O ANÚNCIO PUBLICITÁRIO
& O PONTO DE INTERROGAÇÃO
Renata da Silva de Barcellos
(FAETEC, UNIGRANRIO e UFF)
O mundo moderno exige pessoas
preparadas para enfrentar e
absorver
as novas formas
de mensagens que
chegam até elas.
(Adilson
Citelli)
Introdução
Este
trabalho tem como objetivo, a
partir da análise
das formas pelas
quais
o ponto de interrogação se apresenta no discurso publicitário,
verificar como
esse sinal
de pontuação se apresenta em
cada anúncio
publicitário com
a figura do enunciador, os atos de enunciação
e o valor
semântico
distintos.
Assim,
para a elaboração desta tarefa,
a perspectiva
teórica
adotada é a da Análise Semiolingüística
do Discurso, de Patrick Charaudeau, e, dentro dessa abordagem,
serão mobilizados
conceitos
como: contrato
de comunicação,
legitimidade e
credibilidade (CHARAUDEAU: 1996) e
preservação da face
(GOFFMAN: 1980), a fim de
examinar
a aplicação da pontuação
e, a partir disso, analisar
os enunciados interrogativos para verificar como se estabelece o contrato
de comunicação e propor
uma classificação para o
valor
semântico
expresso
com base
na análise de
cada
enunciado interrogativo.
Cabe ressaltar
que para este trabalho, selecionamos
80 textos
jornalísticos
veiculados, no período de
fevereiro
de 2003 a
janeiro de 2006,
em
68 jornais,
dentre
eles, Extra,
Jornal
do Brasil, O Dia e O Globo. A partir desse corpus, 29 textos
jornalísticos foram escolhidos para a realização da análise apresentada.
Sendo assim, a partir do uso constante
do ponto de interrogação nos
textos
publicitários,
hoje em
dia, a nossa
hipótese consiste
em
que através
da análise de
publicidades, o aluno
perceba que
a pontuação (no nosso
caso específico,
o ponto de interrogação) está relacionada ao sentido que o locutor pretende estabelecer
no texto e que
haja conscientização da importância de se
empregar adequadamente a pontuação, a
partir da análise
de publicidades. E, a
partir
dessas, saiba explicar
o porquê do
emprego
de cada sinal
de pontuação, uma vez
que se trata
de um tipo
de texto em
que se pretende
convencer
o interlocutor a
consumir
algo. Se o
locutor
(no caso o
publicitário)
não utilizar
a pontuação adequada para
atingir esse seu objetivo, ele se comprometerá e não
alcançará a sua
intenção. Dessa forma, a
pontuação desempenha o papel de sedução, pois, chama a atenção (uma mais
do que outras) do
leitor
para a forma como a mensagem
está estruturada e, a partir disso, o de
persuasão,
para que consiga a adesão
do leitor.
ESTRUTURA
DO TEXTO JORNALÍSTICO
O texto
jornalístico é composto
basicamente de duas partes: o título e o texto.
Com base
nessa estrutura, o
processo
de elaboração dos
diversos
textos que
compõem um jornal
parte destes
fatores: o que
dizer,
para quem dizer e onde dizer para a
atuação
no como fazer.
Afinal, o texto
jornalístico pode ser
analisado a partir destes
três
aspectos: a
importância
da notícia, o
tipo
de texto e o
público
para o qual é
destinado.
Quanto
ao tipo, no caso
do texto
jornalístico, verifica-se que num jornal
há diferentes
gêneros:
editorial, reportagem, material, história
em quadrinhos,
charge, etc. Dentre
esses
gêneros, há o
anúncio
que pode ser classificado como:
a– o anúncio
classificado: é um
pequeno
texto (para anunciar a venda, compra, troca ou contratação
de um serviço)
de responsabilidade do leitor ou do
anunciante.
b– o anúncio
publicitário:
o publicitário
cria anúncios
utilizando a linguagem verbal e não-verbal e adequando-os ao público-alvo do jornal e ao espaço
reservado para publicidade.
