O
estudo do nome na Grammatica Expositiva
Curso Superior) de Eduardo Carlos Pereira
Márcia A G Molina (UNIA e UNISA)
Preliminares
A primeira edição da obra é de 1907 e, como sabemos, corresponde ao que Elia (1975) denominou de segunda fase do segundo momento do período científico dos estudos gramaticais brasileiros cuja característica é o combate à base normativa de direção vernaculista.
Entender como este estudioso, naquela época, definia e classificava essas categorias gramaticais e em quem se apoiava é melhor compreender esse momento de solidificação de nossos estudos gramaticais, trazer luzes para nosso saber lingüístico e procurar compreender um pouco mais das posturas gramaticais hodiernas.
Especificamos que nosso trabalho inscreve-se na História das Idéias Lingüísticas do Brasil.
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Antes de iniciarmos a exposição das classes gramaticais, julgamos importante verificar como Pereira define o termo gramática: Gramática (gr. gramma = letra) é a sistematização dos fatos da linguagem. (p. 19).
Parecer ratificado tanto por Mason:
Grammar (from the greek grammar `letter`) is the science which treats about speech or language, quanto por Darmesteter (1930: 6), na Introdução do seu Cours de Grammaire Historique de la Langue Française:La conception de la grammaire comme science est, on peut le dire, une idée nouvelle, née avec la linguistique moderne. (Mason,1877: 7)
Urge destacar que, apesar de considerar a gramática uma ciência, Darmesteter não abandona a definição adotada pelos gregos e latinos e mantida por muitos estudiosos através dos séculos:
La grammaire peut être considerée comme un art. C`est ainsi que l`envisageaient uniquement les grecs, les latins, le moyen age, que l’envisagent encore les grammairiens moderns qui ne relèvent pas l’école historique. (Darmesteter, 1930: 6, 7 grifos nossos)
Mais adiante, Pereira (p. 19) completa: “Existe uma boa tradição: a gramática tem o dever de a tornar conhecida e defendê-la(a língua) contra qualquer alteração. É ensinando o bom uso que ela não se contenta em ser ciência e torna-se arte” (grifos nossos), seguindo os passos de Darmesteter. Ao retomar a definição tradicional, Pereira está também prestigiando aquela função determinada pelos estudiosos greco-latinos: a gramática é arte de bem escrever. Paralelamente, reinaugura o pensamento dos enciclopedistas, classificando-a em geral e particular; e dá prosseguimento ao pressupostos da linha histórico-comparativa, ao chamá-la de histórica e expositiva.
Finalmente, espelhando-se nas gramáticas filosóficas do século XVIII - como a de Antonio José dos Reis Lobato[1] - e de algumas das científicas do século XIX - como a de Alexander Bain (1874) apresenta uma bipartição dos estudos gramaticais em Lexeologia e Sintaxe. É da primeira parte que trataremos agora.
LEXEOLOGIA
Pereira inicia o capítulo de sua gramática assim definindo o termo:
Lexeologia (gr. Lexis = palavra, logos = tratado) encara as palavras isoladamente em seus dois elementos fundamentais: em sua parte material que são os sons ou as letras, conforme se trata da palavra falada ou escrita, e em sua idéia ou significação. Por isso divide-se o estudo da Lexeologia em duas partes, a saber: FONOLOGIA e MORFOLOGIA.
Conceituação bastante aparentada com a de Júlio Ribeiro (1904: 2):
A lexeologia considera as palavras isoladas, já em seus elementos materiais ou sons, já em seus elementos mórficos ou formas.
A lexeologia compõe-se de duas partes: fonologia e morfologia.
Parece-nos possível que ambos os autores já estivessem vislumbrando a dicotomia significante/significado, proposta por Saussure no início do século XX:
O signo lingüístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito a uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegarmos a chamá-la `material`, é somente neste sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o conceito, geralmente mais abstrato. (Saussure, 1999: 80)
Exatamente essa parte da dicotomia saussureana - a que trata do conceito, do elemento imaterial, mais abstrato - será o objeto de nossas discussões a seguir.
Morfologia
Novamente, o capítulo da obra é iniciado com a definição do termo:
Morfologia (gr. morphé = forma, logos = tratado) é a parte da lexeologia que estuda a palavra em seu elemento imaterial, isto é, em sua idéia ou significação. (p. 81), dividindo–a em taxeonomia e etimologia.
