O OBJETO INCORPORADO
EM UMA ATIVIDADE DE INTERAÇÃO SOCIAL
Clézio Roberto Gonçalves
(CEFETOuroPreto, PUC-Minas e USP)
Introdução
O domínio da linguagem é fundamental para os indivíduos, considerados tanto em sua individualidade quanto como membros de uma sociedade. É pela linguagem que cada um manifesta suas necessidades, revela sua vontade e desejo, narra acontecimentos, troca conhecimentos e experiências, enfim, comunica-se e interage com as outras pessoas.
Este trabalho, ao considerar a linguagem como uma atividade de interação social entre seres humanos, procura explorar um aspecto da linguagem, mais precisamente da língua em uso, em situações reais de comunicação: o objeto incorporado no discurso[1] narrativo do português.
Saraiva (1997), ao analisar o fenômeno da Incorporação Sintática e Semântica do SN nu[2] objeto, comenta que, para o português, tal fenômeno não tem merecido a devida atenção da literatura lingüística recente, ao contrário do que se observa com relação a línguas indígenas como o Guarani, Onondaga, Mohawk, Nahuatl etc.
Assim, como Saraiva (1997), pretendendo preencher essa lacuna referente ao estudo da Incorporação Nominal no português, o presente trabalho se propõe a verificar as ocorrências do objeto incorporado nas 13 narrativas da pesquisa, fazendo-se, também, um levantamento do tipo de estrutura oracional em que o objeto incorporado ocorre.
Para isso, este estudo, com preocupação funcionalista, se valeu de dados contextualizados, lançando-se mão de um corpus com um contexto lingüístico e situacional amplo: 13 narrativas orais, com 02h08’38’’ (duas horas, oito minutos e trinta e oito segundos) de gravação. Os dados utilizados neste trabalho foram colhidos das narrativas orais espontâneas que fazem parte do acervo do Grupo Estudos Funcionalistas da Linguagem (CNPq), coordenado pela Profa. Dra. Maria Elizabeth F. Saraiva, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Esta pesquisa teve a preocupação em estudar a língua no seu contexto de uso, levando-se em conta uma corrente de estudos lingüísticos recente, que tem enfatizado as relações entre língua, cultura e sociedade.
Ao se explorar o corpus, foram constatados 87 casos de objeto incorporado e 573 casos de objetos diretos plenos. Números suficientemente expressivos para se fazer um estudo semântico e pragmático do objeto incorporado.
A Teoria Funcionalista
Uma vez que este trabalho se propõe a explorar e fazer um levantamento dos tipos de estrutura oracional em que o objeto incorporado ocorre no discurso, optou-se, então, partir dos pressupostos teóricos da abordagem funcional dos estudos lingüísticos, no seu modelo norte-americano. Objetiva-se esta seção justificar porque esta dissertação se apóia nesta perspectiva teórica.
No funcionalismo lingüístico norte-americano (de orientação givoniana), o conceito de discurso consolidou-se a partir das análises de Sankoff & Brown (1976), no estudo a respeito da “origem da sintaxe no discurso”. Nessa obra, em que assinalam a passagem do pidgin “Tok Pisin” à língua crioula de Papua, Nova Guiné, verificam os autores a tendência à regularização de algumas alternativas ou arranjos da expressão lingüística, que, uma vez sistematizados, passam a representar não mais uma das opções, mas a forma regular de comunicação dos usuários.
Assim, assumiu-se discurso, nesta pesquisa, como o modo individual de organização da língua, relativo a necessidades de natureza pragmática, passível de sujeição a toda sorte de interferência (tipo de texto, intencionalidade, modalidade, variáveis sociais, dentre outras). A esfera discursiva é o âmbito da escolha, da seleção das alternativas mais capazes e adequada de comunicação. É no discurso que se expressa a individualidade, que sobressai aquilo que nos difere lingüisticamente uns dos outros.
