AMBIGÜIDADE
EM SUPOSTAS ESTRUTURAS DE PASSIVA

Alessandra Helena Ferreira (UFES)

 

Este trabalho é fruto de uma pesquisa em andamento que estamos desenvolvendo na Universidade Federal do Espírito Santo.

Nesta comunicação, pretendemos discutir as características morfo-sintático-semântico-discursivas que as estruturas com verbos convencer, prevenir, controlar, educar etc. apresentam que as tornam diferentes daquelas com os verbos quebrar, roubar, indiciar, etc. Para tanto, recorreremos aos estudos propostos por Borba (1996), na gramática de valências. Sendo assim, interessa-nos investigar as estruturas de passiva com as formas participiais dos verbos convencer, prevenir, controlar, educar que na ausência do agente da passiva (cf. Ana foi convencida Æ, Mara foi prevenida Æ, etc.) tornam as orações das quais fazem parte, ambíguas.

O corpus se constitui de textos jornalísticos extraídos do Cd-rom da Folha de S. Paulo, dos anos de 1994 a 1999. Em algumas situações, foram criados exemplos a fim de se tornarem mais claras as abordagens.

 

PASSIVA, AGENTE DA PASSIVA:
A VISÃO DOS GRAMÁTICOS

A maioria dos gramáticos da língua portuguesa dispensa um tratamento muito semelhante à estrutura de passiva. Para Rocha Lima (2005: 253 e 390), por exemplo, o agente da passiva representa o “ser que praticou a ação verbal”, podendo declinar de importância a ponto de ser omitido.

Cunha e Cintra (2001: 384-496), por sua vez, afirmam que sendo o agente que pratica a ação, a frase pode então passar à ativa e o agente da passiva converte-se em sujeito na estrutura ativa.

Bechara (2004: 434-335) e Rocha Lima (2005) chamam a atenção para o fato de o agente da passiva poder ser omitido. Para os gramáticos, isso se dá em função da relevância/não relevância desse “complemento verbal”. Bechara (2004) considera o agente da passiva como um termo não obrigatório “(...) tal complemento de agente pode ser opcional, pois são construções gramaticalmente corretas”. Para eles, pode-se omitir o agente da passiva, somente em duas circunstâncias: quando não se sabe quem praticou a ação ou quando não se quer dizer quem a praticou.

Bechara (2004) assegura que nem sempre o complemento que segue a preposição por é de passiva, esclarecendo que há situações em que o complemento pode ser adjunto circunstancial.

As gramáticas aqui analisadas abordam a passiva, o agente da passiva, etc. a partir da perspectiva frasal, evidenciando a possibilidade de ocorrência ou não ocorrência do agente, mas não estão preocupadas, até porque não nos parece ser esse o objetivo dessas gramáticas, com o resultado que a omissão do agente da passiva, em determinadas estruturas, pode acarretar.

Dada a recorrência do uso da estrutura de passiva, especificamente com a omissão do agente em determinados gêneros textuais, chama-nos a atenção o comportamento de verbos como roubar > roubado[1], comprar > comprado, quebrar > quebrado que, como atestam os exemplos a seguir, independem da presença do agente para serem classificadas como estruturas de passiva.

1 – O carro foi roubado.

2 - A escola foi quebrada.

3 - A empresa foi comprada.

O mesmo não se dá com os verbos controlar > controlado, educar > educado e convencer > convencido; uma vez que é exatamente pela omissão do agente que a ambigüidade se instaura, como podemos observar nos exemplos abaixo:

4 – A artista foi convencida.

5 – O jogador foi controlado.

6 – A aluna foi educada.

No exemplo (4), há duas possibilidades de leitura, tanto do ponto de vista morfológico, quanto do sintático e do semântico.

A primeira leitura pode apontar o item lexical convencida como adjetivo, que funciona como predicativo do sujeito; cujo significado é “presunçosa”; e o predicado, nominal.

A outra possibilidade é classificar a frase quanto à predicação, como predicado verbal, por entendermos que se trata de uma estrutura de passiva, em que temos um verbo auxiliar (foi) + um particípio (convencida). O item lexical convencida passa a significar “persuadida”.

É na tentativa de discutir a ambigüidade de alguns verbos na suposta estrutura de passiva que a nossa proposta de estudo se legitima. Com isso, pretendemos abarcar alguns aspectos da questão que têm escapado a outras abordagens. Para tanto, recorreremos às análises de Chafe (1979) e de Borba (1996).

