DEIXE O POVO FALAR
ARTIFÍCIOS LEXICAIS NO DISCURSO LITERÁRIO
DE JOÃO UBALDO RIBEIRO

Denise Salim Santos (FACHA e UNIG)

Quando tomei conhecimento deste Congresso, minha intenção inicial foi a de prestar uma homenagem ao nosso grande lexicógrafo Antonio Geraldo da Cunha, com quem tive o prazer de estudar durante um de meus créditos do curso de mestrado aqui, na UERJ. Foi ele quem despertou em mim uma forma diferente de olhar a palavra, forma esta nem sempre reconhecida pela comunidade acadêmica como relevante aos estudos da língua portuguesa. Durante suas aulas, reiteradamente falava-nos da precariedade das pesquisas sobre o vocabulário de nossa língua em comparação aos estudos mais avançados que são feitos principalmente pelas academias européias, chamando a atenção de todos para a necessidade de uma atividade de pesquisa dos grandes nomes da nossa literatura dos séculos XVIII, XIX, XX, sem excluir os chamados escritores contemporâneos: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Autran Dourado, João Ubaldo Ribeiro e muitas outros ícones de nossa literatura.

Em certa manhã de domingo, lendo uma das colunas do jornal “O Globo”, sem qualquer outra preocupação a não ser a distração, em meio a um texto deparo-me como o adjetivo GENGISCÂNICA para qualificar a violência gripal hiperbólica que atacara o cronista. Diria, então, aproveitando o mote, que aquela palavra funcionou como um “vírus lexical”, contaminando-me imediata e irremediavelmente, pois a partir daquela crônica, o escritor João Ubaldo Ribeiro trouxe-me para este lado curioso da sua produção cronística: o trabalho com plástica da palavra. Nesse percurso fica transparente o domínio da língua portuguesa e de seus elementos constitutivos quando o escritor brinca com os seus sistemas, eventualmente transgredindo-os. Mas o tratamento homeopático semanal não estava sendo eficaz para combater a virose. Então, aumentei a dose. Das crônicas passei aos contos e finalmente cheguei aos romances. Segundo os médicos sofro de “ubaldite crônica”, sem muita chance de recuperação. Felizmente.

As orientações do mestre Antônio Geraldo Cunha não se perderam no tempo. Como diz a cultura popular, quem procura acha. E assim aconteceu. Lendo várias matérias sobre a obra de João Ubaldo encontrei, em uma revista de excelente qualidade, publicada pelo Instituto Moreira Salles, “Cadernos de Literatura Brasileira”, um comentário de Haroldo de Campos em que ele ressalta que o escritor surpreende por seus temas inusitados, com suas faixas vocabulares, enfim, por um tesouro vocabular que exibe em sua obra. Mais adiante é o próprio Ubaldo quem afirma estar sempre na busca compulsiva da palavra certa, da melhor palavra para expressar. Consultar dicionários é hábito que mantém até hoje, possivelmente pela influência do pai que, quando perguntado sobre o significado de alguma palavra, dizia-lhe: “Não sabe? Vá ao dicionário!”. Não raro em suas crônicas, reproduz tal prática, procurando doutrinar seus leitores assíduos a fazerem o mesmo. De fato, da crônica ao romance, muitas vezes precisamos ter ao lado o dicionário, para melhor entendimento do texto.

Assim, vi que minha intuição não falhara. Há um certo mistério em um número considerável de palavras. Que palavras são essas? São novas, são antigas, vernáculas, empréstimos?.Morreram, acabaram de nascer...?

O trabalho com a palavra isolada, o manuseio de dicionários acompanhado de um olhar especial lembra o clichê “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Assim, vejo em cada palavra que desperta a minha atenção seu passado, seu presente, tentando prever seu futuro... .E aí surgem muitas surpresas, não só na observação e análise da palavra isoladamente, mas também na interpretação de sentidos possíveis em certos enunciados uma vez que, cúmplice de outros elementos enunciativos, dá pistas ao co-enunciador de como chegar ao mundo ficcional e alcançar as intenções do escritor ao construir a narrativa.