No outro extremo da fortuidade discursiva está a gramática, entendida como o conjunto das regularidades da língua. O termo gramática, nas palavras de Martelotta, Votre, Cezário (1996: 48), representa o conjunto de regularidades decorrentes de pressões cognitivas e, sobretudo, de pressões de uso. Isto significa que, para os funcionalistas, a gramática não é um organismo auto-suficiente gerado por fatores cognitivos inatos, mas uma conseqüência de padrões que se estabelecem no uso. Gramática e discurso não são conceitos separados, mas, para esses autores, ao contrário, constituem uma simbiose: são entendidos como faces da mesma moeda, em interferência recíproca – o discurso molda a gramática e é, ao mesmo tempo, moldado por ela.
Se o discurso é o eventual, a gramática é o sistemático, o padrão. Situam-se nesse conjunto as formas e expressões que, pela freqüência de uso e alta convencionalização, surgem como o modo social compartilhado de comunicação, menos sujeitas aos fatores pragmáticos. Haiman (1994) se refere às formas gramaticais como processos de ritualização, que, à semelhança de outros modos comportamentais da cultura humana, são automatizados, utilizados repetida e mecanicamente por toda a comunidade.
Na abordagem funcionalista, a questão da freqüência e rotinização é vital para a fixação de padrões gramaticais. Os usos lingüísticos são entendidos, assim, como um conjunto de procedimentos não-estabilizados e estabilizados, como a combinação de estratégias discursivas e gramaticais, do domínio individual e do social, da fortuidade e da convenção.
Em sua versão mais madura e refinada , o funcionalismo (Givón, 1995) “leva a sério” as pressões estruturais, admitindo a importância e a influência da convenção gramatical. A intermediar o discurso e a gramática, situa-se o processo de gramaticalização, ou seja, o caminho unidirecional que engloba as motivações e o desenvolvimento das estruturas gramaticais em geral. Esse processo se dá do léxico para a gramática e de itens ou construções gramaticais para outros mais gramaticais ainda. Entendeu-se gramaticalização, no sentido em que
...designa um processo unidirecional segundo o qual itens lexicais e construções sintáticas, em determinados contextos, passam a assumir funções gramaticais e, uma vez gramaticalizados, continuam a desenvolver novas funções gramaticais. Um processo em cujo final o elemento lingüístico tende a se tornar mais regular e previsível, pois sai do nível da criatividade eventual do discurso para penetrar nas restrições da gramática. (Martelotta, Votre, Cezário, 1996: 45)
A gramaticalização é uma manifestação do aspecto não-estático da gramática, uma vez que ela demonstra que as línguas estão em constante mudança, em conseqüência de uma incessante busca de novas expressões e que, portanto, nunca estão definitivamente estruturadas.
O funcionalismo se preocupa com a gramática de uso. O estudo dos fatos gramaticais, sob essa ótica, considera seus contextos de ocorrência, ou seja, o discurso, como o momento e o lugar onde estes fatos são gerados, relativamente fixados e continuamente reformulados. Esta perspectiva lingüística ultrapassa o limite da sentença e avança na análise de sentenças contextualizadas em textos extensos, ou seja, uma abordagem que se preocupa em não tomar sentenças descontextualizadas como matéria prima para as reflexões.
Esta foi, também, uma das preocupações desta pesquisa: ultrapassar os limites das estruturas, partindo para a ocorrência do objeto incorporado nas 13 narrativas de análise, ou seja, uma preocupação constante em não tomar estruturas descontextualizadas como matéria prima para este estudo do objeto incorporado. Em síntese, procurou-se estudar um fenômeno da língua no seu contexto social de uso.
Para a perspectiva funcionalista, a unidade básica do uso lingüístico não é a palavra ou a sentença, mas o discurso ou o texto, criado pelo falante ou escritor, ao fazer uso de um conjunto de opções disponíveis no componente textual e relevantes ao contexto. É nesse sentido que cada sentença se organiza como uma mensagem, cuja estrutura é, essencialmente, uma estrutura temática, na medida em que a predicação se faz em torno de um tema.
