TRADUÇÃO POÉTICA E OS LIMITES DA RECRIAÇÃO
Paulo Henriques Britto (PUC-Rio)
Num momento em que a tradução de poesia está em alta no Brasil, encontramos uma situação de divórcio crescente entre as posturas teóricas predominantes no meio acadêmico e as práticas tradutórias mais bem recebidas pela crítica e pelo público. As traduções poéticas realizadas pelos irmãos Campos se tornaram paradigmáticas para toda uma nova geração de tradutores. No entanto, os próprios Campos rejeitam o termo “tradução” e se arrogam neologismos como “transcriação” e “transluciferação” para descrever o próprio trabalho, de certo modo reforçando o preconceito contra a tradução: a verdadeira recriação poética seria algo mais que tradução. Ao mesmo tempo, estudiosos da tradução como Silene Moreno, influenciados pela desconstrução e o pragmatismo, que representam a tendência dominante na área, acusam os Campos de terem uma visão tradicionalista do texto - sem indicar, porém, como seria uma prática tradutória em poesia que se pautasse sobre uma visão que não fosse tradicionalista. Entre os dois fogos, torna-se desconfortável a situação do tradutor de poesia que acredita que a recriação poética que está fazendo é tradução mesmo e não outra coisa, e que desconfia ser a visão proposta pelos teóricos incompatível com qualquer prática tradutória real.
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