Como o objetivo deste artigo é analisar o nome neste compêndio gramatical, restringiremos nosso estudo à taxeonomia.
Taxeonomia
Por esse termo Pereira entende o estudo das diversas classes de palavras e das suas propriedades em relação à idéia que expressam (p. 81), inscrevendo os vocábulos, em oito classes ou categorias: substantivo, adjetivo, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição, como herança à gramática grega e latina:
As oito classes remontam a Dionísio e Apolônio Díscolo (...), chegam a Prisciano que exclui o artigo, já que o latim não o possuía e inclui a interjeição. (Fávero, 1996: 173)
Essa partição foi a que atravessou os anos, tendo sido adotada por quase todos os gramáticos brasileiros até o número das categorias gramaticais ter sido fixado pela Nomenclatura Gramatical Brasileira.
Pereira reúne ainda as palavras em dois grupos organizados quanto à flexão: o das variáveis - substantivo, adjetivo, pronome e verbo – e o das invariáveis – advérbio, preposição, conjunção e interjeição.
No século XVIII Antonio José dos Reis Lobato (FÁVERO, 1996: 195), iluminado pelos manuais greco-latinos, propunha a divisão das palavras também em dois grupos: o das declináveis e o das indeclináveis; já no XIX e Sotero dos Reis, Augusto Freire da Silva, Alfredo Gomes, João e Júlio Ribeiro faziam proposta similar à de Pereira, ou seja, classificavam os vocábulos em palavras variáveis e invariáveis, mudando o nome, mas não a substância, talvez para instaurar modernidade ao texto.
O substantivo e o adjetivo na
Grammatica Expositiva
(Curso Superior)
O autor inicialmente define a primeira categoria gramatical como: A palavra com que nomeamos seres animados ou inanimados. (p. 82)
Em seguida, e em notas, esclarece que nela devemos distinguir duas noções distintas: a da compreensão e a da extensão. A primeira é formada pelos caracteres distintivos do ser nomeado pelo substantivo; a última, por todos os seres abrangidos pela compreensão, que integra os caracteres que constituem o animal, ou seja, seu organismo vivo. Com isso, acrescenta, quanto maior for a compreensão, menor será a extensão.
Esses conceitos foram também observados por Maximino Maciel e minuciosamente discutidos na parte intitulada Semiologia de sua gramática, momento em que lecionava:
Duas são as propriedades semânticas dos termos: extensão e compreensão.
Extensão é o maior ou menor número de indivíduos a que se estende a significação da palavra. Ex. Animal/homem (....)
Compreensão é a idéia, a noção que nos desperta o termo, o conjunto de qualidades do objeto, da coisa ou pessoa (...) A extensão está na razão inversa da compreensão. (MACIEL, 1914: 416, 417)
Amparados em Darmesteter (1930: 11, 12- Deuxième Partie):
Les noms communs, concrets ou abstraits, ont plus ou moins d’ extension (ou d’étendeu) suivant qu’ ils s’appliquent à un plus grand ou à plus petit nombre de choses, c’est-à-dire suivant que les espèces qu’ils désignent sont plus ou moins considérables. Ils ont plus ou moins de compréhension suivant que les objets désignés ont plus ou moins d’attributs caractéristiques. Ainsi:
Végétal a plus d’extension que plante
Plante que arbre
Arbre que chéne
(...)
Ou em Bréal (1992: 81) que chamou o fenômeno de restrição e ampliação:
(...)nossas línguas, por uma necessidade cujas razões se verão, são condenadas a uma perpétua falta de proporção entre a palavra e a coisa. (...) Não nos apercebemos dessa falta de ajuste, porque a expressão, para aquele que fala, corresponde em si mesma à coisa (....)graças ao lugar, ao momento, à intenção visível do discurso, e porque no ouvinte, que é sempre metade em toda linguagem, a atenção indo direto ao pensamento, sem se deter no valor literal, a restringe ou a estende segundo a intenção daquele que fala.
