O JORNAL NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA
Renata da Silva de Barcellos
(FAETEC, UNIGRANRIO e UFF)
O mundo moderno exige pessoas
preparadas para enfrentar e absorver as novas formas de mensagens que chegam
até elas.
(Adilson Citelli)
INTRODUÇãO
Este trabalho tem
por objetivo mostrar como o professor pode e deve utilizar o jornal na sala de
aula de Língua Portuguesa (a partir da prática com o 3° ano do Ensino Médio,
esta pesquisa estará direcionada a esse alunado) para desenvolver a competência
de leitura e de escrita do aluno e diversas habilidades.
Assim, para a
elaboração desta tarefa, serão mobilizados conceitos como: contrato de
comunicação, legitimidade e credibilidade (CHARAUDEAU: 1996), texto
jornalístico (CARMAGNANI apud CORACINI, 1985; FARIA, 1999; VASCONCELOS,
1999) e PCNs (2002), a fim de
apresentar uma sugestão de utilização do jornal na sala de aula. A partir
disso, serão analisados os anúncios publicitários com enunciados interrogativos
para se verificar como se estabelece o contrato de comunicação e se propor uma
classificação para o valor semântico expresso com base na análise de cada
enunciado interrogativo.
Cabe
ressaltar que, para este trabalho, foram selecionados 80 textos jornalísticos
veiculados, no período de fevereiro de
Dessa
forma, pretende-se mostrar que, através da análise desse tipo de texto, o
professor não só leva o aluno ao divertimento, à reflexão e a uma consciência
crítica a respeito de uma questão social, como também a perceber alguns
aspectos da língua, como: a metáfora, a ambigüidade, a polissemia etc. Com base
na utilização de tal corpus, almeja-se constatar que o processo de
ensino-aprendizagem se torna mais dinâmico, concreto e efetivo, pelo fato do
aluno perceber a relevância do conteúdo dado, a partir da relação estabelecida
entre o conteúdo e o seu conhecimento de mundo.
TEXTO JORNALÍSTICO
Atualmente,
observa-se a crescente utilização de texto jornalístico na sala de aula. Tal
prática vem sendo cada vez mais adotada pelo fato do professor verificar a
necessidade de desenvolver no aluno a habilidade de leitura e de escrita e as
diversas competências lingüísticas de textos diversos de acordo com os
objetivos das diferentes disciplinas (FARIA, 1999; VASCONCELOS, 1999). Assim, o
texto da imprensa oferece ao aluno a possibilidade de compreender os fatos
sociais, discuti-los e verificar a praticidade do conteúdo aprendido. Segundo
Carmagnani, ao utilizar o jornal na sala de aula, o professor verifica com os
alunos “as condições de produção desse tipo de texto, discutem seus sentidos
possíveis, bem como questionam suas prováveis omissões, distorções e recursos
argumentativos” (apud CORACINI,
1985:125).
Dentro dessa perspectiva, o texto jornalístico é
entendido como: “uma unidade textual que é parte de um conjunto maior de
significados que a constitui” (CARMAGNANI, apud
CORACINI, 1985: 127). Como cada parte do jornal tem uma função específica e um
gênero textual predominante, o discurso jornalístico atribui um aspecto
didático aos discursos midiáticos, uma vez que transmite informações sobre os
acontecimentos de diferentes formas.
Sendo assim, a
recepção do jornal por parte do leitor é fundamental, pois sem ele a
instituição jornalística não existiria. Se a instituição jornalística não
funciona sem leitores, e, se ela busca atraí-los como consumidores, há que se
considerar que todo jornal noticia para determinados segmentos da sociedade,
produzindo uma imagem de leitor suposta em tal segmento (MARIANI, 1998: 57). O
leitor confere ao jornal/jornalista o papel de informá-lo acerca dos
acontecimentos.
Outra questão
crucial é que, ao trabalhar um discurso jornalístico, o professor deve levar o
aluno a compreender o processo de significação de cada jornal, ou seja,
mostrar-lhe que cada um está relacionado a um posicionamento político. E, ao
mesmo tempo, o professor deve elucidar que a escolha está relacionada aos
sentidos produzidos por um dado jornal e à formação discursiva do leitor. Ao
ter consciência dessas questões, o aluno pode ser considerado um
leitor-crítico.
