FICÇÃO A SERVIÇO DA REALIDADE EM “A HORA DA ESTRELA” DE CLARICE LISPECTOS
Darcy Piva Dessimoni (UNINCOR)
Aparecida Maria Nunes (UNINCOR)
Toda construção humana, seja na ciência, na arte, na filosofia ou na religião, trabalha com o real ou têm nele o seu fundamento, seu ponto de partida ou de chegada. O melhor a ser feito é questionar o sentido da vida humana que, dotada de uma consciência reflexiva, construiu seus conceitos de realidade, a partir dos quais se exerce no mundo e se multiplica, alterando a cada momento sua visão de mundo. Clarice Lispector em sua condição de mulher, demonstra sua sensibilidade aos problemas das pessoas carentes. A marca registrada de seus personagens é serem sem relevância aos olhos da sociedade (meninas, velhas, adolescentes...) mas ricos em sua interioridade. Ela faz os personagens viverem o processo chamado de epifania, ou seja, revelação, isto é, de repente, diante de ocorrências mínimas o personagem se descobre e vê revelada uma realidade mais profunda. Muitas vezes, ele mesmo não consegue perceber com clareza que realidade é essa, porém sua vida ou sua visão mudam. Clarice Lispector não permite que a ficção esteja a serviço da realidade a não ser quando propositalmente assim o queira. No decorrer da leitura, cada personagem do livro “A Hora da Estrela” se reveste de instrumento canalizador denunciante dos problemas sociais gerados pelas desigualdades sociais, pelos interesses das classes dominantes em detrimento dos interesses das classes populares, a imposição de preceitos de vida e de valores, a solidão e o sofrimento do retirante na grande metrópole e num País do 3° mundo.
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