Esta pesquisa pretendeu estudar o fenômeno do SN nu objeto incorporado em português, sob um prisma mais amplo, que permitisse a visão daquilo que antecede e sucede a unidade lingüística, bem como a recorrência deste tipo de unidade em ambientes semelhantes e distintos, explorando, então, a função discursiva.
Na prática, funcionalistas estudam o uso da língua no discurso, conforme explicitam Naro & Votre (1992: 289), isto é, o uso da linguagem em situações de fala concreta (13 narrativas, no caso específico deste trabalho). Uma vez que os dados que interessam à abordagem funcionalista, são buscados no discurso, sendo, portanto, contextualizados, é possível a verificação empírica, a contagem de freqüências, a visão e o controle do contexto lingüístico anterior e posterior, e a correlação com variáveis sócio-culturais e pragmáticas.
Ao se explorar as propriedades discursivas de objeto incorporado, procurou-se, fazer uma análise sintática e pragmática deste fenômeno. Givón (1984), por sua vez, destaca a necessidade - defendida também em outros trabalhos seus - de se buscar uma descrição explícita, sistemática e compreensiva da “sintaxe, semântica e pragmática como um todo unificado”.
Finalmente, ao se estudar a língua no seu contexto de uso, este trabalho pretendeu levar em conta uma corrente dos estudos lingüísticos mais recente, que tem enfatizado as relações entre língua, cultura e sociedade, insistindo no caráter instável da língua, reconhecidamente tomada como um dos elementos mais importantes de uma cultura. Todavia, deve-se deixar claro que, para Saussure, essas concepções lingüísticas estão presentes, quando ele mesmo afirma que a língua
...é, por sua vez, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício desta faculdade, nos indivíduos.(Saussure, 1975:25)
SN Nu Objeto Incorporado em Português
Este artigo adota, conforme já mencionado, o conceito de objeto incorporado desenvolvido por Saraiva (1997) – “Buscar Menino no Colégio: a questão do objeto incorporado em português” – trabalho no qual ela investiga o comportamento gramatical do SN nu objeto em construções produtivas do português e descreve os aspectos sintáticos e semânticos característicos do SN nu. Para a autora, objeto incorporado “trata-se dos casos em que o conjunto Verbo + Sintagma Nominal traduz uma idéia unitária, passando a designar um tipo de ação ou processo expresso pelo verbo”.
Assim, a autora procurou verificar a distribuição dos SNs nas sentenças do português e procedeu à discriminação dos traços que o tipificam. A descrição efetivada e o levantamento empírico efetuado forneceram evidência para a sistematicidade da interpretação incorporada do SN nu objeto.
Por SN nu, ela entende o SN constituído somente do nome comum (núcleo) na sua forma básica, sem marca de plural. Partindo da frase – “Buscar menino no colégio”-, a autora entende por SN nu o constituinte exemplificado por menino. Já com a expressão SN pleno a autora se refere a SNs constituídos do nome, singular ou plural, acompanhado de determinantes e/ou modificadores diversos. Os exemplos[3] citados abaixo ilustram, respectivamente, os dois casos:
(1) Fui buscar menino no colégio às cinco horas.
(2) Fui buscar a minha filha no colégio às cinco horas.
