Elementos de teoria e prática
da edição crítica
José Pereira
da Silva (UERJ e ABRAFIL)
Sem
qualquer pretensão de escrever um artigo teórico de Crítica Textual, faço aqui
uma simples adaptação dos primeiros cinco capítulos do livro Iniciação
Feita esta ressalva, não colocarei
entre aspas nem farei qualquer referência à fonte todas as vezes que dela me
sirvo porque isto se tornaria extremamente enfadonho. Portanto, fique
registrado que seguiremos aqui, em princípio, as orientações de AZEVEDO FILHO
(2004)
INTRODUÇÃO GERAL
Um roteiro básico de Crítica Textual
pressupõe, como pré-requisito, a revisão de uma bibliografia mínima, capaz de
servir de fundamento às novas noções que vão ser adquiridas. Mas, em se
tratando de um minicurso, durante o qual isto não é possível, vai toda ela
reunida na BIBLIOGRAFIA, no final deste texto, tratando apenas da Crítica
Textual, omitindo-se também os trabalhos práticos que têm sido bastante
numerosos em língua portuguesa, suficientes para constituírem, só eles, o tema
de um minicurso inteiro.
No caso específico deste minicurso, foram
incluídos principalmente os estudos teóricos de Crítica Textual, ali indicados,
selecionando-se especialmente os seguintes, todos editados no Brasil nos
últimos anos: ARAÚJO (1986), AZEVEDO FILHO (2004), HOUAISS (1983), LAUFER
[1980], SPAGGIARI & PERUGI (2004) e SPINA (1994), como sugestão de leitura
obrigatória para quem desejar um posterior aprofundamento no assunto.
Já existe no Brasil uma boa tradição de
estudos relacionados com a crítica textual. Basta lembrar, no que se refere à
Idade Média, entre outros, os nomes de Oskar Nobiling (As Cantigas de D. Joan Garcia de Guilhade); Celso Cunha (O Cancioneiro de Martin Codax, O Cancioneiro
de Paay Gômez Charinho e O
Cancioneiro de Joan Zorro); Padre Augusto Magne (Demanda do Santo Graal), Segismundo Spina (As Cantigas de Pero Mafaldo) e Leodegário A. de Azevedo Filho (As Cantigas de Pero Meogo).
Do século XVI, apontam-se, entre outros,
Sousa da Silveira (Textos Quinhentistas),
Celso Cunha e Carlos Durval (Prosopopéia,
de Bento Teixeira); Emmanuel Pereira Filho (As
Rimas de Camões – Cancioneiro de I. S. M.); Maria de Lourdes de Paula
Martins (As Poesias de Anchieta);
Sílvio Elia e Leodegário A. de Azevedo Filho (As Poesias de Anchieta em Português), Cleonice Berardinelli (Sonetos, de Luís de Camões) e de
Leodegário A. de Azevedo Filho (Lírica de
Camões).
Do século XVII, a obra poética de
Gregório de Matos vem sedo estudada por brasileiros como James Amado (Gregório de Matos – Obra Poética),
Fernando da Rocha Peres e Silvia
Do século XVIII, meu mestre e amigo, de
saudosa memória, Mário Camarinha da Silva, editou O Uruguay e Rodrigues Lapa publicou Marília de Dirceu.
Do século XIX, M. Cavalcânti Proença
edita Iracema, de José de Alencar;
Adriano da Gama Kury edita Poesias,
de Cruz e Sousa; Maximiano de Carvalho e Silva edita Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco; Antônio José Chediak
edita Tragédia no Mar (O Navio Negreiro), de Castro Alves;
Walnice Nogueira Galvão edita Os Sertões,
de Euclides da Cunha; além da Comissão Machado de Assis (tendo à frente Antônio
Houaiss, Celso Cunha e Antônio José Chediak), que publicou vários volumes da
obra do fundador da Academia Brasileira de Letras.