 

AMBIGÜIDADE NA ESTRUTURA FRASAL

Mattoso Câmara apresenta a seguinte definição de ambigüidade: “Circunstância de uma comunicação lingüística se prestar a mais de uma interpretação; a antiga retórica grega focalizou-a na construção da frase sob o nome de Anfibologia” (2004: 48-49). Ainda, segundo Mattoso Câmara (2004), a ambigüidade é conseqüência da homonímia, polissemia e deficiência dos padrões sintáticos.

A homonímia e a polissemia desaparecem no contexto lingüístico em princípio, mas em certos contextos não desaparecem inteiramente e cria-se a ambigüidade. Na frase: Tiago foi convencido, temos uma ambigüidade ocasionada pelo duplo sentido da palavra convencido que pode ser interpretada como atesta o Dicionário de usos do Português do Brasil: “que se convenceu; persuadido ou presumido; presunçoso; pessoa pouco modesta; pessoa presunçosa” (Borba, 2002: 142). Nesse caso, a homonímia é a responsável pela ambigüidade.

Já a ambigüidade, que decorre da deficiência dos padrões sintáticos, diz respeito à colocação, à concordância e à regência. A boa manipulação da língua, no discurso individual, elimina a ambigüidade, criando contextos em que a homonímia ou a polissemia se anulam pela concatenação com outros termos, de maneira a suprir a deficiência existente. Assim, em Tiago foi convencido ao discursar como vencedor[2], a colocação corrige a ambigüidade da regência com a mudança gramatical da palavra convencido assumindo a categoria de um nome, subclassificado por Borba (2002), como: Qualificador de nome humano ou abstrato.

Borba ainda afirma que, ao observar o uso é que se pode ver como o sistema é potencialmente polissêmico e que a estrutura sintática é que cria a base para a função semântica. O autor assegura que o primeiro passo da descrição semântica, então, “há de ser determinar as escalas contextuais responsáveis pelos condicionamentos da polissemia”. (1996: 129)

O lingüista Lyons (1981) diz que, na gramática gerativa, a representação da ambigüidade assume a seguinte forma: “pressupõe-se uma representação profunda, na qual os diferentes significados estão associados a formas lingüísticas”. Assim, pode ocorrer ambigüidade lexical, funcional, morfológica e sintática.

Por ser a estrutura de passiva o nosso foco de observação, analisaremos, ainda, os fatores que levam à ambigüidade de alguns verbos quando o agente é omitido. Portanto, torna-se necessário ressaltar que o estudo tradicional da transitividade verbal é feito dentro da sintaxe, em que os autores não seguem um único critério: há uma variação de pontos de vista para o estudo da frase, de seus termos essenciais, integrantes e acessórios. Alguns autores tomam o sujeito como base para a análise dos outros termos; já outros reconhecem o sujeito como um complemento do verbo e da oração como um grande sintagma organizado em torno do verbo.

 

O AGENTE DA PASSIVA E SUA FUNÇÃO

De acordo com Mattoso Câmara (1967) a estrutura de passiva é um processo de construção de frase, e que, ao tomarmos para ponto de partida da frase o paciente da ação verbal fica constatado o nosso desinteresse pelo agente.

Percebe-se que apesar de o agente da passiva fazer parte da estrutura passiva, ele não é um elemento imprescindível, já que sua ausência é prevista pelos gramáticos. E seu uso fica condicionado às necessidades que os falantes têm de realçar um outro elemento em sua prática comunicativa. Essa possibilidade de usos diversos é que torna a língua um instrumento de comunicação interessante, dando ao usuário a liberdade de escolha, de acordo com sua preferência, intenção e estilo.

É exatamente nesse ponto que ocorre o nó da nossa investigação. Qual a razão de algumas estruturas de passiva não aceitarem o apagamento do agente deixando a frase ambígua?

Examinando a gramática latina, observamos que o complemento de causa eficiente, equivalente ao agente da passiva, vai para o caso ablativo, em que também se encontram os complementos circunstanciais ou adjuntos adverbiais. Os outros termos integrantes da oração estão assim distribuídos: o objeto direto no acusativo, o objeto indireto no dativo e o complemento nominal no genitivo.

O fato de o agente da passiva pertencer ao ablativo, caso que também abriga os adjuntos adverbiais, não é determinante para se defender a idéia de que o agente da passiva deva, por isso, enquadrar-se entre os termos acessórios.

