SEMÂNTICA
E
PRAGMÁTICA
Maria Lucia Mexias Simon
Semântica é o
estudo do
significado,
isto é a
ciência das
significações,
com os
problemas
suscitados
sobre o
significado:
Tudo tem
significado?
Significado é
imagem
acústica,
ou
imagem
visual? O
homem
sempre se
preocupou
com a
origem das
línguas e
com a
relação
entre as
palavras e as
coisas
que
elas
significam, se há uma
ligação
natural
entre os
nomes e as
coisas
nomeadas
ou se essa
associação é
mero
resultado de
convenção.
Nesse
estudo
consideram-se
também as
mudanças de
sentido, a
escolha de
novas
expressões, o
nascimento e
morte das
locuções. A
semântica
como
estudo das
alterações de
significado
prende-se a Michel Bréal e a Gaston Paris.
Um
tratamento
sincrônico descritivo dos
fatos da
linguagem e da
visão da
língua
como
estrutura e as
novas
teorias do
símbolo datam
do
século. XX.
As
formas
lingüísticas
são
símbolos e
valem
pelo
que
significam.
São
ruídos
bucais,
mas
ruídos
significantes.
É a
constante
referência
mental de uma
forma a
determinado
significado
que a eleva a
elemento de
uma
língua.
Não há nenhuma
relação
entre o
semantema (ou
lexema
ou
morfema
lexical –
unidade
léxica,
que compõe o
léxico)
cão e
um
certo
animal
doméstico a
não
ser o
uso
que se faz
desse semantema
para referir-se a
esse
animal.
Cada
língua
“recorta” o
mundo
objetivo a
seu
modo, o
que Humboldt
chama “visão
do
mundo”.
Registre-se a
existência da
linguagem
figurada, a
metáfora,
uso de uma
palavra
por
outra,
subjazendo à
segunda a
significação da
primeira. Há
que se
levar
em
conta a
denotação (significado
mais restrito)
e a
conotação (halo
de
emoção
envolvendo o semantema –
casa /
lar).
O
estudo dos semantemas é
difícil,
pois
são
em
número
infinito e
sua significação fluída,
sujeita às variações sincrônica, sintópica etc. A
polissemia faz da significação dos semantemas
um
conglomerado de
elementos e
não
um
elemento
único:
ele
anda a
passos
largos /
anda de
carro /
anda
doente.
Quanto à significação
interna dos
morfemas, (ou gramema
ou
morfema
gramatical)
ela se distribui nas
categorias
gramaticais
que enquadram
um
dado semantema numa
gama de
categoria –
gênero,
número etc –
para
maior
economia da
linguagem.
Os
elementos
lexicais
que fazem
parte do
acervo do
falante de uma
língua podem
ser:
–
simples –
cavalo
–
compostos –
cavalo-marinho
–
complexos – a
olhos
vistos,
briga de
foice no
escuro (são
sintagmáticos)
–
textuais –
orações,
pragas,
hinos (são
pragmáticos,
não entram
nos
dicionários de
língua, a
não
ser
por
comodidade. O
conceito de
gato
não está contido
em "à
noite
todos os
gatos
são
pardos”)
Nem
todo lexema é,
portanto, uma
palavra, às
vezes é
um
conjunto,
em
geral
idiomático:
favas contadas,
nabos
em
saco etc. Nesse
caso, falamos
em
sentido
figurado,
oposto a
sentido
literal.
Nas alterações sofridas nas
relações
entre as
palavras estão as
chamadas
figuras de
retórica
clássica:
1)
Metáfora – comparação abreviada
2)
Metonímia –
transferência do
nome de
um
objeto a
outro,
com o
qual
guarda alguma
relação de:
–
autor
pela
obra –
Ler
Machado de Assis
–
agente
pelo
objeto –
Comprar
um Portinari
–
causa
pelo
efeito –
Viver do
seu
trabalho
–
continente
pelo
conteúdo – Comeu
dois
pratos
–
local
pelo
produto –
Fumar
um
havana
etc
3)
Sinédoque (para
alguns é
caso de
metonímia)
–
parte
pelo
todo –
Completar 15
primaveras
–
singular
pelo
plural – O
português chegou à América
em 1500
4)
Catacrese –
extensão do
sentido de uma
palavra a
objetos
ou
ações
que
não possuem
denominação
própria –
embarcar no
ônibus; o
pé da
mesa
No
levantamento da
tipologia das
relações
entre as
palavras
assinalam-se
ainda os
fenômenos da
sinonímia,
antonímia,
homonímia, polissemia e
hiponímia. Os
sinônimos se
dizem
completos,
quando
são
intercambiáveis no
contexto
em
questão.