Do século XX, que tem sido bastante
produtivo, Francisco Venceslau dos Santos, que preparou a edição crítica de Triste Fim de Policarpo Quaresma, de
Lima Barreto, é um exemplo, assim como Walnice Nogueira Galvão, que fez a
edição crítica de Os Sertões, de
Euclides da Cunha.
Com as restrições naturais de tempo e do
espaço para a publicação deste texto com o conceito amplo de crítica textual,
faz-se aqui uma breve referência às principais ciências auxiliares da Ecdótica:
a Paleografia (ciência que tem por
objeto o estudo das escritas antigas, em qualquer espécie de material, e que
compreende a decifração, a descoberta de erros na transmissão, a datação de
textos, a atribuição de lugar de origem e interpretação, além de ocupar-se da
própria história da escrita); a Epigrafia
(parte da Paleografia que estuda as inscrições, isto é, a escrita antiga em
material resistente como pedra, metal, argila, cera etc., incluindo sua
decifração, datação e interpretação); a Diplomática
(estudo da tradição, elaboração e forma dos documentos legais e
administrativos) e a Codicologia
(Disciplina auxiliar da crítica textual que tem por objeto o estudo dos
materiais empregados na confecção e elaboração do livro manuscrito ou códice,
sua produção nos scriptoria medievais
e o modo pelo qual era comercializado), antes mesmo de serem estudados os
problemas de crítica autoral e da tradição ou transmissão de textos. Por fim,
após o capítulo reservado à caracterização de uma edição crítica, serão
identificadas as suas etapas fundamentais, com amplo espaço aberto à
estemática, aplicando a teoria exposta à edição crítica de cinco sonetos de
Camões, conforme a edição que Leodegário A. de Azevedo Filho preparou para a
Imprensa Nacional / Casa da Moeda, de Lisboa.
CONCEITO DE CRÍTICA TEXTUAL
É consenso, neste caso, que a Crítica
Textual é trabalho filológico por excelência, cuidando do estudo da língua em
toda a sua amplitude e dos documentos escritos que servem para documentá-la.
Dos
A
a) Recensio
[recensão] – Estudo da tradição manuscrita ou impressa de uma dada obra.
Tal estudo consiste na análise comparativa das varia lectio quando a obra foi transmitida por vários manuscritos.
Se a tradição apenas contém um códice, é o escrutínio pontual e rigoroso do
único manuscrito que se possui. A recensio,
no primeiro caso, pode levar à constituição do estema.
b) Collatio
[colação] – Comparação das várias atestações manuscritas ou impressas da
obra a publicar. Deve ser um procedimento muito cuidadoso, para não influenciar
os resultados da recensio e da restitutio textus.
c) Eliminatio
codicum descriptorum [exclusão dos códices copiados] – Operação que
consiste em pôr de parte elementos da tradição desprovidos de valor enquanto
testemunhos: ou porque são cópia de um exemplar conservado ou reconstituível
sem a sua contribuição ou porque constituem lições dos testemunhos mais
afastados do arquétipo, da responsabilidade do amanuense e, por isso mesmo,
inúteis para a reconstituição do original.
d) Classificação estemática da tradição
manuscrita (se houver) e da tradição impressa (textos não eliminados, após a examinatio [avaliação crítica]);
e) Emendatio
[correção] – Operação mediante a
qual se corrige a lição de um texto.
f) Constitutio
textus [constituição do texto crítico], após a selectio [seleção] - Operação
pela qual se reconstitui a lição do arquétipo, mediante a comparação e junção
das partes consideradas boas existentes em lições de vários manuscritos.
g) Apresentação do texto reconstituído;
h) Aparato de variantes.
Segundo o método lachmanniano, a recensio é o primeiro momento de uma
edição crítica, tendo como finalidade, com base na collatio, o exame atento das relações de parentesco ou relações
estemáticas dos códices existentes, para a eliminação dos que sejam simples
cópias sem valor autônomo, a não ser que tenham alguma utilidade para o
estabelecimento crítico do texto.
