Estilística Aplicada
Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)
Por
estilo, do
grego StuloV,
pelo
latim stilus, ‘ponteiro’, entendia-se uma
haste
ou
ponteiro de
osso e
metal
que servia de
instrumento à
escrita dos
povos
antigos,
mormente na Grécia e
em Roma. Escreviam-se as
mensagens
em
tábuas de
cera e o
estilo
era aguçado
em uma das
extremidades (para
marcar os
caracteres) e achatado na
outra (para
fazer
correções, supressões
ou
apagar o
que se
já havia
escrito).
Em
sentido
figurado,
hodiernamente se define o
estilo
como a
maneira
ou o
caráter
especial de os
artistas, de
um
modo
geral, assinalarem
seus
trabalhos. De
um
modo
específico, entendemos
que o
estilo é o
modo
particular de exprimirmos o
pensamento,
através do
conjunto de procedimentos
que fazem da
língua representativa
um
meio de exteriorização
psíquica e de
apelo.
A
estilística é uma
disciplina
lingüística
que
estuda a
expressão
em
seu
sentido
estrito de EXPRESSIVIDADE da
linguagem,
isto é, a
sua
capacidade de
emocionar e
sugestionar. Distingue-se,
portanto, da
gramática,
que
estuda as
formas
lingüísticas na
sua
função de estabelecerem a
compreensão na
comunicação
lingüística. A
distinção
entre a
estilística e a
gramática está
assim
em
que a
primeira considera a
linguagem
afetiva, ao
passo
que a
segunda analisa a
linguagem
intelectiva. (Câmara Jr., 1977: 110)
Por
conseguinte,
não podemos
confundir
ou
embaralhar a
estilística
com a
gramática. Condensando-se as
palavras de
Charles Bally, o
que caracteriza o
estilo
não é a
oposição
entre o
individual e o
coletivo,
porém o
contraste
entre o
emocional e o
intelectivo. (Bechara, 1999: 415). De
fato.
Enquanto a
Gramática
estuda as
formas
lingüísticas no
seu
papel de propiciarem o
intercâmbio
social da
comunidade, cabe à
Estilística
estudar a expressividade delas,
isto é, a
sua
capacidade de
transfundir
emoção e
sugestionar os
nossos semelhantes. (Rocha Lima, 1980: 441)
A
estilística pode definir-se
como a
arte de
bem
escrever e
ainda
como o
tratado das
diferentes
formas
ou
espécies de
estilo e dos
preceitos
que a
ela dizem
respeito.
Também pode definir-se
como o
setor dos
estudos da
linguagem
que se ocupa
com o
estilo, tendo a
linguagem
como
fator de
que
não pode
prescindir,
ou,
por
fim,
como
todo o
aparato
afetivo e
emocional
que caracteriza a expressividade do
autor.
Tem-se a
seguinte
dicotomia
para
classificar a
estilística: a
chamada
estilística da
língua, de
Charles Bally, e a
chamada
estilística da
fala, apregoada
por Karl Vossler, Leo Spitzer,
dentre
outros, do
Idealismo
alemão.
A
análise
literária difere da
análise
estilística. Aquela é de
competência do
professor de
literatura; esta é da
alçada do
professor de
língua portuguesa e
visa,
primordialmente, a
enfocar
aspectos do
sistema
expressivo e
sua
eficácia
estética no
idioma
ou nas
particularidades idiomáticas de
um
autor
literário
ou de
um
simples
falante, interessando-lhe
...tanto a captação de
traços estilísticos da
língua
oral
como da
escrita, do
falante
comum e do
literato.
Com
razão disse Vossler
que na
linguagem de
um
mendigo
vagabundo há gotinhas
estilísticas da
mesma
natureza
que
todo o
mundo expressional de
um Shakespeare. (Bechara, 1999: 441).
A
crítica tradicional do
estilo, comportando
suas multifacetadas
inquirições literárias, históricas,
sociais,
políticas, ideológicas, filosóficas etc.,
não estará,
certamente,
exposta a
insinuações de
que a
estilística irá tirá-la do
seu
lugar e
muito
menos tentando
apagar o
papel da
antiga
retórica. Ao
contrário, a
estilística irá
sempre prestigiá-la
por
conta do
alto
papel
que aquela
crítica
desempenha. Sendo da
competência da
crítica tradicional o
estudo de
proposições antigas, a
estilística,
por
estudar
proposições
novas,
estuda
igualmente
todos os
assuntos.
Os
traços estilísticos vêm
representar a
marca de
cada
autor, o
somatório de
tudo o
que
ele produz
em
termos de
ideal
estético, de
belo,
em
seu
trabalho, projetando-se
em
todos os
setores da
língua. O
estilo,
próprio ao
ser
humano, na
definição de Buffon,
não deve
ser
entendido
como a
violação da
norma
culta do
idioma, daí
porque existe
muita
diferença
entre
traço estilístico e
erro
gramatical. O
traço estilístico pode caracterizar-se
por
um
desvio
ocasional da
norma
gramatical observada
em
determinada
época, o
que se justifica,
todavia,
em
razão do
seu
alto
propósito
estético. O
erro
gramatical é o
desvio
ocasional da
norma
gramatical observada
em
determinada
momento,
porém
desprovido do
alto
propósito
estético.
O
terreno da
estilística é
vasto e abrange
todos os
limites da
linguagem, fornecendo a estes valiosos
subsídios.
Dessa
forma, temos a
considerar:
a) Fônica
ESTILÍSTICA b) Morfológica
c)
Sintática
d)
Semântica
ESTILÍSTICA FÔNICA
Os
sons constituem o
seu
objeto.
Dentro da
fonética, numa abrangência
prática, poderíamos
esquematizar o
seguinte:
D -
duração: de
caráter
irrelevante,
sem
valor
significativo, referindo-se à
quantidade (breve/longa).
I -
intensidade: relaciona-se
com a acentuação das
palavras, possuindo
grande
valor
expressivo.
T -
timbre:
aberto e fechado, relaciona-se
com o
efeito
acústico decorrente da
ressonância ao pronunciarem-se as vogais.
A -
altura: faz a
distinção
entre
orações
afirmativas e interrogativas.
Interessa-nos,
sobremaneira, o
estudo de
três
acentos:
duração,
intensidade e
altura, os
quais,
em
função da expressividade, aglutinam-se, combinam-se, misturam-se, a
fim de evidenciarem
determinada
palavra
dentro de
determinado
contexto, fazendo
com
que a
mesma fique numa
redoma de
emoção e
afeto. É o chamado
acento
emocional de
insistência. "Tal
acento pode
consistir no
prolongamento da
própria
sílaba
tônica, à
qual se comunica,
assim,
maior
duração;
ou
recair
em
outra
sílaba, valorizada,
então,
por
maior
intensidade,
maior
altura, e, às
vezes,
também,
maior
quantidade". (Rocha
Lima, 1980: 442).
Para
exemplificar a
duração (quantidade
breve/longa), transcreveremos
abaixo
dois
fragmentos, extraídos,
respectivamente, dos
livros dos
Professores (Rocha Lima, 1980: 442) e (Bechara, 1999: 86).
Certa
vez, na
inauguração de
um
edifício público
em
festa, [ATAXERXES] sentiu no
meio da multidão
que o
olhar do
amigo pousava no
seu
rosto,
como
que o reconhecendo.
Não se conteve e gritou:
Ziiito!... (Aníbal M.
Machado).
Se pudéssemos,
nós
que temos
experiência da vida,
abrir os
olhos dessas mariposinhas
tontas...
Mas é
inútil. Encasqueta-se-lhes na cabeça que o
amor, o amoor, o amooor é
tudo na
vida, e adeus. (Lobato).
Com a
repetição da
vogal
tônica, tivemos
nos
dois
fragmentos de
modo comprovado o
alongamento
vocálico,
que
expressa o
estado
emotivo do
falante e do
autor.