São
perfeitos
quando
intercambiáveis
em
todos os
contextos, o
que é
muito
raro, a
não
ser
em
termos
técnicos.
Por
exemplo,
em:
casamento,
matrimônio,
enlace,
bodas,
consórcio, há
um
fundo
comum,
um "núcleo"; os
empregos
são
diferentes,
porém
próximos.
Nem todas as
palavras aceitam
sinônimos
ou
antônimos. A
escolha
entre
séries sinonímicas é, às
vezes,
regional. (Ex:
pandorga,
papagaio,
pipa).
Quanto à
homonímia, pode
ocorrer
coincidência fônica e/ou
gráfica. A
coincidência de grafemas e
fonemas pode
decorrer de
convergência de
formas (Ex:
são –
verbo
ser,
sinônimo de
sadio,
forma
variante de
santo derivando
respectivamente de sunt, sanum, sanctum).
Ou é
resultado de
existência coincidente do
mesmo
vocábulo
em
línguas
diferentes (Ex:
manga –
parte da
roupa
ou
fruto, provindo,
respectivamente do
Latim e do
Malaio).
Cumpre
distinguir
homonímia de polissemia, o
que
nem
sempre é
fácil. A
distinção pode
ser:
– descritiva – considerando
ser
a
palavra
um
feixe
de semas, se
entre
duas
palavras
com
a
mesma
forma,
houver
um
sema
comum,
diz-se
ser
um
caso
de polissemia (Ex:
coroa
–
adorno
para
a
cabeça
ou
trabalho
dentário).
Em
caso
contrário,
será
homonímia
(Ex
pena
– sofrimento
ou
revestimento
do
corpo
das
aves)
.
–
diacrônica
– se as
palavras
provém do
mesmo
léxico,
diz-se
ocorrer
um
caso
de polissemia;(Ex:
cabo
–
acidente
geográfico
e
fim
de alguma
coisa)
No
contrário,
ocorrerá
um
caso
de
convergência
de
formas
(Ex:
canto
–
verbo
cantar
e
ângulo).
O
estudo da
homonímia e da polissemia
envolve,
portanto, o
problema de
significação,
principalmente
universal, e de
significação,
marginalmente
ocasional.
Quando a
mesma
forma fônica
cobre
significações
diferentes,
embora
correlatas, tem-se a polissemia;
quando
cobre
significações
completamente
diferentes,
tem-se a
homonímia. A polissemia
envolve
matizes
emocionais, é
determinada
pelo
contexto;
constitui, às
vezes,
linguagem
figurada e
linguagem
literária. A
tarefa do
ouvinte é
fazer uma
seleção
entre as
significações
alternativas,
por
meio do
contexto
em
que se
acha o
signo. Diz-se
serem os
homônimos
lexemas
iguais e
palavras
diferentes,
isto é,
com
conteúdo
semântico
diferente.
Como os
lexemas
também podem
se
apresentar
com
mais de uma
forma, a
descrição de
homonímia
precisa
ser refinada
para se
distinguir
homonímia
parcial de
homonímia
total,
considerando-se
aqui a
não
coincidência
entre
língua
escrita e
falada.
Já a polissemia
só ocorre
com lexemas
simples. É,
por
vezes,
difícil distingui-la de
homonímia.
Um dos
critérios é o
etimológico,
não
relevante na
linguagem estrutural. O
principal,
aqui, é
haver
relação
entre
significados. Permanece o
problema do
dicionário: deve
haver uma
ou
mais de uma
entrada
lexical? Ex:
pupila –
parte do
olho /
menor de
que se deve
cuidar – têm a
mesma
etimologia.
Mas deve-se
considerar a
relação sincrônica
entre os
Significados. O
fato de a
língua
sofrer alterações dificulta o
problema.
Quanto à
sinonímia, os lexemas podem
ser
completamente
sinônimos
ou
não,
conforme sejam intercambiáveis
em
todos os
contextos
ou
não. A
sinonímia
total é
muito
rara,
só ocorre
em
termos
científicos. A
distinção é,
por
vezes,
sutil, inclui o
fator
eufemismo. (vide
anexo). Podemos
dizer
que
um lexema se relaciona a
outros
pelo
sentido e se relaciona
com a
realidade
pela
denotação.
