A CONSTRUÇÃO DO NACIONALISMO
NA
POESIA DE ROBERT BURNS

Bruno de Sá Ferreira

 

Aquele que abdica da liberdade essencial em prol de uma pequena segurança temporária não merece nem liberdade nem segurança.

Benjamin Franklin

 

Prelúdio

Não é por glória ou riquezas ou honras que nós lutamos, mas apenas pela liberdade, que nenhum bom homem aceitaria perder a não ser com sua vidaQuando observamos a história da Escócia, é possível percebermos essas famosas palavras de Robert Bruce sendo carregadas como um legado a todos os escoceses que em momentos difíceis tiveram que gritar por seus direitos. Foi assim quatrocentos anos após a declaração de Bruce, na época da União dos Parlamentos entre Escócia e Inglaterra, quando alguns escoceses celebravam a esperança de um desenvolvimento econômico para a Escócia, ao mesmo tempo em que muitos lamentavam a perda de autonomia política de seu país. E também foi assim em tempos recentes, com a reabertura do parlamento escocês, devolvendo-lhes o direito de formularem suas próprias leis. Além disso, é interessante observar que tais palavras encontraram também um lugar em comum com as idéias que se espalharam na França no final do século XVIII. Os ideais de igualdade, liberdade e abolição da tirania que culminaram na Revolução francesa convergiram com o orgulho escocês e o forte senso de preservação de sua identidade para formar os pilares do nacionalismo encontrado na poesia de Robert Burns, aquele que é considerado o Bardo Nacional da Escócia – não simplesmente o menestrel, mas a voz representativa de seu país. Aqui será apresentada uma análise de três poemas de Burns como uma ilustração da construção do sentimento nacionalista escocês observando-se um paralelo entre esse sentimento e os momentos históricos que contribuíram para sua formação.


 

Nacionalismo e História

O surgimento da consciência nacional tem sido discutido e pesquisado ao longo dos anos. Nãodefinição categórica sobre o que é uma “nação”. Benedict Anderson acredita que é uma comunidade política imaginada – e imaginada como sendo tanto inerentemente limitada e soberana. Ele continua:

Ela é imaginada porque mesmo os membros da menor nação possível nunca conhecerão a maioria de seus semelhantes, encontrá-los, ou mesmo ouvir falar deles, ainda que em suas mentes eles vivam a imagem de sua comunhão.

Fortemente influenciado por Ernest Renan, Anderson apóia a idéia de que para uma nação ser consolidada, é necessário que ela seja submetida a um processo de “lembrar e esquecer”. Nenhuma nação pode se manter sem a ênfase em suas glórias históricas e um apagamento intencional de suas origens remotas e manchas de barbarismo em seu “currículo”. É um processo de seleção. E o mesmo é defendido por Roderick Watson em sua introdução ao livro The Poetry of Scotland: Gaelic, Scots and English 1380-1980: Uma cultura, acima de tudo, deve se manter através da “lembrança” da paisagem de seu passado, assim como re-avaliando e “esquecendo” os caminhos velhos e demasiado familiares.

O nacionalismo aparece então como um processo de valorização desses contornos imaginados de características em comum, em exclusão ao resto. A conseqüência disso é o “estranhamento” causado pela cultura diferente. Porém, o que é verificado – e apoiado por Zygmunt Bauman – é que esse estranhamento é construído devido às condições imaginárias que são selecionadas para moldar a “unidade nacional”, e não inerentes a um dado grupo de pessoas.

Com base nesse contexto, os processos de construção do nacionalismo e senso de identidade escoceses podem ser traçados de acordo com os eventos históricos que afetaram a Escócia. A União dos Parlamentos foi um destes episódios cruciais que contribuíram para dar forma aos pensamentos dos escoceses em relação a seu país.