Partindo da constatação de que o agente da passiva apresenta-se como termo opcional, podendo ser preterido ou substituído por outros termos, especialmente os adjuntos adverbiais, questiona-se até que ponto é válido classificá-lo como termo integrante da oração. Segundo as gramáticas tradicionais, termo integrante é aquele que integra, completa o sentido de um nome ou de um verbo.

Neste caso, o agente da passiva é o termo que completa o sentido do verbo passivo. No entanto, constata-se que grande parte das frases na voz passiva analítica não apresenta seu agente expresso, pois o emissor pode não ter interesse em apresentar quem pratica a ação, por exemplo, O carro foi roubado.

Porém na frase: A menina foi educada, apresenta dificuldades de interpretação, pois nessa frase a “menina” tanto pode possuir a qualidade de ser educada (= polida), quanto de ter recebido educação de alguém. Ao passo que o exemplo anterior não permite nem uma dúvida quanto à interpretação.

No entanto, não se pode deixar de verificar, nessas frases, um certo parentesco, quer seja do ponto de vista morfológico, quer seja do ponto de vista semântico, e, para tornar ainda mais complexo, pode-se ter argumentos do ponto de vista discursivo. Portanto, propomo-nos analisar o fenômeno ocorrido com esses verbos para saber quais as semelhanças existentes no comportamento deles na estrutura de passiva.

 

ANÁLISE DO CORPUS

Iniciaremos a análise, considerando o verbo como uma unidade lexical portadora de características morfológicas, de forma que seja possível isolá-lo numa seqüência para o levantamento de suas propriedades sintático-semânticas, já que a valência verbal objetiva observar e determinar o comportamento do verbo em sua ambiência lingüística.

Seguindo a sugestão dada por Borba (1996: 64), procuraremos áreas temáticas dos verbos em questão, identificando particularidades e idiossincrasias a partir de uma base comum entre eles, pois assim como Borba, entendemos que essa alternativa propicia, também, economia, simplicidade descritiva e uniformidade da descrição na investigação da estrutura de passiva: SN+Vser+particípio passado+apagamento do agente.

Por uma questão de metodologia, agruparemos os verbos em dois grupos:

No primeiro grupo, estão os verbos: roubar > roubado, comprar > comprado, quebrar > quebrado, indiciar > indiciado.

Uma das características comum a esses verbos é que selecionam dois argumentos, sendo que um deles é argumento interno ao sintagma verbal, podendo ou não ser introduzido por preposição (ex: roubar a/de –N, comprar –N, quebrar –N, indiciar –N). Ainda possuem possibilidade de pertencerem a mais de uma subclasse, sendo de [Ação-processo], com exceção do verbo: indiciar que é de [Ação] e, às vezes, de [Estado]. Tomemos os exemplos:

a) “Golpista finge ser funcionário para roubar cartão de banco”. (Folha de S. Paulo, 20/06/97)

b) “O tal cartola comprou o resultado do jogo”. (Folha de S. Paulo, 12/07/98)

c) “Quebramos, ‘de quebra’, o setor privado”. (Folha de S. Paulo, 04/11/98)

d) “Polícia indicia PMs acusados de chacina”.(Folha de S. Paulo, 24/12/97)

Os exemplos (a), (b) e (c) podem ser agrupados pela semântica lexical em conjuntos por afinidade de traços, utilizando um mecanismo de compatibilidade/incompatibilidade, em que a compatibilidade aproxima itens de competência diferente (Borba, 1996). Se substituirmos o verbo roubar do exemplo (a) por comprar do exemplo (b) e vice-versa, notaremos que são compatíveis. Em contrapartida, substituir quebrar do exemplo (c) por indiciar de (d) ou vice-versa, torna clara a incompatibilidade entre ambos.

Esses exemplos evidenciam que, as propriedades semânticas do verbo importam na medida em que permitem estabelecer regras de seleção. Verificamos que nos exemplos (a), (b), (c) e (d), o SN1 é [+humano] já o SN2 (o objeto) varia em cada exemplo; em (a) é [+concreto/não-animado]; os exemplos (b) e (c) apresentam os traços [+concreto/não-animado], em (d) o traço é [+humano].