Sentido e
denotação
são
interdependentes. Isomorfia
total
entre duas
línguas é
difícil, ocorre
mais
freqüentemente
em
empréstimos decorrentes de
intercâmbios cultural (Ex. a
palavra
camisa, herdada
pelos
romanos aos
iberos). A
análise componencial coloca a
tese de serem os lexemas de todas as
línguas
complexos de
conceitos atomísticos
universais
como os
fonemas
são
complexos de
traços atomísticos
universais (possivelmente).
Assim o lexema
mulher pode
ser descrito
pelos
traços
adulto,
feminino,
humano,
em
relação a
homem
que seria
adulto, não-feminino,
humano.
Nem
todo lexema é
passível de
análise componencial (a
análise componencial
ajuda a
distinguir
homonímia de polissemia).
Entre as
relações
pelo
sentido, colocamos
também a hiponímia e a
antonímia. A
antonímia inclui os
casos de
oposição de
sentido (solteiro /
casado;
morto /
vivo),
ou,
como dizem
alguns
autores, a
incompatibilidade (vermelho
/
azul /
branco seriam
incompatíveis
entre
si).
As
relações
hiponímicas provêm do
fato
de
um
termo
ser
mais
abrangente
que
outro:
(Ex:
flor
>
rosa,
orquídea
etc)
Um
grande
número
de
palavras
aceita polissemia. Escapam os
termos
técnicos,
palavras
muito
raras e
palavras
muito
longas. O
deslizar
de
sentido
ocorre
por
muitas
causas:
–
interpretações
analógicas – (Ex:
mamão).
–
transferência
do
adjetivo
ao
substantivo
– (Ex:
pêssego,
burro).
–
adaptação
de
palavras
estrangeiras – (Ex:
forró).
Na
evolução
semântica,
as
palavras
ganham
conotação
pejorativa
(tratante
–
que
faz
um
trato),
ou
valorativa (ministro
–
que
serve os
alimentos);
ampliam o
significado
(trabalho–
instrumento
de
tortura),
ou
restringem (anjo
–
mensageiro).
Fontes
de renovação do
léxico
em
suas
acepções,
são
as
gírias
(falares
grupais),
aí
incluídos os
jargões
profissionais
(chutar,
no
sentido
de
mentir;
o
doente
fez uma
hipoglicemia).
As
siglas
são
outra
fonte
do
léxico,
dando
até
palavras
derivadas (CLT → celetista).
O
signo
lingüístico
quebra
a convencionalidade no
caso
da
derivação,
que
é
um
caso
de motivação intra-lingüística e se prende à
semântica
gramatical
(caju
→
cajueiro;
pena
de
aveÕpena
de
caneta)
e no
caso
das
onomatopéias
(sibilar).
Há
estudiosos
defendendo a
idéia
de
que,
originalmente,
seria
tudo
onomatopéia.
As
onomatopéias
são iconográficas; na
poesia exploram-se as
virtualidades da
representação
natural. (“Um
fino
apito
estrídulo
sibila / rangem as
rodas num arranco perro” O
trem de
ferro –
Batista Rebelo)
Na
chamada
linguagem
figurada
há várias
ocorrências:
elipse
(bife
com
fritas); similaridade (chapéu-coco);
sinestesia (cor
berrante);
contigüidade (beber
Champanhe);
perda
de motivação (átomo);
eufemismo
(vida-fácil).
Por
vezes,
o
eufemismo
provém de
um
tabu
lingüístico
mal
dos
peitos,
doença
ruim,
malino <
maligno
etc.
Esses
fenômenos
são
grupais, acabam
por
convencionalizar-se.