A partir dessas
considerações sobre o texto jornalístico, será tratada a sua estrutura.
Estrutura do texto
jornalístico
O
texto jornalístico é composto basicamente de duas partes: o título e o
texto. Com base nessa estrutura, o processo de elaboração dos diversos
textos que compõem um jornal parte destes fatores: o que dizer, para quem
dizer e onde dizer para a atuação no como fazer. Afinal, o texto
jornalístico pode ser analisado a partir destes três aspectos: a importância
da notícia, o tipo de texto e o público para o qual é destinado.
Quanto
ao tipo, no caso do texto jornalístico, verifica-se que num jornal há
diferentes gêneros: editorial, reportagem, material, história em quadrinhos,
charge, classificado, publicidade etc. Esses gêneros podem ser agrupados em:
- textos, predominantemente, informativos:
notícia, reportagem, nota, colunas especializadas (abordando temas como saúde,
culinária, gramática etc.), programação cultural da cidade (cinema, teatro,
palestra, congresso etc.), previsão do tempo, horóscopo etc. cujas modalidades
predominantes são argumentação, narração e descrição (CHARAUDEAU, 1992: 646).
A notícia: pode ser analisada a sua estrutura de duas maneiras: a partir da
estrutura tradicional: tópico frasal, desenvolvimento e conclusão; ou a partir
do que os jornalistas denominam pirâmide invertida (as informações mais
importantes são dadas no início do texto) respondendo às seguintes questões:
primeiro, o que aconteceu, onde e quando; e depois como aconteceu, por quê,
quais as causas e conseqüências.
A reportagem: é o objeto principal da atividade jornalística. Pode ser dividida em
dois tipos: relato de um acontecimento feito por um jornalista que tenha estado
no local onde ocorreu o fato. Ou abordagem exaustiva de um tema que não
necessariamente tenha uma relação com os acontecimentos do dia em que foi
publicado.
– textos de opinião: editorial, artigo, resenha, carta de
leitor, entrevista etc., cuja modalidade dominante é a argumentação.
O editorial: é um texto que expressa a opinião do jornal sobre um assunto atual
e/ou polêmico.
O artigo: é um gênero jornalístico, assinado, que traz a interpretação, análise
ou opinião do articulista sobre um fato, assunto ou tema de relevância.
A resenha: é um texto, em geral escrito por especialistas, sobre livros, filmes,
espetáculos etc. O objetivo desse texto (em que o autor emite uma opinião sobre
a qualidade do que está sendo resenhado) é oferecer ao leitor uma idéia sobre o
conteúdo de uma obra, de um filme etc.
A carta do leitor: texto em que o leitor expressa seu ponto de vista
sobre o jornal ou sobre assuntos abordados.
A entrevista: publicada na forma de perguntas e respostas. O
texto introdutório contém um breve perfil do entrevistado, resumo do assunto
abordado e informações como local, data e duração da entrevistas.
- textos de anúncio:
anúncio publicitário e anúncio classificado cuja modalidade predominante é o
enunciativo;
O anúncio classificado: é um pequeno texto (para anunciar a venda, compra,
troca ou contratação de um serviço) de responsabilidade do leitor ou do
anunciante.
O anúncio publicitário: o publicitário cria anúncios utilizando a
linguagem verbal e não-verbal e adequando-os ao público-alvo do jornal e ao
espaço reservado para publicidade.
- textos literários:
crônica, conto e poema;
A crônica: sempre assinada, é redigida de maneira livre e pessoal. Esse gênero
fica entre o jornalismo e a literatura.
- textos para o entretenimento do leitor: palavras
cruzadas, piada, charge e história em quadrinhos cuja modalidade é mista.
A charge: desenho caricatural, em que se satiriza um fato especifico,
geralmente, político, de conhecimento público.
A história em quadrinhos: pequena história em quadrinhos de
caráter humorístico...