A União de Parlamentos entre Escócia e Inglaterra aconteceu em 1707, após muito debate e várias tentativas fracassadas. Na verdade, a União das Coroas em 1603 parecia ser um grande passo para uma união completa, como foi defendido na corte de James VI e I: tal união dos reinos da Inglaterra e Escócia é conveniente e necessária para a honra de Sua Majestade e o bem-estar de ambos os reinos.[1]

Mas as opiniões sempre divergiram quando a questão era avaliar se a União era lucrativa para a Escócia ou não. Parecia haver ganhos e perdas em ambos os lados. O progresso viria, mas colocando a identidade escocesa em risco. Esse sentimento paradoxal é descrito por Ana Lúcia Henriques em seu ensaio Língua, Literatura e Poder:

Em romances que escreveu sobre a história da Escócia, (Walter) Scott atribuiu a muitos de seus personagens um sentimento paradoxal em relação à união entre seu país e a Inglaterra. Esse paradoxo não deve ser considerado apenas fruto da imaginação do escritor, pois representa o que muitos escoceses sentiam sobre a união dos dois países.

Burns era contrário à União, e isso fica claro em muitos de seus poemas e canções. Hugh Douglas, em seu Robert Burns: the Tinder Heart ilustra a atmosfera geral em relação à União:

A capital da Escócia, assim como qualquer lugar, havia passado pro grandes transformações na primeira metade do século XVIII, culminando no período que conhecido como o Iluminismo Escocês. O nascimento dessa era dourada não foi fácil, e no dia 1º de maio de 1707, quando os sinos da Catedral de St. Paul’s em Londres e a High Kirk de St. Giles em Edimburgo tocaram para marcar a fusão das nações da Escócia e Inglaterra em um único Estado soberano, eles ressoaram melodias bem diferentes. Enquanto a Rainha Anne agradecia em sua capital inglesa, o Conde de Seafield em Edimburgo expressava os sentimentos reais de muitos de seus conterrâneos. ‘There’s ane end to ane auld sang’ (Este é o final de uma velha canção), disse ele enquanto seu país antigo, orgulhoso, marcado por guerras deixava de existir como um estado independente. Quão errado estava ele: A Escócia e a Inglaterra eram diferentes demais para que um Tratado de União unisse-os. Em curto prazo, a União se mostrou penosa, e em longo prazo ela provou não ser de forma alguma o final para uma velha canção, mas o início de uma nova – uma canção do amor do povo escocês por sua nação, uma canção que dura até hoje.

O ponto crucial, porém era a conclusão que possivelmente a União era uma manobra inevitável: ou Escócia e Inglaterra uniam-se sob a mesma bandeira ou os conflitos entre os dois países nunca acabariam. E foi o amor mencionado acima que impulsionou os escoceses a, ao longo dos séculos após a União, exaltarem sua terra e tradições como nunca, lutando pela preservação de sua linguagem, seus costumes, dando origem ao nacionalismo escocês.

 

A Poesia Nacional

A prolífica produção poética de Robert Burns toca o coração até mesmo daqueles que nunca leram ou ouviram um verso dela com exceção de no dia 25 de janeiro (Douglas, 1996), quando os escoceses e simpatizantes em todo o mundo imbuem-se de símbolos nacionais escoceses como o haggis e o whisky para a celebração do aniversário do Bardo. E são justamente esses símbolos nacionais os reais substratos da poesia de Burns.

Burns era um entusiasta de sua cultura, o que inclui sua linguagem: ele aprendeu com Allan Ramsay e Robert Fergusson a arte de escrever poesia em scots. É verdade que alguns de seus poemas foram escritos em inglês, mas estes eram geralmente endereçados a um público bastante específico, ou tratando de assuntos relacionados diretamente à Inglaterra. O ponto é: ele tinha muito orgulho em escrever em seu dialeto de Ayrshire, enquanto que muitos outros escoceses – como Walter Scott – decidiram fazer o inverso, ou seja, compor principalmente em inglês, com o objetivo de alcançarem um público mais amplo, e restringirem o uso do escocês somente quando havia a clara intenção de retratar as maneiras escocesas, como no caso de Waverley, de Scott, onde a narrativa está em inglês, enquanto que o escocês é usado ao transcrever as falas dos Highlanders, e ocasionalmente em palavras isoladas no meio do texto.

Independente de sua curta vida (1759 - 1796), Burns foi capaz de capturar uma ampla gama de sentimentos e idéias que fluíam pelos corações e mentes daqueles que presenciaram um século marcado por algumas das mais radicais mudanças estruturais na história da Escócia e da Inglaterra.


 

Escoceses Que (Scots Wha Hae)

Escoceses, que com Wallace sangraram

Escoceses, que o nobre Bruce apoiaram

Bem-vindos ao que desejaram

Cair ou vencer!