Toda
criação de
palavras repousa,
portanto,
em
associações, sendo a
língua uma
estrutura. O
valor de uma
palavra se estabelece
em
relação a outras e
em
relação ao
sistema, é o
centro de uma
constelação associativa;
toda
mudança
em
um
conceito resulta
em
mudança
nos
conceitos
vizinhos (mulher /
senhora ;
sopa
fria /
água
fria)
Em
resumo, a significação
lexical é a significação, no
sentido de uma
noção
apropriada, experimentada
em
conexão
com o
uso da
palavra
em
causa. A significação
gramatical está
ligada aos
morfemas,
sem se
desligar da significação
léxica; refere-se às
propriedades e
relações dos
signos
verbais
dados e às
propriedades e
relações dos
objetos
reais
que
são refletidos na
linguagem e no
pensamento:
gênero,
número etc. A significação
sintática é,
por
assim
dizer, uma
extensão da significação
gramatical – lato-sensu, diz-se
que a significação dos
morfemas é
um
elemento da significação
sintática; na significação
sintática
sempre se acrescenta
um
elemento
qualquer à significação
léxica;
isso provém dos
morfemas, das
regras da
ordem das
palavras e das
palavras
funcionais.
Quando o
quadro de
morfemas é
pobre, a
ordenação e as
palavras
auxiliares tornam-se
importantes. Essas últimas
são
morfemas,
tanto
quanto os
afixos,
pois
sempre aparecem
em
companhia das
palavras
mais
lexicais e acrescentam
algo à significação dessas (Ex.
bater no /
com o
carro de Maria).
As significações
lingüísticas consideram a significação
interna
ou
gramatical
referente aos
morfemas e a
semântica
externa
ou
lexical,
isto é,
objetiva,
referente aos semantemas. Pode
ser
diacrônica
ou descritiva (como as
línguas interpretam o
mundo). A significação
interna,
como
já se disse, distribui-se pelas
categorias
gramaticais
para
maior
economia e
eficiência da
linguagem. A
estrutura sintagmática é
também
relevante
para o
significado, donde poder-se
falar
em
significado
gramatical;
esse depende da
regência, da
colocação e,
até, de
fatores
como
pausa,
entonação
que, na
linguagem
escrita
são assinaladas,
tanto
quanto
possível,
pela
pontuação. O
significado da
sentença
não é
portanto a
soma do
significado dos
seus
elementos
lexicais,
muito
embora a
relevância do
significado de
cada
um deles.
O
significado de uma
sentença depende,
portanto, do
Significado dos
seus lexemas
constituintes e o
Significado de
alguns lexemas dependerá,
por
sua
vez, da
sentença
em
que aparece.
Mas a
estrutura da
sentença é
relevante
para a
determinação do
Significado. Devemos,
por
conseguinte,
considerar o
Significado
gramatical
como
componente
para o
Significado da
sentença.
Já o
Significado do
enunciado envolve o
Significado de
sentença,
mas
não se
esgota nele. Depende de
fatores
contextuais. Há
teorias afirmando
que o
Significado do
enunciado extrapola a
lingüística constituindo a
pragmática.
É
preciso
considerar
que as
línguas possuem variadas
funções. As
proposições podem
ser declarativas, imperativas,
ou imperativas. As declarativas podem
ser
afirmativas
ou
negativas (falsas
ou verdadeiras). Há,
então, uma
grande
divisão
entre
Significado descritivo e não-descritivo. (Ex. João
levanta
tarde (! ? ...) dependendo da
entonação, será uma
informação
ou uma exteriorização de
sentimentos). No
significado não-descritivo inclui-se o
significado
social,
quando
este
visa a
manter
ou
estabelecer papéis
sociais. Numa
visão
mais
ampla podemos
aí
incluir das
formas ritualizadas (cumprimentos,
brindes etc)
até os
enunciados
científicos
que tem
por
objetivo
fazer
adeptos e
influenciar
comportamentos. O
que é
dito e o
modo de
dizer dependem das
relações
sociais
entre os
interlocutores.
Quanto aos lexemas, há
que se
considerar
que
eles
tanto transportam
conteúdo sêmico (do
Significado),
quanto
informações
gramaticais expressas nas
desinências e
nos
determinantes e nas
funções
que expressam na
sentença. Há
informações
portanto, mórficas e sintáticas, apontadas
já no
dicionário. (p. ex. subst. fem., v. trans.
etc).
O
conceito de
semântica
gramatical se
torna
claro ao compararmos: O
menino mordeu o
cachorro / O
cachorro mordeu o
menino. Há
também, a
considerar, as variações
estilísticas: o
emprego do
condicional é
mais
gentil
que o
presente do
indicativo.
Consideremos,
ainda, o
fato de existirem, nas
línguas
naturais,
sentenças
com:
– pressuposição –
Quanto
tempo
ele ficou
em Brasília? – supõe:
Ele foi a Brasília.
