PARÁBOLAS
INTENCIONALIDADE, DISCURSIVIDADE
E TEXTUALIDADE
Maria Lilia Simões de Oliveira (PUC-Rio)
“Anunciava-lhes a Palavra por meio de parábolas, conforme podiam entender e nada lhes falava a não ser em parábolas. A seus discípulos, porém, explicava tudo em particular...” (Marcos,4-5). Nota-se, no trecho bíblico citado, a clara intenção de Jesus de Nazaré: organizar seu discurso à luz da interlocução com o povo - camponeses, pescadores... Como falava a uma camada simples da população, precisava adequar suas pregações aos ouvintes. A história, todavia, nos ensina também que, infiltrados entre os cidadãos comuns, havia espiões, ávidos por levarem notícias aos perseguidores do Nazareno.
O discurso das parábolas - alegórico por natureza - surge, então, como estratégia eficaz para que as idéias de Jesus chegassem somente ao receptor “ideal”. A fim de melhor compreender esses e quaisquer textos, devemos buscar conhecer os mecanismos pelos quais se põe em jogo determinado processo de significação. É nosso objetivo, no presente estudo, apontar alguns recursos lingüístico-discursivos recorrentes nos textos das parábolas da Bíblia, que, sendo palavra de Deus, é também literatura, poesia, história e narrativa. É sabido que a linguagem bíblica influenciou, através das traduções, as línguas comuns dos povos cristãos. Basta observar o recurso da intertextualidade; a todo momento ele nos reapresenta passagens do Livro Sagrado - clássico dos clássicos.
Jesus não foi o inventor do gênero literário alegórico, pois as parábolas já existiam no Velho Testamento. Cristo soube, no entanto, reconhecer o caráter didático, o apelo das imagens e a força persuasiva de tais textos.
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