Tal
fato poderá comprovar-se
em outras
situações, ao enfatizarmos as
sílabas de algumas
palavras,
quando queremos
emprestar ao
discurso
maior
carga
emocional: a
situação é calamitosa;
mas é
preciso
calma. Os
fonemas podem, talqualmente,
apresentar
esse
aproveitamento estilístico,
mormente as
consoantes homorgânicas:
só
lhes peço uma
coisa -
guerra ao
crime! O /p/ de peço, o /g/ de
guerra e o /c/ de
crime alcançaram,
maior
força,
maior expressividade dos
nossos
estados d'alma.
A motivação
sonora das
vogais e
consoantes,
isto é, o
aproveitamento das características espontâneas de
seus
fonemas,
capazes de
estabelecer
analogias
com algumas
idéias
ou
sentimentos,
também serve de
exemplo: o
carro
roda; o
vento varre; a
chuva encharca.
As
onomatopéias
De
acordo
com a
definição de (Câmara Jr., 1977: 182), "Onomatopéia -
Vocábulo
que
procura
reproduzir
determinado
ruído, constituindo-se
com os
fonemas da
língua,
que
pelo
efeito
acústico dão
melhor
impressão desse
ruído". De
conformidade
com a
opinião de (Rocha
Lima, 1980: 444), "A
atribuição a
certos
sons
lingüísticos de uma
capacidade
especial
para
interpretar
certos
ruídos,
ou
até
estados d'alma, é o
que se
chama
onomatopéia". Palavra cuja
pronúncia imita o
som
natural da
coisa
significada (sussurro,
ciciar,
ulular,
tique-taque, cocorocó,
gluglu, etc) poderá ser a
definição
mais generalizada de
onomatopéia.
Vale
lembrar os
efeitos
onomatopaicos do
poema "Os
Sinos", de Manuel
Bandeira, de
onde destacamos os
seguintes
fragmentos:
Sino de Belém bate bem-bem-bem
...........................................................
Sino da
Paixão bate bão-bão-bão.
Guimarães
Rosa,
magistralmente, usou os
efeitos
vocálicos das
vogais, criando o
verbo aeiou-ar. "O
mato - vozinha
mansa - aeiouava."
Igualmente,
pela
junção e
combinação de
alguns
fonemas é
possível obtermos
belos
efeitos imitativos e
sugestivos de motivação fônica
ou musicalidade dos
segmentos
frasais,
embora
nos afastemos, num
sentido
rigoroso, ao
campo das
onomatopéias.
Mesmo
assim, vejamos:
*
por
homofonia (incidência da acentuação
tônica na
mesma
vogal
ou
assonância):
Tíbios
flautins finissimos gritava,
E, as
curvas
harpas de
ouro acompanhando,
Crotalos
claros de
metal cantavam". (Olavo Bilac)
*
por
aliteração (repetição de
fonema
ou
fonemas no
início,
meio
ou
fim de
vocábulos
próximos e
até
mesmo
distantes,
desde
que simetricamente
dispostos
em uma
ou
mais
frases
ou
em
um
ou
mais
versos):
"Mas,
muito
antes da
luz das
barras, os
passarinhos percebem o
sol:
pio,
pingo, pilgo, silgo, pinta-alecrim..." (Guimarães
Rosa)
*
por coliteração (incidência nas
consoantes homorgânicas, repetidas várias
vezes, no
início,
meio
ou
fim de uma
ou
mais
frases
ou
em
um
ou
mais
versos):
"Vozes veladas, veludosas
vozes,
Volúpias dos
violões,
vozes veladas,
Vagam
nos
velhos
vórtices velozes
Dos
ventos,
vivas, vãs, vulcanizadas".(Cruz e Souza)
"Ringe e range, rouquenta, a
rígida
moenda..."(Da
Costa e Silva)
"Com
grandes
golpes bato à
porta e
brado"(Antero de Quental)
ESTILÍSTICA MORFOLÓGICA
O
uso
expressivo das
formas
gramaticais constitui o
seu
objeto.
Eis
alguns
exemplos:
* O chamado
plural de
convite. O
verbo vai
para o
plural e a
intenção é
conclamar
alguém a
praticar uma
ação
ou a
realizar
tarefa
ou trabalhou
que
não seja de
bom
agrado:
"Vamos terminar com
esse
barulho", diz o inspetor de
alunos na
sala de
aula.
* O
plural de
modéstia.
Também o
verbo irá
para o
plural,
quando o
autor
procura
falar de
si
mesmo:
"Nós, ao pronunciarmos estas
palavra, estamos
com o
coração
partido".
* O
emprego de
tempos e
modos
verbais:
a) o
presente
pelo
futuro, indicando
resolução,
decisão:
"Amanhã,
depois do
trabalho vou
ter
com
ela.
b) o
imperfeito,
como
forma de
educação,
polidez:
"Eu queria
que
você
me ouvisse"
c) o
presente
pelo
pretérito, procurando
dar ao
diálogo
aspecto de
inovação e
comoção a
quem se
fala:
"Nisso, o
temporal desaba
sobre a
cidade".
*
Uso de
sufixos, notoriamente os de
gradação:irmãozinho, mãezinha, politicalha, poetastro, etc.
ESTILÍSTICA
SINTÁTICA
Trabalha
com o
valor
expressivo das
construções.
1)
Mudança de
tratamento:
Ocorre de
um
período
para
outro, mostrando
estado de alteração
emocional
ou
psíquica
entre o
falante e o
ouvinte
ou
entre o
autor e o
leitor. Trata-se da "impregnação
afetiva da
frase", (Rocha Lima, 1980: 452). É
preciso
que
não se confunda
esse
estado de alteração,
que é
um
traço estilístico,
com
erro
gramatical,
que é a
violação da
norma
culta.
Vejam-se os
exemplos de Castro Alves,em O
Fantasma e a
Canção:
-
Mendigo, podes
passar!
Meu
cajado -
já foi
cetro,
Meus
trapos -
manto
real!
-
Senhor,
minha
casa é
pobre ...
Ide
bater a
um
solar!
O
primeiro
tratamento:
tu demonstra
humildemente o
modo
acolhedor,
quando o
fantasma pede
abrigo. O
segundo
tratamento:
vós revela a
soberba do
fantasma,
quando, referindo-se ao
seu
passado, diz
que
já foi
rei.
2)
Emprego de
verbos na
primeira
pessoa do
plural,
em
lugar da
segunda,
como seria o
usual. Tenha-se o
seguinte
exemplo de Almeida Garrett, (Rocha Lima, 1980: 453):
" -
Sim,
eu
agora ando
bom ... e
tu,
meu Luís,
como vamos de
saúde?"
Evidencia-se a
diferença
entre "tu,
meu Luís," e "como vamos",
em
que o
autor
expressa a
maneira
cordial da
indagação, notadamente
com o
tratamento
afetivo "meu Luís".
3)
Uso de
infinitivo
pessoal
ou flexionado.
Trata-se de
um
idiotismo
ou
particularidade da
língua portuguesa,
cujo
emprego se condiciona a
vários
aspectos normativos.
“Eles pensam sermos
voluntários”.
4)
Emprego da
silepse.
Por
silepse entendemos a
figura de
sintaxe
pela
qual a
concordância das
palavras se faz de
conformidade
com o
sentido e
não
segundo as
regras da
gramática.
"A
silepse pode
ser de
gênero, de
número
ou de
pessoa.
Ocorre a
silepse de
gênero:
a)
quando,
com
pronomes de
tratamento, o
adjetivo concorda
com a
pessoa a
que
esses
pronomes se referem:
'V. Exª., temido e respeitado, tome-se,
por
quem é,
conta daqueles
desvalidos'. (Herculano:
Cartas, II, pág. 46, ed. s/d.)
b)
quando,
com
substantivos
próprios de
cidades,
rios,
montes, a
concordância se opera
com o
apelativo da
classe a
que pertencem
tais
substantivos:
'A
Campos
formosa' (isto é, a
cidade de
Campos).