Ao acrescentarmos à noção de texto a intencionalidade ali presente, deslocamo-nos do plano textual para o plano da discursividade, ou seja, aquele em que necessariamente um acontecimento é protagonizado por um enunciador e um ou mais destinatários numa situação que inclui o momento histórico e o contexto (AZEREDO, 2000: 34-35).

Uma das possibilidades de um evento discursivo está no universo literário no qual o enunciador é o dono da palavra e dela dispõe, gerenciando-lhe a atuação no texto, segundo uma determinada intenção.

Por ser um exímio artífice da palavra, escolhemos João Ubaldo Ribeiro, agora o romancista, para observar a maneira como a seleção lexical é explorada na construção da fala das personagens e do narrador em 3ª pessoa. Servirá de corpus para este trabalho o romance “O feitiço da Ilha do Pavão” (1997). Tal escolha se deve ao fato da trama narrativa apresentar relações de poder existentes, sob um olhar crítico. As formações discursivas e o léxico selecionado definem o lugar social de cada personagem ou grupos de personagens.

Ali vivem os colonizadores, detentores do poder delegado pela Coroa Portuguesa, marcando a presença do branco europeu. Em contraponto, temos Capitão Cavalo que, tendo a mesma origem portuguesa, já tem a medida de ser brasileiro. É pai de Iô Pepeu, jovem que só se preocupa com a lascívia da vida na Ilha; Tantanhengá, índio Tupinambá, ou Balduíno (seu nome cristão) Galo Mau é o representante da etnia indígena autóctone. Sansona a escrava liberta trabalha para Capitão Cavalo; Crescência, negra congolesa também liberta, durante a narrativa vai desenvolvendo sua relação com a leitura, pois será a guardiã do segredo da Ilha; e mani banto, D. Afonso Jorge, negro congolês, rei do quilombo existente na Ilha são os representantes da etnia negra. Assim, no universo da ficção, Ubaldo vai reconstruindo a formação do povo brasileiro, reavivando consciente ou inconscientemente as questões identitárias.

Por diversas vezes, no entanto, o escritor recorre aos mesmos instrumentos -léxico e formações discursivas- para expor ao ridículo os representante do poder instituído na Ilha, seja o do colonizador ou do rei do quilombo, apelando para a ação desconstrutora do discurso do humor, evidenciando um posicionamento ideológico no qual a neutralidade não tem lugar.

Selecionei apenas algumas personagens cujos discursos contemplam as idéias expostas até aqui. A primeira análise é dedicada a Balduíno Galo Mau, pleiteando o direito dos índios de sua tribo permanecerem vivendo na Assinalada Vila de São João Esmoler do Mar do Pavão:

- Mas por que tu não queres ir para o mato? Tu sempre disseste que o mato tinha tudo, a vida era melhor...

- Era! Isso era quando índio era descompreendido, não tinha aprendido nada, índio era besta. Era! Agora não é mais! Tem çúcar no mato? Tem sal no mato? Tem fiambre no mato?Tem galinha gorda e dinheiro no mato? Tem sabão no mato? Tem jogo de carta no mato? Tem carne de vaca no mato? Tem vrido, panela de ferro,faca amolada no mato? Tem aramofada no mato? Tem tenda de novidade e armazém no mato? No mato tem potó, tem cobra jararaca, tem coceira, tem perreação, no mato tem é isso! Índio volta pro mato? Nunca que nunca! Índio quer voltar pro mato? Não,não,não,não! Índio não volta pro mato, já falou. Índio volta pro mato?