–
implicação –
Muitos
estudantes
não foram
capazes de
responder à
pergunta. – implica: –
Só
alguns
estudantes responderam.
A
compreensão dos
significados das
sentenças envolve os
elementos
lexicais isolados e o
modo
como
eles se relacionam. A
análise do
significado das
palavras requer o
uso de
regras
semânticas.
Menino implica
macho,
jovem,
humano:
são os
traços
pertinentes
ou
componentes
semânticos,
que se apontam na
análise componencial. O
significado da
palavra é
um
complexo de
componentes
semânticos ligados
por
constantes
lógicas. X bate
em Y – implica – Y
apanha de X;
Caso Paulo venha, Pedro partirá. – implica –
Caso Paulo
não venha, Pedro
não partirá. Pedro continua a
beber – pressupõe – Pedro bebia
antes. A pressuposição
com a
frase
negativa continua a
mesma: Pedro
não
toma
bebida
alcoólica – pressupõe – Pedro
não
gosta,
ou está
proibido
pelo
médico,
ou
por
autoridade
religiosa, de
tomar
bebida
alcoólica.
Enfim, o
sentido das
palavras
não é
transcendental
nem produzido
pelo
contexto; é a
resultante de
contextos
já produzidos. A
relação
entre
significante e
significado é
flutuante, está
sempre
em
aberto. Disso resultam os
problemas lexicográficos.
Mesmo
aqui, usamos
termos
como
palavra,
vocábulo e
outros
sobre cujas
acepções divergem os
estudiosos,
muito
embora o
seu
fundo
comum, do
qual temos,
inclusive os
leigos,
um
conhecimento intuitivo.
Como dissemos,
para
alguns
autores, o
significado do
enunciado extrapola o
âmbito da
Lingüística, entrando no
terreno da
Pragmática. Essa
ciência pode,
em brevíssimas
palavras,
ser
definida
como “relações da
linguagem
com
seus
usuários.”
Ou
por
outra,
exame dos
discursos
formadores da e formados
pela
visão do
mundo. Sendo a
língua uma
abstração,
um
agregado de
dialetos, de socioletos, de idioletos, é a
fala
que tem
existência
real, merecedora de
atenção
por
parte de
todos
que se interessam
pelos
fenômenos da
linguagem.
Quando se
fala, faz-se
mais
que
trocar
informações. A
fala é
cooperação,
mas é
também
conflito,
persuasão, negociação.
Todo
ato de
fala se realiza
em determinadas
condições psicológicas,
dentro de
um
contexto sociocultural
que,
mais
ou
menos, as controlam.
Para a
real
ocorrência,
com
sucesso, de
um
ato de
fala
são
imprescindíveis os chamados
fatores de textualidade:
FATORES
LINGÜÍSTICOS |
FATORES
EXTRALINGÜÍSTICOS |
Coesão |
Intencionalidade |
Coerência |
Aceitabilidade |
Intertextualidade |
Informatividade |
|
Situacionalidade |
Esses
fatores residem
em
competências do
falante e do
ouvinte,
em
um
pacto
social
que
começa no compartilhamento do
mesmo
idioma e
que transforma a
linguagem
em
discurso.
Para AUSTIN
dizer é
sempre
fazer.
Além do
simples
fenômeno de
emissão de
sons
bucais dotados de significação
clara e
permanente, coesos e
coerentes, há
necessidade de se
situar a
emissão,
aceitar o
emissor, perceber-lhe a
intenção (ou, ao
menos, a
intenção
frontal)
para
que ocorra a
informação. Desse
modo, podem os
atos de
fala,
por
si,
mudar uma
situação.
Por
exemplo,
quando o
juiz afirma ao
casal de
noivos –
Eu os declaro
marido e
mulher – essas
pessoas passam da
condição de
solteiros
para a de
casados.
Muitos
exemplos podem
ser apresentados,
inclusive o
inicial de
todos
eles e de
tudo
mais– “Faça-se a
luz” . As
religiões,
inclusive
em
suas cosmogonias, atribuem
valor aos
atos de
fala,
com
recomendações de
que sejam seguidos à
risca
para
que surtam
efeito.
Nos
atos declarativos, há
que se
distinguir
entre
locutor e enunciador.
Locutor será o
autor das
palavras, o
que diz; enunciador será o
indivíduo a
quem o
locutor atribui a
responsabilidade do foi
dito.