'O
Amazonas corre
majestoso
para o
oceano' (isto é, o
rio).
Ocorre a
silepse de
número:
a)
quando o
sujeito é
um
coletivo e o
verbo concorda
com os
elementos desse
verbo isoladamente:
- 'Essa
gente
não terá vindo?
- Parece
que
não.
Já saíram há
um
bom
pedaço'. (Machado de Assis.
Relíquias de
Casa
Velha, pág. 169, ed. Garnier, s/d.
b)
quando o
sujeito é o
pronome
nós,
empregado
por
eu, e se prefere
fazer a
concordância
com o
termo subentendido:
'Chegado,
porém, à
conclusão deste
livro, por-lhe-emos
remate
com uma
reflexão'. (Herculano.
História de Portugal, II, pág. 408). 'A
nós,
que fomos instituídos
intérprete do
direito
natural e
divino'. (Rui. O
Papa e o
Concílio, pág. 203).
Ocorre
silepse de
pessoa
quando a
concordância se opera
não
com a
pessoa
expressa,
mas
com a
que está oculta:
'Dizem
que os
cariocas somos
pouco
dados aos
jardins
públicos'. (Machado de Assis, op. cit., pág. 140).
'Senhor, os
que somos de
terra deixamos
repousar os navegantes'. (Garrett: Fr.Luís de Sousa, pág. 221 e Almeida Torres, 1959: 226).
5)
Uso do anacoluto.
Trata-se de uma
desconexão
sintática, no
meio do
enunciado,
por
via de
regra
após uma
pausa
sensível,
resultante do
desvio do
plano de
construção
frasal. "É a
quebra da
construção
lógica da
oração". (Bechara, 1995: 95). "Anacoluto
ou anacolutia é a
interrupção da
contextura de uma
frase, de
modo
que uma
palavra
ou
expressão fica
como
que
solta,
sem
função
sintática
definida". (Almeida
Torres, 1959: 226). (...) "é uma das
belezas
mais
ornamentais da
língua. De
geração
espontânea na
linguagem do
povo,
como o provam os
adágios e rifões, os
escritores e
poetas
mais autorizados acharam-lhe
tal
graça,
tal
efusão,
que o transportaram de
flor
popular e
anônima, a
flor de
gala e louçania" Carlos
Góis, citado
por (Almeida Torres, 1959: 227). "Quase
sempre, o
que determina o anacoluto é a
colocação, no
rosto do
período, do
elemento de
maior
relevo
psicológico. Nele se concentra
por
tal
forma o
nosso
interesse,
que
não prestamos
atenção à regularidade
sintática e o deixamos a
valer
por
si,
sem
ligação
com os
demais
membros da
frase". (Rocha Lima, 1980: 454). "O anacoluto,
fato
bastante
comum na
língua
oral, deve
ser usado, na
expressão
escrita,
com
sobriedade e
consciência". (Cegalla, 1989: 521). “Consiste na
quebra da
estrutura
regular da
frase.
Um
termo,
que inicia a
frase,
não tem
seguimento
lógico, ficando
sem
análise: O
bom
profissional
não
lhe faltam
empregos”. (Ribeiro, 2002: 333).
"A
pessoa
que
não sabe
viver
em
sociedade,
contra
ela se opõe a
lei"
"A
construção
gramatical seria:
Contra a
pessoa
que
não sabe
viver
em
sociedade se opõe a
lei". (Bechara, 1999: 595).
"Bom!
Bom!
eu parece-me
que
ainda
não ofendi
ninguém!" (J.
Régio), SM, 105, citado por, (Cunha e Cintra, 1985: 613).
"(...) foi o
pronome
eu,
que anunciava
como
sujeito do
verbo
seguinte, o
elemento
que ficou
sem
função.
Com a
imprevista
estrutura assumida
pela
frase, a
primeira
pessoa,
por
ele representada, passou a
objeto
indireto (me). (Id., ib.)
6)
Colocação dos
pronomes
oblíquos
átonos (ou
topologia
pronominal).
Em
função da expressividade,
muito se tem lançado
mão da
liberdade de
colocação dos
pronomes
oblíquos
átonos,
mormente
quando se inicia
frase.
Me dá
um
abraço,
em
verdade, fica
muito
mais impregnado de
afetividade do
que Dá-me
um
abraço,
que, neste
exemplo, põe
por
terra
qualquer
elo aproximativo
ou de
amizade, traduzindo,
isto
sim,
imposição,
ordem,mando. Na
mesóclise e na
ênclise,
igualmente, notam-se
traços estilísticos
marcantes.
7)
Emprego do
estilo
indireto
livre.
Outra
faceta, é o
emprego do
estilo
indireto
livre.
Vejam-se os
seguintes
exemplos:
a)
estilo
direto:
"O
sacerdote,com o
coração a
sangrar, disse:
Positivamente,
este
país
não é
amigo de
Deus".
b)
estilo
indireto:
"O
sacerdote,
com o
coração a
sangrar, disse
que
positivamente
aquele
país
não
era
amigo de
Deus".
c)
estilo
indireto
livre:
"O
sacerdote estava
com o
coração a
sangrar.
Positivamente,
aquele
país
não
era
amigo de
Deus". (Rocha
Lima, 1980: 458).
8)
Uso da
elipse:
Elipse é a
omissão de
termos facilmente subentendidos.
"Os
homens pararam, o
medo no
coração". (Jorge
Amado). (Os
homens pararam,
com o
medo no
coração)
“Nota-se
que a
primeira
construção é
mais
concisa e
elegante. Desvia-se da
norma
estritamente
gramatical
para
atingir
um
fim
expressivo
ou estilístico." (Cegalla, 1989: 518).
Pode
ocorrer:
Com a
omissão de
pronomes
sujeitos, de
verbos, de
elementos
conectivos (preposições e
conjunções):
Marina estava grávida. Preferiu
não
dizer. (ela)
O
livro merece lido. (verbo
ser)
O
trabalho
era pesado, os
empregados,
poucos. (eram)
Espero tenhas
prudência. (que)
Os
estabelecimentos saqueados,
nenhum
sinal de
vigilantes. (e)
A
elipse pode
ser
total
ou
parcial de uma
oração:
Eu
já conhecera
aquele
rosto,
porém
não sabia
onde. (não sabia
onde o conhecera)
Nas
chamadas
frases
nominais,
também se dá
elipse:
"Bom
rapaz, o
verdureiro,
cheio de
atenções
para
com os fregueses." (Carlos Drummond de Andrade). (Bom
rapaz
era o
verdureiro, vivia
cheio de
atenções
para
com os fregueses)
9)
Pleonasmo é o
uso de
termos
redundantes e tem
por
finalidade
reforçar
ou
enfatizar a
expressão.
"Tenha
pena de
sua
filha, perdoe-lhe
pelo
divino
amor de
Deus". (Camilo
Castelo
Branco).
Vi
com os
olhos
cheios de
lágrimas.
A
mim
me parece
óbvio...
A ti
te dedico esta
foto.
10)
Polissíndeto é a
repetição de
conjunção coordenativa,
geralmente a
aditiva "e"; dá
sempre
idéia de
repetição:
"Trejeita, e
canta, e ri
nervosamente". (Antônio Tomás)
"No
aconchego
Do
claustro, na
ciência e no
sossego,
Trabalha, e
teima, e
lima, e sofre, e
sua!" (Olavo Bilac).
"Mão
gentil,
mas
cruel,
mas
traiçoeira". (Alberto de
Oliveira).