A emendatio
[correção] é a etapa seguinte e deve obedecer a princípios básicos, pois
não se emenda o que não for comprovadamente erro, deslize evidente ou gritante
contra-senso. Quando se corrige um texto com base na lição majoritária dos
manuscritos, encadeados num stemma
codicum (árvore genealógica dos códices) fala-se em emendatio ope codicum (correção através dos códices) centrada na
lei do predomínio numérico das variantes e no cálculo estatístico das
probabilidades, ao contrario da emendatio
ope conjecturae (correção através de conjecturas) ou divinatio, calcada em hipóteses, e que vai depender da intuição
filológica do editor, em face das condições lingüísticas e culturais da época
em que o texto foi produzido.
Sobretudo para o primeiro caso [da emendatio ope codicum], que é de recensio fechada [com fundamentação
exclusivamente nas cópias e edições] ou mesmo aberta [fundamentada
filologicamente pelo editor], a Crítica Textual moderna tem seguido alguns
preceitos gerais, herdados da tradição clássica, embora todos apresentem
notáveis e históricas exceções. Eis as principais:
a) lectio
antiquior potior [a leitura mais antiga é preferível];
b) lectio
melioris codicis potior [a leitura do melhor códice é preferível];
c) lectio
plurium codicum potior [a leitura do maior número de códices é preferível];
d) lectio
difficilior potior [a
e) lectio
brevior potior [a leitura mais breve é preferível];
f) lectio
quae alterius originem explicat potior [a leitura que explica a origem de
outra é preferível].
Tudo isso, evidentemente, em busca da
melhor lição: lectio melior potior [a
melhor lição é preferível], como mostrou Celso Cunha (CUNHA, 2004: 115).
Em relação ao segundo caso (da emendatio ope conjecturae], nenhuma
emenda conjetural deve ser feita, é claro, sem que se esgotem os recursos
subsidiários oferecidos pela Diplomática, pela Codicologia, pela Paleografia,
pela Escriptologia e pela própria Grafemática. Aqui também vai importar muito a
formação lingüística e estético-literária do editor, sempre aliada ao critério
do usus scribendi [forma usual de
escrever do autor], além do permanente apelo aos princípios gerais da
psicologia da cópia. Em síntese, os filólogos clássicos geralmente indicam
cinco etapas para a crítica conjetural:
a) interpungere,
ou seja, pontuar adequadamente o texto, tarefa muito mais complexa do que se
possa pensar à primeira vista;
b) mutare,
ou seja, corrigir a troca de letras, responsável pela formação de palavras sem
qualquer sentido no contexto frasal;
c) transponere,
ou seja, dispor as palavras noutra ordem, mais coerente com o sentido do texto
e com a língua e com o estilo do autor, corrigindo-se assim possíveis alterações
de copistas inovadores;
d) delere,
ou seja, apagar ou suprimir palavras que aparecem no texto por interpolações
prováveis de copistas;
e) supplere,
ou seja, completar possíveis lacunas num texto, geralmente motivadas por
pequenos saltos ou descuidos de copistas e até do próprio autor.
Tais princípios da emendatio [correção], em seus dois momentos específicos, são de
caráter sempre muito geral. Na verdade, não existe nenhum método de crítica
textual que se possa aplicar a todos os autores, pois cada edição apresenta os
seus problemas particulares. Muitas vezes, com efeito, a lei objetiva do
predomínio numérico das variantes, baseada no cálculo de probabilidades, em
casos de recensio fechada [com
fundamentação exclusivamente nas cópias e edições], terá que ceder espaço
imediato ao critério interno da lectio
difficilior [lição mais difícil] e ao princípio superior do usus scribendi [forma usual de
escrever], em casos de recensio aberta,
pois cada época e cada autor sempre apresentam características próprias, tanto
do ponto de vista da língua, como do ponto de vista do estilo. Assim, não raro,
a selectio das variantes vai oferecer
ao leitor um texto bem diverso do seu correspondente na tradição impressa.
