Diogo Pinheiro (UFRJ)

O trabalho de Goldberg (1995) foi o marco do desenvolvimento mais sistemático de uma agenda de pesquisas voltada para a descrição gramatical a partir do modelo da Construction Grammar. Ao dar um passo além do estudo já consagrado de expressões idiomatizadas no âmbito da Lingüística Cognitiva (LC), a autora assume que estruturas argumentais abstratas também podem ser tratadas como construções gramaticais (CGs) - ou seja, pareamentos de forma e significado, dotados de uma especificação semântica, sintática, pragmática, prosódica -, organizadas em rede através de mecanismos (links) específicos. Desde então, seu trabalho seminal vem sendo revisto à luz dos novos desenvolvimentos em LC (cf., por exemplo, a tese de Mandelblit, 2003). Inserindo-nos nesse cenário, objetivamos, nesta comunicação: 1) apresentar uma proposta de descrição e explicação de parte da rede construcional do português, envolvendo as CGs Possessiva, Existencial Inacusativa e Existencial Inergativa; 2) evidenciar a necessidade de incorporar ao modelo motivações discursivo-pragmáticas para a descrição das construções, paralelamente às bases de conhecimento que refletem tais motivações no plano cognitivo; e 3) ainda na tentativa de colaborar para o refinamento do modelo, propor a inserção de um novo tipo de link motivador de construções: aquele que captura o processo de reenquadre, operação cognitiva de importância capital na explicação sugerida por nós para a relação entre os conceitos de Posse e Existência, codificados nas bases de conhecimento que subjazem ao pólo semântico das CGs em pauta.