11)
Assíndeto é a
ausência de
conjunção
entre
elementos coordenativos; dá
sempre
idéia de
omissão:
"Luciana, inquieta, subia à
janela da
cozinha, sondava os
arredores, bradava
com
desespero,
até
que ouvia duas
notas
estridentes, localizava o
fugitivo, saía de
casa
como
um
redemoinho, empurrava as
portas,
estabanada:
"- Quero o
meu peritiquito." (Graciliano
Ramos).
12)
Reticência é a
omissão
intencional da
idéia, fazendo
com
que o
silêncio seja
mais
expressivo
que a
palavra. É a
retórica do
silêncio, poder-se-ia
dizer:
"Nós
dois ... e,
entre
nós
dois,
implacável e
forte,
A arredar-me de ti,
cada
vez
mais, a
morte ... " (Olavo Bilac).
13)
Inversão é a
troca, a alteração, da
ordem dos
termos
oracionais,
com a
intenção de fazê-los
destacar, colocando-os no
início da
frase:
"Por
que brigavam no
meu
interior
esses
entes de
sonho
não sei". (Graciliano
Ramos).
14) Zeugma é a supressão de
vocábulo
anteriormente
expresso,
porém subentendido
com
outra
flexão:
"Nem
ele entende a
nós,
nem
nós a
ele". (Camões).
(Na
segunda
oração, o
verbo
entender está
oculto
pela
forma entendemos)
15) Hipálage é a
atribuição
que se dá a alguma
palavra daquilo
que
pertence a
outra
palavra:
Aves cheirosas,
flores
ressonantes." (Gregório de Matos).
(O
poeta atribuiu às
aves o
que
pertence às
flores e às
flores, o
que
pertence às
aves)
16)
Hipérbato é a
inversão da
ordem
natural das
palavras na
oração,
ou a da
ordem das
orações no
período.
"Aberta
em
par estava a
porta." (Almeida Garrett).
"Das
idades
através". (Castro Alves).
17)
Anástrofe é a
inversão da
ordem
natural do
pensamento, contudo sem
haver a
quebra da
correlação existente
entre as
palavras:
As Gálias conquistou César.
18) Tmese é o
emprego do
futuro do
presente e do
futuro do
pretérito
com a
intercalação de
um
ou
mais
pronomes
oblíquos:
"Seguir-se-me-á uma
morte
bem assombrada" (Padre Antônio Vieira).
19) Sínquise é a
inversão
violenta da
ordem
natural das
palavras, disso resultando tornar-se a
frase
obscura:
"A
grita se alevanta ao
Céu, da
gente". (Camões, Os
Lusíadas, II, p. 91). (A
grita da
gente se alevanta ao
Céu)
20) Anáfora é a
repetição de uma
ou
mais
palavras no
início de duas
ou
mais
frases, de
membros da
mesma
frase,
ou de
dois
ou
mais
versos:
"Quase
tu mataste, /Quase
te mataste, /Quase
te mataram!" (Manuel Bandeira,
Estrela da
Vida
Inteira, p. 244).
21) Epístrofe é a
repetição da
mesma
palavra
ou das mesmas
palavras ao
final de
cada
um dos
membros de
frases.
"Nunca
morrer
assim!
Nunca
morrer num
dia -
Assim! De
um
sol
assim!" (Olavo Bilac,
Poesias, p. 170).
22) Símploce é a
repetição da
mesma
palavra
ou das mesmas
palavras no
começo e
fim de
frases:
"Tudo se encadeia,
tudo se prolonga,
tudo se continua no
mundo ..." (Olavo Bilac).
23) Concatenação consiste
em iniciar-se
cada
um dos
membros de
frase
pela
última
palavra da
frase
anterior:
"O
mau
humor produz a
impaciência; da
impaciência nasce a
cólera; da
cólera, a
violência; e a
violência conduz ao
crime". (Rocha
Lima, 1980: 474).
24)
Conversão é a
repetição simétrica,
com os
termos invertidos.
"Cheguei. Chegaste.
Vinhas fatigada
E
triste, e
triste e fatigado
eu
vinha.
Tinhas a
alma de
sonhos
povoada.
E a
alma de
sonhos
povoada
eu
tinha ..." (Olavo Bilac).
25) Enálage (também
chamada de transposição) é a
substituição do
gênero,
número,
caso,
pessoa,
tempo,
modo
ou
voz de uma
palavra
por
outro
gênero,
número,
caso,
pessoa,
tempo,
modo
ou
voz, e se caracteriza
pelo
fato de
dar a
um
termo uma
aplicação
diversa da
que
lhe é
peculiar. Ex.
Hoje vou,(vou
amanhã, vou se puder) ao
teatro. (=Irei ao
teatro se puder). Temos
aí o
presente
pelo
futuro.
Simplesmente, é o
emprego de
um
tempo
verbal
por
outro.
"Se deres
mais
um
passo, morres (=morrerás)". (Ribeiro, 2002: 338).
ESTILÍSTICA
SEMÂNTICA
Sondando a
denotação (função representativa da
linguagem) e a
conotação (função de exteriorização
psíquica
ou
apelo), podemos
dizer
que
tais
funções se fazem
presentes
para
estabelecer a significação
intelectiva das
palavras, o
que vem a
ser,
em
última
análise, o
escopo da
estilística
semântica.
De
fato. A
denotação
espelha a
palavra
em
seu
sentido
próprio,
primeiro, não-metafórico,
tal
qual se
registra
nos
dicionários, e
que remete o
leitor a
um
objeto referencial, denotativo do
mundo extralingüístico,
objeto
esse
que pode
ser
real
ou
imaginário. A
conotação, ao
contrário, sugere
ou evoca,
por
associação de
idéias, numa
inter-relação
afetiva
ou
emocional, figurativamente
outro
objeto de
caráter conotativo.
Assim, os
dicionários registram de
início a
definição
principal das
palavras (que é
sempre denotativa) e a
seguir
nos fornecem a
outra
definição,
que é conotativa. Observe-se
como exemplo a
palavra
ÁGUIA. Os
dicionários apresentam-lhe de
imediato o
seu
significado denotativo: "(Do lat.
Aquila.) S. f.
Denominação restrita às
aves de
rapina da
ordem dos falconiformes,
notáveis
pelo
seu
tamanho e
vigor,
inexistentes no Brasil e
em
toda a América do
Sul.// P. ext.
Insígnia
ou
símbolo representado
pela
figura estilizada deste
animal.
Logo a
seguir, segue-se a
definição de
caráter conotativo: "Fig.
Pessoa de
grande
talento e
perspicácia. //Por
antonomásia, designação de
pessoa
notável,
com
indicação da
terra
em
que nasceu e do
lugar
onde se tornou
famoso. Ex. Ruy Barbosa,
águia de Haia; Napoleão,
águia de Austerlitz.
Outros
exemplos poderão
ser indicados, haja
vista a
palavra
madrasta.
Sob a
óptica denotativa,significa: "(Do lat. Vulg. Matrasta.) S. f.
Mulher
casada,
em
relação aos
filhos
que o
marido teve de
núpcias
anteriores.// Fig.
Mãe
ou
mulher
inclemente, descaridosa, má,
ruim. Registram-na,
ainda,
como
adjetivo:
vida
madrasta. É
óbvio
que
nem todas as
madrastas merecem essa
conotação
negativa, existindo algumas
que desempenham o
papel de verdadeiras
mães.
É
através da
conotação
que encontramos a
série sinonímica das
palavras.
Por
série sinonímica entendemos
grupos de
palavras
que têm uma significação
geral
comum,
mas se distinguem
por
leves
idéias
particulares e se empregam
em
situações
diferentes. Comparem-se,
por
exemplo, as
palavras
cara,
rosto,
face,
fisionomia. Todas significam a
parte
superior da
cabeça.