- Não!- responderam os outros homens levantando as bordunas e as mulheres e crianças de mãos dadas, girando numa espécie de roda apressadinha. (RIBEIRO, 1997: 38)

Através dos substantivos selecionadas para compor a estrutura sintática TEM+ OD -çúcar, sal,fiambre,galinha, dinheiro, sabão, carne de vaca, vrido, panela, faca, aramofada, armazém - subentende-se que o indígena já se acostumou aos hábitos agradáveis da civilização européia, o conforto, e dele não quer abrir mão. Tal determinação vai ser ratificada pela seleção lexical que, completando a mesma estrutura sintática anterior, contrapõe a idéia de conforto na VIla à idéia de desconforto no mato: bicho,mutuca, potó, cobra jararaca, coceira, perreação. Mas o processo de aculturação ainda não se completou e isto se revela nas transgressões de natureza fonética ocorridas na fala da personagem e respeitada pela fidelidade gráfica com que o escritor as representa no texto. Esse discurso arrevesado caricatura exatamente esse momento de afirmação do direito cidadão. Repleto de graça em sua estruturação,traz em si a atualidade de alguns problemas ainda hoje não resolvidos.

Ouçamos a voz de um outro líder:

- Que maus sucessos assolam o grande Capitão Cavalo? Perguntou, sem dirigir-se a alguém em particular - Que se passa com o grande Capitão Cavalo, terá perdido seus afamados haveres e sua opulentíssima fazenda? Ou a vida rude que leva o conduziu a esquecer as regras do bom trato e do respeito, pois que não vejo nenhum entre vós a trazer-nos uma prenda? Ou lhe sucedeu tanto uma coisa quanto outra? E por que nos remete tão extravagante enviatura? (RIBEIRO, 1997: 125)

Este é mani banto, D. Afonso Jorge, cujo traço mais marcante é o fato de que,sendo negro, deveria lutar pela libertação de seus irmãos negros, aliando-se a Capitão Cavalo que já libertara os escravos, desde a morte da esposa, atendendo-lhe o último pedido No entanto, o rei do quilombo tinha escravos brancos e ...negros. Tal incongruência se revela no repertório lexical empregado na construção discursiva, repleta de termos cultos (assolam, afamado, haveres, rudes, prendas, extravagantes, enviatura), superlativos (opulentíssimos), locuções cristalizadas (maus sucessos, regras do bom trato e do respeito). O afastamento dos hierarquicamente superiores aclara-se pelo emprego da segunda pessoa do plural (vós). Nossa preocupação aqui é o trabalho lexical, mas, neste caso irresistível apresentar a construção tais como nenhum de vós a trazer-nos, típica do Português lusitano. Tais marcas conduzem o leitor a perceber que aqui também, apesar do papel social da personagem - rei do quilombo- o discurso é estereotipado, pernóstico e em contradição como contexto. É outra personagem exposta ao ridículo através de seu próprio discurso.

Existem nos grupos sociais papéis que são desempenhados pelos mais capazes de fazê-los. Assim ocorre com mestre Joaquim Moniz Andrade, a quem compete os lavores da erudição quando se trata de produzir um texto oficial, em nome das autoridades da Vila:

Ai, América Portuguesa, sol do novo mundo, gema celsa da Coroa, torrão de cabedal inexaurível, a que ponto chegaste, nesta sesmaria deslembrada, em que seus princípios e ordenação se envilecem, sua gente se mesticiza e se deprava, sua autoridade não se reconhece, seus camaristas e homens bons se desprestigiam e seu elemento servil se há como livre? Ter-se-á ao menos lenitivo para tantas aflições, poder-se-á ao menos esperar algum governo em tanto desgoverno, algu’a mão segura a guiar os destinos da Assinalada Vila de São João Esmoler do Mar do Pavão?” (RIBEIRO, 1997: 142)

Nota-se nesse fragmento que a expressão “lavores de erudição” não é selecionada gratuitamente pelo escritor. O preciosismo, o excesso de interrogações, a presença de mesóclises reforçam a idéia de um texto em que predominam propósitos retóricos, mais preocupado em persuadir o ouvinte, no caso, Monsenhor Borges Lustosa, representante do Poder Eclesiástico na Ilha, que na mesma linha de discurso responde a seu interlocutor:

