A AQUISIÇÃO DO GÊNERO GRAMATICAL
VISTA ATRAVÉS DE DADOS ANEDÓTICOS

Rosa Attié Figueira (UNICAMP)

Este estudo procura analisar um fato particular observado no processo de aquisição do português (2 a 5 anos de idade), pelo qual a criança recusa uma forma lingüística, substituindo-a por outra, alterada quanto ao gênero, para fazê-la conformar-se ao sexo da entidade que é nomeada. Considerado sob dois eixos: o plano da língua (as formas pelas quais o gênero se realiza) e o plano do discurso (o funcionamento discursivo a que se prestam), nosso objeto recai principalmente sobre um tipo de enunciado, a que chamamos réplica, cuja estrutura formal é: Não, não é X, é Y, sendo X e Y palavras tomadas autonímicamente. Trata-se de responder às seguintes perguntas: em que situações a criança se volta para o enunciado precedente do adulto, produzindo uma alteração que afeta o gênero da palavra? O que isto representa em termos da relação da criança com a língua? A descrição - a partir da noção de autonímia (Rey Debove 1997; Authier-Revuz 1995) - faz aparecer uma mudança de posição do sujeito (De Lemos 1997). Pode-se dizer que os dados analisados permitem enxergar um processo de subjetivação, manifestado por marcas não-usuais, no próprio corpo das palavras, palavras que se referem à criança: menina ou menino, ela ou ele.

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