Todavia,
não usaríamos
indistintamente umas pelas outras. Sentimos
logo
que
cara é
palavra
vulgar,
um
tanto
grosseira;
rosto
pertence a uma
linguagem
mais
delicada;
face
já
nos soa
como
termo
culto,
mais
próprio da
literatura;
fisionomia emprega-se
quando se
quer
aludir aos
sentimentos
que transparecem no
rosto de uma
pessoa. (Rocha
Lima, 1980: 448-449).
Na
denotação, faz-se a
distinção dos
sinônimos
pelo
seu
sentido
mais
amplo
ou
menos
amplo:
educador,
mestre,
professor;
recompensa,
gratificação,
gorjeta.
Na
conotação,
pelo
seu
efeito
estético,
que pode
ser:
i.
emprego
usual
ou
técnico:
vertigem/lipotimia; fastio /
anorexia;
ii.
emprego
corrente
ou
literário:
criado/fâmulo;
beijo/ósculo;
iii.
emprego
nobre
ou
plebeu:
vísceras/tripas;
barriga/pança;
bucho/estômago,
narinas/ventas.
Na polissemia (propriedade de uma
palavra
ter múltiplas significações), a
sinonímia está vinculada ao
contexto. Dá-se polissemia
em
palavras
onde existe uma
única
forma (significante), contendo
vários signifidados
ou
campos
semânticos
diferentes.
Tomemos o
verbo
ABRIR
em
suas várias
acepções:
(Do lat. Aperire.) V.t.d.
Mover (porta,
janela, etc., fechada
ou
cerrada);
descerrar: 'Bonifácio abriu as
janelas todas da
frente e desceu à
chácara. (Machado de Assis), Outras
Relíquias, p. 29); //
Separar,
afastar as
partes
juntas
ou contíguas de:
abrir os
olhos; abri a
boca; 'o
tabelião desabotoou o
paletó, tirou a
carteira, abriu-a, e mostrou-lhe duas
notas de
cinco
mil-réis'. (Machado de Assis, Papéis
Avulsos, p. 204.) //
Separar,
afastar,
apartar: O
navio abria as
águas do
mar. //
Estender,
distender:
abrir os
braços. //
fender,
furar,mediante
incisão,
corte,
golpe, etc. //
Fazer
incisão
em;
cortar,
rasgar: o
médico abriu o
abscesso. //
Desabotoar: Abriu a
camisa
para refrescar-se. //
Fazer
desabotoar,
ou
desabrolhar: 'Neste
limiar de
indiferença, /
não posso
abrir a
tênue
rosa / domais
espiritual
suspiro' (Cecília Meireles,
Obra
Poética, p. 248.) //
Descerrar (livro,
revista),
geralmente
para
ler
ou
consultar. //
Acender (a
luz
elétrica). //
Ligar:
abrir a
chave da
luz. //
Retirar o
invólucro,
ou a
tampa,
ou o
selo de:
abrir
um
pacote;
abrir uma
garrafa. //
Fazer
funcionar,
pôr
em
uso:
abrir uma
torneira. //
Acender (a
luz
elétrica). //
Ligar:
abrir a
chave da
luz. //
Começar,
principiar,
encetar: abriu
um
choro convulsivo. //
Dar
por começado
ou
aberto: Abriu a
sessão
solene
com
um
breve
discurso. //
Montar (estabelecimento,
loja, etc). //
Gravar,
burilar,
esculpir,
entalhar. //
Registrar,
lavrar. //
Estabelecer (crédito). // Bras.
Ceder a interrogatório, confessando (crime)
ou denunciando (alguém). // E. Ling.
Dar
pronúncia
aberta,
longa a (uma
vogal). // Bras.
Afastar (o
cavalo) da
trilha. // Na sinalização de
trânsito,
fazer
passar (o
sinal
vermelho,
que indica
impedimento) a
verde,
que indica
trânsito
livre: O
guarda abriu o
sinal e os
veículos avançaram. // Art. Graf. O
mesmo
que
entrelinhar. // Art. Graf. O
mesmo
que
interespacejar. Art. Graf. O
mesmo
que
arejar. Art. Graf. O
mesmo
que
Aumentar os
claros
entre as
letras,
palavras,
ou
linhas na
composição. (Antôn. nesta
acepção:
apertar. Cin. Fot. Telev.
Obter
maior
amplitude de enquadramento do
assunto,
mediante afastamento da
câmara,
ou
por
uso de zum. (Antôn. Nesta
acepção:
fechar. // Inform.
Carregar (arquivo
ou
programa), preparando-o
para
uso. // Inform.
Criar
ou
expandir 'janela' de
aplicativo, tornando-a
ativa. // Inform. Numa
rede de
computadores,
iniciar uma
conexão de
um
computador
com
outro.
Mar.
Romper pelas costuras: O
impacto da
vaga abriu a
embarcação. Bras. Gír.
Terminar (relacionamento),
romper. // Inform.
Acessar
ou
criar
um
arquivo
para
ler,
alterar
ou
acrescentar
dados. V. t. e i. O
mesmo
que
descerrar. //
Estender,
estirar: '-Ela abria os
braços.E
eu ficava. (Olavo Bilac,
Poesias, p. 168. //
Estabelecer,
conceder
crédito. //
Mar.
Variar a
marcação, afastando-se da
direção da
proa da
embarcação. //
Obter,
ganhar: 'Senna abriu
vantagem
sobre Piquet.'. //
Tornar
acessível;
franquear. 'D.João VI abriu os
portos às
nações amigas.' //
Favorecer,
proporcionar. V.t. i.
Descerrar a
porta;
franquear a
entrada: 'Mandou
abrir aos
que batiam.' //
Fazer confidências, desabafar-se;abrir-se: 'Abriu,
afinal,
com o
velho
companheiro. // T. c.
Dar
acesso,
comunicação;
dizer. 'A
janela abre
para o
jardim. //
Ter descerradas as
portas de
entrada,
para
atender ao
público: 'As
casas
comerciais abrem às 9
horas.' //
Mar. Afastar-se, distanciar-se: ' O
navio abriu do
cais'. //
Rondar o
vento no
sentido da
popa da
embarcação: 'O
vento abriu
para o través,
para a alheta, etc. // T. c e i.
Abrir; 'FHC abre 7
pontos
sobre
Lula' (Folha de
São Paulo, 12.8.1994). V. int.
Abrir a
porta;
franquear a
entrada: 'Bateram à
minha
porta, / Fui
abrir,
não vi
ninguém.(Manuel
Bandeira, Estrala da
Vida
Inteira, p. 197). //
Desabrochar,
desabotoar; abrir-se: 'Que
linda
noite! Os
cravos
vão a
abrir ...' (Antônio
Nobre,
Só, p. 172) //
Melhorar,
serenar as
condições metereológicas, o
tempo. //
Mar.
Diminuir a
bruma, o
nevoeiro. // Bras. Afastar-se, distanciar-se. // Bras. Angol. O
mesmo
que
fugir; 'Os
que tinham
famílias nas
matas,
não passou uma
semana,
já abriram'.' (Papeleta, A
Geração da
Utopia, p. 156). // Bras.
Ceder a interrogatório, confessando
crime
ou denunciando
alguém. // Brás. Pop.
Mudar de
idéia;
ceder;
abrir
mão. //
Surgir
ou
aparecer de
súbito: ''O
relâmpago abria, ilumina-me instantaneamente a
razão e
depois passava'. (Cordeiro de Andrade,
Anjo
Negro, p. 107). // V. p. Rasgar-se; fender-se: 'Com o
terremoto as
paredes do
templo se abriram'. // Pôr-se
em
condições de
uso, estendendo-se, desdobrando-se: 'O
pára-quedas se abriu
por
inteiro
como uma
pequena
abóbada
volante'. (Orígenes Lessa,
Omelete
em Bombaim, p. 143) // Bras. Ir-se
embora;
sair,
partir,
viajar. // Bras. Gír.