- O tempora, o mores! Disse o monsenhor, levantando-se da cadeira de braços onde terminara por derrear-se, sob o peso de tamanha impudência. Sim faz-se urgente, mais que urgente, faz-se premente que essa providência seja tomada! O mal está sendo feito, mas será cortado pela raiz. Oderunt peccare mali formidine poenae. O castigo corrigirá essas faltas terrificantes. Me admira que Vossas Mercês somente agora tenham achado por bem recorrer à autoridade da Igreja. (RIBEIRO, 1997: 189-190)

Diferencia-se esta fala da anterior apenas pela presença das expressões em latim- - O tempora, o mores!, Oderunt peccare mali formidine poenae, certamente não compreendido pelos interlocutores, ou seja, estabelecendo o afastamento hierárquico. Tal como mani banto, o tratamento cerimonioso Vossas Mercês serve para demarcar a hierarquização das relações sociais.

Deixando as esferas de poder um pouco de lado, ouçamos o diálogo entre as negras da Casa dos Degraus e Crescência, a futura feiticeira da Ilha:

- Donde que se vai assim? Vai fazer compra no olival, é?

- Possa ser pra mecês, mas pra mim não tem nada que me dê vontade, naquele ladrão. Não senhora, eu vou passear na vila.

- Tu vai passear na vila nada, tu vai de novo na furna da Degredada, tu não sabe no que tá se metendo, esse saco, aí, é das mandingas dela, não é não?Eu não quero nem saber de tuas feitiçarias, não vem nem me contar.

- E eu tou querendo contar nada? Ai, meu Deus, xoí, xoí, xoí, que o tempo não espera por ninguém. Daí licença, dai-me licença.

Salta-se do nível de formalidade discursiva da Igreja e de seus seguidores e chega-se ao falar do povo,completamente informal,despojado, crivado de marcas de oralidade. Vocabulário simples, tratamento informal em segunda pessoal do singular, palavras e até frases inteiras foneticamente encurtadas, como ocorre na fala de Crescência, xoí, xoí, xoí, em lugar de “deixe eu ir”. Note-se que em lugar de Vossa Mercê, é empregada a forma popular de tratamento mecê.

Quanto à formação discursiva do narrador, afirmaria que ora ele se afina com o discurso das personagens, apenas falando por elas, digamos que exercendo o papel de intermediador, através do discurso indireto, como ocorre na passagem a seguir

Joana Leixona havia baixado com a disposição prevista.Olhou desdenhosamente para as quatro mulheres, cuspiu de lado, pôs as mão nas cadeiras e passou a discorrer sobre si mesma. Aquelas negrinhas brasileiras de merda não sabiam nem de longe o que era o verdadeiro luxo e a verdadeira riqueza, ninguém ali sabia nada[...] (IFP: 73)

ora coloca-se no lugar do narrador onisciente, dono de seu próprio discurso, como acontece no início da cap VI:

A correta narração dos acontecimentos conhecidos por uns com a Sedição Silvícola e pelo populacho como a batalha do Borra-Bota depende da escolha de uma dessas duas designações, lide espinhosa entre as que mais o forem, pois ambas contam com ardidos defensores e se amparam em banalizadas perquirições. A primeira costuma lembrar a figura ímpar do mestre-de-campo José Estevão Borges Lustosa - O Lobo de São João -, implacável na peleja e magnânimo na vitória, que trouxe a paz para os assivissojoemapaenses, depois de enfrentar, com valentia realçada por inigualado atilamento nas artes e nas ciências bélicas, a horda de selvagens bestiais que intentou tomar a vila de assalto. A segunda renoma o jabarandaia Tantanhengá, ou Tontonhengá no parecer de alguns, de nome cristão Balduíno da Anunciação e de alcunha Galo Mau, o qual, em diabóloca solércia por trás das linhas inimigas, não só logrou impor derrota envilecedora às gentes d’armas dos brancos, como obteve o que queria, em escárnio da cristandade e da justiça. Não é fácil saber a quem assiste razão em tamanha controvérsia.(RIBEIRO, 1997: 59-60)

No primeiro período do trecho que trata da presença de Joana Leixona, observa-se a voz do narrador descrevendo o comportamento da entidade que fora incorporada, empregando com eficiência o advérbio desdenhosamente, a locução mãos nas cadeiras, a construção cuspir de lado, como se fosse preparando o leitor para o que vai acontecer a seguir. Portanto, o emprego da palavra merda não deverá causar estranhamentos a quem lê.

