A INFÂNCIA EM MENINO DE ENGENHO
André Luiz dos Santos (UFRJ)
Este estudo tem o objetivo de fazer um leitura do romance “Menino de Engenho”, tendo como pano de fundo a questão da infância. Na ficção de José Lins do Rego fica nítido o contato autoritário estabelecido entre o menino branco, representante do senhor de engenho, aliás, neto deste, e o menino negro, descendente da escravidão. Por meio das próprias brincadeiras traçadas pelo “pequeno senhor de engenho”, fica evidente a precoce disposição para o mando sobre os também “pequenos”, só que filhos dos escravos. A idéia de servidão neste mundo infantil tem várias fases, começando com as maldades nas brincadeiras, até o ponto em que o moleque (filho dos escravos) é vítima dos primeiros impulsos sexuais de seus pequenos senhores.
Quanto à linguagem e ao estilo, é preciso acrescentar que José Lins do Rego sempre se declarou escritor espontâneo e instintivo, anotando que encontrava inspiração nos cantadores de feira. Para que fique claro a forte ligação deste escritor com o homem simples do Brasil, citamos parte do seu discurso, proferido na noite de 15 de dezembro de 1956, por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras:
Chego a esta casa sem arrependimentos pelo que fiz nem temor de falar como sempre falei, com a língua solta que Deus me deu. Estou certo de que a Academia não restringirá os meus surtos, as minhas palavras. Trago ao convívio dos doutos e mestres a simplicidade de um falar ligado ao povo. Não me complicarão a sintaxe a presença de sábios e os rigores dos que manejam o estilo. Tenho para mim que a função essencial de nossa Academia é de ser menos de polícia do que de ligação entre as gerações. O espírito acadêmico não deve agir como um livro rígido de bem dizer. As gerações não falam e não comem pela mesma boca. As leis que regem a linguagem, quando se cristalizam e se fecham em intransigências radicais, aniquilam a expressão e desmantelam o ritmo.
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