Vanda de Oliveira Bittencourt (PUC Minas)

Comprometido, em seus estudos do português, com a descrição de fatos de natureza ortográfica, gramatical e até mesmo estilística, Mário Barreto, também atento à ação pedagógica, deixou-nos um legado de obras que, em lições relativas a sincronias pretéritas e coeva ao seu período de vida, apresenta um projeto de análise que converge, em vários pontos, com propostas teóricas da Lingüística Moderna.

No presente trabalho, procura-se apontar e examinar alguns casos ilustrativos dessa convergência, que nos revelam, da parte do autor, dentre outras, preocupações como: o uso real da língua (no contexto em pauta, a modalidade escrita literária); uma visão muitas vezes pancrônica da linguagem (defendida por correntes como a Sociolingüística e o Funcionalismo); um especial cuidado - de ordem qualitativa e quantitativa - na apresentação dos dados ilustrativos; uma análise gramatical não apenas descritiva, mas, na medida possível, explicativa; um interesse pela ocorrência de mudanças, tais como o “deísmo’, “clivagem”, “gramaticalização”, “discursivização” e muitas outras, que, em andamento, ou não, nos tempos atuais, vêm suscitando inúmeras e diferentes pesquisas no meio acadêmico; um empenho (interlingüístico) em confrontar a situação vigente no português com a observada no latim (língua-mãe) e em línguas modernas, românicas, ou não.

Em face disso e de outros elementos mais, percebe-se a coerência da prática analítica de Mário Barreto com a sua idéia de que não cabe ao gramático corrigir e aperfeiçoar a linguagem, mas observar e registrar imparcialmente os fatos.