 

O dia de hoje não é nada amistoso

À frente um combate tempestuoso

De onde brada Edward, orgulhoso

A correntes nos prender!

 

Qual traidor que ocuparia

A cova rasa da covardia?

Quem ser escravo aceitaria?

Façamo-lo retroceder!

 

Quem erguerá a espada

Pela Lei e pela terra amada?

A liberdade será a morada

Que juntos iremos erguer!

 

Pela opressão e todo sofrimento

Por nossos filhos em tormento

Juntos lutemos, deste momento

Ao suspiro final de nosso ser!

 

Ponhamos o usurpador a correr

E à tirania, meia-volta volver

Pela liberdade não vamos ceder

É matar ou morrer!

Ao escrever uma carta para George Thompson, Burns comentou sobre essa canção:

São de meu agrado muitas das pequenas melodias que um músico estudado considera bobas ou insípidas. Eu não saberia dizer se a velha melodia “Hey tutti tatie” poderia ser considerada como tal, mas sei que, através do oboé de Fraser, ela freqüentemente me leva às lágrimas. Há uma tradição, que eu encontrei em muitos locais da Escócia, de usá-la na “Robert Bruce’s March at the battle of Bannockburn” (“Marcha de Bruce para a batalha de Bannockburn), o outro nome comumente dado a “Escoceses Que”). Pensar nisso em minha caminhada noturna de ontem me conduziu a um nível de entusiasmo tão grande em relação a temas como liberdade e independência, que eu compus um tipo de ode aos escoceses, aliado à citada melodia, que pode ser considerado como o discurso da REALEZA ESCOCESA a seus heróicos seguidores naquela manhã marcante.

William Wallace, “que sangrou com os escoceses”, e Robert Bruce, “a quem os escoceses apoiaram”, são dois dos maiores heróis da história da Escócia. A saga de Wallace foi imortalizada no épico patriótico do século XV The Actes and Deidis of the Illustre and Valyeant Campioun Schir William Wallace, composto pelo bardo conhecido como “Blind Harry”. Escrito por cerca de 170 anos após os eventos descritos, os doze livros de Harry em coplas heróicas denotam o patriotismo do povo escocês da época, imortalizando Wallace como um guerrilheiro e mártir para seu país. (Watson, 1995).

 

Pelo Nosso Rei Legítimo
(It was A’ for Our Rightfu' King)

Pelo nosso rei legítimo

Saímos da Escócia a navegar;

Pelo nosso rei legítimo

Fomos para a Irlanda lutar, querida,

Fomos para a Irlanda lutar.

 

Fizemos tudo que podia ser feito,

Mas aqui termina nossa era;

Adeus a meu Amor e Terra Natal,

Pois o Canal me espera, meu caro,

Pois o Canal me espera.

 

Na Irlanda até o fim ele lutou,

Como nunca se viu;

E num espírito de grandeza acenou,

E para sempre se despediu, querida,

E para sempre se despediu.

 

O soldado da guerra retorna,

O marinheiro do oceano audaz;

Mas eu disse adeus a minha amada,

Para vê-la nunca mais, meu caro,

Para vê-la nunca mais.

 

Quando o dia se vai, e a noite cai,

E todos vão se deitar;

Eu penso nele que está longe,

E passo a noite a chorar, querida,

E passo a noite a chorar.

O contexto histórico para esse poema é o seguinte: Em 1685, com a morte de seu irmão Charles I, James, duque de York, ascende pacificamente ao trono como James II da Inglaterra e VII da Escócia. Porém, suas inclinações católicas – ele foi convertido ao Catolicismo em 1668, e casou-se com uma esposa católica, Mary de Modena – e sua promulgação na Escócia de duas Cartas de Indulgência (1687, 1688), suspendendo as leis contra católicos, com extensão a protestantes dissidentes, fizeram crescer as suspeitas de que ele estaria planejando estabelecer um reino católico. O nascimento do herdeiro de James em 1688 parecia então assegurar a sucessão católica, e a não aceitação disso foi justamente o gatilho para a Revolução Gloriosa, que com os esforços combinados de Whigs e Tories, resultou na fuga de James para a França e sua subseqüente deposição, com a ascensão de Mary, filha de James com sua primeira esposa, e seu marido William de Orange, tornando-se então Mary II e William III.