Viver sorrindo;
sorrir. (Novo Aurélio. O
Dicionário da
Língua Portuguesa.
Rio de
Janeiro:
Nova
Fronteira, 1999: 16, 17)
Vejamos a
palavra
REBANHO:
S. m.
Porção de
gado
lanígero. // P. Ext. O
total de
qualquer
espécie
que constitui
gado
para
corte. //
Porção de
animais,
como
carneiros,
cabras, etc., guardados
por
pastor. //
Grande
quantidade de
quadrúpedes
que vivem
em
hordas, ordinariamente
em
estado
selvagem. // Fig.
Conjunto de fiéis,
em
relação ao
seu
pastor,
papa,
bispo
ou
pároco. Nesta
acepção, o
mesmo
que
redil. // Fig.
Grupo de
pessoas
que se deixam
levar
sem
manifestar
opinião
ou
vontade
própria.
A
palavra
MANGA:
[Do lat. Manica, 'manga de
túnica'.] S. f.
Parte do
vestuário
onde se enfia o
braço. //
Filtro
afunilado
para
líquidos. //
Qualquer
peça de
forma
tubular
que reveste
outra
peça. // O
mesmo
que tromba-d'água. //
Parte do
eixo dum
veículo
que se
encontra
dentro da
caixa de
graxa e recebe
todo o
peso do
carro. [Do lat. *manica<manus, 'exército',
hoste.] S. f.
Hoste de
tropas. //
Grupo,
ajuntamento,
bando,
turma. [Do
mal.
manga.] S. f. O
fruto da
mangueira. // O
mesmo
que
mangueira,
isto é,
tubo de
lona,
borracha,
plástico, etc., para condução de
água
ou de
ar. [Do esp. plat.
Manga.] S. F. Bras. Am.
Parede de
cerca
que vai da
beira
até as
asas dos currais-de-peixe,
perpendicularmente ao
rio. // Bras. Ma.
Espécie de
corredor
com
paredes de
varas,
que conduz a
um
rio
ou a
um
igarapé e serve
para
guiar os
bois
que
vão
ser embarcados. Bras. CE a BA e MG a GO.
Pastagem
cercada
onde se
guarda o
gado. // Bras. BA. Na
rede de
pescar denominada
calão, a
parte
que fica nas
extremidades,
onde se puxam as
cordas. // Bras. RS.
Cercas
divergentes, a
partir da
porta do
curral,
que servem
para
facilitar a
entrada, no
curral, do
gado. // Bras. RS.
Linha formada
por
pessoas a
pé
ou a
cavalo
para
obrigar o
animal a
passar
por
determinado
ponto,
ou faze-lo
entrar
para a
mangueira.
As
palavras
GRAVE,
PENA,
CABO,
PONTO,
LINHA, etc.
igualmente servem de
modelos
para
lhes determinarmos os
campos
semânticos
respectivos.
Outro
tópico
importante, é o
que diz
respeito aos
antônimos.
Por
eles, entendemos as
palavras
que possuem significação
completamente
oposta. "Ora
são
termos de
radicais
distintos,
ora possuem o
mesmo
radical, caracterizando-se
um deles
por
um
prefixo de
valor
negativo:
abrir-fechar feliz-infeliz
claro-escuro lealdade-deslealdade
resistir-ceder normal-anormal". (Rocha
Lima, 1980: 540).
Os
homônimos
também figuram
como de
grande
importância. Trata-se de
palavras
que apresentam a
mesma
pronúncia, tendo
por
vezes a
mesma
grafia,
porém
com o
significado diferente:
são (sadio);
são (verbo
ser);
são (santo).
O
sentido dos
homônimos
só pode
ser estabelecido
pelo
contexto
em
que os
mesmos estejam inseridos. O
aspecto
gráfico e
fonético é
fator
determinante dos
homônimos, daí serem
classificados
em:
Homófonos heterofônicos (possuem a
mesma
escrita
mas se diferenciam no
timbre
ou na
intensidade das
vogais):
pêlo (subst.) pélo (verbo)
pelo (prep.contr. de
per + lo)
pára (verbo)
para (prep.)
este (pronom.)
este (subst. (ponto
cardeal)
apóio (verbo)
apoio (subst.)
providência (subst.) providencia (verbo)
jogo (subst.)
jogo (verbo)
Homófonos heterográficos (possuem a
mesma
pronúncia
porém se diferenciam na
escrita,
isto é,
através do grafema
ou
letra
diferente
que
encerra o
respectivo
conteúdo
semântico):
acender (pôr
fogo)
ascender (subir, elevar-se)
cela (aposento de
religiosos;
cadeia)
sela (arreio de
cavalgaduras)
censo (alistamento
geral)
senso (juízo)
censual (relativo ao
censo)
sensual (relativo aos
sentidos)
concerto (harmonia de
sons
ou
vozes) concerro (ato de
reparar)
cessão (doação)
sessão (reunião) seccão (divisão)
estrato (tipo de
nuvem)
extrato (fragmento, coisa
retirada de
outra)
expiar (sofrer,
padecer)
espiar (olhar,
observar)
coser (costurar)
cozer (cozinhar)
esterno (osso do
tórax)
externo (exterior) hesterno (referente ao
dia de
ontem)
intercessão (ato
ou
efeito de
interceder) Interseccão (corte)
lasso (cansado,
frouxo)
laço (laçada)
vês (verbo)
vez (ocasião,
oportunidade)
tacha (prego)
taxa (imposto)
Os
parônimos,
ou seja,
palavras de
sentido
diferente,
mas parecidas na
escrita e na
pronúncia,
ou
em
apenas uma delas,
também possuem
grande
importância:
arriar (abaixar)
arrear (pôr
arreios)
comprimento (extensão)
cumprimento (saudação; obediência a normas)
deferir (conceder)
diferir (adiar,
retardar,
procrastinar)
descrição (ato
ou
efeito de
descrever)
discrição (
discreto)
emimente (alto,
excelente,
sublime)
iminente (prestes a
acontecer)
descriminar (inocentar,
descaracterizar
crime)
discriminar (separar;
distinguir,
diferençar)
estância (lugar
onde se está
ou se permanece
por
algum
tempo;
estação de
águas;
fazenda)
instância (jurisdição,
foro)
enfestar (dobrar
pelo
meio na
sua
largura)
infestar (devastar)
lactante (que produz
leite)
lactente (que
ainda
mama)
paço (palácio)
passo (passada,
marcha)
tráfego (trânsito)
tráfico (comércio
ou
transação
ilegal)
venoso (referente às
veias)
vinoso (referente ao
vinho)
vultoso (volumoso)
vultuoso (inchado
por
congestão na
face)
É
pertinente lembrarmos o
expressivo
papel desempenhado pelas
FIGURAS DE
LINGUAGEM, de
que passaremos a
tratar.
Também
são conhecidas
como
FIGURAS DE
ESTILO.
Assim, vejamos:
*
Figuras de
palavras
ou
tropos:
a)
Metáfora
b)
Metonímia
METÁFORA
É o
desvio
ou a
transferência de uma
palavra
para
outro
campo
semântico, (que
não é o
seu)
por
força de uma comparação
implícita. A
relação de similaridade,
dentro dos
limites da
associação de
idéias, constitui o
seu
ponto
básico de
apoio.
Observemos:
Tenho a
boca
seca.
Marina tem a
língua
ferida. Carlos perdeu
um
dente.
Seus
olhos brilhavam de
curiosidade.
Todas as
palavras destacadas foram
empregadas
em
seu
sentido denotativo.
Porém, se dissermos: Boca da
noite.
Língua de
trapo.
Dente de
alho.
