O AMANUENSE BELMIRO
E O GÊNERO DIARÍSTICO
Keila Mara Sant’Ana Málaque (UNESP-Assis)
O presente trabalho tem por objetivo analisar aspectos da presença do diário no romance O amanuense Belmiro (1937), de Cyro dos Anjos. Uma vez que a obra envolve a transição do gênero memórias para o diário, faz-se pertinente um estudo comparativo das duas formas, acentuando suas proximidades e diferenças. Avaliaremos também alguns aspectos que fazem do diário uma forma adequada à narrativa contemporânea: a liberdade que o caracteriza, a inconclusividade e, principalmente, as possibilidades concernentes ao tratamento da linguagem. Cyro dos Anjos opera uma coesão entre o novo e o velho na medida em que, tomando uma forma antiga, dá a ela um tratamento bastante moderno - o metalinguístico - de modo a imprimir nova força ao discurso da tradição. Se o diário é um gênero adequado à auto análise, percebe-se em O Amanuense Belmiro que ele se faz apropriado à literatura que busca compreender-se. Nesse romance, ao lado de proceder à denuncia e confissão da intimidade psicológica do protagonista, o diário aponta para a intimidade do texto, logrando revelar o que está por detrás dos bastidores e, normalmente, não se vê. Por meio dele, a própria literatura realiza seu teatro interior.
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