Assim,
para a elaboração do texto,
o jornalista utiliza a
linguagem
verbal e/ou
não-verbal de modo diversificado e criativo com o intuito de despertar o interesse do leitor.
Para isso, é preciso que o jornal construa um
perfil de seu
leitor e lhe
apresente a notícia do modo como o seu público-alvo quer
lê-la. O leitor,
por
sua vez,
constrói uma imagem de seu jornal
esperando que
este
publique um certo
tipo de notícias,
dando-lhe assim a
abordagem
que considera ser
a mais adequada.
Quanto
a essa questão da
imagem, o
assunto será abordado na próxima seção.
Contrato de comunicação do texto
jornalístico
Como
a linguagem
é para os homens
meio de
comunicação
e modo de estar
no mundo, é nela e
através
dela que se dá ou
não o
entendimento
entre eles.
A fala é,
portanto, uma atividade social (GOFFMAN: 1980),
porque
é sempre endereçada ao outro com uma determinada intencionalidade, num
momento
e num espaço. É
através
dela que se estabelece um contrato
de comunicação (ou
seja, a mise-en-scène da
qual
participam os parceiros verbais, fator fundamental da teoria
Semiolingüística). Tal
modelo
postula, como
condição
indispensável para
a existência da
interação, a presença de
pelo menos dois parceiros: um EU se dirige a um
TU e o
reconhecimento
recíproco desses
interlocutores.
Assim,
quando
um parceiro
se dirige ao outro, a sua intenção é
de desencadear / estabelecer
uma interação que é “a realidade fundamental da linguagem”
(BAKHTIN, 1992). Pois, pela
interação, os
parceiros
exercem uma influência
recíproca
nas suas ações
estabelecidas seja oralmente (face a face),
constituindo uma modalidade que é a conversação,
seja por escrito
(texto e leitor),
através de
diversos
tipos de texto,
por exemplo,
o jornal.
Dessa
forma, no contrato
de comunicação, participam quatro protagonistas,
sujeitos comunicacionais, que se articulam nesses dois
circuitos de produção.
No circuito
externo, há uma relação
contratual entre os parceiros
situacionais: o sujeito comunicante (EUc) e o interpretante (TUi), que
agem como seres
sociais e possuidores de intenção. E no circuito
interno, há a
encenação
do dizer entre
dois parceiros
discursivos (seres de fala): os protagonistas
responsáveis por
seu ato
de comunicação – o
sujeito
enunciador (EUe) e o destinatário (TUd).
As distribuições desses componentes no processo
enunciativo e a relação estabelecida entre eles
foram representadas pelo
autor
na formulação deste quadro:
Nesse jogo,
no texto
jornalístico, o sujeito comunicante (jornalista)
constrói uma imagem do
sujeito
enunciador (leitor)
que
esteja de acordo
com
a sua finalidade
de comunicação. Ao
mesmo
tempo, imagina um
leitor ideal
para quem
escreve (sujeito destinatário),
com a intenção
de que possa alcançar
os seus objetivos.
Sendo assim, no
processo
de interpretação, o
sujeito
interpretante, a
partir
da imagem construída do
sujeito enunciador, formula
hipóteses sobre o sujeito
comunicante. Seja qual for o contrato de comunicação,
é necessário que
o sujeito comunicante possua
legitimidade e que
adquira credibilidade. A
respeito disso, Charaudeau diz que esta representa uma “capacidade
de capitalizar uma autoridade
de fato” e aquela é “pré-determinada pela posição que ocupa nas diferentes
redes de práticas
sociais” (1996: 33).
No caso
do objeto de
estudo
deste trabalho: o jornal,
cabe destacar
a complexidade das relações que se estabelecem. Primeiro,
o contrato
jornalístico
é caracterizado
pela
construção de uma imagem
positiva das
informações
transmitidas. E, segundo, o objeto do discurso
jornalístico constitui a veracidade das informações dadas ao leitor.
