A MARCAS DE GÊNERO NOS ADJETIVOS

Cristiano Marins Moreira (UERJ / UniverCidade)

INTRODUÇÃO

Atualmente, a Lingüística tem contribuído de forma surpreendente para o entendimento de nossa língua.

Ao contrário do que muitos propagam por aí, a Lingüística não se apresenta como inimiga da gramática, mas sim como um ótimo instrumento para somar com ela. Ora acrescentando novas informações, ora oferecendo subsídios reais para a adequação do nosso regimento gramatical aos fenômenos naturais de nossa língua materna.

Sendo assim, com a finalidade de enriquecermos o nosso estudo de língua portuguesa, constitui-se como objetivo deste trabalho, apresentarmos uma nova proposta de compreensão de um tópico gramatical, a saber: gênero dos adjetivos.

Em princípio, trata-se de um assunto simples, o qual não apresenta dificuldades; no entanto, ao observarmos o objeto de nosso estudo minuciosamente, perceberemos a presença de algumas particularidades interessantíssimas e que merecem destaque.

O GÊNERO DOS ADJETIVOS E A GRAMÁTICA TRADICIONAL:

Antes de iniciarmos o nosso estudo sobre os gêneros na classe gramatical enfocada, cremos ser profundamente relevante, a retomada de algumas noções básicas sobre o assunto referido, segundo a norma culta da língua.

A) Conceituação de adjetivo

Conforme o nosso regramento gramatical, o adjetivo é a palavra que dá características ao substantivo. Diz-se, ainda, que o adjetivo atribui uma qualidade, um estado ou um modo de ser ao substantivo a que se refere.

Outro aspecto que não deve ser desprezado é que os adjetivos, de acordo com o ensino tradicional, concordam em gênero com seu substantivo. Exemplificando, temos: menino bonito / menina feia.

B) Ocorrência do gênero nos adjetivos

Acordando com o que foi exposto anteriormente, podemos afirmar que, em relação ao gênero, existem dois grupos de palavras em Português, são elas: as masculinas e as femininas.

Classificamos como masculinos, os substantivos, tais como: barco, menino, sapo, etc. Logo, conseqüentemente, classificamos como masculinos, os adjetivos que concordarem com tais termos. Como exemplo, temos: barco furado, menino moreno, e sapo feio.

Por outro lado, classificamos, então, como femininos, os substantivos, tais como: bola, menina, careta, etc. Segundo o princípio da concordância, classificamos como femininos, os adjetivos que concordarem com tais termos. Como exemplo, temos: bola furada, menina morena e careta feia.

Assim, de um modo geral, percebemos quão simples aparenta ser o estudo dos gêneros dos adjetivos, segundo a norma padrão do ensino de Português. Contudo, é a partir desta simplicidade que apresentaremos algumas particularidades interessantes sobre este assunto.

ESPECIFICIDADES NO ESTUDO DOS GÊNEROS NOS ADJETIVOS

Retomados os conhecimentos básicos sobre o objeto de nosso estudo, partamos para as novas reflexões:

Vejamos cada caso dos exemplos citados abaixo:

1º) O ônibus está lotado de passageiros.

Neste exemplo, podemos notar que o adjetivo "lotado" concorda em gênero com o substantivo "ônibus". Assim, o predicativo se combina harmoniosamente com o substantivo do sujeito.

2º) No calor, banho é ótimo.

Em princípio, seria fácil dizer que o adjetivo "ótimo" concorda com o substantivo banho.

Até este momento, tudo parece fácil; contudo, vejamos os exemplos a seguir:

3º) Está lotado de passageiros no ônibus.

Nesta oração, com qual elemento concordou o adjetivo "lotado"?

4º) Está lotado de pessoas na barca.

E agora? Como justificar a ocorrência do gênero masculino nesta frase? Na sentença, o adjetivo é o único vocábulo que se encontra no masculino. Sendo assim, podemos dizer que houve concordância de gênero?

5º) No calor, cerveja é ótimo!

Se no segundo exemplo, concluímos que "ótimo" concordava com "banho", com que substantivo concorda o adjetivo "ótimo" para que se mantenha no masculino?

Caso tentemos associá-lo ao substantivo "calor" do adjunto adverbial. Pensemos na seguinte hipótese: Na praia, cerveja é ótimo! Afirmamos, então, que o adjetivo da frase não possui nenhum elemento com o qual possa concordar para que se mantenha no masculino.

6º A loja está lotada de pessoas.

Neste exemplo, fica evidente a concordância genérica, pois o adjetivo "lotada" concorda com o substantivo feminino "loja".

Concluímos, então, após analisarmos estes exemplos, que a apresentação do assunto nas gramáticas tradicionais oculta algumas características importantes.

Através dos dados oferecidos, percebemos que no gênero masculino ficam os adjetivos que não possuem sujeito ou palavra alguma com que possam concordar.

Desta forma, faz-se necessária a introdução de tais aspectos nas gramáticas tradicionais e no currículo de nossos alunos, pois completam o estudo dos gêneros dos adjetivos.

A NOVA PROPOSTA DE MARCAÇÃO

Após percebermos que o conceito de masculino e feminino mostra-se incompleto e questionável, já que, às vezes, alguns adjetivos permanecem no "masculino" mesmo sem ter algum termo que exija tal concordância, muitos estudiosos propõem uma nova nomenclatura para o tópico gramatical estudado.

A proposta é substituir o termo "gênero" por "marcação". Tendo em vista que os adjetivos se apresentam de duas formas aqueles que são marcados por um substantivo e aqueles que não são. Sendo que dos que são marcados só os que são do "gênero feminino" não apresentam exceção e por isso somente eles seriam marcados.

Em outras palavras, os adjetivos do gênero feminino seriam as formas marcadas por sempre terem um substantivo marcante; ao passo que os adjetivos do "gênero masculino" seriam as formas não marcadas.

CONCLUSÃO

Ao longo deste breve trabalho, apresentamos uma bela contribuição da Lingüística para com a nossa gramática, buscando, assim, a melhor compreensão das normas de nossa língua.

Através dos exemplos estudados, pudemos concluir que o tópico gramatical chamado "Gênero dos Adjetivos" merece uma complementação e uma inovação em sua apresentação. Sendo assim, já que os conceitos de masculino e feminino se mostram ultrapassados, faz-se necessário implementar uma nova postura, proposta por vários estudiosos, de substituir a concordância genérica pelo método da marcação. Fato este que transformaria os adjetivos masculinos em adjetivos não marcados e os adjetivos femininos em adjetivos marcados, devido à existência essencial de um substantivo marcante que operaria tal marcação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MARTIN, John W. Gênero? Revista brasileira de lingüística. n° 2, 1975, p. 3-8

CIPRO NETO, Pasquale; Infante. Ulisses. Gramática da língua portuguesa. 1ª ed. e 2ª impr. São Paulo: Scipione, 1998.

 

 

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