Assim,
para a elaboração do texto, o jornalista utiliza a linguagem verbal e/ou
não-verbal de modo diversificado e criativo com o intuito de despertar o
interesse do leitor. Para isso, é preciso que o jornal construa um perfil de
seu leitor e lhe apresente a notícia do modo como o seu público-alvo quer
lê-la. O leitor, por sua vez, constrói uma imagem de seu jornal esperando que
este publique certo tipo de notícias, dando-lhe assim a abordagem que considera
ser a mais adequada.
Discurso jornalístico
Primeiramente,
cabe ressaltar que, neste trabalho, discurso é considerado como “toda enunciação que supõe um locutor e um
ouvinte, e, no primeiro, a intenção de influenciar o outro de alguma maneira”
(BENVENISTE, 1989: 84). Tal intenção está inserida no mundo social do
qual fazem parte e no qual transitam os sujeitos comunicantes. Esses se
comunicam através da realização de atos de linguagem constituintes de um
determinado discurso que pode ser de cunho político, religioso, pedagógico,
empresarial, amoroso, jornalístico (o objeto de estudo).
Quanto a essa questão, no discurso
jornalístico, deve-se considerar que o jornalista realiza atos de linguagem
para informar o leitor ou dar uma opinião a ele. Pois como veículo de
informação e de opinião, o jornal tem evidente relevância econômica, cultural e
política. Para isso, o texto jornalístico constrói seu discurso com base tanto
na linguagem verbal, o conjunto de signos lingüísticos, ou seja, as
palavras; quanto na linguagem não-verbal, o icônico, que pode ser um
gesto, um desenho etc.
Dessa
forma, para atrair a atenção do leitor, os recursos utilizados pelo jornalista
para organizar o discurso jornalístico são inúmeros. Por exemplo: os verbais:
léxico (ambigüidade, metáfora etc.); e os não-verbais: imagens, grafia
(tamanho e tipo da fonte, pontuação etc.). Outra questão importante é a que diz
respeito aos argumentos utilizados para seduzir e persuadir o destinatário. Ou
seja, o sujeito comunicante utiliza estratégias a fim de convencer o sujeito
interpretante a cerca da credibilidade pública de um jornal. Por isso, a
imprensa deve <<respeitar, o direito do cidadão de ser bem informado e de
ter acesso às mais diferentes opiniões>> (FARACO, 2003: 182). Sendo
assim, segundo Charaudeau (1996), no contrato midiático (no qual o jornal está
inscrito), os objetivos são: informar,
persuadir (está relacionado ao ato de fazer o outro crer em algo, isto é, a
sua adesão) e seduzir (o ato de dar
prazer ao outro).
A partir dessa questão,
deve-se ressaltar outra: a do domínio
discursivo. Como cada esfera da atividade humana (BAKHTIN, 1992: 280)
produz textos com características comuns, cada texto pertence a um determinado
domínio discursivo. Por exemplo: o
editorial, a reportagem, a notícia, o classificado, a crônica etc.; são
gêneros textuais pertencentes ao domínio discursivo jornalístico. Portanto, o
professor pode selecionar, por exemplo, vários tipos e gêneros desse domínio
discursivo, a fim de explorar diversos aspectos lingüísticos, tais como:
A – clichê: é o enunciado que se transformou em uma unidade
lingüística estereotipada por ser
muito proferido pelas pessoas. Num jornal sobre esportes foi criada uma charge
com o enunciado: “Por trás de todo grande time há um grande treinador”.
Tal enunciado remete a outro pertencente ao patrimônio social <<Por trás
de todo grande homem há uma grande mulher>> (O Dia, 22/06/2001). O enunciado do jornal, na época, pretendia
elogiar a conduta do treinador pelo fato do time Vasco ter ganho o campeonato.
B– registros utilizados: como toda língua se apresenta em duas
modalidades – a falada e a escrita – em diferentes níveis, esses níveis são
chamados de registros. Na historinha em quadrinhos sobre a Bela adormecida,
verificamos o registro coloquial quando um dos besouros diz: <<Ouvi dizer
que ele veio acordar ela com um beijo>>. No registro formal essa
estrutura seria: acordá-la (05/08/2005).