Para Saraiva, ao enunciar uma frase como (1), o falante tem em mente destacar o que fez às cinco horas. Logo, não se focaliza qualquer membro da classe em questão, seja qual for o ângulo sob o qual se aprecie a estrutura acima. Citando suas palavras:
Assim, por exemplo, não se está considerando a classe ‘menino’ sob a totalidade dos elementos que a compõem, ou seja, não se está interessado em cobrir a extensão do conjunto. (Saraiva, 1997:48)
Acrescenta a lingüista:
Na verdade, no exemplo em pauta [Exemplo (1)], não interessa se o falante buscou um menino apenas, uma menina e um menino, vários meninos e meninas, etc. Em quaisquer dessas circunstâncias, continuaria sendo apropriado o uso da referida estrutura, já que aí focaliza-se o que foi feito - o evento – e não a entidade menino. (Saraiva, 1997: 49)
No dizer da autora:
Está em jogo o conjunto total das propriedades que caracterizam a descrição ‘menino’. O nome aí é considerado um ‘feixe de traços’. Sendo assim, o sentido do nome, nesse exemplo, associa-se tão intimamente com o sentido do verbo, que os dois elementos, verbo + SN, passam a formar um todo semanticamente coeso, a traduzir uma idéia unitária (...) Em outras palavras: o conjunto verbo + SN passa a designar um tipo de ação ou processo expresso pelo verbo: buscar menino é interpretado como uma modalidade de ação diferente de alugar apartamento, comprar carro, tocar flauta, passar espanador, tomar café, viajar, cantar, etc. (Saraiva, 1997: 50)
Assim, a autora reserva a denominação objeto incorporado para se referir ao constituinte em questão. Ela afirma que o rótulo escolhido sugere uma incorporação do sentido do nome ao sentido do verbo, de tal modo a constituírem ambos uma unidade semântica. No entanto, deve-se deixar claro, Saraiva insiste em que, nas construções produtivas, que foram o alvo de seu estudo, essa interpretação de todo semântico do conjunto verbo + objeto incorporado é composicional, isto é, previsível, dadas as regras semânticas do português. Logo, é diferente das construções lexicalizadas, que serão comentadas na próxima seção, cujo significado é idiossincrático.
O Objeto Incorporado
nos Diversos Tipos de Estrutura Oracional
Conforme estabelecido no início, pretende-se verificar, aqui, a distribuição dos diversos tipos de oração com casos de objeto incorporado nas cinco categorias discursivas. Para isso, apresenta-se a seguinte tabela:
Tabela i: O objeto incorporado nos diversos tipos de estrutura
e nas cinco categorias discursivas
Categorias Discursivas |
Coorenada |
Subordina-da desen-volvida |
Subordina-da reduzida |
Principal |
Indepen-dente Absoluta |
Discurso direto |
9 |
0 |
1 |
0 |
0 |
Figura |
22 |
0 |
0 |
1 |
0 |
Categoria intermediária |
0 |
4 |
8 |
0 |
0 |
Fundo |
20 |
10 |
4 |
0 |
0 |
Fundão |
4 |
0 |
4 |
0 |
0 |
Para se entender melhor a Tabela I, é necessário apresentar primeiro as noções das categorias discursivas, segundo Azevedo (1992), conforme descrito no quadro abaixo:
Quadro i: Categorias discursivas
Ø FIGURA: é a estrutura da narrativa propriamente dita, isto é, a seqüência dos eventos que constituem a “estória”. Ø FUNDO: constitui-se de descrições, explicações, comentários que o narrador faz para ampliar a estória. Ø DISCURSO DIRETO: corresponde àquele trecho em que o narrador “encena” os diálogos acontecidos. Ø CATEGORIA INTERMEDIÁRIA: esta categoria é intermediária entres as duas principais : figura e fundo. Neste ambiente, ocorrem as estruturas substantivas, relativas, finais, construções com gerúndio, etc que não se encaixam nem na figura e nem no fundo. Ø FUNDÃO: é constituído por aqueles elementos que se encontram mais à margem da estória. São as interrupções do ouvinte, o meta-discurso do narrador ou, ainda, os trechos em que a seqüência de eventos é interrompida por comentários relativos a algum elemento periférico, não relacionado com a “estória”. |
Conforme ilustrado na Tabela I, há um certo equilíbrio na distribuição das orações coordenadas com objeto incorporado nos dois planos discursivos principais: 22 casos na FIGURA e 20 casos no FUNDO. Em ordem decrescente, segue o DISCURSO DIRETO com 9 casos e o FUNDÃO com 4.
