DESVENDANDO QUESTÕES ATRAVÉS DA PRAGMÁTICA
Elaine Cristina Medeiros Frossard (UFES)
Introdução
O presente texto tem por objetivo estudar qual, de fato, é o real padrão das perguntas caracterizadas como de busca de informação.
O corpus selecionado para a referida análise são cartas, contendo perguntas a especialistas em aconselhamento, encontradas na revista “Atrevida”, a qual é destinada ao público adolescente e, portanto, apresenta dúvidas de jovens, geralmente do sexo feminino, entre 12 e 18 anos de idade.
Neste estudo foram utilizadas, para a identificação de cartas de busca de informação, 11 suposições postuladas pelo estudioso van der Meij. Tais suposições serviram como critério classificatório, ou seja, só foram consideradas genuínas perguntas de busca de informação aquelas que apresentavam intrinsecamente todas essas suposições.
Para o procedimento de análise das cartas mencionadas foram empregados conceitos da Pragmática como as formulações de Grice (1982) sobre o Princípio da Cooperação e a noção de implicatura, além das contribuições do psicólogo van der Meij a respeito das características de uma pergunta de busca de informação.
Este estudo apresenta, ainda, algumas considerações no tocante à desobediência às suposições de van der Meij e, consequentemente, às máximas defendidas por Grice, já que tais violações podem ser responsáveis pelo desvendar de muitas questões referentes às intenções daqueles que fazem as perguntas.
O interesse por esse assunto surgiu do fato de que, ocasionalmente, perguntas dirigidas a especialistas em aconselhamento, que deveriam ser caracterizadas como de busca de informação, parecem apresentar outros propósitos implícitos, fugindo do padrão daquele tipo de pergunta.
Pressupostos da Pragmática
para a análise de perguntas
As suposições subjacentes a perguntas de busca de informação
Tomando por respaldo o fato de que todo ato de fala é carregado de intenções e propósitos, faz-se possível afirmar que as perguntas também podem expressar muito mais do que um sentido literal, dependendo das intenções daqueles que as formulam.
Partindo do pressuposto acima, pode-se entender que é uma tarefa não muito fácil compreender o que uma pergunta, de fato, explicita.
No tocante a essa questão de identificação de perguntas e seus “componentes” implícitos, o psicólogo van der Meij reconheceu 11 suposições que devem sempre estar presentes em uma pergunta de busca de informação:
1. O locutor não conhece a informação que busca ao perguntar.
2. A pergunta especifica a informação procurada.
3. O locutor acredita que a pressuposição para a pergunta seja verdadeira.
4. O locutor acredita que existe uma resposta.
5. O locutor deseja saber a resposta.
6. O locutor pode avaliar se uma réplica constitui uma resposta.
7. O locutor só faz a pergunta se os benefícios excedem os custos.
8. O locutor acredita que o alocutário sabe a resposta.
9. O locutor pensa que o alocutário não dará a resposta na ausência da pergunta.
10. O locutor acredita que o alocutário responderá.
11. A pergunta solicita uma resposta.
Essas suposições, se respeitadas, podem ser úteis para o reconhecimento de uma pergunta cujo propósito seja realmente a busca de uma informação. Todavia, se uma ou mais dessas suposições forem violadas, faz-se possível a ilação de que a pergunta não apresenta como objetivo principal a busca de informação, o que possibilita a inferência de que aquele que elabora a questão tem outras intenções.
As suposições nas perguntas
destinadas a especialistas em aconselhamento
O gênero “cartas a especialistas em aconselhamento” apresenta, via de regra, perguntas que atendem às 11 suposições propostas por van der Meij, uma vez que aquele que escreve a alguém à busca de um conselho, geralmente tem dúvidas com relação a determinadas questões e, portanto, anseia por uma informação que lhe auxilie na resolução de seu problema.
Entretanto, algumas cartas desse tipo não apresentam perguntas que aderem ao modelo de busca de informação, violando algumas suposições. Essas perguntas podem ser descritas como reclamações, pedidos indiretos, questões retóricas ou súplicas por conformidade da parte do especialista.