Hoje, estudiosos da Lingüística discutem os hipônimos e hiperônimos, assim os definindo:
Hiperônimo é o termo cuja significação inclui o sentido (ou sentidos) de um ou de diversos outros termos chamados ‘hipônimos’. O sentido do nome da parte de um todo é hipônimo; e o do todo que é o seu é o hiperônimo. Assim, animal é hiperônimo de cão, gato, burro, etc. (Dubois et alii, Dicionário de Lingüística, p. 323)
Com isso, podemos afirmar que Pereira remete-nos, ao mesmo tempo, à corrente evolucionista do século XIX[2], e às do final do século XX.
Na seqüência, o autor ensina que as diversas espécies de substantivos podem ser estudadas em diferentes classes, oferecendo-nos uma partição bastante acurada e a mesma encontrada ainda hoje nas gramáticas escolares: substantivos concretos/abstratos; próprios/comuns; primitivos/derivados; simples/compostos; coletivos. Depois, preconiza que os patronímicos perderam sua força e hoje, inclusive, são grafados com –s, como: Rodrigues, Sanches, etc.
Câmara Jr. (1975: 208) diz que a forma mais comum do sufixo -es era –ici, de que resultou o espanhol – ez (átono) e português –es. Daí surgiu uma série copiosa de sobrenomes em –es, que muito cedo se fixaram, perdendo a referência patronímica específica: Álvares (filho de Álvaro) (...)
Pereira informa em seguida que os substantivos variam a terminação na flexão de gênero, número e grau, passando para a discussão da flexão dos substantivos. No gênero gramatical, são os pressupostos da corrente naturalista que irão amparar o autor:
Gênero gramatical é a propriedade que tem o substantivo de indicar pela sua forma o sexo real dos seres vivos, ou o sexo suposto dos seres inanimados (p. 85- grifos nossos)
Mas, reminiscências da gramática latina ao lado de valorização da corrente naturalista são percebidas adiante, mais uma vez, quando, em nota, Pereira explica:
Distinguem-se nos seres animados dois sexos – o sexo masculino ou o macho, e o sexo feminino ou a fêmea. Esta distinção natural dos indivíduos vivos é designada em gramática pela palavra gênero, do latim `genus` que quer dizer `classe`. (...) no latim e no grego existem três gêneros gramaticais: o masculino, o feminino e o neutro. A existência desses três gêneros indica a intenção primitiva de transportar para o uso vivo da língua as distinções naturais; conformando-se os fatos na linguagem falada com os fatos da natureza. (p. 85, 86 – grifos nossos).
Muitos anos antes, mais precisamente em 1832, na sua Gramatica Castellana, Andrés Bello asseverava:
Los géneros non son más que clases en que se han distribuído los substantivos según la diferente terminación delos adjetivos com que se construyen. Sin duda la diferencia de sexos fué que originalmente dió motivo a la diferencia de géneros. Pero una gramática non debe representar lo que fué, sino que és actualmente. La diferencia de sexos que servió de base a los géneros de los nombres en la primera época de las lenguas (...) (BELLO, 1951: 181)
Reinaugurando os dizeres de Andrés Bello, o gramático brasileiro finaliza a discussão dos gêneros, afirmando que são dois os modos pelos quais se determinam o gênero em português: pela significação e pela terminação e oferece-nos uma grande relação de nomes masculinos com sua respectiva flexão.
Finaliza o assunto com Propriedade genéricas, apontando que os substantivos que possuem uma só forma para indicar ambos os sexos chamam-se epicenos[3]; e os que admitem os dois gêneros gramaticais com apenas uma forma são os comuns de dois.
O Compêndio de Gramatica Castellana (1937), obra póstuma de Andrés Bello, assim nos ensinava o gênero dos substantivos:
Hay substantivos que varían de terminación y de género según el sexo a que se aplican (...) Otros, que sin variar de terminación varían de género según el sexo a que se aplican (...) Llámanse comunes de dos géneros, o comunes de dos, o comunes. (...) Otros, que significan seres animales en que regularmente no se atiende al sexo, y que son de ordinario de una misma terminación y género, ya masculino(..) ya femenino (...). Estos substantivos se llaman epicenos. (BELLO, 1951: 329, 330).
Aqui, no Brasil, Augusto Freire da Silva (1894: 123) já apresentara também proposta similar:
Chama-se gênero do nome a propriedade que tem o substantivo de indicar o sexo do indivíduo que significa. (...) Considerando o substantivo quanto ao gênero, divide-se em nome do gênero masculino e nome do gênero feminino. (...) Há, contudo, nomes de entes animados, que não têm esta propriedade. Tais são os nomes epicenos ou promíscuos e os comuns de dois.