Quanto a essa questão,
foi selecionada uma reportagem sobre a situação
atual do jornal
New York Times (ver
texto jornalístico 3). Esse
jornal está passando por uma crise por causa de
dois
fatos: um,
a publicação de reportagens falsas pelo repórter Jason Blair; outro,
a prisão da repórter
Judith Miller pelo fato
de ter se recusado a revelar
sua fonte de informação.
Ao que
se refere às questões especificas do texto jornalísticos,
elas serão
apresentadas na próxima
seção.
APLICAÇÃO PEDAGÓGICA
Segundo Geraldi (1996), o professor deve propor atividades em que seja construído
o sentido com
o uso de um
ou outro
elemento
gramatical. O professor deve
ensinar
a gramática com
base no
funcionamento
da língua. A partir
disso, explorar a teoria.
E assim sempre
desenvolver atividades
de cunho
reflexivo.
Isto é, o professor
deve desenvolver um
ensino mais
produtivo (SANTOS
apud. PAULIUKONIS & GAVAZZI,
2005).
Para
isso, é preciso
que
o professor adote também
o material
midiático
como o
jornal. Ao utilizar
na sua prática
pedagógica
recursos
variados, o professor estará desenvolvendo um trabalho com base nas
múltiplas linguagens (GARDINER,
1996). E estará levando não só os alunos a
uma reflexão, a uma
consciência
crítica acerca
das diversas questões sociais, como também desenvolvendo neles
competências
e habilidades.
A
partir dessas considerações,
serão apresentadas
sugestões
de como trabalhar
os anúncios e a
pontuação
(principalmente, o
ponto
de interrogação) de modo mais produtivo com base na teoria estudada e da sua
aplicação na prática pedagógica. Veja:
Anúncios
A 1– Anúncio
publicitário
Objetivo: Levar
o aluno a observar
as estratégias utilizadas por este tipo de texto
cuja meta
é: fazer com que o
leitor consuma
algo.
Função
no jornal:
Seduzir / persuadir o leitor a adquirir um produto, uma
idéia, etc.
Série:
3 ano do Ensino
Médio.
Tema: Intertextualidade
(O Dia
23/07/2003)
A-
A
que
texto o título
da publicidade faz
alusão?
B-
Qual a
leitura
que podemos fazer
desse texto
publicitário?
C-
Qual o
valor
semântico da
conjunção
logo nesse
enunciado?
A 2– Anúncios
classificados
Objetivo:
Levar
o aluno a ter
cuidado com
os diferentes
anúncios,
por exemplo,
o de emprego e o de
imóvel.
Função
no jornal:
Oferecer diferentes
oportunidades para
o leitor, a fim
de atender às necessidades
dele (como
emprego e moradia).
Série:
3 ano do Ensino
Médio.
(O Globo
15/10/2005)
A-
Quais
recursos
são utilizados para
seduzir/persuadir o
leitor-consumidor?
B-
Qual o
processo
de formação de
palavras
é comum nesse
gênero
textual? Verificar
como as palavras
são abreviadas.
C-
Debate
sobre
os anúncios
enganosos
– o cuidado que
o leitor deve ter.
Tema:
Pontuação
– para
sensibilizar o aluno
a respeito do
tema, o professor pode
levar um texto em que observe que um sinal de pontuação mal empregado compromete o sentido do texto;
– o professor pode
selecionar
alguns anúncios
interessantes para ilustrar
o emprego de cada
sinal de pontuação
e, no caso do ponto
de interrogação, mostrar
que
há valor
semântico
distinto nos
diversos anúncios.
– o professor pode
selecionar
outros exemplos
para verificar se o aluno sabe o porquê
do uso de um
determinado sinal
de pontuação. No caso
do ponto de interrogação, se os
alunos
já conseguem depreender
o valor semântico
de cada uma
ocorrência
desse ponto num anúncio
analisado;
– o professor pode
solicitar
que cada
aluno traga
um anúncio
para realizar um trabalho que conterá os seguintes
itens: corpus, produto, título
(explicar a pontuação empregada, verificar a estratégia usada pelo publicitário, por
exemplo, se o
enunciado
é realizado pelo enunciador revestido de destinatário) e leitura
do anúncio (da
linguagem
verbal e icônica, se esta ilustra ou complementa
aquela).
