Discurso, texto e gramática: uma relação de implicação
Hilda de Oliveira Olimpio (UFES)
A insuficiência de um tratamento puramente formal de várias categorias da gramática do português tem problematizado a concepção de língua como código acabado e paralelamente tem apontado para a necessidade de se reconhecer na própria língua (e na sua gramática) um sistema dinâmico, semi-estruturado que, deixando ao sujeito alguns espaços de liberdade, é mais adequado para explicar a linguagem em uso. Se, por um lado, o sistema tem um conjunto de classes e categorias historicamente constituído, por outro, ele permite ao usuário algumas escolhas (de unidades lexicais; de estruturas sintáticas, de tipo de conexão, de ordem, entre outras) que não se pode creditar nem um sistema fechado, nem tampouco a idiossincrasias da fala “individual”. Trata-se, no caso, de uma liberdade prevista no próprio funcionamento lingüístico, determinada pelas condições de produção dos discursos, portanto subordinada às variáveis implicadas na interação verbal: locutor, interlocutor, imagens recíprocas que de si fazem esses sujeitos da enunciação.
Dentro desse quadro teórico, defende-se uma gramática funcional, que extrapola as regras do código e dá conta do funcionamento da linguagem, inclusive do próprio funcionamento gramatical. O imperioso, nessa perspectiva, é que se reconheça entre discurso, texto e gramática uma relação de implicação.
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