Olhos de
lince, estaremos empregando essas mesmas
palavras conotativamente,
ou,
com
mais
exatidão,
por
meio da
metáfora. (...)
ela transporta o
nome de
um
objeto a
outro,
graças a
um
caráter
qualquer
comum a
ambos: a
folha da
árvore dá o
seu
nome à
folha de
papel,
em
razão da
pequena
espessura de uma e
outra. Do
mesmo
modo: o
fio de
um
discurso;
onda de
imigrantes;
coração
empedernido;
cabeça de
revolução;
sorriso
amarelo.
Nem
sempre é
fácil determinar-lhe o
ponto de
partida; muitas
vezes, o
processo de
desenvolvimento da
metáfora compreende
dois
momentos:
um,
em
que
ela é
ainda
sensível,
por
isso
que o
nome, ao
designar o
segundo
objeto, desperta a
imagem do
primeiro; o
outro,
quando,
por
esvaecimento da
primeira
imagem, o
nome
só designa o
segundo
objeto e
só a
este se
torna adequado.
Por
isso, Konrad contrapõe a
metáfora 'estética' à
metáfora 'lingüística' - ensinando
que aquela mergulha raízes na
intenção deliberada de
criar
efeito
emotivo,
enquanto na
última,
tornada
hábito da
língua,
já
não se sente
nenhum
vestígio de
inovação criadora
pessoal;
Amado Alonso, comungando a
mesma
opinião, denomina 'fóssil' a esta
metáfora,
conhecida (conforme a
nomenclatura herdada da
retórica
greco-latina)
como -
catacrese.
Metáfora
necessária, estereotipada, resulta a
catacrese da
ausência de
termo
próprio
para
designar
determinada
coisa (pernas da
mesa,
cabeça de
alfinete, etc), o
que conduz, às
vezes, ao
estabelecimento de
relações de
semelhanças
algo abusivas e forçadas,
como se
vê,
exemplo,
em -
embarcar num
trem, o
avião aterrissou
em
alto
mar,
enterrar uma
farpa no
dedo,
espalhar
dinheiro,
azulejos
verdes.
Ao
contrário, a
metáfora
viva,
sempre renovada, nasce de
um
impulso estilístico - e,
por
isso, é explorada
pelos
escritores
como
processo
básico de
criação
literária,
especialmente na
poesia. 'Somente a
metáfora' diz Marcel Proust - 'pode
dar uma
espécie de
eternidade ao
estilo. (Rocha
Lima, 1980: 462).
Não se deve
confundir a
metáfora
com a comparação
ou
símile. Nesta, os
dois
vocábulos encontram-se mencionados e ligados
por
elos
comparativos:
como,
tal,
qual,
assim
como etc.)
"Assim
como a
madeira
cria o
bicho,
mas o
bicho destrói a
madeira,
assim do
pecado nascem as
lágrimas,
mas as
lágrimas destroem o
pecado." Manuel Bernardes.
"Como uma
cascavel
que se enroscava,
A
cidade dos
lázaros dormia ... " (Augusto dos
Anjos).
"Tinhas o
coração
ermo e fechado,
Como a
floresta
secular,
sombria ... " (Olavo Bilac).
"Rui Barbosa defendeu os
direitos dos
fracos
qual uma
águia". (Comparação)
"Rui Barbosa é a
águia de Haia". (Metáfora)
A
metáfora
abarca outras
modalidades: a personificação, a
hipérbole, o
símbolo, a sinestesia.
A personificação,
também denominada de animização
ou
animismo
ou
também
ainda
prosopopéia, consiste
em atribuirmos aos
seres
inanimados
ou
irracionais
qualidades,
ações e
sentimentos
peculiares aos
seres
humanos.
"Rio
caminho
que
anda";
"... o
sol, no
poente, abre
tapeçarias..." (Cruz e Souza).
"Vi a
ciência
desertar do Egito..." (Castro Alves).
A
hipérbole, é a
figura do
exagero. É calcada no
sentimento da
paixão e
expressa uma
impressão de
glória
ou mesquinhez, de
acordo
com o
estado
emocional do
falante
ou do
escritor.
"Morro de
saudades",
"
Seus
olhos estavam inundados de
lágrimas";
"A
geada é
um
eterno
pesadelo". (Monteiro Lobato).
O
símbolo é o
tipo de
metáfora
com
que os
seres e as
coisas concretas passam a
ser representados
por uma
forma
convencional,
abstrata.
"A
cruz é a
representação da
fé cristã";
"A
balança é a
justiça";
"A
coruja traduz
sabedoria".
"O
verde é a
minha
esperança".
A sinestesia representa a
fusão
ou a
interpenetração de
sensações
visuais, auditivas, olfativas, tácteis, gustativas, a
fim representarem, no
plano da
expressão, o
estado
subjetivo do
autor. É
quando a
impressão de
um
sentido é percebida
como
sensação de
outro.
"A
cor cantava-me
nos
olhos..." (Cruz e Souza).
(aí se misturam a
sensação
visual de
cor e a
sensação
auditiva de
cantar)" (Rocha
Lima, 1980: 465).
"Avista-se o
grito das
araras". (João Guimarães
Rosa).
"Som
que tem
cor,
fulgor,
sabor,
perfume". (Hermes
Fontes).
"O
rio
roxo é
triste, ó
rio
morto,
rio do
esquecimento!" (Cruz e Souza).
"Os
sonhos
brancos
que
não
são da
terra". (Cruz e Souza).
METONÍMIA
Este
tropo se
estriba numa
relação de contigüidade
ou
aproximação, apresentando
idéias evocadas
por
outra
com
que mantêm
certa
interdependência. A
sinédoque,
dentro das modernas
teorias
estilísticas, foi assimilada
pela
metonímia, mostrando,
todavia, algumas
diferenciações sutis,
mormente de
ordem
quantitativa.
1º) O
efeito
pela
causa:
ganhar a
vida. (= os
meios de
vida).
viver do
seu
trabalho. (= do
produto do
trabalho).
os
aviões de
guerra despejavam a
morte (=
bombas mortíferas)
2º) O
autor
pela
obra:
Ler Graciliano
Ramos (= as
obras de Graciliano
Ramos)
Ler Camões. ( = as
obras de Luís de Camões).
Consultar o Aurélio. (= o
dicionário).
Comprar
um Picasso (=
adquirir uma
obra de Pablo Picasso)
Na
exposição, havia
um Miguel Ângelo
muito disputado. (= uma
escultura de Miguel Ângelo).
3º) O
continente
pelo
conteúdo:
A
cidade
inteira ficou
surpresa
com a
notícia. (= os
habitantes da
cidade).
Todo o
mundo memora o
dia do
trabalho. (= todas as
pessoas).
Comeu uma
caixa de
doces. (= os
doces contidos na
caixa).
4º) O
instrumento
pela
pessoa
que o utiliza:
Pedro é
um
bom
garfo. (= possui
muito
apetite).
As
penas
mais
atuantes da
crítica falaram
bem do
livro. (= os
escritores).
5º) O
sinal
pela
coisa
significada:
Em 1889, o
trono estava
prestes a
cair. (= o
império).
Que as
armas cedam à
toga. (=
que os
militares respeitem o
Direito).
6º) O
lugar
pelos
habitantes
ou
produtos do
lugar:
O
Eixo atacou os
aliados. (= A Alemanha, a Itália e o Japão, na 2ª
Guerra Mundial).
O
porto é recomendado
pelos
médicos. (= o
vinho fabricado na
cidade do
Porto).
7º) O
abstrato
pelo
concreto:
Burlar a
vigilância. (= os
vigilantes).
A
juventude
precisa de
bons
estímulos. (= os
jovens).
8º) O
concreto
pelo
abstrato:
O Brasil necessita de
cérebros. (=
inteligências).
Ela possui
um
bom
coração. (=
bondade,
bons
sentimentos).