No segundo excerto fica patente a divisão das camadas socais na Vila de São João. Ao referir-se à casta religiosa e branca, representada pela figura de Lustosa, o narrador não poupa a adjetivação enaltecedora das qualidades do povo d’além-mar: implacável na peleja, magnânimo na vitória, inigualado, figura ímpar. Quanto aos substantivos, estes não fogem ao mesmo caráter: paz, valentia, atilamento. No grupo por ele representado, que no texto aparece referenciado pelo indefinido uns, ficam, evidentemente, os que participaram da Sedição Silvícola. O populacho, no dizer do narrador, tem como representante alguém cujo nome varia, de acordo com a situação: como líder do povo indígena da região, é Tantanhengá; o fato de o índio viver a embriagar-se, talvez explique a origem da corruptela Tontonhengá, por analogia com o adjetivo tonto (apenas uma hipótese de leitura); pela conversão religiosa, recebeu no batismo o nome Balduíno da Anunciação. Mas, como fazia parte do populacho, e aqui são encontrados os alguns que defendem o acontecimento como a batalha do Borra-Bota, ainda merece uma “alcunha”: Galo Mau. Tanta antroponímia denota a falta não só de identidade como contrasta fortemente com a pompa e circunstância que cercam, por exemplo, o nome de José Estevão Borges Lustosa e da esposa de Melo Furtado, Dona Felicidade Divina Salustiano Couto de Melo Furtado. Deslocando-se para o ponto de vista dos brancos, o narrador mostra a maneira como são vistos os índios: hordas de selvagens bestiais. De um outro ângulo é possível vislumbrar-se por quem “torce” o narrador quando, ao dizer quem vencera a batalha, empregou o mesmo nível lexical da elite nas expressões diabólica solércia, derrota envilecedora, gentes d’armas, escárnio da cristandade e da justiça

Transgressões e tradições lexicais permeiam o discurso literário em “O Feitiço da Ilha do Pavão”. Vimos o criterioso trabalho de João Ubaldo Ribeiro em deixar registradas em sua obra as diferentes vozes que gritam, sussurram ou mesmo silenciam quando uma voz mais poderosa se alevanta . Lá, na utópica Ilha do Pavão, ou por esses brasis que constroem a nação Brasil. Privilegiadamente, encontramos uma língua viçosa, buliçosa espontânea como o povo que a usa, sem esquecer de evocar a memória e mostrar que a tradição mantém seu valor e que é justamente da existência de contrastes que brotam as identidades.

Encerramos este trabalho, deixando, aqui registrada a voz do narrador e o talento do escritor, especialmente no tratamento lexical dado ao texto, seguindo a tradição da língua portuguesa, da qual consegue extrair efeitos de sentido encharcados da beleza do discurso poético, encerramos este trabalho, deixando, aqui registrada a voz do narrador e o talento do escritor.

Nas colinas ainda enevoadas do outro lado da angra, já pelas divisas da vila, da Casa dos Degraus faiscando seus azulejos brancos salpintados de azul-celeste, é a única a refletir os tons dourados do sol, uma louçainha no topo da elevação mais alta, entre alamedas de flores e frondosas árvores de frutas[...] De resto tudo é parado como uma pintura, nada se movendo senão as folhas na brasazinha e o rolo de fumaça parda que emerge pachorrento pela chaminé. Mais uma vez cumprindo a missão que lhe foi dada desde a Criação, um grande bem-te-vi atitou energicamente, na copa de um oitizeiro do largo da Calçada. (RIBEIRO, 1997: 18)

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