Uma das razões pelas quais uma pergunta pode se desviar do modelo de busca de informação é o fato de o ato comunicativo entre o escritor da carta e o especialista envolver diversos objetivos de múltiplos agentes. Entre esses agentes, os mais diretamente envolvidos no ato comunicativo são o especialista e o escritor da carta, sendo que este pode apresentar objetivos como ter um problema resolvido, cativar a atenção do leitor para uma questão, solicitar concordância em um argumento, ter sua pergunta impressa... enquanto aquele pode pretender expor conhecimento para seu leitor e, concomitantemente, contribuir com o escritor da carta, fornecendo-lhe informação útil.
Além dos referidos agentes, pode-se citar outros como integrantes do ato comunicativo supracitado: o leitor do suporte no qual a carta e sua correspondente resposta são publicadas e o editor desse mesmo meio, os quais podem apresentar objetivos como identificar uma dúvida individual na pergunta impressa e avaliar se a carta é apropriada para publicação, respectivamente.
É ainda interessante observar que esses múltiplos agentes dialogam em diferentes níveis do discurso. Dentre esses níveis, pode-se destacar três:
Nível 1: diálogo entre o escritor da carta e o especialista pela troca pergunta - resposta.
Nível 2: diálogo entre o especialista e o leitor-alvo do suporte por meio do diálogo de nível 1.
Nível 3: diálogo entre o editor e o especialista a respeito do diálogo de nível 2.
Portanto, os textos que se constituem como cartas a especialistas em aconselhamento dificilmente envolvem uma simples troca entre dois agentes, pelo contrário, eles sustentam a observação de Bakhtin (1981) sobre o fato de que o texto abriga múltiplos diálogos entre múltiplos agentes que têm múltiplos objetivos.
O Princípio da Cooperação
Considerando que a linguagem natural apresenta certa lógica, Grice (1982) declara que nossos diálogos não se constituem em uma sucessão de observações “desconectadas”, mas apresentam-se como esforços cooperativos. Cada falante procura atender, mesmo inconscientemente, a certas “regras” que possibilitam a efetivação de um ato comunicativo de sucesso. A partir dessas ponderações, Grice (1982) elabora o seguinte princípio:
Faça sua contribuição conversacional tal como é requerida, no momento em que ocorre, pelo propósito ou direção do intercâmbio conversacional em que você está engajado (Grice, 1982: 86).
A esse princípio Grice chamou de Princípio da Cooperação e estabeleceu, para tal, quatro máximas – quantidade, qualidade, relação e modo – que representariam as regras da conversação.
Essas regras são caracterizadas da seguinte forma: a máxima da quantidade consiste na transmissão adequada de informação, ou seja, não se deve informar nem mais, nem menos do que se é requerido; já a máxima da qualidade diz respeito à declaração de informações verdadeiras; para se atender à máxima da relação, é necessário ser relevante; e com relação à máxima do modo, Grice afirma que é fundamental que se transmita qualquer enunciado de forma clara.
A violação de qualquer uma dessas máximas, entretanto, é também um recurso que o falante possui para ser cooperativo, uma vez que, dessa forma, pode expressar muito mais do que o sentido literal de seu discurso.
A intenção do locutor ao violar uma ou mais máximas só é descoberta porque essa violação gera, segundo Grice (1982), uma ou várias implicaturas conversacionais, que explicitam o fato de que as expressões da linguagem natural, postas em contexto, podem recobrir-se de outros significados ou matizes. Tais implicaturas referem-se ao significado que foge da determinação por condições de verdade e que deriva do próprio contexto da conversação, possível de ser apreendido pelos receptores por meio de um raciocínio lógico e objetivo.
Entende-se, portanto, que a derivação de implicaturas deve-se ao fato de que a interpretação usual do enunciado não é apropriada para a situação, sendo necessária uma “reinterpretação” que leve em conta, principalmente, as intenções do enunciador.
Colunas de aconselhamento em Atrevida:
busca de informação ou outras intenções?
A revista como porta-voz do adolescente
Atrevida é uma revista que aborda assuntos de interesse do público adolescente, isto é, trata de questões como amor, relacionamentos, sexualidade, beleza, moda, música, ídolos e atualidade.
Sendo assim, essa revista reúne temas que compõem o universo de indivíduos entre 12 e 18 anos e, dessa forma, constitui-se como um dos representantes da mídia escrita mais lidos por esse grupo.