Tema:
O valor
semântico do ponto
de interrogação
Atualmente,
observamos que um dos recursos utilizados
constantemente
pelas campanhas publicitárias é o ponto de interrogação. Uma
hipótese
para explicar o emprego desse sinal
de pontuação nesse tipo
de texto é: primeiro,
está relacionado ao conhecimento de mundo que se
tem, ao fato de numa interação as pessoas
estarem utilizando muito o questionamento, mesmo
quando o intuito
é afirmar algo.
Por exemplo:
Você vai à festa?
(se o locutor realizar
tal ato
de linguagem com
a entonação ameaçadora, está implícita uma afirmação e não
um
questionamento). E, segundo,
está atrelado ao fato de despertar mais a atenção
do leitor, pelo
fato de levá-lo à
reflexão. Verificamos, assim,
que
devido à
indagação
ser um fator cultural na sociedade
brasileira, o
discurso
publicitário a utiliza como um “testemunho de uma sociedade
de consumo e conduz a uma representação da cultura
a que pertence,
permitindo estabelecer uma
relação
pessoal com
a realidade particular”
(CARVALHO, 1996: 106). Assim, a mensagem
publicitária dá a
cada
leitor a ilusão
de que está se dirigindo a ele individualmente.
Cabe ressaltar
também que,
ao selecionar os anúncios
publicitários, verifica-se que o ponto de
interrogação não é
empregado
apenas para investigar a respeito
de algo cujo
valor semântico
seria de solicitação de informação como no anúncio
publicitário da Gafisa, em que o sujeito enunciador faz a seguinte
pergunta ao sujeito destinatário: “ Qual
é o seu estilo?
“ (O Globo 13/10/2005).
Atualmente,
verifica-se na leitura dos anúncios
publicitários que
o ponto de interrogação é uma das estratégias mais
utilizadas de sedução / persuasão.
Assim, os anunciantes criam campanhas em que esse sinal de pontuação assume diferentes valores
semânticos. A partir
dessa percepção, constata-se que os autores não abordam algumas questões
que vêm se apresentando nesse tipo de anúncio
publicitário,
tais
como: a figura
do enunciador, os atos enunciativos e o valor semântico
que se realiza de
modo
distinto dos
outros.
No
que diz respeito
aos atos enunciativos, verifica-se que, ao discorrer sobre a modalidade
enunciativa alocutiva, Charaudeau aborda a interrogação. O
autor nos apresenta estas definições
do ponto de vista
do locutor: coloca uma informação a ser adquirida,
pergunta ao interlocutor
para dizer o que sabe, revela sua
falta de
conhecimento
sobre o que
pergunta, impõe ao
interlocutor
o papel de “respondedor”
e se dá o direito de
questionar
(1992: 591).
Dessa
forma, o autor
também não
faz alusão ao que
acontece, por
exemplo, neste anúncio da
Dirija quanto ao contrato
de comunicação: “Liquidação,
promoção, feirão? A Dirija continua
fazendo muito
mais
por você!”.
Nesse anúncio
publicitário, observa-se que
o sujeito
comunicante utiliza as seguintes estratégias: põe em
cena o enunciador revestido de sujeito destinatário.
Nesse caso, constata-se que a classificação de Charaudeau
não
aborda esse tipo
de figura do enunciador. Portanto, como
se trata de uma sobreposição de figuras, será chamado de dissimulado. E quanto ao ato
enunciativo, será denominado de translocutivo (o
locutor
para atingir seu propósito se reveste de
interlocutor, apresentando assim no enunciado
marcas da
primeira
pessoa), pois, enquanto dissimulado, a
intenção
é de criar a ilusão
no interlocutor de
ele
próprio estar se
questionando e assim
acabar
concluindo que a
proposta
é boa.
Quanto
a essa questão do enunciador, cabe
ressaltar também que o publicitário está criando cada
vez mais
campanhas de modo
que o leitor
tenha a ilusão de
que
tudo está sendo direcionado apenas a ele.
