exigia do
sujeito
o
esforço
de
dissociar
palavras
que,
de
forma
geral,
aparecem vinculadas,
como
é o
caso
de
confundir
infelicidade
com
dor
e
associar
sempre
a
palavra
felicidade
unicamente a
prazer
e
satisfação.
Segundo
ele,
o
contrário
de
felicidade
é
infelicidade
–
não
é
dor.
Por
isso
afirma
Losango
cáqui:
A
própria
dor
é uma
felicidade,
se
coincidir
com
a
vontade
consciente,
corajosa
e
voluntária
do
sujeito.
E o sofrimento
que
resulta da
luta
pela
realização
de
um
ideal
não
é
infelicidade
– é
dor.
Nessa
ótica,
a
dor
passa
a
ter
um
valor
positivo,
sem
medo
de
assumir
as
responsabilidades
que
aparecem, deixando de
lado
as
vaidades
e
preconceitos:
tudo
o
que
acontece na
vida
pode
ser
bom
e pode
trazer
felicidade.
“Antes
de
ser
artista
seja
homem”,
é o
conselho
ao
jovem
Drummond
que
parecia
ter
vergonha
de
casar,
com
medo
do
futuro.
De
acordo
com
o
poeta
paulista,
a
felicidade
apresenta-se
como
uma
postura
lúcida
e
positiva
diante
da
vida,
animada
por
um
espírito
crítico,
desmistificador
que
utiliza
sua
inteligência
para
dissipar
todas as
ilusões
que
impedem o
homem
de
pensar
livremente.
Tem
pontos
de
contato
com
a
filosofia
nietzschiana do
espírito
livre,
documentada na
Gaia
Ciência.
Lá,
a
sabedoria
do
espírito
livre
é comparada à
sabedoria
da
águia
que
se
lança
por
cima
do estabelecido. E a
frieza
e desconfiança demonstradas significam uma
negação
que
prepara
o
terreno
para
uma afirmação.
Só
o
espírito
livre
é
capaz
de
fugir
à
opressão,
levando o
homem
a
pensar
com
liberdade
e a
agir
sem
o deslumbramento do
ilusório.
O
espírito
livre
de Nietszche aparece,
portanto,
como
uma
personagem
dotada de
traços
maravilhosos.
Ele
é o
grande
cético,
aquele
que
ilumina,
penetra
e traz à
luz
o
conhecimento.
Ao
mesmo
tempo,
é
audacioso
e
sedutor,
aberto
às
experiências.
Na
personagem
do
espírito
livre,
identifica-se o Mário de vinte influindo
positivamente
sobre
o
moço
de
Minas.
Era
o
momento
de
superação
de uma
visão
acanhada
e provinciana. A
necessidade
de valorização do
nacional
exigia
reflexões
e questionamentos e
era
preciso
dialogar
com
a
tradição
artística
de
seu
tempo.
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE,
Carlos Drummond de. Carlos & Mário.
Correspondência
completa
entre
Carlos Drummond de Andrade (inédita)
e Mário de Andrade.
Rio
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