A revista Atrevida, assim como outras do gênero, apresenta uma característica interessante: abre espaço para que o adolescente expresse suas dúvidas em seções destinadas a aconselhamento. Assim, os jovens têm a oportunidade de escrever cartas com perguntas que explicitam as informações que desejam.
Considerando que as perguntas nas referidas cartas apresentam, ou pelo menos deveriam apresentar, um padrão de busca de informação, algumas delas, mais especificamente aquelas que compunham as seções “Entre Amigos” e “Namoros e Rolos” na antiga versão da revista e “Na galera” na edição reformulada, foram selecionadas para serem analisadas neste trabalho.
A evidência das suposições de van der Meij
nas cartas a especialistas de Atrevida
Como dito em 1.1, o estudioso van der Meij afirmou que uma pergunta só pode ser considerada como uma verdadeira pergunta de busca de informação se não violar nenhuma das 11 suposições por ele reconhecidas.
Entende-se que perguntas encontradas em seções de aconselhamento devem apresentar as 11 suposições postuladas pelo psicólogo. Portanto, algumas cartas destinadas a especialista em relacionamentos da revista “Atrevida” foram escolhidas para exemplificar a ocorrência das referidas suposições nesse gênero.
1. Já fiquei com três meninos, mas minha mãe só sabe de um. O que fazer para não brigar com ela e conseguir manter um diálogo legal? K. B., 13 anos, São Paulo, SP.
2. Minha amiga tem um namorado que já a traiu várias vezes. Não posso falar nada, pois ela sai em defesa do menino. O que faço para que ela se toque? C. Z. V., 14 anos, Salvador, BA.
As duas cartas destacadas acima parecem apresentar exemplos de genuínas perguntas de busca de informação, uma vez que tudo indica que em todos os casos as perguntas realmente especificam a informação buscada: saber como contar algo à mãe sem prejudicar a relação, na primeira, e encontrar um meio de alertar a amiga, na segunda.
Dessa forma, as perguntas expostas parecem respeitar a segunda suposição de van der Meij e, do mesmo modo, pode-se dizer que apresentam também as suposições 1, 5 e 11, já que o contexto e a própria pergunta de cada carta parece expressar que o locutor está realmente confuso, à busca de uma informação, ou seja, o escritor da carta não parece saber a informação procurada e, assim, faz-se possível afirmar que a pergunta de fato solicita uma resposta.
Parece, ainda, possível asseverar que as cartas citadas alhures atendem às suposições 7 e 9, visto que as perguntas só poderiam ter sido feitas se o locutor acreditasse que os benefícios de obter a informação seriam maiores do que os custos de escrever a carta e, o fato de a carta ter sido enviada a um especialista corrobora que o locutor acredita que tal especialista não daria a resposta na ausência de sua pergunta.
Levando-se em conta que aquele que escreve parece realmente desconhecer a informação que busca e o fato de ter escrito a um especialista, entende-se que ele (o escritor da carta) acredita que existe uma resposta e que aquele profissional para o qual escreve é detentor de conhecimento suficiente para lhe fornecer a informação desejada. Assim sendo, as perguntas analisadas também apresentam as suposições 4, 8 e 10.
A suposição 6 também parece estar presente nas perguntas explicitadas, já que, se o locutor realmente está buscando uma informação, ele será capaz de avaliar se a resposta dada pelo destinatário realmente se trata da informação requerida. Por exemplo, a adolescente (carta 1) que pediu um conselho sobre como falar com a mãe que já “ficou” com três meninos e como continuar tendo uma boa relação com ela (a mãe) será, possivelmente, capaz de reconhecer se o conselho do especialista é a resposta que ela almeja ou não, se tal conselho é eficiente ou se não atende às suas expectativas.
É ainda interessante observar que os locutores das cartas transcritas parecem acreditar que os pressupostos para suas perguntas são verdadeiros, o que faz com que a suposição 3 seja evidenciada em todas as perguntas.
Para que uma pergunta seja taxada como genuinamente de busca de informação, segundo van der Meij, é necessário, como já mencionado, que ela apresente as 11 suposições por ele postuladas e, como foi explicitado até aqui, as duas perguntas até então tomadas como corpus para análise parecem apresentar essas suposições e, portanto, podem ser consideradas como pertencentes ao padrão de busca de informação.
