TRÊS
ASSUNTOS
DE
SINTAXE
Lilian Manes de
Oliveira (UNESA)
Introdução
Mário
Barreto,
um dos
maiores filólogos da
língua portuguesa,
não escreveu nenhuma
gramática,
isto é, nenhuma
obra
que sistematizasse os
fatos da
língua.
Jornalista, idealizou uma
espécie de
consultório filológico, no
qual respondia a
questões
que
lhe propunham os
leitores.
Da
sua
obra
Através do
dicionário e da
gramática (1927) extraíram-se
três
assuntos de
sintaxe.Traz
ela as
suas
respostas a
consulentes da
Revista de
Filologia Portuguesa,
que
ele dirigiu,
depois da
morte do filólogo Sílvio de Almeida,
em 1924. Compararam-se as
suas
explicações
com as de filólogos
que
lhe sucederam:
Celso
Cunha, Evanildo Bechara, Gladstone
Chaves de Melo, Adriano da
Gama Kury e Carlos Henrique da
Rocha
Lima.
Como
acréscimo, incluíram-se
também no
cotejo alguma
observação da
lingüista de
base funcionalista, Maria
Helena de
Moura
Neves, e
um
estudo do
professor e sintaticista José Carlos de Azeredo, o
qual abordou o
aposto
sob uma
ótica discursiva.
O
corpus constituiu-se de
artigos publicados na
mídia
impressa, representada
por
Jornal do Brasil e O
Globo,
jornais de
grande
circulação no
Rio de
Janeiro.
Desenvolvimento
Omissão da
preposição
Explicação de Mário Barreto (p. 229-231)
Frases
como – “John
Barklett escutava, os
olhos
meio
cerrados”-
explicam-se, subentendendo a
preposição
com.
Em
alemão levam o
substantivo
em
acusativo,
como se
fora
complemento
dum
verbo
tácito (habend
= tendo)
Tal
verbo,
porém
nunca se
exprime: o
chapéu na
cabeça, as
mãos na
algibeira,
assim entrou
no
quarto.
Numa
língua
como a
nossa, de
transposição
livre e
senhoril, e
que
não
anda a chouto,
o chouto
regular do
sujeito,
verbo e
atributo
gaulês, a supressão da
preposição
pode
lançar algumas
vezes
obscuridade
sobre o
complemento
indireto,
confundindo-se
com o
sujeito, e é
para
evadir
tal
perigo
que de
ordinário se
exprime
em
português a
preposição
subentendida
em
correto
francês: il
mourut faute de secours, morreu
por
falta de
socorro; un
instant après, il tombait, le bras droit fracassé,
momentos
depois, caía
ferido
com o
braço
direito
fraturado.
................................................................................................
No
tocante a
preposições, é
o
uso
que decide
geralmente.
Exemplos
“Quem
saiu,
em 1904,
armas
em
punho,
às
ruas da
Capital,,,
(Rui Barbosa)
Bernardim
Ribeiro
embuçado na
capa,
o
chapéu
sobre
os
olhos,
aparece
com
Paula-Vicente no
patim
da
escadaria
à
esquerda.
(A. Garret)”
Não
só
em
francês,
senão
também na
nossa
língua,
podemos
subentender a
preposição
com,
contanto
que daí se
não causem
anfibologias: “Fui
dar
com
ele estendido
no
soalho,
o
rosto
num
charco de
sangue’.
Nota-se
ainda a
omissão da
preposição
(de) noutros
exemplos
como
este: ‘D.
Rosa da
Silveira
tinha vinte e
um
anos.
Era
alta,
morena,
olhos
grandes e
pretos,
testa
espaçosa,
nariz
aquilino,
boca
larga,
beiços
quase
austríacos” (Teixeira de Vasconcelos)
Exemplos do
corpus:
“Gerson e
Santos, Botafogo, 48”(Jornal
do Brasil, 12/12/2002)
“Boné,
argolas e sorrisão, abraçada
com Regina na
tal
foto, a rapper Missy Elliot é a
musa inspiradora da
atriz,
que pegou
um
avião
para
ver o
show da cantora
em
Nova York (sic) (O
Globo, 22.8.2004).