9º) A
parte
pelo
todo:
Trabalhou
como
um
mouro
para
alimentar
oito
bocas. (=
pessoas).
Agora já tens
um
teto (=
casa)
Joana completará quinze
primaveras (=
anos).
10º) O
todo
pela
parte:
Moro na
cidade (= num
lugar, numa
parte da
cidade).
11º) O
singular
pelo
plural:
Na
Guerra dos
Farrapos o
gaúcho lutou
com
bravura (= os
gaúchos).
O
índio merece
melhor
tratamento (= os
índios).
12º) O
gênero
pela
espécie:
Os
irracionais (= os
animais).
Os
mortais (= os
homens).
13º) A
espécie
pelo
gênero:
"Não temendo de Áfrico e
Noto a
força" (Camões, apud Garcia, 1975: 87),
ou seja, a
força dos
ventos, representada
por Áfrico e
Noto.
14º) A
espécie
ou a
classe
pelo
indivíduo:
"Andai
como
filhos " recomenda-nos o
Apóstolo (para
dizer
São Paulo).
São Paulo (indivíduo) foi
um dos
apóstolos (espécie). (Cegalla, 1989: 515).
15º) O
indivíduo
pela
espécie
ou
classe:
Trata-se de
um
grande
esculápio. (=
com
referência a
Esculápio,
notável
médico da
Antiguidade
Clássica).
Na
ausência do
marido, Isabel foi uma Penélope. (= Penélope,
esposa
fiel e
paciente de Ulisses).
16º) A
matéria
pelo
objeto
ou
pelo
artefato:
Já tangem os
bronzes (= os
sinos).
Ganhei
um
níquel (=
moeda).
O
aço rasgou-lhe a
face (= a
navalha, a
faca).
A
antonomásia é uma
variedade da
metonímia. Consiste
em
substituir
um
nome
próprio (pessoas e
lugares)
por
qualquer
atributo
notório
ou
fato a
que estejam relacionados.
o
Poeta dos
Escravos (= Castro Alves).
o
Patriarca da
Independência (= José Bonifácio).
o
Cavaleiro da
Triste
Figura (=
Dom
Quixote).
a
Águia de Haia (= Rui Barbosa).
o Tiradentes (= Joaquim José da Silva Xavier).
o
Salvador, o
Redentor, o
Nazareno (=
Cristo).
o
Herói de Tróia (= Aquiles).
A
perífrase é
outro
recurso estilístico. Serve
para
nomear os
seres
por
causa de
seus
atributos
ou de
qualquer
acontecimento
que os celebrizou. A
perífrase,
todavia,
só é aproveitada
pela
estilística
quando possui
valor
expressivo.
Os
escravos arrancavam o
ouro
branco das imensas
fazendas coloniais. (=
algodão)
O
rei dos
animais
não é encontrado no Brasil. (= o
leão).
A
cidade
maravilhosa tem o
maior
carnaval do
mundo. (= o
Rio de
Janeiro).
*
Figuras de
pensamento
1)
Antítese
É o
emprego de
palavra
ou
pensamento
em
contraposição a
outros de significação
oposta.
"A
areia,
alva, está
agora
preta, de
pés
que a pisam". (Jorge
Amado).
"Estes edificam,
aqueles destroem;
estes sobem
pelos
degraus da
honra,
aqueles
outros descem". (Padre Manuel Bernardes).
2)
Paradoxo
É a
junção de
idéias opostas
ou contraditórias num
só
pensamento, o
que
nos impele a
enunciar uma
verdade
com
aparência de
mentira.
A
natureza das
paixões e das
emoções está
cheia de
paradoxos.
Tudo é
oposição,
tudo é
dissonância. Vejamos,
para
ilustrar
alguns
fragmentos dessa
página
brilhante do
Padre Antônio Vieira:
"(...) Se os
olhos vêem
com
amor, o
corvo é
branco; se
com
ódio, o
cisne é
negro; se
com
amor o
demônio é
formoso; se
com
ódio, o
anjo é
feio; se
com
amor, o
pigmeu é
gigante; se
com
ódio, o
gigante é
pigmeu".
Sermão da
quinta-feira, citado
por (Garcia, 1975: 71-72)).
3)
Clímax
É a
figura
pela
qual o
escritor
procurar
juntar, numa
seqüência
ascendente,
recursos de
expressão
sempre
mais
empolgantes,
até
atingir o
ponto
culminante de sua elocução. Denomina-se
anticlímax o
contrário,
isto é, a
seqüência
descendente.
"Tão
dura,
tão
áspera,
tão injuriosa
palavra é
um
Não". (Padre Antônio Vieira).
""Eu
era
pobre.
Era
um
subalterno.
Era
nada". (Monteiro Lobato).
4)
Antífrase
É a
figura
pela
qual se
expressa uma
idéia
por
outra
idéia
contrária,
por
via de
regra
com uma
conotação
irônica.
"Que
grande
aumento de
salário..." (Referindo-se a
um
percentual
muito
baixo).
5)
Eufemismo
Consiste
em
suavizar o
conteúdo de uma
idéia
molesta,
odiosa
ou
triste, substituindo-o
por
outra
idéia
menos desagradável.
"Ainda é
incipiente a
política dos
especiais. (portadores da
síndrome de Down).
"Joana deu à
luz uma
linda
menina". (pariu).
"Depois de
muito sofrimento,
nosso
irmão descansou". (morreu).
6) Litote
É uma
modalidade de
eufemismo e consiste
em emitir-se uma
idéia
afirmativa,
porém negando-a.
"Ela
não
vê". (Ela é
cega).
"Desejo
entrar.
-Pois
não. (Pode
entrar).
7)
Alusão
Consiste
em fazer-se
referência a
um
fato
ou a uma
personagem
conhecida,
quer de
ordem
histórica,
quer
mitológica,
quer
social,
quer
política, etc.
“Orando uma
vez Demóstenes
em Atenas
sobre
matérias de
importância, e advertido de
que o
auditório estava
pouco
atento, introduziu
com
destreza o
conto
ou a
fábula de
um
caminhante
que alquilara (alugara)
um
jumento e,
para se
defender no
descampado da
força da
calma (calor), se assentara à
sombra dele, e o
almocreve (condutor
ou
proprietário de
bestas de
carga
para
aluguel) o demandara
por
maior
paga, alegando
que
lhe alugara a
besta
mas
não a
sombra dela”. (Padre Manuel Bernardes,
Nova
Floresta, citado
por (Garcia, 1975: 196).
O
Conde
era
um Don Juan. (=mulherengo).
8)
Apóstrofe
Representa a
interrupção
feita
pelo
escritor
ou
orador, a
fim de dirigir-se a
pessoas ou coisas
presentes
ou
ausentes,
quer sejam
reais,
quer sejam imaginárias.
"Abre-se a
imensidade dos
mares, e a
borrasca enverga,
como o
condor, as foscas
asas
sobre o
abismo.
Deus
te
leve a
salvo, brioso e
altivo
barco,
por
entre as
vagas revoltosas..." José de Alencar.
9)
Ironia
Consiste
em expressarmos o
contrário do
que pensamos.
Sempre existe uma
conotação
sarcástica.
Pintaste uma belíssima
tela. (Para
não dizermos
borrões)
10) Retificação
Consiste
em
retificar uma
idéia
anterior.
"Tirou,
ou
antes, foi-lhe tirado o
lenço da
mão". (Machado de Assis).
11)
Reticência
Consiste na
interrupção do
pensamento, tornando-o
meio velado.
"De todas,
porém, a
que
me cativou
logo foi uma... uma...
não sei se digo". (Machado de Assis).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MATTOSO
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PINTO
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Nova
Gramática Aplicada da
Língua Portuguesa. 12ª ed. rev. e ampl.
Rio de
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ROCHA
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