Por
exemplo, no
enunciado “O
homem teria
chegado ao Brasil há 45.800
anos”
o
locutor é o
jornalista
que redige a
notícia e o enunciador a
arqueóloga
que faz a afirmação. O
uso do
Futuro do
Pretérito,
muito usado no
discurso
jornalístico, exime o
jornalista da
responsabilidade
quanto à veracidade das
palavras.
A essa
superposição de
falas dá-se o
nome de
polifonia. O
locutor dá
voz a
um
ou
vários enunciadores,
cujos
discursos
ele difunde, organizando-os e
não deixando de
manifestar a
própria
posição. Se o enunciador
não é reconhecido
pelo
ouvinte (caso das
citações
muito repetidas – “Penso,
logo existo”)
esse
fato
não impede a
comunicação,
logo
não impede o
sucesso do
ato de
fala.
O
mesmo se pode
dizer da
ironia, da
hipérbole,
que,
mesmo
quando
não de
imediato percebidas, de alguma
forma atingem os
objetivos do
falante.
Outra
situação remarcável é dos
tropos:
desvio de
um
sentido
literal,
primitivo a
um
sentido
implícito. O
brasileiro, tido
como
povo
afável, é
farto
em
tropos:
–
Você pode
me
emprestar a
caneta? –
por– Empreste-me a
caneta.
–
Não está
um
pouco
tarde?
Não vá
perder
seu
ônibus (para a
visita) –
por –
Você está
me cansando
com
sua
permanência.
– Diga
boa-noite a
seus irmãozinhos. (a
mãe
para o
filho de poucas
semanas) –
por –
Vão se
deitar. (para os
filhos
mais
velhos).
A
Pragmática é
observável
em
todos os
contextos.
Porém ,
em algumas
situações,
torna-se
mais
evidente o
trato da
linguagem
como
instrumento de
manipulação. É
o
que acontece
nos
discursos
político,
pedagógico,
religioso e
até no
discurso
amoroso.
Em
todos
esses
casos, há uma
base
afirmativa
que,
manipulada , serve aos
objetivos do
emissor. A
diferença está
no
grau de
consciência
quanto aos
recursos
utilizados
para o
convencimento.
A
linguagem
publicitária
prima na
utilização desses
recursos
para
mudar
ou
manter a
opinião do
público-alvo.
Como
um
estranho
não tem
autoridade
para
mandar, a
publicidade adota
técnicas variadas:
Fazer-agir: Beba Coca-Cola!
Fazer-crer;
Só Omo
lava
mais
branco!
Fazer-buscar
prazer: Se
um
desconhecido
oferecer
flores,
isto é Impulse!
A
mensagem
publicitária,
utilizando a
moderna
tecnologia,
promete,
abundância,
progresso,
lazer,
beleza,
juventude. Ao
contrário das
catástrofes
noticiadas
nos
jornais, a
publicidade
fala de
um
mundo
bonito e
prazeroso.
Esse
prazer está
associado ao
uso de
determinado
objeto,
criando a
linguagem da
marca, o
ícone do
produto.
Possuir
certos
objetos
passa a
ser
sinônimo de
felicidade. Se
na
linguagem do
cotidiano
muito
pouco se usam
as
ordens,
preferindo
formas
eufemísticas (faça o
favor de
entrar), a
publicidade
pode
ser
mais
direta: –
Abuse e use C & A!.
A
publicidade diz e,
também, sugere
sem
dizer explicitamente.
Usa
recursos estilísticos:
1)
Fonéticos:
onomatopéias,
aliterações etc.
2) Léxico-semânticos:
criação de
termos
novos,
novos
significados,
clichês,
duplo
sentido etc.
3) Morfossintáticos:
grafias inusitadas,
flexões
novas,
sintaxe
não
linear etc.
– A
Ericsson fez
um
telefone
com
tudo
em
cima!
–
Diet-Coke traz o
prazer
de
viver
em
forma!
–
Ainda
não
inventaram
um
passe
bem
melhor
que
passe
bem.
O
discurso
publicitário cumpre
seu
papel
por
três
vias:
1–
psicológica – a
eficácia do
jogo de
palavras resulta do
fato de
que
esse
jogo
causa
prazer,
quando de
sua decifração; é
erótico, no
sentido
psicanalítico do
termo;
2– antropológica –
parte da proclamação de
que o
consumidor é
irracional; reaviva
arquétipos, ocultos,
mas
fundamentais;
3– sociológica –
não se dirigindo a
ninguém
em
particular,
passa a
impressão de
que se dirige a
cada
um de
nós, identificando-nos
como
membros de uma polis;
No
domínio dessa
linguagem,
parece dizer-se
sempre uma
só
coisa, utilizando-se o
já utilizado,
vendendo
ilusão
para
vender
produtos e
serviços.