Constate-se
que,
atualmente, é
comum a
omissão
que introduz
tanto as
orações
objetivas
indiretas
quanto as completivas-nominais.
Exemplos do
corpus:
“Aquele
estado
onde
eles
realmente acreditam
que jogam
mais
bola do
que
aqui” (O
Globo, 29/1/98)
“ ...
mas
já ouvi a
sugestão
maldosa
que os tradutores do Paulo
Coelho
para o
francês poderiam
reivindicar
direitos... (Jornal
do Brasil, 26/3/98) (g.n.)
Explicação de
Celso
Cunha (p. 381-382)
A
maior
ou
menor
intensidade
significativa
da
preposição
depende do
tipo de
relação
sintática
por
ela
estabelecida Essa
relação pode
ser:
fixa,
necessária
ou
livre.
Relações
fixas
“A
minha
sombra há
de
ficar
aqui! (A. dos
Anjos)
Ninguém pode
com a
vida deles.
(Érico Veríssimo)”
Nos
exemplos
acima
verificamos
que o
uso associou
de
tal
forma as
preposições a
determinadas
palavras (ou
grupo de
palavras)
que
esses
elementos
não
mais se
desvinculam; passam a
constituir
um
todo
significativo, uma
verdadeira
palavra
composta.
Nesses
casos, a
primitiva
função
relacional e o
sentido
mesmo da
preposição se
esvaziam
profundamente,
vindo a
preponderar
tanto na
organização da
frase
como no
valor
significativo o
conjunto
léxico
resultante da
gramaticalização da
relação
sintática
preposicional.
Em
poder
com (=
agüentar),
por
exemplo, a
preposição,
fixada à
forma
verbal,
não
lhe acrescenta
apenas
novos
matizes
conotativos,
mas altera-lhe
a
própria
denotação.
Relações
necessárias
Nas
orações:
“O
futuro a
Deus
pertence.
(Carlos Drummond de Andrade)
O
homem é
um
grande
inventor de
obstáculos.
(G. Corção)
De
noite fui
ao
teatro. (Machado
de Assis)
Sentimo-nos esmagados
por
ele. (Carlos
Drummond de Andrade)
As
preposições
relacionam ao
termo
principal
um
conseqüente
sintaticamente
necessário:
pertence a
Deus (verbo
+
objeto
indireto)
inventor de
obstáculos (
substantivo +
complemento
nominal
fui ao
teatro (verbo
+
adjunto
adverbial
necessário)
esmagados
por
ele (particípio
+
agente da
passiva)
Em
tais
casos,
intensifica-se a
função
relacional das
preposições
com
prejuízo do
seu
conteúdo
significativo,
reduzindo-o,
então, aos
traços
característicos
mínimos.
Daí o
relevo, no
plano
expressivo, da
relação
sintática
em
si.
Celso
Cunha ratifica a
sua
asserção, a de
considerar ao
teatro
um
adjunto adverbial
necessário, citando Antenor
Nascentes: Tratando-se de
verbos
intransitivos de
movimento, o
complemento de
direção
não pode
ser considerado
elemento
meramente
acessório. (NASCENTES,1960:
17-18
apud
CUNHA, 1972)
Relações
livres
A comparação dos
enunciados:
Encontrar
com
um
amigo.
Encontrar
um
amigo.
Procurar
por
alguém.
Procurar
alguém.
Mostra-nos
que a
presença da
preposição
(possível,
mas
não
necessária
sintaticamente) acrescenta, às
relações
que
estabelece, as
idéias de “associação”
(com)
e de “movimento
que tende a
completar-se numa
direção
determinada” (por).
O
emprego da
preposição
em
relações
livres é,
normalmente,
recurso de
alto
valor
estilístico,
por
assumir
ela na
construção
sintática a
plenitude de
seu
conteúdo
significativo.