CIÊNCIAS AUXILIARES E UM POUCO DE HISTÓRIA
Segismundo Spina (1994) diz que a Crítica
Textual não pode desenvolver-se plenamente sem o apoio de várias ciências
auxiliares, tais como a Epigrafia, a Paleografia, a Codicologia e a Diplomática.
A Epigrafia
tem como objeto de estudo as inscrições feitas em material durável, como o
metal, a pedra ou a madeira. Distingue-se, assim, da Paleografia, também voltada para o estudo gráfico de textos
antigos, mas já agora escritos em material perecível, como o papiro, o pergaminho
e o papel. Em ambos os casos, os tipos caligráficos não são os mesmos, já que a
expressão escrita evoluiu através das épocas. Por isso, cabe à Paleografia
estudar a mudança ou a transformação dos tipos gráficos, distribuindo-os em
períodos, como o greco-latino, que vai da Antigüidade Clássica até Carlos
Magno, no século VIII; o romano, que vai do século IX ao século XI; o gótico, a
partir dos meados do século XI, indo até o século XVI, quando a escrita
humanística passou a predominar. Portanto, quando se trata da edição de textos
antigos e medievais, grafados de formas não coincidentes com a moderna,
torna-se inteiramente indispensável o recurso à Epigrafia e à Paleografia, como
se pode ver nas boas edições de textos latinos e de textos medievais. No caso,
as relações entre fonema e grafema, como é evidente, assumem papel de
fundamental interesse.
Num círculo mais amplo, a Diplomática não se limita apenas ao
estudo da parte gráfica de um documento (público ou privado), pois examina
também os seus caracteres externos, como a matéria escriptória (papiro,
pergaminho, papel); os instrumentos utilizados no ato a escrita; as tintas e o
tipo de letra/ e os padrões de linguagem e a própria forma do documento. Tudo
isso, é claro, para determinar a autenticidade da documentação analisada.
Portanto, estando a Ecdótica empenhada na técnica de editoração de textos
literários, a ciência diplomática lhe fornece subsídios preciosos, sobretudo no
que se refere à determinação da autenticidade de um texto.
Por seu turno, com base na Paleografia e
na Diplomática, a Codicologia tem
como objeto de estudo a análise e a descrição técnica de códices. O códice (do
latim codex,-cis) é um antepassado
histórico do livro, que passou a ser impresso com a invenção da imprensa, no
século XV. Daí a denominação de “livros de mão”, ainda usada no século XVI, com
referência aos cancioneiros manuscritos. Mais longe ainda, na Antigüidade
Clássica, a história do livro tem início com o papiro e com o pergaminho, até
chegar-se ao uso do papel, já na Idade Média, como matéria escriptoria. Diante de um manuscrito a ser editado, portanto, é
básico o recurso à Paleografia, à Diplomática e à Codicologia, para a sua exata
descrição e completo estudo de todos os seus aspectos materiais. Ou seja:
deve-se analisar, num manuscrito, quando e como foi feito, a matéria escriptoria usada, o tipo de letra e a
autenticidade do códice, como elementos de investigação preliminar. Para o
desenvolvimento de todos esses estudos, há bibliografia específica,
recomendando-se ao estudante brasileiro, como leitura inicial, o livro Elementos de Bibliologia, de Antônio
Houaiss, onde encontrará ainda a indicação de vários livros sobre tais
matérias, quase todos integrando a Bibliografia deste artigo.