Em seguida, Pereira começa a ensinar flexão numérica, tanto dos substantivos simples quanto dos compostos, por meio das inúmeras regras de formação do plural, tão atuais que continuam fazendo parte de nossas gramáticas hodiernas.
Nas Particularidades numéricas dos substantivos discute o plural dos diminutivos, de muitos nomes estrangeiros e, finalmente, a metafonia. Em relação a ela, julgamos importante destacar que, em nota, o autor esclarece: Mandam Epifânio Dias, Adolfo Coelho e Monteiro Leite, em suas gramáticas, pronunciar-se pescóços e almóços. É sem dúvida essa a pronúncia de Portugal (p. 97), revelando, portanto, já considerar tal variante diatópica.
O assunto é encerrado com a apresentação de um rol de substantivos apenas usados no plural e no singular; e por uma lista daqueles que, ao mudarmos sua flexão, vemos alterado seu significado, como liberdade, liberdades (atrevimento) (p. 100).
O autor passa, então, a discutir o grau, ensinando: Grau do substantivo é a propriedade que tem este de indicar, por terminação ou flexão apropriadas, as dimensões do ser por ele nomeado (...) (p. 100)
Tal definição leva-nos a deduzir que, já naquela ocasião, observava ser a questão de grau de natureza tanto derivacional, quanto flexional, discussão essa já iniciada por Júlio Ribeiro (1904: 94): A flexão nominal gradual consiste na adição de desinências aumentativas ou diminutivas aos nomes em grau normal e retomada muitos anos mais tarde por Mattoso Câmara Júnior (1970: 83):
Anote-se a propósito que o conceito semântico de grau abrange tanto os superlativos como os aumentativos e diminutivos. Por isso Othoniel Motta considerou aumentativos e diminutivos uma flexão dos substantivos (...)
Pereira inscreve, então, os substantivos em três graus: positivo ou normal, aumentativo e diminutivo, exteriorizando seu apego à tradição latina. Pacheco e Lameira, anos antes, diria: Herdamos do latim três graus: positivo, comparativo e superlativo.
Nosso gramático finaliza o estudo da flexão gradual com importantes observações: a primeira diz respeito ao fato de os aumentativos e os diminutivos poderem adquirir valor pejorativo; a segunda discute o diminutivo com valor afetivo, e a última destaca a grande variedade e riqueza de nossas flexões de grau, fazendo com que a língua estenda até ao adjetivo e ao advérbio flexões do substantivo com valor superlativo: (...) chegado-chegadinho, tanto-tantinho; bêbado-beberrão. (p. 101). Júlio Ribeiro (1904: 90) afirmara:A facilidade de flexão gradual é um dos elementos da vida energética e da mobilidade graciosa da língua portuguesa.
Depois, começa a discorrer sobre o adjetivo, assim o definindo:
Adjetivo é a palavra que tem por função modificar o substantivo, indicando-lhe as qualidades ou determinando alguma circunstância externa de sua existência (...) (p. 103)
Essa inovadora definição[4] pareceu-nos ter sido orientada por Whitney (op. cit: 4):
Because the adjective thus defines a quality as belonging to the thing expressed by the noun, it is said to QUALIFY the noun. Or again, as the addition of the adjective changes more or less the value of the noun, it is also said to MODIFY (that is change somewhat) the noun.
Em notas, lembra a possibilidade de o adjetivo substantivar-se e do substantivo adjetivar-se, frisando que tal característica fora notada pelos latinos que os inscreviam na classe dos nomes.
Continuando, classifica-os em qualificativos[5]: os que modificam os substantivos, indicando-lhes uma qualidade; e os determinativos: aqueles que apontam uma circunstância externa do substantivo. Esses últimos podem, também, ser de sete tipos: articulares, demonstrativos, conjuntivos (ou relativos), interrogativos, possessivos, numerais e indefinidos.
João Ribeiro (1904: 17) traz uma análise que só não é igual à de nosso autor porque reúne os numerais e os indefinidos numa outra classe denominada quantitativos.
Pereira, então, especifica e exemplifica cada um desses adjetivos e dá por finalizado o estudo com os correlativos, ou seja, aqueles que ordinariamete pronominados, reciprocamente se relacionam e reclamam: tal...qual, tanto...quanto, um...outro. etc. (p. 110).