Aposto circunstancial
Explicação de Mário Barreto (p. 63)
Na
frase: “A ti,
como
general,
compete a
comandar”, creio
que
como
general
é
um
aposto.
Em
português, a aposição pode
ter
forma de
complemento
imediato,
mas pode
ainda
ter
entre
si e o
nome
por
ela ilustrado
a
conjunção
como.
Em
latim, nestas
locuções
não se traduz
o
como, e
o
complemento
apositivo constrói-se no
mesmo
caso do
nome, ao
qual é
referido: Tibi imperatori.
Se,
porém, a
palavra
portuguesa
como
tem
valor de
tanto
quanto
ou
a
modo
de e
semelhantes,
então será
preciso
traduzi-la
em
latim
como
tanquam
ou
como ut,
ou
como pro:
Sempre
te amei
como
um
irmão=
Ego
te
semper tanquam fratem dilexi (
ou ut
fratrem,
ou pro
fratre).
Exemplos do
corpus:
“Mas,
como
jornalista,
era
alvo
fácil
para a
oligarquia e
sua
máquina de
governo”(O
Globo, 19/8/2004)
“O
estudante de
engenharia da PUC
tinha
acesso a
jogos
violentos
como Counter Strike,
mas
nunca se envolveu
em
confusões” (O
Globo, 22/8/2004) (g.n.)
Explicação de Evanildo Bechara
(p. 215)
Aposto
circunstancial – Chama-se
aposto
circunstancial
aquele
que designa o
“tempo,
hipótese,
concessão,
causa, comparação,
ou
debaixo de
que
respeito é
considerada a
pessoa
ou cousa” (Epifânio
Dias,
Sintaxe
histórica
portuguesa, 45,b), na
época da
ação
expressa
pelo
verbo:
“Rainha
esquece o
que sofreu
vassala”
(Bocage)
isto é,
como
rainha,
esquece o
que
sofreu
quando
era
vassala.
O
aposto
circunstancial vem
imediatamente
preso
ao
nome
a
que
pertence
ou
por
meio
de uma
preposição
ou
expressão
de
valor
adverbial:
..................................................................................................
Em
moço,
gostaria de
andar a
cavalo.
Como
colega
contei-lhe
toda a
verdade.
Quando
presidente,
nunca fugiu
aos
debates
Obs.
Diante de
apostos
circunstanciais
como o
último
exemplo,
em
que
não se
trata de
preposição
essencial,
muitos
preferem
ver
orações de
estruturas
reduzidas, subentendendo o
que
lhes
falta:
quando
era
presidente,
nunca
fugiu aos
debates.
Enfatize-se
que a professora Maria
Helena de
Moura
Neves (NEVES, 2000;
732), ao
estudar as
preposições
acidentais, incluiu
como
dentre
elas,
mas
não incluiu
quando. Bechara apontou
apenas a
última
como
preposição
acidental.
Explicação de Gladstone
Chaves de Melo (p. 82-87)
O
predicativo
adjunto,
que
outros
preferem
chamar de
aposto
circunstancial, é
um
elemento
acessório
também de
referência
nominal,
que explica a
situação do
sujeito
ou do
objeto no
momento da
ação
expressa
pelo
verbo: “Felizes,
as moças cantavam”.
Pertence ao
predicado, e
tem uma
conotação
adverbial.
Desde
que a NGB
conhece a
figura do
aposto,
que situa
entre os
termos
acessórios
da
oração, acho
inteiramente
válido e
incontestável
que se
subdivida
em
explicativo,
enumerativo e circunstancial. Temos,
pois, duas
interpretações
da NGB e,
conseqüentemente,
dois
nomes
para
esse
tipo de
predicativo
que
aqui
agora
estudamos.
No
exemplo
seguinte,
encontram-se
vários
predicativos
adjuntos (ou
apostos
circunstanciais),
que
vão
devidamente
assinalados
pelo
itálico:
“Alegres,
repicam os
sinos
convidando
para a
missa, e
todavia
ainda à
luz de
um
forno,
cuja
chama despede
rubros
clarões,
absorto
se
queda
um
frade
franciscano,
totalmente
estranho
ao
alvorecer
que
lhe devera
terminar o
trabalho, porfiadamente
prolongado
pela
noite
afora.”