Nesse poema, Burns descreve a tentativa de James de reassumir o trono em 1690. Com o apoio de Luís XIV, ele reuniu um exército de seguidores católicos na Irlanda,

Pelo nosso rei legítimo

Saímos da Escócia a navegar;

Pelo nosso rei legítimo

Fomos para a Irlanda lutar, querida,

Fomos para a Irlanda lutar.

sendo, porém, derrotado por William III na batalha de Boyne, e exilado de volta para a França. Burns lamenta então que tudo foi feito em vão.

Burns focaliza no evento responsável pelo nascimento da causa jacobita, ou seja, a tentativa de restaurar a linhagem dos Stewarts ao trono da Escócia e Inglaterra. David Daiches explica que havia muitos na Escócia que, independente de tudo, consideravam James como seu legítimo rei. Na verdade, James havia saído da ilha sem declarar oficialmente que havia abandonado o trono. Após sua deposição, os jacobitas – Highlanders em sua maioria – continuaram a apoiar James devido a uma série de fatores:

As razões (…) eram em parte religiosas – partes das Highlands permaneciam católicas, mesmo que às vezes nominalmente – e em parte sociais e políticas. Nas Highlands um sistema feudal (…) veio do sul para desafiar o antigo sistema patriarcal. O sistema feudal dava direitos ao proprietário da terra, enquanto que no antigo sistema patriarcal o status pessoal e as relações familiares significavam tudo. O superior feudal, com seus direitos de jurisdição feudal, não era necessariamente o chefe patriarcal, e as concessões de terra do sistema feudal eram vistas com suspeitas pelos membros dos clãs que cresceram acreditando nos direitos do parentesco e não da propriedade legal. Um monarca hereditário seria o superior natural de um membro de clã vivendo em um sistema patriarcal, enquanto que um senhor feudal interpondo-se entre ele e o monarca representava um tipo de superioridade que o incomodava. (...) Eles (...) continuaram a reconhecer os Stewarts como os reis legítimos hereditários da Escócia cuja posição eles podiam entender sob a luz de sua própria organização familiar. Eles tendiam a ver James como o rei que entendia sua organização social e que mantinha uma relação direta entre rei e chefe contra a figura mediática opressiva de um superior feudal. (Daiches, 1977)

 

Que Bando de Patifes em uma Nação
(Such a Parcel of Rogues in a Nation)

Adeus a toda nossa fama,

Adeus a nossa glória memorial;

Nem mais Escócia a gente se chama,

Nome honroso na história marcial.

De Sark ao Solway faz-se o contorno,

Indo do Tweed ao oceano,

Marcando onde a Inglaterra faz seu suborno-

Que bando de patifes em uma nação!

 

O que a força e astúcia não dobraram,

Por muitos anos de guerra,

Agora uns covardes aceitaram,

Por moedas e um pouco de terra.

Se aço inglês não nos assustou,

Seguros de nosso valor e posição;

O ouro inglês nos desgraçou-

Que bando de patifes em uma nação!

 

Se eu pudesse prever o dia

Que nos venderiam como animais,

Em minha cabeça branca jazeria,

Com Bruce e Wallace meus ideais!

Mas com força e razão, até a hora final,

Eu farei esta declaração;

Comprados e vendidos pelo ouro inglês-

Que bando de patifes em uma nação!

Essa famosa canção escocesa, reescrita por Burns, é talvez a mais clara demonstração de sua indignação em relação à União. Seu ataque não é aos ingleses, porém, mas aos muitos aristocratas escoceses que teriam recebido grandes quantidades de dinheiro, terras e status por apoiarem a União. Tamanho é o desapontamento de Burns, que ele se sente envergonhado por toda a Escócia, dando Adeus a toda nossa fama,/Adeus a nossa glória memorial;/Nem mais Escócia a gente se chama. E mais uma vez há a referência a Bruce e Wallace, relacionando-s à imagem de lealdade, ao propor aos escoceses que permaneçam fiéis a seus princípios e trilhem o caminho de seus heróis.