De
tudo, parece
válido
concluir
ser a
linguagem uma
variável
com participação
fundamental
nos
processos de
convivência
com a
realidade
física e
social,
além de
sua
importância na
maneira de
organizar as
idéias
sobre a
realidade
que
nos
rodeia. Sendo
assim, a
linguagem
nunca se
esgota
em
simples
instrumento de
referência ao
mundo
externo. Ao falarmos, manifestamos a
nossa
perspectiva,
nossa avaliação do
conteúdo do
dito. Essa
posição é
resultado da
soma de nossas
experiências, de
nossa
própria
ideologia, desaguando num
discurso
que, de
modo
algum pode
ser
simples e
objetiva
descrição da
realidade.
Todo
discurso
quer
converter a uma
ideologia e essa
ideologia será,
evidentemente, a
ideologia do
falante. Uma
linguagem
que vise,
apenas, a
reproduzir as próprias
coisas
esgota
seu
poder de
informação a
dados de
fatos. Uma
forma de
expressão, se é
produtiva, deve
conter
não
só
informações,
como
levantar
procuras. O
mesmo se pode
dizer das
artes
visuais.
Mesmo
quando se dizem
meramente representativas, na
verdade,
nunca o
são.
Sempre haverá a
dimensão
criativa.
A
linguagem
apenas prolonga a
percepção e essa
percepção
sempre se mostrará dotada de uma
dimensão
produtiva.
REFERÊNCIAS
AUSTIN, J. L. Quand dire c’est faire.
Paris: Seuil, 1970.
CÂMARA JR. , Joaquim Mattoso.
Princípios de
lingüística
geral.
Rio de
Janeiro:
Padrão, [s/d.].
CARVALHO, Nelly de .
Publicidade, a
linguagem da
sedução.
São Paulo: Ática, 1996.
CUNHA, José C. C. da.
Pragmática
lingüística e
didática das
línguas. Belém: UFPA, 1991.
GNERRE, Maurizio.
Linguagem,
escrita e
poder.
São Paulo: Martins
Fontes, 1994.
GUIRAUD, Pierre. La semantique. Paris:
Seuil, 1955.
ILARI et alii.
Semântica.
São Paulo: Ática, 1992.
LYONS, John.
Linguagem e
lingüística.
Rio de
Janeiro: Zahar, 1982
ORLANDI, Eni P. A
linguagem e
seu
funcionamento.
São Paulo:
Brasiliense, 1993.
PENNA, Antonio G.
Comunicação e
linguagem.
Rio de
Janeiro:
Eldorado, 1986.
RECTOR, Mônica, YUNES, Eliana.
Manual de
semântica.
Rio de
Janeiro: Ao
Livro
Técnico, 1980
SCHAF, Adam.
Introdução à
semântica.
Rio de
Janeiro:
Civilização
Brasileira, 1968.
ANEXO
ANÁLISE COMPONENCIAL
Afirmar |
Assegurar |
Asseverar |
Atestar |
Certificar |
Garantir |
Contar |
Narrar |
Relatar |
Expor |
Historiar |
Refletir |
|
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
– |
– |
+ |
+ |
+ |
+ |
Levar ao
conhecimento
do
falante,
com
convicção |
– |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
Não
provoca
dúvida |
– |
– |
+ |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
Com
insistência |
– |
– |
– |
+
provi-sório |
+
defi-nitivo |
+
tem
prazo |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
Verificar
pela
presença |
– |
– |
– |
+ |
+ |
+ |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
O
falante
se responsabiliza
pela
verdade |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
Levar ao
conhecimento
de
alguém
alguma
coisa |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
– |
– |
Um
só
receptor |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
+ |
+ |
– |
– |
+ |
– |
Abordagem
extensa |
– |
– |
– |
+ |
+ |
+ |
– |
– |
+ |
+ |
+ |
– |
Com
formalidade |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
– |
+ |
Reflexivo |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
+ |
– |
– |
Com
menção
do
ouvinte
no
enunciado |