Violando o padrão: a não ocorrência de suposições
e a violação de máximas em perguntas na revista Atrevida
Na seção 2.2 foram expostas perguntas encontradas em cartas a especialistas da revista Atrevida que pareciam atender ao padrão de perguntas de busca de informação.
Como anteriormente mencionado, o próprio fato de tais perguntas fazerem parte de uma seção de aconselhamento já gera a pressuposição de que aqueles que as formulam buscam determinado conselho ou informação, no entanto, há perguntas pertencentes a essa mesma seção que se distanciam do padrão que deveriam apresentar, ou seja, violam uma ou mais das suposições reconhecidas por van der Meij.
Para explicitar qual, de fato, é a intenção subjacente a essas perguntas que violam suposições, algumas outras cartas serão analisadas.
3. Estou ficando com um menino que é muito galinha. Até aí, tudo bem. Mas nas férias, sem querer, ele me contou que namora há sete meses. Ainda estou com ele. Pior: acho que estou gostando do menino. O que eu faço? L.S.,Fortaleza, CE.
Na carta acima, percebe-se que o locutor parece não estar verdadeiramente buscando uma informação. Essa asserção pode ser feita uma vez que a própria pergunta é vaga, não especificando a informação pretendida. Além disso, o contexto expressa que a escritora da carta já está decidida, ou seja, ela aceitou a situação do menino e, portanto, não parece estar querendo saber o conselho do especialista.
A partir dessas considerações, pode-se afirmar que a pergunta na carta número três viola as suposições 1, 2, 3, 4, 5, 8 e 11 e, fazendo um paralelo com o PC de Grice, faz-se possível declarar que essa mesma pergunta também viola as quatro máximas do Princípio da Cooperação. Tal asseveração é pertinente visto que, ao violar as suposições 1, 3, 4, 5, 8 e 11, a referida pergunta não expressa algo realmente verdadeiro, pois a busca de informação não é o objetivo do locutor, ao contrário do que, a princípio, possa parecer, devido ao local onde a pergunta se encontra e toda a rede conceitual que uma carta a um especialista carrega. Sendo assim, a máxima da qualidade é desrespeitada e, consequentemente, a da relação também, uma vez que a pergunta não parece ser relevante visto que tudo indica que o locutor não deseja saber a resposta, pois já conhece a informação buscada.
Ao violar a suposição 2, a pergunta em questão parece “desobedecer” às máximas do modo e da quantidade, já que não é clara e não é tão informativa quanto deveria ser.
É notável o fato de que ao violar as máximas do Princípio da Cooperação, a pergunta sob análise propicia a geração de algumas implicaturas que conduzem à compreensão da “verdadeira” intenção daquele que a escreveu.
Levando-se em consideração as suposições desrespeitadas e as máximas violadas, parece possível a asserção de que as seguintes implicaturas são produzidas:
1. a adolescente não expressou uma pergunta “verdadeira” – ela já estava decidida quanto ao que fazer, não buscava realmente uma informação – porque, provavelmente, pretendia ter sua carta impressa e, elaborando uma carta contando um acontecimento “comum” entre adolescentes, isto é, meninas que se apaixonam por rapazes infiéis, sua carta seria, possivelmente, escolhida, já que a revista para a qual escreveu tem o objetivo de alcançar o interesse do público entre 12 e 18 anos;
2. a pergunta não foi relevante nem clara ou suficientemente informativa devido ao fato de sua escritora, possivelmente, não ter a intenção de buscar uma informação, ou seja, a adolescente não poderia tornar sua pergunta mais específica pelo simples fato de que a resposta era, provavelmente, para ela, um dos fatores que menos lhe interessavam.
Além dessa carta, tomar-se-á ainda outra para provar como as suposições de van der Meij e, conseqüentemente, as máximas do PC de Grice são violadas em algumas perguntas que deveriam obedecê-las.
4. Eu achava o garoto um gatinho e estava a fim. Até que minha amiga me falou o nome dele: Manoel! Depois disso, comecei a ver um monte de defeitos: ele é baixinho, novo demais e aposto que não sabe beijar. Não tenho razão em achar o nome dele ridículo? D.C.T., 15 anos, Casa Branca, SP.
