PERÍFRASES NOMINAIS: O DUO EM QUESTÃO

Marcelo Andrade Leite (UFRJ)

A percepção da língua como somatório de itens lexicais apresenta inúmeras inconveniências e, entre elas, há a interpretação sintática de algumas formas analíticas verbo-nome como um verbo e seu objeto direto / indireto. Tais equívocos de análise vão de encontro à percepção do falante de situações lingüísticas como “O sabão dá mais branco a sua roupa” como se estivéssemos diante de um verbo (dar) e seu objeto (branco) e não de uma forma analítica de embranquece.

Tendo como base o que define CÂMARA Jr. (1992:162) como locução (reunião de dois vocábulos que conservam a individualidade fonética e mórfica, mas constituem unidade significativa para determinada função), podemos enquadrar a situação acima como tal. Mais especificamente como uma perífrase verbo-nome, ou uma perífrase nominal que não se configuraria como passível de tal visão analítica tradicional.

É este um dos pontos de discussão de minha tese de doutorado que toma como base a intuição de gramáticos tradicionais como KURY, BECHARA, SAID ALI, ROCHA LIMA de que há situações em que temos itens que operam como um uno semântico e não como formas isoladas que somam sentidos diversos.

Estas percepções vêm a unir-se com modernas teorias de estudos de verbos leves de autores como ALLERTON (1984), RADFORD (1988), FIRTH (1966), HALLIDAY (1966) NEVES (2002) que nos permite entender melhor o que torna um verbo passível de um empalidecimento semântico a ponto de tornar-se de um verbo pleno uma forma auxiliar.

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