Dessa forma, o professor
retira dos jornais exemplos para ilustrar a multiplicidade de recursos
discursivos utilizados por este tipo de material midiático, possibilitando
assim o aluno a não só perceber a praticidade do conteúdo estudado, como também
fazer da leitura um momento de construção de sentido. Tendo como base o exposto
acima, na próxima parte, serão tratadas as questões relativas ao uso do jornal
na sala de aula.
UTILIZAÇÃO
DO JORNAL NA SALA DE AULA
Primeiramente,
faz-se necessário ressaltar que os professores de linguagem, como bem diz
Bechara (1999), precisam repensar a sua prática pedagógica. Atualmente, é
preciso que o professor adote também o material midiático como o jornal. Ao
utilizar na sua prática pedagógica recursos variados, o professor estará
desenvolvendo um trabalho com base nas múltiplas linguagens (MARCONDES, 2000;
GARDINER, 1996). E estará levando não só os alunos a uma reflexão, a uma
consciência crítica acerca das diversas questões sociais, como também ao
desenvolvimento de suas competências e habilidades. Por isso, ao explorar as
múltiplas linguagens, deve-se utilizar ao máximo as redes de informação dos
alunos para assim se criarem neles as redes de conhecimento (VYGOTSKY, 1994).
Quanto à
construção do conhecimento do aluno, cada professor deveria elaborar seu
próprio material, a partir da colheita de textos provenientes dos livros
didáticos, da literatura e da mídia (sobretudo do jornal a que o aluno tem mais
acesso). Cabe ressaltar aqui que se pode e se deve recorrer ao MD para se ter
mais um instrumento com que contar, mas não adotá-lo integralmente ao longo da
prática pedagógica, evitando, assim, certo ritual da sala de aula: – Em que página paramos, na aula
anterior? – O livro diz que a resposta é essa etc.
É preciso,
então, resgatar o saber fazer de cada
um, a fim de que seja recuperada não só a valorização do professor, como também
a sua auto-estima. Até mesmo pelo fato de já ter sido comprovado que quando não
se está entusiasmado, envolvido com o que se está fazendo, não se pode
incentivar ninguém.
Com relação à seleção do corpus
oriundo do jornal, deve ser escolhido não só com base nos temas transversais: ética, meio ambiente, saúde, orientação
sexual, pluralidade cultural, trabalho e consumo, que são temas de
interesse dos jovens; como também nos
corpus relacionados aos conteúdos dados, a fim de cumprir o programa de uma
determinada série. A escolha de um determinado texto jornalístico deve estar de
acordo com os seguintes critérios: habilidade
do autor, visto que, através da linguagem verbal e icônica, resgatam-se os
fatos sociais, dependendo do gênero do texto jornalístico, de modo criativo e
divertido; importância social,
pois são abordados temas de diferentes naturezas vigentes na sociedade e,
dependendo da parte do texto jornalístico, um fato social ou qualquer tema pode
ser tratado de forma bem-humorada, objetivando denunciar e criticar problemas
da sociedade ou vender algum produto; e entretenimento,
porque devem não só informar, como também entreter, a fim de levar o
leitor à reflexão, à consciência crítica e/ou simplesmente à aquisição de algum
produto.
Cabe ressaltar também que as propostas de
atividades apresentadas para os diferentes profissionais estão pautadas na
concepção sócio-histórica de Vygotsky. Teoria essa que aborda a questão da
interação social, pois, segundo o autor, o desenvolvimento humano “se dá,
portanto, de fora para dentro” (1994: 18). Ao elaborar atividades cujo ponto de
partida seja o conhecimento de mundo do aluno, todo o fazer pedagógico do
professor desenvolverá a zona de desenvolvimento do aluno. Então, o
aluno conseguirá realizar as atividades que lhes forem propostas com autonomia,
pois “o que antes era desenvolvimento potencial passou a ser desenvolvimento real”
(VIGOTSKY, 1994: 30).
Assim, com base no que é veiculado na
mídia, o professor dispõe de um amplo material oferecido pelo jornal para
ilustrar suas aulas. Cabe a ele selecioná-lo de acordo com o interesse do aluno
e com o conteúdo trabalhado. A partir da sua escolha, deve explorá-lo a fim de
facilitar o processo de ensino/aprendizagem e fazer com que o aluno perceba a
praticidade do conteúdo trabalhado. Seguem algumas propostas de atividades.