(Carlos de Laet)
Ressalte-se
que a
oposição
fundamental
entre as
abordagens de Mário Barreto e Evanildo Bechara,
por
um
lado, e Gladstone
Chaves de Melo se baseia num pressuposto
morfossintático.
O
primeiro
só exemplifica o
aposto
com
núcleo
substantivo; e o
segundo conceitua “Aposto
é
um
termo
oracional de
base
substantiva
ou
pronominal ...” (BECHARA, 213) (g.n.),
opinião compartilhada
pela
maioria dos
teóricos. “A
rigor, o
adjetivo
só existe referido a
um
substantivo.
Conforme se estabeleça a
relação
entre os
dois
termos na
frase, o
adjetivo desempenhará as
funções sintáticas de
adjunto
adnominal
ou de
predicativo.” (CUNHA,
1975; 264). Compare-se
com o explicitado
por José
Oiticica, citado
por
Cunha:
A judia,
feiticeira,
matou o
poeta.
Nesse
exemplo, o
substantivo
judia,
sujeito da
oração, vem
acompanhado
de
outro
substantivo
que a
distingue e
lhe explica
uma das
feições
ou
qualidades,
sem
contudo
mencionar
tal
qualidade
como
característico.
Esse
substantivo
explicativo,
quase
adjetivo (note a
diferença
com
a judia
FEITICEIRA),
se
chama
aposto.
Entretanto Gladstone aceita o
adjetivo
como
núcleo do
aposto; aponta duplicidade de
nomenclatura, uma
vez
que
chama o
aposto circunstancial
também de
predicativo
adjunto.
Explicação de Adriano da
Gama Kury (p. 50-52)
Antes de se
apresentar a
explicação de
Gama Kury
sobre o
aposto circunstancial,
serão apresentados
exemplos citados
pelo
autor, estabelecendo a
diferença
entre
predicativo,
predicativo
aposto e
aposto circunstancial.
(O
aposto
predicativo)
vem separado do
substantivo
fundamental
por uma
pausa
(indicada
por
vírgula) e
exprime a
situação do
sujeito no
momento do
processo indicado
pelo
verbo. Ex:
“Os
castanheiros,
grandes
e
concentrados,
ouviam
subir a
seiva.” (Eça,
O
primo
Basílio, 6)
Pode-se, a
nosso
ver,
falar de
um
predicativo
aposto:
é
predicativo
pela
sua
natureza
atributiva (os
castanheiros
eram
grandes e
estavam
concentrados),
e
aposto
pela
sua
disposição na
frase.
Também o seria
se disséssemos:
“
Grandes
e
concentrados,
os
castanheiros
ouviam
subir a
seiva.”ou
“Os
castanheiros
ouviam
subir a
seiva,
grandes
e
concentrados.”
Mas repare-se
que será
simplesmente
predicativo
um
adjetivo nestas
circunstâncias:
“Os
sinos
repicavam
alegres.”
OBS. _
Não
nos parece
que,
em
casos
como os deste
parágrafo, se possa
apontar
qualquer
circunstância,
como o fazem
alguns,
nem
identificá-lo co,m o “atributo
circunstancial”,
como o faz
Gladstone
Chaves de Melo
(1971, 76): o “aposto
circunstancial” é
caso
distinto,
conforme se
mostra no &
seguinte.
O
aposto
circunstancial
Muitas
vezes, numa
construção
sintética
vigorosa e de
belo
efeito
estilístico, uma
oração
adverbial de
predicado
nominal pode
aparecer representada, na
frase,
sem o
conectivo e o
verbo de
ligação,
apenas
pelo
nome
predicativo,
em aposição,
mas
conservando o
seu
valor
circunstancial.
Assim,
em
lugar de “Como
era
pobre,
lutou
muito
para formar-se”podemos
dizer: “Pobre,
lutou
muito
para formar-se.”O
adjetivo
pobre
conserva o
valor de
adjunto
adverbial de
causa, e na
frase aparece
em aposição.
