Caminhos da Geolingüística
uma retrospectiva de Antenor Nascentes
ao Projeto ALiB –
Projeto Atlas Lingüístico do Brasil

Adriana Cristina Cristianini (USP e UNIBAN)
Márcia Regina Teixeira da Encarnação (USP)

Introdução

A Geolingüística ou Geografia Lingüística, segundo Dubois (1978: 307), “é o estudo das variações na utilização da língua por indivíduos ou grupos sociais de origens geográficas diferentes”.

Podemos também ver a Geolingüística como um estudo cartográfico dos dialetos, como nos mostra Iordan (1962: 273) ao afirmar que “A geografia lingüística significa a representação cartográfica do material lingüístico com o objetivo de determinar a repetição topográfica dos fenômenos”.

É importante frisar que devemos chamar a Geolingüística de “método” e não “ciência”, pois se trata de um novo processo de estudo da linguagem humana. A Dialetologia, investigação científica dos dialetos, já existia antes da criação da Geolingüística, embora se utilizassem outros meios. Somente no século XIX o estudo da variação diatópica mostrou-se mais sistemática.

 

A Geolingüística e sua repercussão no Brasil

No Brasil, a primeira manifestação de natureza dialetal deve-se a Domingos Borges de Barros, Visconde de Pedra Branca, que escreveu em 1826, um capítulo para o livro Introduction à l’atlas ethnographique du globe, em que mostra características da Língua Portuguesa falada no Brasil.

Contudo, é em 1920, com a publicação de O dialeto caipira, que Amadeu Amaral – o primeiro dialetólogo brasileiro – desenvolve o que se pode chamar de primeira tentativa de descrever um falar regional. Em 1922, Antenor Nascentes publica O linguajar carioca, no qual apresenta uma proposta sobre a divisão dos falares brasileiros que, segundo Ferreira e Cardoso (1994), em parte já foi confirmada, embora ainda não tenha sido totalmente testada.

No ano de 1952, foi criada, pelo Decreto nº 30.643, de 20 de março, a Comissão de Filologia da Casa Rui Barbosa, que tinha como seu objetivo principal a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil.

A partir daí, muitos outros pesquisadores trouxeram contribuição aos estudos dialetológicos no Brasil, entre os quais é imperioso citar Antenor Nascentes, Serafim da Silva Neto, Celso Cunha, Nelson Rossi, dentre outros, pois estes se destacam à medida que oferecem indicação sobre a seleção de pontos, sujeitos e elaboração de questionário a ser aplicado nas pesquisas.

Silva Neto chamou para si a tarefa de criar uma “mentalidade dialetológica” e, em 1955, no Guia para estudos dialetológicos, relaciona como tarefas urgentes para o avanço da dialetologia no Brasil: a realização de sondagens preliminares; a recolha de vocabulário seguindo as exigências técnicas; a elaboração de monografias etnográfico-lingüísticas sobre determinadas áreas semânticas e sobre falares; a elaboração de atlas regionais; a aplicação nacional de um questionário uniforme para a elaboração de atlas nacional.

   Entretanto, na década de 50, os estudiosos reconheciam que as condições eram impróprias para a concretização de um projeto do porte da elaboração de um atlas lingüísticos nacional. Entre os fatores dificultadores, apresentavam as longas distâncias a serem percorridas, a falta de estradas, a falta de pesquisadores devidamente preparados e a dificuldade de financiamento.

Nascentes, então, publicou em 2 livros (1958 e 1961) as Bases para a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil, nas quais aponta essas dificuldades e afirma ser mais apropriado o início da Geolingüística no Brasil com a feitura de atlas regionais. Nessa obra, Nascentes também ofereceu diretrizes gerais para a efetiva pesquisa de campo, dando indicações para a escolha dos pontos, dos sujeitos e para a elaboração do questionário lingüístico a ser aplicado.


Os Atlas Lingüísticos Regionais Brasileiros

A idéia de que a Dialetologia deveria antes se preocupar com a elaboração de atlas regionais para, depois, alçar vôo a um projeto do porte do atlas nacional levou estudiosos à realização de alguns atlas, publicados, que certamente nos oferecem inúmeros ensinamentos sobre o assunto.

 

Atlas Prévio dos Falares Baianos – APFB

Nelson Rossi formou uma equipe bem treinada, que passou por uma intensa fase de treinamento e pôde, assim, tornar-se pioneiro no Brasil, publicando, em 1963, o Atlas Prévio dos Falares Baianos APFB.