Em relação aos textos da Antigüidade
Clássica, as mais antigas edições críticas são as dos poetas gregos
pré-helenísticos, levadas a termo pelos críticos alexandrinos, tais como
Aristófanes de Bizâncio e Aristarco de Samotrácia. Em geral, foram
privilegiados os poemas homéricos, a partir de uma recensio centrada em critérios internos, embora as emendas nem
sempre fossem diretamente incorporadas ao texto. No século III, o alexandrino
Orígenes (185-253) empreendeu o seu admirável trabalho sobre a Bíblia, com uso de uma metodologia mais
tarde seguida por Roma, a exemplo dos trabalhos de Públio Terêncio Varrão (82-35 a.C.) e especialmente a exemplo de
Jerônimo (340-420) e sua edição da Vulgata. Na Idade Média, a época carolíngia também cultivou certa
forma de recensio, como nos mostra a Regula Sancti Benedicti. Modernamente, a
partir do século XVI, com estudos sobre o texto da Bíblia grega e latina, particularmente na França, prosseguiu a
lenta evolução da crítica textual. No século XVI, vale a pena lembrar ainda os
nomes de Angelo Boliziano e Justo Scaligero, assim como os de Richard Bentley,
Johann Albrecht Bengel e Johann Jakob Wettstein no século XVIII. Mas se deve
sobretudo a Karl Lachmann (1793-1851), com o prefácio à sua edição do poema De Rerum Natura, de Lucrécio, publicado
um ano antes de sua morte (1850), a sistematização da matéria. Isso porque, no
século XVII, os critérios eram ainda subjetivos, impressionistas e arbitrários,
como se pode ver nas Rimas Várias, de
Luís de Camões, edição de Manuel de Faria e Sousa (1685-1689). Coube a
Lachmann, portanto, fixar os conceitos básicos de recensio, collatio, emendatio, archetypum, agrupando geneticamente
os manuscritos em função de suas relações de parentesco e eliminando os
manuscritos suspeitos de interpolação. O método de Lachmann, conseqüentemente,
está na origem de uma das grandes correntes da Crítica Textual moderna, em
geral seguida pelos críticos alemães e italianos, ao lado da teoria do codex optimus, de Joseph Bédier (1970),
em geral seguida pelos críticos franceses. Tanto em Lachmann como em Bédier, a
edição crítica é tida como operação fundamental para o perfeito entendimento de
um texto ou para a sua completa hermenêutica [interpretação] e exegese
[comentário], segundo critérios que melhor possam aproximá-lo da última vontade
lúcida do autor. E para isso, evidentemente, as ciências auxiliares da
Paleografia, da Diplomática e da Codicologia desempenham um papel de extrema
importância. Se Lachmann visava a uma crítica reconstrutiva, com base na recensio, na collatio e na emendatio, Bédier
procurava ater-se às lições de um bom manuscrito, ainda que trivializadas ou
banalizadas, investigando as razões dessas alterações e estudando a forma
assumida pelo texto em determinado momento de sua história. E isso sempre a
partir de um codex optimus, com
registro sistemático de variantes.
Voltando-se aos textos clássicos, deles
não há autógrafos gregos ou latinos, nem mesmo apógrafos diretamente
confrontados com o original, pois restam apenas cópias resultantes de outras
cópias intermediárias, tudo isso acarretando sérias dificuldades para a
atividade ecdótica.
Quanto aos textos medievais, o estudante
brasileiro dispõe da obra básica de Serafim da Silva Neto, intitulada Textos Medievais Portugueses e seus
Problemas, livro publicado pela Casa de Rui Barbosa, em 1956. Aqui também
não há autógrafos para a imensa totalidade dos textos em prosa ou verso.
Portanto, para a constituição de arquétipos, só se pode partir dos apógrafos
existentes, ou então trabalhar com um codex
optimus, eleito entre os códices conservados. Nesse sentido, a chamada
escola filológica italiana tem prestado relevantes serviços à edição crítica de
textos medievais galego-portugueses. Em Portugal, é de justiça mencionar aqui
os nomes de Manuel Rodrigues Lapa, Luís Filipe Lindley Cintra e Ivo Castro,
pelo rigor dos trabalhos que têm publicado. No Brasil, a relação nominal é um
pouco maior, como já vimos.