Dessa forma, o publicitário
põe em cena
um sujeito
enunciador como se
já
estivesse, antes de
realizar
tal ato
de linguagem, conversando com o destinatário.
E quando este
declara algo,
aquele
retoma o que foi declarado e apresenta a
solução: “Carnaval
com chopp gelado e
ainda
gastando pouco?
Só
se for na Transrio” (O Globo 18/02/2006).
Outra
questão a ser
tratada é a
respeito
do valor
semântico dos enunciados
interrogativos. O publicitário a fim
de seduzir/persuadir o seu interlocutor
tem se utilizado constantemente de recursos diversos
como o ponto
de interrogação e as estratégias criadas
a partir desse recurso
para apresentar um determinado produto ou serviço. Seguem alguns
exemplos:
– o anúncio
publicitário
da Dirija (O Globo 26/10/2005): o
sujeito comunicante se utiliza da linguagem icônica (a dupla
Sandy e Junior apresenta os produtos
Chevrolet dessa concessionária) e da linguagem verbal
para o título
“Liquidação, promoção,
feirão?”, dentre
outros
enunciados, para
levar o público-alvo, o sujeito
destinatário (pessoa
que almeja ou
não trocar de
carro) a adquirir
os produtos divulgados, através da estratégia
da individualização do leitor (sujeito interpretante). Para isso, o sujeito enunciador,
enquanto interpelador, realiza um ato
enunciativo delocutivo (dando a impressão
de retomada de
fala) “A Dirija continua fazendo muito mais por você!” pretendendo que
o destinatário tenha a ilusão de diálogo,
cujo valor
semântico é sobreposto: o de
surpresa
e o de solução.
– o anúncio
publicitário
dos classificados O
Globo
(28/01/2006): o enunciador, enquanto
interpelador, dirige-se ao destinatário,
por meio
de marca enunciativa alocutiva “Que tal aquele objeto que você esqueceu no canto virar o centro das atenções?”
cujo valor
é de sugestão equivalente,
por exemplo
a: “ Coloque seus objetos num lugar
adequado”. Dando a ilusão ao leitor do enunciado
ser direcionado apenas
a ele, como
se houvesse um
diálogo.
– o anúncio
publicitário
da Bel-Air (Extra
06/05/2005): Trata-se de um anúncio da loja
de móveis Bel-Air: “Já
pensou se você tivesse tantas
opções
de marido assim
para escolher?”. Nesse
enunciado, observa-se que o sujeito comunicante
projetado na imagem do
sujeito
enunciador só apresenta os produtos através
da linguagem não-verbal (das imagens, no caso,
móveis), e se dirige ao
sujeito
destinatário, fazendo-lhe uma pergunta em que há um tom humorístico: comparação de
variedade
de marido a
móveis. A partir da
leitura
desse enunciado, verifica-se que a estratégia
utilizada é a seguinte: o
sujeito
comunicante, visando à sedução /
persuasão
do interpretante,
cria
uma situação em
que imagina que
o sujeito destinatário
saberá o que escolher
diante da
variedade
de opções que
lhe oferecem, por
pensar o seguinte:
“os produtos são
tão variados que
não sabe qual
deles escolher. Então,
o sujeito enunciador impõe ao
destinatário
o papel de respondedor
através da
realização
desse ato cujo
valor é de
escolha.
– o anúncio
publicitário
da Disbarra (O Globo 22/12/2005):
o sujeito enunciador se dirige ao destinatário realizando um
ato enunciativo alocutivo: “Sabe o que a Disbarra vai fazer pra você
sair
de Volkswagen 0 KM ?”. Ao proferir
tal ato
de linguagem, individualiza o interlocutor através
do “você” implícito no verbo saber, ou seja, da projeção
do interlocutor no
discurso, criando, assim,
a ilusão
no sujeito interpretante
de que o
enunciado
é direcionado só a
ele
e cujo valor
é de compartilhamento de informação.
O sujeito enunciador se apresenta como um amigo que
pretende compartilhar com
o sujeito destinatário
as informações recebidas.