O APFB contém 154 cartas lingüísticas, das quais 44 são resumos das anteriores, com informações lexicais e fonéticas. Em algumas dessas cartas encontram-se transcrições grafemáticas dos discursos dos sujeitos que são de suma importância, pois “retratam o ambiente cultural em que vivem, a sua visão do mundo biossocial e da própria língua, seja na perspectiva diatópica, diacrônica ou diastrática”, como nos relata Ferreira e Cardoso (1994: 54).

Partindo de exaustivas análises em sondagens preliminares, elaborou-se um Extrato de Questionário com 182 perguntas (apesar de a numeração finalizar em 164, pois algumas dessas perguntas são subdivididas e indexadas com as letras A, B, C e D) e foram entrevistados dois sujeitos por ponto e, como afirma Mota (2005: 21) “[...] apesar de haver procurado incluir, em todas as localidades, informantes dos dois gêneros e de idades diferentes, não atinge, de modo sistemático, a distribuição diagenérica [...]”.

O APFB colocou em evidência traços fonéticos, léxicos e semânticos de importante representatividade.

 

Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais – EALMG

O Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas GeraisEALMG, de autoria de Mário Zagari et alii, foi planejado para ser publicado em quatro volumes dos quais se editou o primeiro em 1977 e o segundo está em fase de impressão.

O volume I do EALMG contém 73 cartas, das quais 45 são onomasiológicas, com dados lexicais e fonéticos, pertencentes às áreas semânticas: tempo e folguedos infantis, que, juntamente com as áreas semânticas homem, animais, água e terra, e constituem o questionário. As demais cartas apresentam isófonas e isoléxicas de fenômenos destacados.

A pesquisa direta, in loco, em 184 localidades do Estado, contou com uma conversação semidirigida, mediante questionários específicos preparados para isso.

Além de seu grande valor como documento etnolingüístico, o EALMG ajuda a explicar a existência de três falares no Estado: falar abaianado, falar apaulistado e falar mineiro.

 

Atlas Lingüístico da Paraíba – ALPB

O Atlas Lingüístico da Paraíba – ALPB, publicado em 1984, de Aragão e Menezes, faz parte de um projeto de pesquisa de “Levantamento Paradigmo-Sintagmático do Léxico Paraibano”, que terá três volumes, dois dos quais já publicados e um terceiro, segundo Aragão (2005: 76), “[...] com o material coletado aguardando condições de elaboração”.

O ALP é composto de 149 cartas advindas de pesquisa in loco e trouxe, como inovação em relação aos trabalhos dessa natureza, a entrevista de três a dez sujeitos em cada uma das 25 sedes de município que constituíram a rede de pontos e o fato de ser elaborado o questionário em duas partes: a geral, com 289 questões, compreendendo a sete áreas semânticas; e a específica, com 588 questões, com o léxico relativo aos principais produtos agrícolas da Paraíba: mandioca, cana-de-açúcar, agave, algodão e abacaxi.


O Atlas Lingüístico de Sergipe – ALS
e o Atlas Lingüístico de Sergipe II – ALS-II

Nelson Rossi, auxiliado por alunos da Universidade Federal da Bahia, publicou, em 1987, o Atlas Lingüístico de SergipeALS.

A elaboração do ALS, cujos originais se encontravam prontos desde 1973, baseou-se na experiência obtida pelo APFB e dele se tornou uma continuação. Aos sujeitos, um homem e uma mulher em cada um dos 15 pontos, foi aplicado um questionário que partiu do questionário usado na Bahia, mas ampliado para de 674 questões, das quais, devidamente selecionadas, geraram 182 cartas prioritariamente de itens onomasiológicos incluídos no APFB.

A importância do ALS não se restringe ao fato de representar vasto campo de estudos sobre o falar sergipano, mas de, juntamente com o Atlas Prévio dos Falares Baianos e o Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais, permitir observar até que ponto tinha razão Antenor Nascentes ao incluir Sergipe, Bahia e o norte de Minas Gerais numa mesma área lingüística, denominada de Subfalar Baiano.

O Atlas Lingüístico de Sergipe IIALS-II foi apresentado por Suzana Cardoso, em 2002, como tese de doutorado. Seu objetivo foi dar prosseguimento ao atlas anterior, aproveitando os dados coletados entre 1963 e 1964 e não explorados.

Os dois atlas do Sergipe caracterizam-se como pluridimensionais, ou melhor, bidimensionais, uma vez que enfocam duas variáveis, a diatópica e a diagenérica.

Uma importante inovação apresentada pelo ALS-II é que suas cartas, além do registro geolingüístico, avançam na interpretação dos fenômenos observados, sendo considerado, então, um “atlas de segunda geração” (CARDOSO, 2005: 116).