Em sua biografia sobre Robert Burns, Hugh Douglas aponta a seguinte visão em relação à União:

De início, a União estava longe do sucesso econômico e social que seus defensores previam. Por uma razão, o parlamento em Londres que ainda era predominantemente inglês com somente uma parca representação escocesa logo começou a abandonar o espírito do tratado. Se o comércio de linho e tabaco aumentou, também aumentaram os impostos, e a indústria de do país foi devastada. Nenhum corpo político efetivo foi designado para governar a Escócia, e o país definhou, e na medida em que isso acontecia, o parlamento inglês prontamente devolveu aos proprietários de terras o direito de escolher ministros da Igreja da Escócia, um direito que havia sido abolido anos antes à União um direito que os escoceses não queriam ver restaurado. Mesmo o uso da velha língua escocesa foi inibido nesta nova Escócia.

Devido ao fato de que James II desejava manter Escócia e Inglaterra como países separados, o termo “jacobita” tornou-se um sinônimo de “antiunionista”. Robert Burns, apesar de ser presbítero, era simpatizante da causa jacobita e foi um antiunionista convicto. Daiches argumenta, porém, que em certos contextos Burns aceitava e expressava um patriotismo britânico:

Be Britain still to Britain true,

Amang oursels united;

For never but British hands

Must British wrangs be righted.[2]

Considerando isso como verdade, é necessário, porém, que seja enfatizada a restrição em certos contextos, pois essa condição deve estar relacionada a circunstâncias bastante especiais, que é o caso do poema supracitado, onde a Grã-Bretanha como um todo era ameaça pela invasão de um inimigo estrangeiro.

The Nith shall run to Corsincon,

And Criffel sink in Solway,

Ere we permit a Foreign Foe

On British ground to rally!

We'll ne'er permit a Foreign Foe

On British ground to rally![3]

Burns desejava preservar a identidade e os direitos da Escócia, sendo essa a razão pela qual ele repugnava a União. Mas em face de um inimigo em comum, era normal reconhecer a ilha britânica como uma unidade.

 

O Fim desta Canção

A importância de Burns para a formação do sentimento nacionalista escocês é inegável. Como um típico escocês orgulhoso e teimoso, ele desafiava as instituições políticas ou qualquer um que o afrontava, ironizava sua comunidade, ao mesmo tempo em que exaltava as belezas e qualidades de seu país. Como um intelectual, ele foi um forte formador de opiniões (sua imagem de “fazendeiro rústico instruído por Deus” é um mito romântico que está longe da verdade: ele era um fazendeiro pobre, de fato, mas desde a infância recebeu a melhor educação que seu pai pode fornecer; e além de seus ídolos literários escoceses, ele era leitor de Shakespeare, Pope e alguns escritores franceses, e era conhecido por sempre andar com um livro debaixo do braço para onde fosse). De uma forma geral, o sentimento nacionalista de Robert Burns no final do século XVIII é correspondente ao sentimento de um povo que observava a situação da Escócia, sendo política e culturalmente engolfada pela Inglaterra, estava apto à chegada do progresso econômico, mas que paradoxalmente temia uma eventual extinção de todas as tradições e particularidades da identidade escocesa. Caso Burns tivesse vivido além dos seus 37 anos, e testemunhado a eclosão do nacionalismo por todo o ocidente no século XIX, ele poderia vir a ser o “Bardo Nacional não da Escócia, mas do mundo.


 

Bibliografia

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––––––. Selected Poems.  Londres: Penguin Books, 1996.

––––––. Robert Burns: 50 Poemas. Trad. Luiza Lobo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

CHABOT, Jean-Luc.  O Nacionalismo (Le Nationalisme).  Trad. Evaristo Santos. Porto: RES, [s/d.?].

DAICHES, David.  Scotland and the Union.  Londres: Butler & Tanner, 1977.

DOUGLAS, Hugh. Robert Burns: the Tinder Heart. Gloucestershire: Alan Sutton Publishing, 1996.

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Rouanet, Maria Helena (org.). Nacionalidade em questão. Cadernos da Pós de Letras. Rio de Janeiro: UERJ, 1997.

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WATSON, Roderick. The Poetry of Scotland: Gaelic, Scots and English 1380-1980. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1995.


 


 

[1] Citação presente em Scotland & the Union, de David Daiches.

[2] “Does Haughty Gaul Invasion Threat?” Robert Burns. Complete Poems.

[3] “Does Haughty Gaul Invasion Threat?” Robert Burns. Complete Poems.