Daí o
nome de
aposto
circunstancial
que se
lhe dá.
Gama Kury
arrola
como
argumentos as
considerações dos sintaticistas Epifânio
Dias e Sousa da
Silveira,
respectivamente nas
obras
Sintaxe
histórica
portuguesa e
Lições
de
português. E
continua:
Algumas
vezes, o
aposto
circunstancial vem preposicionado:
“Em
rapaz,
foi cortejado de muitas
damas.”
O
que
distingue o
aposto
atributivo
ou
predicativo
do
aposto
circunstancial é
que
o
primeiro
não
corresponde a
oração
adverbial,
mas
adjetiva,
sem
o
conectivo.
Assim,
“Os
sinos,
alegres,
repicam “poderia
ter
como
equivalente: “Os
sinos,
que
estão
alegres,
repicam”. Nalguns
casos,
são
imprecisos
os
limites
entre
um
e
outro
tipo,
cabendo
mais
de uma
interpretação..
Eis
alguns
exemplos
de
aposto
circunstancial:
1) de
causa:
Pobre,
lutara
muito
para se
formar
em
Medicina.”(M. Rebelo)
2)
De
tempo:
“Almoçado, descia a
passo
lento
até a
repartição.”(M.
de Assis)
OBS. _
Quem deseje
cingir-se
religiosamente
aos
termos da NGB
poderá, a
nosso
ver,
denominar
simplesmente ‘adjunto
adverbial’o
que chamamos ‘aposto
circunstancial’, e
simplesmente ‘predicativo’o
nosso ‘aposto
predicativo’ou
‘atributivo’.
Explicação de Azeredo (2003, p. 34),
ao
descrever “o
perfil intertextual do
aposto”:
Em
outra
variante,
já
desprovida do
pronome
relativo e do
verbo ‘ser’,
o
aposto
posiciona-se
antes do SN
fundamental e
realçado no
papel de
tópico do
enunciado,
torna-se
seu
ponto de
referência,
provendo
um
dado
que o enquadra
conceitualmente e
lhe serve de
circunstância
ou
argumento.
Por exprimirem
adicionalmente
conteúdos
próprios de
certas
orações
adverbiais (causais,
condicionais,
temporais,
concessivas),
esses
apostos
classificam-se
como ‘apostos
circunstanciais’:
Autor
de
Vidas
Secas,
Graciliano
Ramos resumiu
numa
história
exemplar
todo o
drama do
sertanejo
diante da
seca
implacável. (=
Ao
escrever
Vidas
Secas).
Exemplo do
corpus:
“Orador
brilhante e
contundente, Lacerda
era
um dos
opositores
mais
obstinados na
luta
contra o
populismo de Getúlio Vargas.: (O
Globo, 19/8/2004) (g.n.) (= Tendo uma
oratória
brilhante e
contundente)
Outro
atributo do
aposto, descrito
por Azeredo (id.,
p.31). é o
seu
papel de co-referente:
Graciliano
Ramos,
autor
de
Vidas
Secas,
nasceu
em Alagoas.
Esta
variedade de
aposição baseia-se na co-referência dos
sintagmas
envolvidos, uma
vez
que
‘Graciliano
Ramos’e ‘autor
de
Vidas
Secas’se
referem à
mesma
pessoa.
O
aposto
como co-referente é
recurso
produtivo da
mídia,
como se observa no
exemplo do
corpus, a
seguir:
“Quase
miss
universo. (sic) A
brasileira
Marta
Rocha
poderia
ter sido a
mulher
mais
bonita do
mundo
em 1954. Duas
polegadas a
mais,
nos quadris, tiraram a
sua
chance. (Jornal
do Brasil –
DOMINGO – 22/8/2004)
Quase miss
universo e
Marta
Rocha têm o
mesmo
referente.