 

Atlas Lingüístico do Paraná – ALPR

Aguilera, em 1996, publicou o Atlas Lingüístico do ParanáALPR, sua tese de doutorado, fruto da recolha do material em 65 pontos, aplicando um questionário de 318 perguntas a 130 sujeitos.

A obra consta de dois volumes: O primeiro apresenta 191 cartas geolingüísticas, das quais 92 documentam variantes lexicais, 70, as variantes fonéticas e 29 são cartas sintéticas com a distribuição geográficas de algumas zonas de isoléxicas e de isófonas. Nos anexos foram incluídas seis cartas sobre a ocupação do território do Paraná desde o século XVII até a primeira metade do século XX. O segundo volume traz informações de caráter metodológico, tais como os itens do questionário, dados dos sujeitos, das localidades e da notação fonética.

 

Atlas Lingüístico – Etnográfico da Região Sul – ALERS

O Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do BrasilALERS, publicado em 2002, foi desenvolvido por equipes do Rio Grande do Sul, do Paraná, e de Santa Catarina, sob a coordenação de Walter Koch.

Com dois volumes, o primeiro tratando de questões metodológicas e o segundo apresentando as cartas fonéticas e morfossintáticas, o ALERS foi constituído pela aplicação de um questionário que se divide em três partes: Questionário Fonético-Fonológico (QFF, com 50 perguntas); Questionário Morfossintático (QMS, com 75 perguntas), tradicionalmente excluído pelos atlas; Questionário Semântico-Lexical (QSL, com 610 itens e cerca de 800 perguntas).

Os 275 pontos lingüísticos foram escolhidos seguindo as orientações de Antenor Nascentes (1958) e a importância histórica dos municípios. Não obstante aos levantamentos efetuados em 19 centros urbanos, priorizaram a zona rural, dado o interesse dos autores pela fala mais conservadora, que possibilitaria um espelhamento melhor das áreas dialetais historicamente estabelecidas.

Na zona rural, foram entrevistados sujeitos de ambos os sexos, com grau de instrução analfabetos ou semi-analfabeto até a 4.ª série do Ensino Fundamental e na faixa etária entre 28 e 58 anos, enquanto que, na zona urbana, foram entrevistados sujeitos de três níveis de escolaridade: Analfabeto ou Alfabetizado, com Ensino Fundamental e com Ensino Médio completos.

É o ALERS pioneiro em abranger mais de um Estado da Federação. Os três estados englobados apresentam particularidades lingüístico-etnográficas decorrentes do processo de povoamento da região, de influência açoriana, alemã, italiana, espanhola, polonesa, japonesa, entre outras.

 

Atlas Lingüístico Sonoro do Pará – ALISPA

Publicado em 2004, em CD-ROM, é o primeiro atlas do Brasil a apresentar uma organização de dados em formato de texto e áudio. A pesquisa foi feita em 10 localidades que representam as 6 microrregiões do Pará, onde se aplicou o Questionário Fonético-Fonológico – QFF – composto por 157 questões elaborado pelo comitê do projeto Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB).

Foram entrevistados quatro sujeitos em cada ponto, dois de cada sexo, nas faixas etárias de 18 a 30 e 40 a 70 anos. O programa de CD-ROM permite a visualização das cartas com os vocábulos do QFF, foneticamente transcritos e a partir de um clique sobre qualquer uma das realizações fonéticas, é possível ouvir a voz do sujeito.

 

Atlas lingüísticos regionais brasileiros,
frutos de dissertações e teses, ainda não publicados

Alguns atlas lingüísticos regionais brasileiros, apesar de já concluídos e apresentados em defesas de mestrado e doutorado, não formam ainda publicados.

Dentre eles, é importante destacar o Atlas Lingüístico do AmazonasALAM, apresentado por Cruz, em 2004, como tese de doutorado na UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O ALAM registra os falares de nove municípios representativos das nove Microrregiões do Estado do Amazonas, onde foram aplicados dois questionários (um fonético-fonológico, com 156 questões e um semântico-lexical, com 327) a seis sujeitos por ponto, distribuídos por sexo e três faixas etárias (18-35 anos, 36-55 anos e 56 em diante), com nível de instrução até a 4.ª série do Ensino Fundamental. Os resultados, cujo armazenamento e mapeamento dos dados contaram com um programa computacional próprio para esse fim, geraram 107 cartas fonéticas e 152 semântico-lexicais.

 

Atlas lingüísticos em andamento

Temos, ainda, no Brasil, alguns atlas não-concluídos, frutos do interesse pela Geolingüística.