É, portanto, a partir das funções temáticas que se pode estabelecer uma taxionomia sintático-semântica para os verbos. Entendendo que, para a transparência dessas propriedades, há os especificadores, que mesmo sem fazer parte do esquema profundo esclarecem, especificam, situam o conteúdo que se quer comunicar. Existe ainda um conjunto de expedientes que controla o modo de realização das orações. Levaremos em consideração, nesse estudo, apenas o apagamento e especificamente na estrutura de passiva.

e) “Um em cada vinte moradores foi roubado”. (Folha de S. Paulo, 23/06/96)

f) “A transação chama a atenção porque o Sé foi comprado”. (Folha de S. Paulo, 16/12/97)

g) “Fazenda foi comprada após invasão”. (Folha de S. Paulo, 20/03/97)

h) “O cantor Michael Jackson ainda não foi indiciado”. (Folha de S. Paulo, 04/11/98)

Trataremos o verbo ser, assim como Borba (1996), como verbo auxiliar, pois entendemos que é o verbo principal que expressa a predicação. Portanto, nas estruturas de passivas que analisaremos, o verbo ser, sendo auxiliar, expressa as categorias de tempo, voz e aspecto.

As passivas acima apresentadas trazem uma marca em comum: a omissão do agente. Chafe (1979) afirma que a língua permite a transmissão de informação da mente do falante para a mente do ouvinte. Essa comunicação é organizada com unidades semânticas arranjadas, formando uma configuração complexa. Nessa troca, as informações conhecidas de ambos podem ser compartilhadas pelo ambiente em que estão interagindo.

A essa afirmação Borba (1996) acrescenta que o apagamento não depende somente de condições textuais e situacionais, mas também da própria natureza sintática e semântica do componente a ser suprimido. Nos exemplos acima, os verbos selecionaram itens lexicais bem determinados para complemento, dessa forma o apagamento do agente não permite ambigüidade.

Mesmo na ausência do agente algumas informações podem ser recuperadas em nível superficial, com ou sem especificador. Nos exemplos (e), (g) e (h) a informação contida nos enunciados se constrói, tendo como base o paciente. É o que Chafe denomina de “informação nova” e o agente, nesse caso é uma “informação velha”, por isso recuperável. Essa distribuição de informação nova e velha cria estruturas semânticas como as apresentadas nesses exemplos.

No exemplo (f) a informação nova é: A transação chama a atenção e ela não ocorreria se não houvesse um paciente: o Sé, que também é uma informação nova. Chafe, ainda acrescenta que: “se o verbo de uma oração é ação- processo, sua raiz nominal paciente transmitirá informação nova e sua nominal agente informação velha” (1979: 227).

Ele denomina esses verbos de Passivos, cuja característica principal é permitir que um verbo de [Ação-processo] ocorra sem o agente ou o experimentador.

No segundo grupo estão os verbos: controlar > controlado, educar > educado, convencer > convencido e prevenir > prevenido.

O que esses verbos têm em comum além de serem ambíguos na estrutura de passiva com o apagamento do agente é que são de [Ação-processo], sendo que controlar, educar e convencer ocorrem também como [Processo. Pronominal]. Os verbos convencer e controlar ocorrem ainda como [Estado], enquanto prevenir ocorre como verbo de [Ação]. Veja os exemplos:

i) "Os EUA controlam transações". (Folha de S. Paulo, 08/03/98)

j) "Projeto educa sobre ambiente". (Folha de S. Paulo, 18/03/96)

l) "Vitamina não previne câncer". (Folha de S. Paulo, 21/07/94)

m) O palestrante convenceu os alunos de letras.

Os verbos acima selecionam dois argumentos em que os SN à esquerda estão realizados com os traços [+concretos/não-animados] com exceção do verbo convencer, exemplo “l”, que selecionou o argumento [+humano]. O SN à direita do verbo controlar, exemplo “i”, é [+abstrato de ação] e do verbo educar exemplo “j” é [nome concreto]. Portanto, em (i) “Os EUA podem controlar/prevenir transações, mas não podem educar ou convencer transações”, uma vez que, o seu segundo complemento é um nome não-animado.

No exemplo (j) a construção aceita o verbo prevenir, uma vez que, o verbo admite preposição. Entretanto, a construção “Projeto previne contra ambiente” torna-se no mínimo semanticamente, incoerente. E em (k) podemos ter: Vitaminas não controlam/previnem câncer.