Parte então para a discussão da flexão dessa classe de palavra, preconizando que os adjetivos, como os substantivos, variam em gênero, número e grau. Trata do primeiro e do segundo tipos de flexão sem informar que elas ocorrem semelhantemente à variação do substantivo, como fizeram muitos de seus predecessores, mas indica que ambas as flexões estão subordinadas aos termos a que se referem.
Ao grau, o autor dedica um minucioso estudo, resultado, possivelmente, de seu apego à tradição latina, iniciando pela inserção dos adjetivos em três espécies: positivo ou normal, comparativo e superlativo, somando a definição e a exemplificação de cada um e encerrando com uma lista dos que, no superlativo, possuem uma ou duas formas irregulares, como: grande, grandíssimo, máximo; negro, negríssimo, nigérrimo.
Sabemos que a flexão de grau constituiu uma verdadeira questão gramatical na virada do século, que teve na figura de Othoniel Mota (1927: 37)um grande contestador:
(...) Quando nós tivermos entrado por um caminho racional; quando as nossas gramáticas se libertarem das fórmulas ocas do passado, ou não se falará mais em graus do adjetivo, ou dir-se-á o seguinte: (...) os graus do adjetivo são os mesmos dos substantivos (...): grau normal(...), aumentativo, diminutivo(...).
Em uma outra obra [6], em Notas ao professorado, aponta:
Não trataremos do grau dos adjetivos, porque é coisa que não existe em nossa língua como fenômeno morfológico. O capítulo que de tal suposto fenômeno existe em nossas gramáticas é uma prova de como, às vezes, nos apegamos a formas ocas do passado, transportando para o nosso meio aquilo que só vale bem em outro. Donde nasceu o capítulo a que nos referimos ? Nasceu da gramática latina, grega, alemão, inglesa, nas quais havia um fenômeno morfológico desaparecido nas línguas filhas do latim (...)
Como já dito na discussão do substantivo, Câmara Júnior ratificou anos mais tarde a posição de Othoniel Mota, quando discorreu sobre o grau do nome.
Considerações Finais
Como pudemos constatar, o saber lingüístico de Eduardo Carlos Pereira relativamente à questão do nome alicerça-se no dos principais estudiosos que lhe foram antecessores, tanto dos seguidores da corrente tradicional, como Nebrija e Reis Lobato; quanto os da científica, como: Damasteter, Whithney, Mason, Bain e Júlio Ribeiro, Pacheco e Lameira, Alfredo Gomes, etc. A valorização de ambas as correntes que perpassavam pelo imaginários dos estudiosos da época já havia sido noticiada pelo autor no Prólogo da 1ª edição de sua obra:
A orientação que seguimos expô-la-emos em poucas palavras: Em primeiro lugar procuramos a resultante das duas correntes: - da corrente moderna, que dá ênfase ao elemento histórico da língua, e da corrente tradicional, que se preocupa com o elemento lógico na expressão do pensamento. Há verdade nas duas correntes: o erro está no exclusivismo de uma e de outra, ou melhor, na confusão de ambas. (p. III – 1907)
E essas suas reflexões a respeito da Língua Portuguesa são bastante aparentadas com as que encontramos hoje tanto em gramáticas escolares como em obras que analisam algumas das dificuldades gramaticais de nosso idioma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[1] Fávero (1996: 195) ensina-nos que a Arte da Gramática da Língua Portuguesa de Antonio José dos Reis Lobato (1770) apresenta uma divisão geral da gramática em etimologia e sintaxe e uma mais particular em ortografia, prosódia, etimologia e sintaxe.
[2] Organismo vivo, seres animados e inanimados.
[3] Notamos que nos epicenos o autor inscreve não só os substantivos que designam animais, como os que hoje entendemos como sobrecomuns: testemunha, vítima, etc., atendendo, possivelmente à etimologia da palavra( epi= posição superior, superioridade; -ceno= comum).
[4] Os precursores de PEREIRA definiam adjetivo como a palavra que qualifica o substantivo.
[5] Inscreve aqui os pátrios ou gentílicos (sic).
[6] Chave da língua: primeiras noções de gramática ministradas à infância, Estabelecimento gráfico Irmãos Ferraz, São Paulo, s/d, p.30