 

Atlas Lingüístico do Ceará – ALECE

Coordenado por José Rogério Fontanelle Bessa, com a efetiva participação de José Alves Fernandes, Alexandre F. Caskey, Hamilton Cavalcante de Andrade, Mário Roberto Lobuglio Zaguari, Ignácio Ribeiro pessoa Montenegro e Luiz Tavares Júnior, o Atlas Lingüístico do CearáALECE – tem por objetivo não o levantamento do falar cearense, mas, principalmente, ser um instrumento capaz de fornecer bases para a reformulação do ensino da Língua Portuguesa, “sobretudo no que se refere ao primeiro segmento do primeiro grau, pois se verifica serem inadequados à realidade sociocultural dos alunos os livros didáticos e as cartilhas de alfabetização até hoje utilizados”. (BRANDÃO, 1991: 64).

 

Atlas Etnolingüístico
dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro – APERJ

O Projeto do Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio de JaneiroAPERJ vem sendo elaborado desde 1985, no Departamento de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras da UFRJ. O projeto objetiva fixar não a linguagem, mas também a cultura do pescador fluminense. Foram selecionadas três localidades: Atafona, Caju, Parati.

 

Atlas Lingüístico do Estado de São Paulo – ALESP

O Atlas Lingüístico do Estado de São PauloALESP, idealizado por Caruso, falecido recentemente, está com a etapa de coleta de dados terminada, encontrando-se o material em fase de transcrição fonética.

 

Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul –ALMS

Sob coordenação de Dercir Oliveira, Aparecida Negri Isquierdo, Maria José Gomes e Albana Xavier Nogueira, o projeto objetiva pesquisar 33 pontos, aplicando um questionário lexical, com 510 questões e um questionário fonético, com 47 questões, mais uma narrativa. Serão entrevistados quatro sujeitos, de ambos os sexos, por localidade, selecionados segundo a variável grau de instrução analfabetos ou até a 4ª série do Ensino Fundamental e na faixa etária entre 18 a 30 anos e 45 a 70 anos.

 

Atlas Lingüístico do Mato Grosso – ALIMAT

Uma equipe de pesquisadores formada por José Leonildo Lima, Antônio Tadeu de Azevedo, Cássia Regina Tomanin, Liliane Batista Barros, Maria José Marques, Valéria Cardoso, Wellington Quintino e Zeneide Souza, desenvolve o projeto que irá abordar 22 pontos e, até o momento, conta com uma versão preliminar do questionário.

 

Atlas Lingüístico do Acre

Com uma rede de 18 pontos distribuída por três áreas: Vale do Acre, Vale do Juruá e Vale do Purus, o projeto é coordenado por Luísa Galvão Lessa. Os sujeitos, de ambos os sexos estão divididos em três faixas etárias e o questionário, dividido em duas partes, aborda aspectos de caráter geral e específico. Os dados que estão coletados em fitas cassetes e se encontram em fase de análise.

 

Atlas Lingüístico do Maranhão

Coordenado pela professora Conceição de Maria de Araújo Ramos, o projeto se encontra em andamento. Na rede de 18 pontos distribuídos por cinco mesorregiões, são aplicados os questionários fonético-fonológico, morfossintático e semântico-lexical. Além desses, são aplicados questionários semântico-lexicais específicos que viabilizam o registro e a preservação da memória histórica e do universo cultural do Estado.

 

Atlas Geo-sociolingüístico do Pará

Coordenado por Razky, prevê uma rede de pontos de 57 localidades distribuídas pelas seis mesorregiões do Estado do Pará. O questionário é composto de uma parte geral, que contempla as áreas semânticas “terra” e “homem”, além de lendas, superstições e narrativa pessoal, e outra parte vinculada a aspectos específicos da região investigada.

 

Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte

Coordenado pela Profa. Maria da Neves Pereira, o Projeto Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte se encontra em fase de elaboração, mas já se definiu que adotará as variáveis sociais e o questionário do Projeto ALiB. Também acrescentará questionários específicos para a região.

 

Atlas Lingüístico do Espírito Santo

Uma equipe multidisciplinar coordenada por Catarina Vaz Rodrigues, acreditando que o Estado possui características lingüísticas próprias, iniciou recentemente o projeto para a elaboração do Atlas Prévio do Espírito Santo.

 

O Projeto do Atlas Lingüístico do Brasil – ALiB

O Projeto ALiB é um empreendimento de vultosa amplitude, de caráter nacional, que tem por meta a elaboração de um atlas geral no Brasil no que diz respeito ao uso da Língua Portuguesa. Esse desejo que vem desde 1952, somente no final do século começou a tomar corpo, graças à iniciativa de um grupo de pesquisadores que se propuseram a concretizar essa proposta.