Já em (l) podemos empregar qualquer um dos verbos desse grupo: Palestrante convenceu / preveniu / educou / controlou os alunos de letras. Desta forma, observamos que os verbos acima se agrupam pela semântica lexical por afinidade de traços.

Sob a análise do mecanismo de compatiblidade/incompatibi-lidade, percebemos que a compatibilidade aproxima itens de competência diferente, realçando o que de comum possuem esses verbos: os complementos. Selecionam no primeiro complemento um nome com os traços [+concreto], [+humano] ou [+abstrato]. Para o segundo complemento nome [+concreto], [+humano], [+animado ou não-animado]. Agora, partindo para a análise do comportamento desses verbos em estrutura de passiva, temos:

n) “A aluna foi controlada pelo professor”.

o) “Kenneth Starr foi convencido por seus assessores”. (Folha de S. Paulo, 24/12/98)

p) “James Joyce (1882-1941) foi educado por uma família católica e nacionalista”. (Folha de S. Paulo, 23/11/97)

q) “Pitta foi prevenido por sua assessoria”. (Folha de S. Paulo, 29/09/96)

Borba (1996) afirma que certos verbos quando selecionam itens lexicais bem determinados para complementos, o grau de informação veiculada pela frase não se altera, por exemplo, com a presença/ausência do agente da passiva.

Entretanto, isso não ocorre nas construções acima, pois se apagarmos o agente, as construções ficariam ambíguas, como na estrutura representada: “A aluna foi controlada”, em que imediatamente, questionaríamos: Por quem? Ou então: a aluna esta nervosa, descontrolada? O que parece favorecer a ambigüidade é o fato de o SN1 possuir o traço [+humano]

Não ocorreria ambigüidade na estrutura com o apagamento do agente, se o nome concreto fosse não-animado (ex.: O fogo foi controlado), afinal nesse último exemplo a informação nova é o paciente e não o agente.

Chafe (1979) assegura que, toda língua tem sua maneira própria de representar informação velha e nova em sua estrutura superficial. E a ordem de palavras e a entonação parecem desempenhar papel principal nessa representação.

Portanto, se as estruturas dos exemplos, de (m) a (p), estão representadas com a presença pacientes e agentes, isso significa que o agente fornece uma informação nova, mesmo sabendo que, ele é tipicamente uma informação velha (Chafe, 1979). Borba (1996) acrescenta que os complementos indicativos de resultado como em foi controlado não podem ser apagados.

O mesmo ocorre com os complementos muito específicos, como é o caso de prevenir e convencer que precisam da representação dos complementos na estrutura superficial. Pois se representarmos: Kenneth Starr foi convencido, ou: Pitta foi prevenido, podemos entender que eles foram bastante convencidos e arrogantes, por exemplo, ou por demais cautelosos e astutos.

Tentamos neste artigo estabelecer algumas reflexões sobre as supostas estruturas de passivas. Como se pode observar, ainda temos muito que pesquisar sobre esse assunto. Foi-nos impossível, no momento, fazer formulações mais gerais que nos levassem a resultados mais definitivos, mas a análise, mesmo que em fase embrionária, favoreceu e legitimou o nosso trabalho de Iniciação Científica, quer pelo exercício de apresentar um estudo em desenvolvimento, quer pela troca de informações que certamente fomentarão os questionamentos levantados aqui, bem como fortalecimento daquilo que apontamos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

BORBA, Francisco S. Uma gramática de valências para o português. São Paulo: Ática, 1996.

CÂMARA Jr., J. Mattoso. Princípios de lingüística geral. 4ª ed. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1967.

––––––. Dicionário de lingüística e gramática. 25ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

CD-ROM da Folha de S. Paulo, de 1994 a 1999.

CHAFE, Wallace. Significado e estrutura lingüística. Trad. Maria Helena de Moura Neves. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1979.

CUNHA, C. F. & CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira , 2001.

LIMA, R. Gramática normativa da língua portuguesa. 39ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.

LYONS, John, Introdução à lingüística teórica. Trad. Rosa Virgínia Mattos e Silva e Hélio Pimentel et al. São Paulo: Nacional: Universidade de São Paulo, 1979.

––––––. Linguagem e lingüística. Rio de Janeiro 1981.


 


 

[1] Roubar > roubado = o verbo roubar em seu uso participial, ou seja, o verbo roubar que passa a roubado.

[2] Compare as frases: Tiago foi convencido ao discursar como vencedor. e Tiago foi convencido a discursar como vencedor.