O
verbo “ajudar”:
regência
Explicação de Mário Barreto (p.121-123)
Quanto à
construção de
ajudar,
este
verbo oscila
entre o
acusativo e o
dativo (DIEZ,
Gramm., III, 93). No
latim
mesmo
já se dizia
adjutare aliquem
ou alicui.
Poremos
aqui
exemplos duma
e doutra
construção.
a)Ajudar,
trans., e
com a e
um
infinitivo
que denota o
objeto
para o
qual se presta
cooperação. “Certo
freguês da
casa de
jogo,
saindo-lhe
um
dia
todos
seus
lances
azares (ou
canículas
como diziam os
romanos),
pedia nesciamente a
Deus
que o
ajudasse a
ganhar.”(M. BERNARDES,
Floresta,
t. III, p. 256).
“_
Pois há de
casar vocemecê
com
mulher
que o ajude
a sustentá-las.” (CAMILO,
Mistérios
de Fafe,
capítulo I,
p.9)
b)Ajudar,
intrans.,
com o
dativo da
pessoa a
quem se presta
cooperação, e
um
infinitivo
que denota o
fim
para o
qual se dá
ajuda.
“Tendes
vossos
pais;
ajudai-lhes a
levar a
sua
cruz.” (
CASTILHO,
Colóquios
aldeões,
p. 24)
“A trigueirinha estudou a
sua
lição e o
rei
ajudou-lhe a
pronunciar os
ditongos.”(CAMILO,
A
caveira
da
mártir,
t.1, p. 139, ed. de 1875)
Explicação de
Rocha
Lima (p. 387-388)
Com o
sentido de
prestar
ajuda,
auxiliar:
“Viu-se
convidado
pelos
governadores
do
reino a
assistir a
suas
deliberações e
a ajudá-los
com
seu
conselho.”(Rebelo
da Silva)
“O confeiteiro
veio
ajudá-lo ... (Machado
de Assis)
“Para
ajudar na
guerra
a
seus
senhores.”(Camões)
Note-se
que houve
dualidade de
construção, na
fase
clássica; o
próprio Camões escreve:
“.................... e
logo ordena
de
ir
ajudar o
pai
ambicioso.”
Foi aos
poucos
rareando o
emprego
do
objeto
indireto,
ao
mesmo
tempo
que
se vulgarizava o do
objeto
direto
–
único,
pois,
aconselhável
hoje.
Vindo seguido de
infinitivo
precedido da
preposição
a, rege o
verbo
ajudar
objeto
direto
ou
indireto, se o
infinitivo for
transitivo;
somente
objeto
direto, se
intransitivo:
ajudei-o a
guardar os
livros
ou
ajudei-lhe a
guardar os
livros.
Mas
unicamente:
ajudei-o a
fugir.
Exemplo do
corpus:
“Mostre
que o
aprendizado de
línguas estrangeiras pode
ajudá-lo a
compreender
melhor
regras e
fases do
jogo.”(O
Globo,
22/8/2004) (g.n.)
Conclusão
Apresentando
explicações
diferentes, Barreto comparando
línguas várias (português-alemão-francês),
Cunha fazendo
um
estudo
comparativo
dentro do
português, os
dois
mestres concordam
em
que há
construções nas
quais o
uso da
preposição se
torna
imprescindível, seja
para
relacionar
termos da
oração, seja
para
desfazer a
ambigüidade. A
sua
omissão
pertence,
em
alguns
casos, ao
campo da
Estilística.
Sem
usar a
nomenclatura
aposto circunstancial e recorrendo à
diacronia, Mário Barreto antecipa a
visão de
gramáticos
modernos
que reconheceram o
aposto introduzido
por
como.
Sem
abordar
tal
tipo de
construção, Azeredo enfatiza
sua
distribuição circunstancial, ressaltando-lhe
aspectos discursivos,
já
que referenciais e
constituintes de
sentido.
Quanto à
sintaxe do
verbo
ajudar,
vista
como
oscilatória
por Barreto,
Rocha
Lima aponta a
preferência
atual
pelo
seu
emprego
como
transitivo
direto. A duplicidade de
regências apresenta-se
como uma
questão de
estilo.
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