Em 1996, em Salvador, por ocasião da realização do Seminário Caminhos e Perspectivas para a Geolingüística no Brasil, com a participação de pesquisadores da área oriundos de diferentes regiões brasileiras, foi retomada e aprovada a idéia da elaboração de um atlas lingüístico nacional. A partir daí, um árduo trabalho vem se desenvolvendo para que os objetivos do projeto sejam alcançados.

O Projeto ALiB é coordenado por um Comitê Nacional constituído por um Diretor Presidente – Suzana Alice Marcelino Cardoso (UFBA), um Diretor Executivo – Jacyra Andrade Mota (UFBA), e quatro Diretores Científicos – Maria do Socorro Silva Aragão (UFPB/UFC), Mário Roberto Lobuglio Zágari (UFJF), Vanderci de Andrade Aguilera (UEL) e Walter Koch (UFRGS), todos indicados pela coletividade reunida no citado Seminário.

Em 1998, no Encontro Nacional realizado em Natal, estabeleceu-se a rede de pontos do ALiB, levando-se em consideração a densidade demográfica de cada região, somando um total 250. Os critérios utilizados para a escolha das localidades foram: distribuição espacial; importância e características da localidade; limites interestaduais e internacionais; e zonas dialetais delimitadas por pesquisas anteriores.

Dessas áreas dialetais, 134 são coincidentes com as sugeridas por Nascentes (1958) e 37 são pontos que estão em atlas publicados.

Do ponto de vista metodológico, o Projeto ALiB atende aos princípios da Geolingüística e introduz controles de natureza sociolingüística. O projeto ao tempo em que prioriza a informação diatópica, prevê o controle de variáveis sociais, procurando, assim, alcançar uma visão multidimensional da Língua Portuguesa no Brasil.

Assim, ao definir o perfil dos sujeitos, fixou-se que cada ponto contará com 4 sujeitos, distribuídos equitativamente por duas faixas etárias (de 18 a 30 e de 50 a 65 anos) e dois sexos. Quanto à escolaridade, definiu-se que devem ser alfabetizados, tendo cursado até a 4ª série do Ensino Fundamental. Para as capitais dos estados, entretanto, o controle da diferenciação sociocultural ocorrerá com dois grupos distintos, exigindo a seleção de 8 sujeitos, pois serão abordados 4 sujeitos com escolaridade até a 4ª série do Ensino Fundamental e 4 com nível universitário.

Partindo de aplicações experimentais de questionários em alguns pontos do País, foi possível uma análise crítica e uma reformulação dos questionários com vistas à elaboração da versão final a ser aplicada no território nacional. Essa versão final, compilada pelo Comitê Nacional do Projeto ALiB, publicada em 2001, pela Universidade Estadual de Londrina, é composta de três tipos de questionário direcionados, especificamente, cada um deles, para os aspectos: fonético-fonológico – 159 perguntas, às quais se juntam 11 questões de prosódia; semântico-lexical – 202 perguntas; e morfossintático – 49 perguntas. Acrescentam-se, ainda, esses três tipos de questionários, 4 questões de pragmática, temas para discursos semidirigidos (relato pessoal, comentário, descrição e relato não pessoal), 6 perguntas de metalingüística e um texto para leitura – a "Parábola dos sete vimes".

No momento, o projeto encontra-se na fase de coleta de dados que tem avançado consideravelmente, e há um direcionamento para uma breve publicação para a divulgação dos resultados obtidos na aplicação dos questionários nas capitais dos estados brasileiros.

 

Considerações finais

É notório que passos largos e sólidos foram dados na direção de estudos geolingüísticos no Brasil, principalmente nos últimos 50 anos.

Além dos atlas já publicados e em andamento, outras contribuições para o desenvolvimento dos estudos dialetais no Brasil estão sendo oferecidas por meio de numerosa produção de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado nas universidades brasileiras.

Além disso, encontra-se em São Paulo, o Grupo de Pesquisa em Dialetologia e Geolingüística – GPDG – da Universidade de São Paulo, coordenado pela Profa. Dra. Irenilde Pereira dos Santos, que tem como principal objetivo promover e incentivar a reflexão e a investigação em Dialetologia e Geolingüística. Além da promoção de encontros periódicos para discussões teóricas, o grupo apresenta-se com trabalhos de pesquisas recentes nos principais encontros de Lingüística promovidos pelas principais universidades brasileiras. O GPDG tem por objetivo organizar eventos, palestras e conferências para tratar de assuntos relacionados às pesquisas dialetológicas que estão sendo desenvolvidas no Brasil.

 

Referências Bibliográficas

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