Já com referência às subordinadas (desenvolvidas e reduzidas), portando objeto incorporado, seu maior índice de ocorrência é registrado no FUNDO: 18 casos (10 em subordinadas desenvolvidas e 8 em reduzidas). Em seguida, constatam-se 8 casos (4 em desenvolvidas e 4 em reduzidas) na CATEGORIA INTERMEDIÁRIA, 4 (em reduzidas) no FUNDÃO e 1 (em reduzida) no DISCURSO DIRETO.
No que concerne à CATEGORIA INTERMEDIÁRIA, não causa surpresa o fato de todos os casos de objeto incorporado alocarem em estruturas de subordinação, devido à própria conceituação de CATEGORIA INTERMEDIÁRIA. De acordo com as características apresentadas por Azevedo (1992)[4], neste ambiente ocorrem as estruturas substantivas, relativas, finais, construções com gerúndio etc. ligadas a orações da FIGURA, que, entretanto, não se encaixam perfeitamente naquela categoria e que, também, não podem ser consideradas muito facilmente como pertencentes ao FUNDO.
O único caso de oração principal com objeto incorporado é verificado na FIGURA.
A seguir, aventando-se novamente a possibilidade de se agruparem os dados do DISCURSO DIRETO com os da FIGURA e os da CATEGORIA INTERMEDIÁRIA e do FUNDÃO com o FUNDO[5], chega-se aos seguintes resultados:
Tabela ii: O objeto incorporado em estruturas coordenadas e subordinadas
ORAÇÕES |
FIGURA |
FUNDO |
FIGURA |
FUNDO |
TOTAL |
COORDENADAS |
31 |
24 |
56,3% |
43,7% |
100% |
SUBORDINADAS |
01 |
30 |
3,2% |
96,8% |
100% |
TOTAL |
32 |
54 |
---- |
---- |
---- |
Na Tabela II, foram computados apenas os dados de objeto incorporado em coordenadas e subordinadas (reduzidas e desenvolvidas). Com o procedimento proposto, observa-se uma incidência de 56,3% de coordenadas com objeto incorporado na FIGURA e 43,7% no FUNDO. Logo, embora não haja propriamente uma grande diferença na distribuição dessas orações nos dois planos discursivos principais, observa-se que a maioria dos casos de coordenadas com objeto incorporado se faz presente na FIGURA.
Quanto às subordinadas com objeto incorporado, como é de se esperar, a desproporção é enorme: 96,8% de ocorrências no FUNDO e 3,2% na FIGURA.
Em suma: esses resultados mostram que há predomínio de objeto incorporado em orações coordenadas no plano discursivo responsável por fazer avançar a estória – FIGURA. No caso de orações subordinadas com objeto incorporado, o predomínio se dá no plano discursivo onde se apresentam as explicações, justificativas, descrições, caracterizações de personagem e cenários etc. – FUNDO.
Isso significa que, considerando-se apenas as duas categorias discursivas principais, é possível estabelecer as seguintes correlações:
Objeto incorporado em estrutura coordenada/ FIGURA;
Objeto incorporado em estrutura subordinada/ FUNDO.
Considerações Finais
Em termos teóricos, inicialmente, se abordou a perspectiva funcionalista como ponto de vista norteador deste estudo: rompendo com a tradição gerativista de conceber a sintaxe como um organismo autônomo e autoestruturado, a abordagem funcionalista observa o funcionamento da língua no ato de comunicação, ou seja, o uso da linguagem em situações de fala concreta, e procura descrever relações estáveis entre os mecanismos gramaticais e os contextos discursivos que os determinam.
