O MODELO CLÁSSICO DA METÁFORA
EM O CORTIÇO DE ALUÍSIO AZEVEDO
Amós Coelho da Silva (UERJ e UGF)
Desde os antigos gregos e romanos, nomes de personagens são citados etimologicamente para que se enfatize a sua função no desenrolar da ação narrativa. Assim, lemos em Homero e Vergílio explicações etimológicas sobre nomes sublimados no relato épico. No Renascimento, encontraremos eco desse procedimento clássico. Além disso, essa ênfase etimológica ultrapassou o mundo épico e também era encontrada em múltiplas obras clássicas da comédia.
De modo que, na comédia latina de Plauto, nomes próprios de personagens, que contêm o argumento da peça, passam a comum, como é o caso do nome do general Anfitrião, que também é o título de sua peça cômica, historicamente imitada / assimilada múltiplas vezes, inclusive por Camões (1525? - 1580) e por Molière (1622 - 1673), os quais intitularam respectivamente Anfitriões e Anfitrião.
Portanto, o nome do personagem tornou-se emblemático do seu papel na trama literária. Aluísio Azevedo nos apresentou seu personagem Pombinha como espelho da alma de O Cortiço. Ora, a pomba, no Novo Testamento, representa o Espírito Santo, é o símbolo da pureza. O sufixo -inha em Pombinha, e até em Senhorinha denota afetividade. Contém o nome Pombinha toda a força de sublimação / contemplação endereçada pelos moradores do cortiço à Pombinha. Na visão do narrador, existe aí, de início, uma redoma protetora contra quaisquer influências negativas, mas que, no decorrer dos fatos, esta redoma é rompida pelas forças do determinismo, que levam Pombinha a se tornar uma prostituta.
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