APLICAÇÃO PEDAGÓGICA
Primeiramente, como o presente
trabalho trata de uma proposta de utilização do jornal na aula de LP (como já
foi dito, está direcionado ao 3° ano do ensino médio) de acordo com a
reorganização curricular brasileira vigente (no Ensino Fundamental e Médio),
cabe tecer algumas considerações acerca da origem dos PCNs. As propostas
apresentadas por este documento compõem a reunião dos resultados e pressupostos
teóricos de pesquisas desenvolvidas no Brasil desde a década de 1970, cujas
bases teóricas (dentre elas, a teoria da enunciação e do discurso e a
lingüística textual) vão da Sociolingüística à Analise do discurso.
Quanto ao ensino de Língua
Portuguesa, cabe ressaltar que esta disciplina está sedimentada em três
questões: leitura/escuta, produção textual e análise lingüística. Faz-se
necessário dizer que, embora os autores dos materiais didáticos digam que os
elaborados, atualmente, estão dentro dessas propostas, o que se observa ao
analisá-los é que há muito que aprimorar em relação a essas três questões
(ainda há muitos exercícios estruturais e enunciados de
compreensão/interpretação de texto que não levam o aluno a uma leitura profunda
do texto) para de fato atender às propostas realizadas. Uma delas é com relação
à análise lingüística.
Segundo Geraldi
(1996), para atender a estas propostas, o professor deve propor atividades em
que seja construído o sentido com o uso de um ou outro elemento gramatical. O
professor deve ensinar a gramática com base no funcionamento da língua. A
partir disso, explorar a teoria. E assim sempre desenvolver atividades de cunho
reflexivo, por exemplo, ao trabalhar o conteúdo dos encontros vocálicos, pode
pedir ao aluno para tecer um comentário sobre as palavras feia e Paraguai.
Com base neste tipo de exercício, é preciso que o aluno saiba a teoria para
refletir sobre o que está sendo proposto. Isto é, o professor deve desenvolver
um ensino mais produtivo (SANTOS apud
PAULIUKONIS & GAVAZZI, 2005). E o professor por sua vez deve ser
multidisciplinar. Deve perguntar-se: Pratico a multidisciplinaridade? Ou seja,
ao longo da aula, integro os diferentes conteúdos de Língua Portuguesa? Por
exemplo, ao tratar do uso do acento grave estabeleço relação com a regência
nominal e verbal? E ainda mais, desenvolvo um trabalho integrado com outras
áreas do conhecimento? Isto é, proponho um trabalho em parceria com um
professor de outra disciplina a fim de levar o aluno a perceber não só a
importância da LP para a elaboração de um texto coerente e coeso, mas também
como um texto sobre um tema diverso pode e deve ser abordado sob diferentes
enfoques.
Partindo dessa atual proposta de
reorganização curricular, os professores de linguagem, como bem diz Bechara
(1999), precisam repensar a sua prática pedagógica. Atualmente, ao professor é
atribuída
...uma nova responsabilidade de criar condições
para que seus alunos se tornem mais conscientes do fato de que funções
pragmáticas existem nas línguas e serem instigados a pensar por si mesmos sobre
as maneiras que são culturalmente adequadas de utilizar a língua em diversas
situações concretas (DELL` ISOLA, 2005: 21).
Para isso, é preciso que o professor
adote também o material midiático como o
jornal. Ao utilizar na sua prática pedagógica recursos variados, o
professor estará desenvolvendo um trabalho com base nas múltiplas linguagens (GARDINER, 1996). E estará levando não só os
alunos a uma reflexão, a uma consciência crítica acerca das diversas questões
sociais, como também desenvolvendo neles competências e habilidades. Por isso,
ao explorar as múltiplas linguagens,
deve-se usar ao máximo as redes de informação dos alunos para assim serem
criadas neles as redes de conhecimento (VIGOTSKY, 1994: 30).
