DEIXE O POVO FALAR
ARTIFÍCIOS LEXICAIS NO DISCURSO LITERÁRIO
DE JOÃO UBALDO RIBEIRO

Denise Salim Santos (UNIG e UERJ)

Esta é a diretriz seguida por João Ubaldo Ribeiro ao construir a fala das personagens de seus romances. Em nome da expressividade e da atualização, o escritor condiciona a forma lingüística do enunciado a ser produzido.

Em nosso trabalho buscamos registrar a manipulação dessas formas nos discursos que fogem ao padrão culto da língua, com a intenção de deixar ali registrada a resistência da tradição da origem da língua portuguesa falada em território brasileiro. Com facilidade percebe-se este fato na fala de Balduíno Galo Mau, índio tupinambá, personagem de O Feitiço da Ilha do Pavão (1997) ou então em Dadinha, a mestiça centenária, senhora dos mistérios da raça negra de Viva o Povo Brasileiro (1984), entre tantas outras que se apresentam nestas e em outras obras do autor.

Em verdade, é ele mesmo que diz que inventa umas poucas palavras, apenas deturpa muito outras. E de deturpação em deturpação, fruto da perseguição fiel à expressão exata, constrói um discurso eivado de humor que cumpre o papel de bobo da corte, pois, superficialmente, faz rir, mas denuncia, desestrutura, desconstrói mesmo a ordem estabelecida. Tudo isto dentro da perspectiva de respeito à heterogeneidade, representada e preservada nos variados traços de nossa cultura ao reunir em sua obra a multiplicidade de elementos que constituem a unidade cultural brasileira.

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