Nas Cantigas
de Pero Meogo, com estudo crítico dos textos, análise literária, glossário
e reprodução fac-similar dos manuscritos, Leodegário A. de Azevedo Filho
apresenta um bom exemplo de disposição da matéria numa edição crítica de texto
literário arcaico. (Cf. AZEVEDO FILHO, 2004: 29-30)
No que se refere ao século XVI, na sua
edição da Lírica de Camões, além da
ampla discussão histórica e metodológica do primeiro volume, que termina com a
constituição do corpus, a ordem de
apresentação, para cada poema, é a seguinte:
1 – Texto criticamente estabelecido
1.1
– Indicação das fontes manuscritas
1.2
– Indicação das fontes básicas da tradição impressa
2 – Aparato crítico
2.1
– Tradição manuscrita
2.1.1
– Genealogia do texto, com estudo de suas relações estemáticas
2.1.2
– Elenco das variantes na tradição manuscrita, a partir de um exemplar de
colação, analisando-se verso por verso de cada poema
2.2 –
Tradição impressa
2.2.1
– Genealogia do texto
2.2.2
– Elenco das variantes da tradição impressa, em confronto com a tradição
manuscrita
2.3 –
Versificação
2.4 –
Glossário
2.5 – Leitura
crítica do texto nas principais edições modernas
2.6 – Breve
anotação (literária) ao texto
No que se refere à edição de textos
modernos, será bom observar que os problemas encontrados do século XVI ao
século XX, ao contrário o que muitos pensam, não são exatamente os mesmos.
Assim, não vão apresentar as mesmas peculiaridades ou dificuldades, por
exemplo, uma edição da lírica de Camões (séc. XVI); uma edição da poesia de
Gregório de Matos (séc. XVII); uma edição da poesia de Cláudio Manuel da Costa
(séc. XVIII); uma edição da poesia de Castro Alves (séc. XIX); uma poesia da
obra de Machado de Assis (séc. XIX); uma edição da poesia de Cruz e Sousa (séc.
XIX); ou uma edição da obra de Oswald de Andrade (séc. XX). Nesse sentido,
recomenda-se a leitura da introdução ao texto crítico das Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, 1, Suplemento
da Revista do Livro, Rio de Janeiro:
INL, 1959, bem assim a leitura da introdução ao texto crítico de Quincas Borba, de Machado de Assis, 2,
Suplemento da Revista do Livro,
Em suma, se há princípios gerais capazes
de orientar a edição crítica de um texto, conforme esta ou aquela corrente
teórica, não há nenhuma fórmula que se possa universalmente aplicar a todas as
obras. Cada texto tem a sua problemática específica, ligando-se naturalmente à
época em que foi escrito. Nem mesmo se acredita em edições críticas
definitivas, conforme a seguinte observação de Segismundo Spina:
Qualquer edição crítica representa, sempre, uma
tentativa de restauração de um texto, provisoriamente definitiva enquanto não
surjam outras, naturalmente baseadas em novos achados ou em diferentes
perspectivas metodológicas, que possam lançar novas luzes sobre o original.
(SPINA, 1994: 127).
E
No
Na
Em princípio, há três tipos de edição: a
edição mecânica, a edição diplomática e a edição crítica.
Nesta oportunidade, trataremos apenas da
edição crítica, por absoluta falta de tempo, visto que também a edição mecânica
e a edição diplomática têm o seu valor filológico e científico, dependendo do
material disponível como fonte ou base para cada uma dessas formas de edição de
textos.
Nella
exprimentay se sois servida,
Sostentarei
na
1 –
(
2 –
(
3 –
(
4 –
(
Nas duas
5 –
(Rhythmas, fólio 8v.)
6 –
(
Na
7 –
O
CONCLUSÃO
Atentem-se os prezados minicursistas para
a particularidade do texto apresentado como roteiro desse trabalho, para não se
passar a ilusão de que sou, de fato, o seu autor, já que fiz simplesmente uma
adaptação dos capítulos correspondentes da obra do Professor Leodegário A. de
Azevedo Filho (1987 e 2004), publicada como Iniciação
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