Portanto,
cabe ressaltar que as propostas de atividades estão respaldadas na teoria
apresentada da Semiolingüística, nos PCNs e na e na concepção sócio-histórica
de Vygotsky. Teoria esta que aborda a questão da interação social, pois,
segundo o autor, o desenvolvimento humano “se dá, portanto, de fora para
dentro” (1994: 18). Ao elaborar atividades cujo ponto de partida seja o
conhecimento de mundo do aluno, todo o fazer pedagógico do professor
desenvolverá a zona de desenvolvimento do aluno que, então, conseguirá realizar
as atividades que lhes forem propostas com autonomia, pois “o que antes era
desenvolvimento potencial passou a ser desenvolvimento real” (1994: 30).
A
partir dessas considerações, serão apresentadas sugestões de como trabalhar a
gramática de modo mais produtivo com base na teoria estudada no decorrer do
curso e da sua aplicação na prática pedagógica. Veja:
A-Tirinha jornalística
Objetivo: Levar
o aluno a perceber o caráter humorístico e a identificar as estratégias
utilizadas para provocar esse efeito.
Função no jornal: Levar o
leitor ao entretenimento.
Série: 3° ano do ensino
médio.
Tema: Parônimo
(O Dia 17/ 08/ 2005)
A-
A linguagem verbal ilustra ou complementa a icônica?
B-
Qual recurso lingüístico é utilizado na tirinha?
C-
O que significa cada uma dessas palavras?
D-
Comente a tirinha. O professor pode promover um debate ou uma produção
textual.
Enfim, este trabalho
apresenta não só algumas sugestões de como desenvolver um trabalho pautado nos
PCNs, como também mostra a importância da leitura do quotidiano para a formação
do leitor-crítico. Para isso, ao longo da sua prática pedagógica, o professor
deve adotar também material proveniente da mídia, por exemplo, o jornal, a fim de tornar o ensino mais
produtivo, uma vez que não há uma fórmula mágica para tornar a aprendizagem
eficaz. O que há são caminhos que se podem trilhar através da criatividade para
resgatar o saber fazer de cada um.
Por isso, são sugeridas
atividades com o uso de textos jornalísticos, que servem não só para ilustrar o
conteúdo trabalhado e avaliá-lo, como também para levar o aluno a criar os seus
a partir da percepção da criatividade encontrada nesses mesmos. Então, cabe ao
professor analisar o seu material didático, observar o que está sendo veiculado
pela mídia com outros olhos e preparar o seu próprio material didático
(condizente com o conhecimento de mundo dos alunos, com os PCNs etc.).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentro desta proposta de
trabalho, respaldada nos PCNs e nas novas perspectivas educacionais,
verifica-se que, enquanto a escola não desenvolver atividades com base na
leitura do quotidiano (leitura profunda e não superficial visando ao letramento),
não existirá uma efetiva mudança na organização dos saberes. Quanto a essa
questão, segundo Edgar Morin, o professor precisa se conscientizar não só de
que sua disciplina é importante, como também de que com “a iluminação de outros
olhares”, o aprendizado de um determinado conteúdo será mais efetivo.
Então, atualmente, o
professor deve modificar a sua prática pedagógica, não trabalhando mais
isolado, sem contextualizar o conteúdo a ser dado. O trabalho deve ser,
portanto, elaborado em equipe e contextualizado (por isso, a importância da
leitura do quotidiano) e cujo objetivo seja um ensino mais produtivo. Assim, ao
transformar sua prática, o professor levará o aluno não só a perceber a
integração e a praticidade dos conteúdos, como também passará a ter mais
estímulo para estudar, pois observará, diariamente, na mídia, os conteúdos
trabalhados e verificará que há integração entre as diferentes áreas do saber.
Enfim, ao ser utilizado material
midiático, no caso deste trabalho (direcionado ao 3° ano do ensino médio), o jornal, serão desenvolvidas de modo
mais eficaz a competência de leitura e de escrita e diversas habilidades no
aluno. Pois, constrói-se o conhecimento com o aluno (mostrando a praticidade do
conteúdo trabalhado) e dessa forma lhe será proporcionado ver o mundo sob uma
nova ótica, o que provoca o seguinte efeito: sempre enxergar além, ou seja,
estabelecer relações e depreender os implícitos. A partir desse momento, o
aluno será um eterno leitor crítico, ou seja, letrado.
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