– o anúncio
publicitário
da MITSUBHI (O Globo 06/01/2006):
o publicitário põe em cena um sujeito enunciador que profere estes
atos de linguagem
“Por fora,
resistente. Por
dentro,
confortável. Por
que você ainda não tem
uma?” cujo valor
é de repreensão ou
sugestão.
– o anúncio
publicitário
da Coca-cola (O Globo 07/11/2005):
o sujeito enunciador, enquanto interpelador, profere
um
ato enunciativo alocutivo “Se na natureza tudo
se transforma, por
que
não as pessoas
também? “cujo
valor é sobreposto de informação (pois aquele almeja levar o destinatário a tomar conhecimento de como
a empresa está contribuindo
com
emprego e doações)
e de incentivo (pretende
mostrar
a outras empresas
como
é possível mudar
o futuro de
muitos
brasileiros
através
do oferecimento de emprego).
Enfim,
este
trabalho apresenta não
só algumas
sugestões
de como desenvolver
um trabalho
pautado nos PCNs,
como
também mostra
a importância da
leitura
do quotidiano para a formação
do leitor-crítico. Para isso,
ao longo da sua
prática pedagógica,
o professor deve adotar também material
proveniente da mídia, por exemplo, o jornal, a fim de tornar o ensino mais produtivo, uma vez
que não
há uma fórmula
mágica
para tornar a aprendizagem
eficaz. O que há são caminhos que se
podem trilhar através
da criatividade para
resgatar o saber fazer de cada um.
Por
isso,
são sugeridas
atividades
com o uso
de textos
jornalísticos,
que servem não
só para ilustrar o conteúdo
trabalhado e avaliá-lo, como também para
levar
o aluno a criar
os seus a partir
da percepção da
criatividade
encontrada nesses mesmos. Então, cabe ao professor analisar o seu material didático, observar o que está
sendo veiculado pela mídia com outros olhos e preparar o seu próprio material didático (condizente com
o conhecimento de
mundo
dos alunos, com
os PCNs, etc).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com
base
no exposto acima,
pretendemos realizar uma
reflexão
acerca da pontuação
pelo fato de
se tratar de um
dos assuntos que
mais os
professores
de Língua Portuguesa sentem insegurança. Com base nisso, acabam não
abordado o tema
devidamente. E, por
conseqüência, os textos
produzidos pelos alunos
apresentam problemas sérios de emprego
inadequado, pois não
entendem o emprego dos diversos sinais
de pontuação.
Assim,
por causa de me deparar com alunos perdidos em
relação ao tema,
resolvi utilizar a
publicidade
para abordá-la de um
tipo de texto
que desperta o
interesse
do aluno. A partir
disso e do curso realizado sobre a publicidade
e a possibilidade de aplicação
pedagógica, comecei a verificar o emprego
dos diferentes
sinais
e o que mais
me surpreendeu foi o
ponto de interrogação. Por isso, ao selecionar o corpus
para o trabalho em sala de aula e para a monografia,
verificamos que
cada
vez mais
os anúncios
publicitários
apresentam o sujeito enunciador revestido de destinatário, o ato
enunciativo diferente (na primeira pessoa do singular como
se fosse o leitor
quem
tivesse o realizado) e a conseqüência
desses fatores
são
a implicatura do valor semântico (uma grande
diversidade).
Fatos
esses que
as teorias ainda
não abordaram e
que
se fazem cada vez
mais presentes
no nosso quotidiano.
Com
a aplicação pedagógica do anúncio
classificado e
publicitário
para abordar o tema da pontuação, podemos refletir sobre
essas questões teóricas. E levar o aluno a perceber que a pontuação está ligada
às relações que
pretendemos fazer em
nossos textos
e aos sentidos
que
almejamos atribuir a eles.
Enfim, através
desse recurso e das
estratégias
utilizadas pelo professor,
o aluno deve não
só se conscientizar
da importância da
utilização
adequada dos sinais de
pontuação,
como também
precisa saber
empregá-los e justificar o
seu
emprego adequadamente.
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