A pergunta na carta número quatro, assim como na carta número três, não parece ter como objetivo principal a busca de uma informação, pois a adolescente já tem sua opinião formada: acha inconcebível se interessar por um garoto cujo nome seja Manoel.
Pode-se dizer que a pergunta da adolescente não busca uma informação, mas requer concordância por parte do especialista. A escritora da carta parece não estar interessada em saber a resposta para sua pergunta – já que está certa de sua posição – mas parece querer justificar sua atitude, talvez para se convencer de que é realmente a melhor que ela poderia tomar. Considerando essas observações, a pergunta número quatro parece violar as suposições 1, 3, 4, 5, 8 e 11.
Ao violar as suposições supracitadas, a última pergunta deixa entrever a desobediência às máximas da “Qualidade” e da “Relevância”, uma vez que não está à busca de uma informação e, portanto, não expressa a verdade nem apresenta relevância considerável, visto que a garota já tem sua opinião formada.
Entende-se, dessa forma, que algumas implicaturas surgirão devido ao fato de a pergunta quatro violar algumas máximas e, pode-se considerar como pertinentes as seguintes:
1. a pergunta da adolescente na carta quatro viola as máximas da qualidade e da relevância, possivelmente, porque sua intenção era se justificar, ou seja, em todo o restante da carta ela tentou colocar as razões de seu comportamento e, ao formular uma pergunta que, na realidade, não buscava uma informação, ela tinha, provavelmente, a finalidade de tentar persuadir o especialista ou mesmo o leitor-alvo do gênero a concordar com ela;
2. o objetivo da escritora da carta número quatro ao violar as referidas máximas poderia ser descrito como uma tentativa de elaborar uma pergunta polêmica – envolvendo um tipo de preconceito – a fim de conseguir chamar a atenção e ter sua carta escolhida para publicação.
Levando-se em conta o fato de que as suposições de van der Meij parecem, de fato, estar presentes em perguntas de busca de informação, faz-se possível a ilação de que uma pergunta, independente do contexto no qual se encontra, não compartilha do padrão de busca de informação se deixar de apresentar qualquer uma das referidas suposições.
A partir disso, pode-se depreender que há perguntas que, mesmo encontrando-se em seções cujo objetivo é a busca de informação, apresentam outras intenções. Esse foi o caso, por exemplo, de algumas das cartas analisadas.
Partindo da análise feita, pode-se ainda entender que a violação de suposições conduz, conseqüentemente, à violação de uma ou mais máximas do Princípio da Cooperação e, portanto, ao surgimento de implicaturas que exercerão papel fundamental para o desvendar das verdadeiras intenções do locutor. E, essa associação entre desobediência a suposições e máximas parece ser visível da seguinte forma: ao violar alguma das suposições 1, 3, 4, 5, 8, 10 e 11, a pergunta inevitavelmente violará as máximas da qualidade e da relação e, desrespeitando-se a suposição 2, viola-se as máximas da quantidade e do modo. Entende-se, todavia, que essa associação não se constitui em uma regra, mas em uma aparente explicitação do que se pôde constatar a partir deste trabalho.
Dessa forma, pode-se inferir que qualquer pessoa que pretenda entender qual é a real intenção subjacente a determinada pergunta deve considerar os objetivos e intenções dos múltiplos agentes que participam desse ato comunicativo, visto que, como este trabalho pretendeu mostrar, nem toda pergunta é o que, a princípio, parecia ser.
Referências Bibliográficas
ATREVIDA. Namoros e rolos, São Paulo, n. 140, p. 16, abril 2006.
––––––. Na galera, São Paulo, n. 141, p. 15, maio 2006.
––––––. Entre amigos, São Paulo, n. 118, p. 16, junho 2004.
––––––. Namoros e rolos, São Paulo, n. 108, p. 18, agosto 2003.
BAKHTIN, M. M. The Dialogic Imagination: Four Essays. (C. Emerson and M. Holquist, trans.). Austin, TX: University of Texas Press, 1981.
GRICE, H. P. Lógica e conversação. Trad. João Wanderley Geraldi. In: Fundamentos Metodológicos da Lingüística. Marcelo DASCAL (ORG). Vol. IV. Campinas: Unicamp, 1982.
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