MÁRIO BARRETO
 


Mário Castelo Branco Barreto, um dos maiores nomes da Filologia no Brasil, nasceu no Rio de Janeiro a 17 de março de 1879 e, atropelado por uma bicicleta, faleceu na terra natal, depois de prolongados padecimentos, a 9 de setembro de 1931.

Filho do filólogo Fausto (Carlos) Barreto (1852-1915), catedrático de Português do Colégio Pedro II, e de D. Ana Castelo Branco Barreto, teve no Pai o exemplo para os estudos da língua.

E Fausto Barreto reconheceu o valor do filho. Pois indagado sobre qual seria a sua obra-prima, respondeu prontamente:

- “Mário Barreto.”

Estudou no Colégio Militar, onde fez os preparatórios. E, seguindo tendência da época, formou-se em 1902 pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Mas sua vocação para o magistério fê-lo passar a vida ensinando a língua portuguesa.

Preparado em latim e grego, encontrou nessas línguas o suporte para explicar intrincados problemas de origem e constituição do português. - E sua formação filológica, de base românica, lhe permitiu tratar com segurança fatos relacionados com o francês, o espanhol e o italiano.

Catedrático de Português no Colégio Militar, colaborou em vários jornais do Rio e em algumas revistas nacionais, respondendo a questões de linguagem propostas por consulentes de todo o País.

Com o andar dos anos, foi reunindo em volumes as publicações esparsas. Só assim é possível consultar suas lições, que integram as seguintes:

Obras:

1 - Estudos da Língua Portuguesa (1903).

O trabalho sai com prefácio de João Ribeiro, mestre de grande prestígio. É o seu primeiro livro, escrito da mocidade, que ainda não revela os conhecimentos da língua que o fizeram respeitado no Brasil e em Portugal, onde foi sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.

Arrependeu-se o autor de editar esse trabalho. E Cândido Jucá (filho) diz que era “livro que desamava, sobretudo por causa de críticas injustas a Cândido de Figueiredo”. - Em 1955, o Prof. Júlio Nogueira me disse no Rio:

- “Mário Barreto pediu até o exemplar de minha biblioteca para impedir maior circulação dessa obra. Mas eu não quis desfazer-me do livro.”

2 - Novos Estudos da Língua Portuguesa (1911).

O livro traz na p. 196 uma advertência firmada nos princípios da Lingüística moderna:

O papel do gramático é observar e registrar imparcialmente os fatos, sem os louvar nem censurar e muito menos procurar influenciá-los, na pretensão de corrigir e aperfeiçoar a linguagem.

3 - Novíssimos Estudos da Língua Portuguesa (1914).

Influenciado por M. Bréal, em Essai de Sémantique, teria sido o primeiro a tratar da irradiação dos sufixos em português.

4 - Fatos da Língua Portuguesa (1916).

Considerada “talvez a sua obra culminante; com prefácio de Silva Ramos.” Partidário da simplificação da ortografia, defende nos três últimos capítulos a adoção do sistema ortográfico lusitano de 1911.

5 - De Gramática e de Linguagem (1922).

Publicada em dois volumes, reúne os artigos de sua colaboração na Revista de Língua Portuguesa, fundada e dirigida por Laudelino Freire (1919 a 1935).

6 - Através do Dicionário e da Gramática (1927).

Traz suas respostas a consulentes da Revista de Filologia Portuguesa, que Mário Barreto dirigiu depois da morte do filólogo Sílvio de Almeida em 1924.

7 - Últimos Estudos (1944).

Publicação póstuma devida ao Prof. Cândido Jucá (filho), que coligiu os artigos lançados na Revista de Cultura, em O País e no Correio da Manhã.

Tradução:

Fora as obras que tratam especificamente do ensino da língua, encontra-se o livro:

8 - Cartas Persas, de Montesquieu (1923). Tradução e anotação de Mário Barreto.

Sua obra só se completará quando se fizer a coleta dos últimos dispersos.

Para facilitar a consulta aos seus livros, o Prof. Cândido Jucá (filho) organizou o Índice Alfabético e Crítico da Obra de Mário Barreto, saído primeiro em revistas e depois editado em volume pela fundação Casa de Rui Barbosa em 1981.

Mário Barreto conheceu bem os autores representativos de cada fase da língua. E seu contato com os textos literários o levaria ao magistério interino de Literatura no Colégio Pedro II.

Questiona-se o largo espaço que Mário Barreto concedeu em seus livros ao clássico português Camilo Castelo Branco. É preciso, porém, observar que muitos outros escritores vêm citados também inúmeras vezes em sua obra.

A maior parte de suas publicações responde a consulentes sobre problemas da língua. Por essa razão, a obra de Mário Barreto não representa um curso planejado e regular. Nem isso impediu este pronunciamento de Rui Barbosa:

- “Não conheço melhores trabalhos desta natureza em nosso idioma, nem sei de filólogo nosso, a quem [...] se deva hoje atribuir maior autoridade.”

Em suma: conhecedor dos vários setores da língua, Mário Barreto é assim julgado pelo catedrático de Coimbra, Prof. Manuel de Paiva Boléo:

- “Se excetuarmos Júlio Moreira, Epifânio Dias, Mário Barreto e Said Ali [...] poucos mais sintaxistas verdadeiramente representativos haverá a mencionar” no campo da Filologia Portuguesa.

PENHA, João Alves Pereira. Filólogos Brasileiros. Franca: Ribeirão Gráfica, 2002, p. 49-54)

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