A seguir, adotou-se o conceito de objeto incorporado desenvolvido por Saraiva (1997). Por SN nu, ela entende o SN constituído somente do nome comum (núcleo) na sua forma básica, sem marca de plural. Partindo da frase – “Buscar menino no colégio” -, a autora entende por SN nu o constituinte exemplificado por menino. Já com a expressão SN pleno a autora se refere a SNs constituídos do nome, singular ou plural, acompanhado de determinantes e/ou modificadores diversos.
Deste modo, a autora reserva a denominação objeto incorporado para se referir a V+SN, interpretados como um todo semântico. O SN objeto tem, aí, uma função classificatória com referência à ação ou processos expressos pelo verbo, isto é, ele parece qualificar tal ação ou processo. Por exemplo: “buscar menino” é interpretado como um tipo de ação diferente de tocar flauta, beber café, espanar, viajar etc.
É conveniente chamar a atenção, ainda, para o fato de que ao se dividir as unidades oracionais em categorias discursivas, foram adotados os critérios estabelecidos por Azevedo (1992), mesmo percebendo-se que algumas categorias precisavam de um refinamento ainda maior para tentar suprir uma série de problemas relativos a essas divisões no texto oral.
Finalmente, conclui-se que o homem está sempre buscando maneiras mais expressivas para alcançar seus objetivos comunicativos, para dar conta de funções necessárias à concretização ‘eficiente’ de seu ato discursivo.
Referências Bibliográficas
AZEVEDO, Adriana M. T. Tempo, modo e aspecto verbal na estruturação do discurso narrativo. UFMG, 1992. Dissertação (Mestrado em Estudos Lingüísticos), Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
––––––. Tempo, modo e aspecto verbal na estruturação do discurso narrativo. Revista de estudos da linguagem. Belo Horizonte: FALE/ UFMG, vol. 2, n. 3, p. 177-193, 1995.
FURTADO DA CUNHA, Maria A. O ensino da gramática: uma abordagem funcional. Natal: UFRN, 1998 (mimeogr.).
GIVÓN, Talmy. Syntax: a functional typological introduction: Philadelphia: John Benjamins, Publishing Company, 1984, v.1.
––––––. Functionalism and grammar. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. Publishing Company, 1995.
GONÇALVES, Clézio R. O objeto incorporado no discurso narrativo do português. UFMG, 1999, 211f. Dissertação (Mestrado em Estudos Lingüísticos), Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
––––––. Apresentar bagagem, mostrar passaporte e tirar foto: o objeto incorporado no português brasileiro.
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MARTELOTTA, M. E.; VOTRE, S. J.; CEZÁRIO, M. M. Gramaticalização no português do Brasil: uma abordagem funcional. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.
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SANKOFF, Gillian & BROWN, Penelope. The origins of syntax in discourse: a case study of tok pisin relatives. Philadelphia: University Pennsylvania Press, 1976.
SARAIVA, M. E. F. O SN NU Objeto em português: um caso de incorporação semântica e sintática. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 1996. (Tese de doutoramento).
––––––. Buscar menino no colégio: a questão do objeto incorporado em português. Campinas: Pontes, 1997.
SAUSSURE, Ferdinand. Cours de linguistique general. Paris: Payot, 1975.
[1] Entende-se por discurso, aqui, o “uso (...) da língua em situação de comunicação, incorporando as estratégias criativas utilizadas pelo falante para organizar funcionalmente seu texto para um determinado ouvinte e em uma determinada situação de comunicação” (FURTADO DA CUNHA, 1998:5).
[2] Por SN nu, SARAIVA (1996) entende o SINTAGMA NOMINAL constituído somente do nome comum (núcleo) na sua forma básica, sem marca de plural. Partindo da oração – “Buscar menino no colégio” –, a autora entende por SN nu o constituinte exemplificado por “menino”.
[3] Os exemplos de toda esta seção, embora não sigam o original, foram retirados de Saraiva (1997).
[4] Cf. o conceito e classificação das categorias discursivas em Azevedo (1992).
[5] Tal procedimento foi sugerido, com base em Azevedo (1995), na seção 4.3.